Soluço foi à clareira onde havia encontrado o Fúria da Noite, mas desta vez, levando um peixe consigo. O castanho assustou-se, porém manteve-se quieto, ao ver a aproximação do dragão. Logo, ele estendeu o peixe para o animal, que abriu a boca para recebê-lo, porém recuou logo em seguida.

Soluço pegou sua varinha e uma pequena adaga que carregava consigo e os jogou no chão, afastando-os de si. Assim que o fez, viu que o Fúria da Noite, sentou-se e ficou olhando-o com os grandes olhos verdes, que pareciam inocentes e até um pouco infantis naquele momento.

Soluço estendeu o peixe e o dragão lentamente se aproximou para pegá-lo, abrindo a boca. Porém, para surpresa de Soluço, não havia dentes ali.

– Banguela? – Soluço questionou. – Eu podia jurar que você tinha...

Não terminou de falar, pois dentes apareceram do nada na boca do dragão e ele pegou o peixe, começando a comê-lo. Assim que acabou, voltou-se para Soluço e começou a avançar para o castanho, que recuou assustado.

– Acabou. Eu não tenho mais. – Soluço disse.

O dragão começou a agir estranhamente e cuspiu metade do peixe que havia comido em Soluço. Logo, sentou-se e observou o castanho. Os dois ficaram se olhando por algum tempo até que Soluço percebeu que o que o dragão queria era que ele comesse o peixe.

Relutantemente, o castanho deu uma mordida e engoliu, forçando um sorriso para o dragão logo em seguida. O dragão também forçou um sorriso sem dentes para o garoto.

Soluço tentou tocar o Fúria da Noite, mas o dragão recuou para o outro lado da clareira e se deitou lá, porém logo constatou que Soluço já estava sentado ao seu lado. O castanho tentou tocá-lo novamente, mas o animal recuou mais uma vez.

As horas foram passando e logo já era fim de tarde. O dragão se surpreendeu ao perceber que Soluço ainda estava ali e se aproximou dele. Viu que o castanho estava desenhando na terra com um graveto, então pegou um enorme galho de árvore e começou a “desenhar também”. Quando terminou, Soluço viu as linhas e curvas sem sentido feitas pelo dragão. Soluço levantou-se e tentou andar, mas acabou por pisar numas das linhas que “Banguela” desenhara, o que o irritou. Ao perceber que isso irritava o dragão, Soluço foi pulando todas as linhas até chegar ao Fúria da Noite.

Soluço tentou tocar o dragão, mas este mostrou os dentes. Desse modo, o castanho abaixou a cabeça e ergueu a mão em direção a Banguela. Para sua surpresa, o dragão aproximou a cabeça a sua mão. Quando o castanho olhou, o Fúria da Noite recuou e se afastou dali.

À noite, Soluço já havia voltado para Hogwarts e Bocão montara um pequeno acampamento nos campos, onde todos os seus alunos estavam presentes.

– Então? – Soluço perguntou ao se sentar. – Como vocês estão?

– Bem. – Elsa, Alice, Merida, Jack, Elena e Jacky responderam ao mesmo tempo.

– A enfermeira já cuidou da minha perna. Já não dói mais. – Elsa explicou.

– Eu só tinha batido a minha cabeça. – Alice de ombros. – Nada preocupante.

– Me queimei, mas já estou bem. – Jack disse.

– Eu também. – Merida e Jacky concordaram.

– Eu não. – Elena deu de ombros. – Só torci o tornozelo, mas a enfermeira já cuidou disso.

– A maioria de vocês machucou as pernas. – Bocão disse. – Mas quando lutarem com um dragão, concentrem-se na cabeça e nas caudas. Se eles não podem voar, não podem fugir.

Bocão avisou a respeito dos próximos dragões que iriam enfrentar, mas Astrid percebeu que só havia sete estudantes escutando. Soluço não estava mais ali.

Soluço foi até a sala de Bocão, onde ele estava guardando alguns materiais para fazer armas para lutar contra dragões e passou a noite construindo algo que repusesse a parte perdida da cauda de Banguela.

Pela manhã, Soluço foi até a clareira onde Banguela estava. Deu ao dragão uma caixa inteira de peixes, mas retirou uma enguia, visto que o Fúria da Noite parecia não ter gostado nada. Enquanto o dragão comia, Soluço colocou o seu invento na cauda do animal.

Assim que o dragão sentiu um peso a mais em sua cauda, começou a voar com Soluço ainda segurando-o. O castanho descobriu que o que ele construíra se fechava com o vento, então procurou mantê-lo aberto, mas Banguela o jogou no rio. Porém, o dragão não conseguiu voar depois disso, visto que Soluço não estava mais ali para ajudá-lo.

Na manhã seguinte, durante a aula, Soluço usou o artifício da enguia que aprendera com Banguela para deter um Ziper Arrepiante, impressionando a todos.

Com o passar do tempo, Soluço ia aprendendo cada vez mais coisas sobre dragões com Banguela enquanto o ajudava a voltar a voar. Nas aulas, ele usava o que havia aprendido com seu dragão e sempre impressionava.

Nas tentativas de fazer Banguela voltar a voar, ele colocara um pedal para ajudar a ajustar o ângulo da parte postiça que havia colocado na cauda do dragão, porém ainda estava aprendendo a manusea-lo.

Em um de seus testes, Soluço e Banguela estavam voando por cima de uma parte mais escondida do Lago Negro, onde ninguém os veria. Lá, conseguiram melhorar seu trabalho em equipe e a habilidade de voarem juntos, dominando os céus com maestria. Convivendo com Banguela, Soluço percebeu:

– Então tudo o que sabemos sobre vocês está errado. – O castanho declarou.

À noite, Soluço estava no Salão Comunal da Corvinal, fazendo alguns desenhos e anotações sobre Banguela quando seu pai chegou. Imediatamente, o castanho escondeu os papéis e se virou para Stoico.

– Eu não sei onde o Bocão está. Talvez... – Soluço começou, mas foi interrompido.

– Eu sei. – Stoico disse. – Eu vim para falar com você.

– Comigo? – Soluço engoliu em seco.

– Você tem um segredinho. – Stoico declarou.

– Eu tenho? – Soluço tentou fugir da pergunta, apesar de cada vez ficar mais nervoso.

– Até quando achou que poderia esconder de mim? – Stoico arqueou uma sobrancelha.

– Eu não estou escondendo nada. – Soluço disse.

– Nada acontece por entre os Vikings de Berk sem que eu saiba. – Stoico falou. – Chegou a hora de conversar sobre o dragão.

– Ah, meu Merlin. – Soluço engoliu em seco. – Pai. Desculpe-me. Eu ia te contar, mas eu não sabia como. Eu estava esperando...

Para a surpresa do castanho, Stoico começou a rir.

– Você não ficou zangado? – Soluço perguntou.

– O que? – Stoico quase gritou. – Sempre sonhei com isso.

– É sério?

– É claro e fica cada vez melhor. – Stoico sorriu. – Espere só até arrancar a cabeça de um Nadder pela primeira vez. Ou enfiar sua primeira cabeça de Cronckel na lança. Que sensação. Você me enganou direitinho, filho. Todos esses anos você foi o pior viking que já existiu em Berk. Como era difícil. Eu quase desisti. Enquanto isso você estava escondendo seu talento. Ah poderoso Merlin. Agora que está indo tão bem na arena, - Stoico sentou-se. – Vamos enfim ter assunto para conversar.

Soluço manteve-se calado e sempre desviava do olhar do pai. Stoico suspirou e pegou um pequeno capacete de viking.

– Eu trouxe um presente para você. – Disse enquanto entregava o capacete para Soluço. – Sua mãe fez. Ela ia querer que fosse seu. Assim, ela vai estar sempre com você. Use com orgulho. Você merece.

Soluço colocou o capacete na mesa e fez-se de sonolento. Assim, Stoico saiu e deixou o filho sozinho com seus pensamentos.

Na manhã seguinte, a anciã de Berk escolheria entre os dois únicos alunos que era da ilha, Soluço e Astrid, para matar seu primeiro dragão na frente de toda a escola. Durante a competição, mesmo com Astrid tendo praticamente ordenado que ele não se metesse, Soluço acabou por desacordar o dragão e vencer.

Desanimado, algumas horas depois, ele se dirigiu até a clareira onde escondia Banguela, mas se assustou ao encontrar Astrid sentada numa rocha, amolando um machado.

– O que você está fazendo aqui? – O castanho perguntou nervoso.

– Eu quero saber o que está acontecendo. – Astrid levantou-se da rocha e se aproximou de Soluço. – Ninguém fica tão bom em tão pouco tempo. Ainda mais você. Desembucha logo. Você está treinando com alguém?

– Eu sei que isso parece meio estranho, mas na verdade... – Soluço começou a tentar se explicar, mas Astrid o derrubou. Quando se levantou novamente, o castanho recomeçou a falar. – Tudo bem. Chega de mentiras. Eu andei fazendo uns casacos. – Mentiu enquanto acompanhava Astrid, que andava por ali. – Então, é isso. Pode me levar de volta. Está na hora de todos saberem. Eu vou lá pagar esse mico... Ai! – Exclamou quando a loira torceu seu braço e o jogou no chão. – Por que fez isso? – Questionou ainda no chão.

– Isso foi pelas mentiras. – Astrid explicou. – Isso – Deixou o lado não afiado de seu machado cair na cabeça de Soluço. – É por todo o resto.

Ela se assustou quando notou a presença do Fúria da Noite de Soluço, Banguela. Astrid jogou Soluço no chão e ergueu seu machado, pronta para lutar com o dragão, porém o castanho se pôs entre os dois.

– Ela é amiga. – O castanho disse à Banguela. – Você o assustou. – Ele se virou para Astrid.

– EU o assustei? – Astrid questionou sem acreditar. – Quem é ele?

– Astrid. Banguela. – Soluço os apresentou. – Banguela. Astrid.

Astrid imediatamente correu dali, mas foi pega por Banguela, a qual Soluço estava montado, e colocada no topo de uma árvore.

– Me deixe descer, seu trasgo! – Astrid exclamou.

– Só se você me der uma chance de explicar. – Soluço respondeu.

– Eu não quero ouvir nada de você. – Ela rebateu.

– Então deixa eu te mostrar. – Soluço estendeu a mão para ela.

Relutantemente, ela pegou a mão dele e o castanho a colocou atrás de si em Banguela.

– Me deixe descer. – A loira pediu.

– Banguela, desça devagar. – Soluço disse.

Sem aviso algum, o dragão começou a voar loucamente pelos céus, assustando a loira. Soluço reclamava e o mandava descer, mas Banguela apenas continuava seu voo maníaco com a intenção de assustar Astrid.

– Chega! – Ela gritou. – Me desculpe. Desculpe-me. – Ela pediu.

Aquilo foi o que bastou para que Banguela começasse a voar mais calmamente, o que deixou Soluço aliviado e Astrid mais tranquila. Os três ficaram voando por um longo tempo e Banguela os levou pelos terrenos de Hogwarts, mostrando a vista magnífica do castelo visto de cima à noite. Tudo estava bem até que o dragão se agitou e começou a seguir alguns outros, que traziam... Estudantes?

– Estão trazendo os estudantes. – Soluço declarou, falando baixo para não chamar a atenção das feras ao seu redor.

– Mas para onde? – Astrid perguntou no mesmo tom que ele.

Banguela os levou até onde os dragões estavam indo. Soluço já havia ouvido falar daquele lugar. Era chamado de Fortaleza Proibida. Um gigantesco castelo negro. Ninguém sabia se alguém realmente morava ali, afinal o imponente local tinha fama de ser assombrado e extremamente perigoso. Perto daquele lugar, a Casa dos Gritos parecia até a Dedos de Mel.

Banguela adentrou com os outros dragões por uma abertura que havia acima do castelo e ficou escondido, obsevando tudo com Soluço e Astrid.

– Acho que isso aqui virou um ninho de dragões. – Soluço sussurrou.

– Mas eles não estão comendo os estudantes. – Astrid respondeu.

Os dragões estavam deixando-os cair no nevoeiro que havia no local. Houve um Cronckel que apareceu sem ninguém, mas logo um dragão monstruosamente enorme o comeu. Banguela assustou-se e saiu com os dois dali.

O dragão só pousou novamente quando chegou à clareira onde Soluço o escondia.

– Mas é claro. Faz todo sentido. – Astrid disse. – É como uma colmeia gigante. Eles são os operários e aquilo é a rainha que controla eles. – Desceu de Banguela. – Nós temos que contar para o seu pai e para o Diretor.

– Não. – Soluço correu atrás dela e a parou. – Ainda não. Eles vão matar o Banguela. Astrid, nós temos que pensar antes. Com calma.

– Soluço, nós acabamos de encontrar um ninho de dragões. – Astrid respondeu. – Aquilo que nós, vikings, buscamos desde que fomos para Berk e você quer guardar segredo para proteger seu dragãozinho? É isso?

– É isso. – Soluço falou, parecendo decidido.

– Tudo bem. – A loira concordou ao ver que o castanho não mudaria de ideia. – E o que a gente faz?

– Apenas me dê até amanhã. – Ele pediu. – Eu vou pensar em alguma coisa.

– Certo. – Ela assentiu, mas logo em seguida acertou o braço do garoto com um soco. – Isso foi por me sequestrar. Isso – Ela segurou o rosto dele e deu um beijo na bochecha. – Foi por todo o resto. – Disse isso e saiu dali.

Soluço ficou olhando-a se afastar e Banguela se aproximou dele, olhando-o com os enormes olhos verdes.

– Está olhando o que? – O castanho perguntou. – Vá arrumar o que fazer.

Na manhã seguinte, era o dia do Exame Final de Soluço, que havia sido escolhido pela anciã de Berk para matar seu primeiro dragão na frente de toda a escola. O castanho estava na entrada da arena e de lá podia ouvir o pai falando com um feitiço Sonorus.

– Se alguém me dissesse que o Soluço deixaria de ser... Bem, o Soluço... Para ser o melhor na aula de Defesa Contra Dragões eu teria mandado para o St. Mungus por ser completamente louco. Porém, aqui estamos. E eu posso dizer que ninguém está mais surpreso e mais orgulhoso do que eu. Hoje ele se torna um viking. Hoje ele se torna um de nós!

O castanho abaixou a cabeça ao ouvir o pai falar e só percebeu a presença de Astrid quando esta colocou a mão em seu ombro.

– Cuidado com esse dragão. – A loira falou.

– Não é com o dragão que eu estou preocupado. – Soluço respondeu.

– O que você vai fazer? – Ela perguntou.

– Vou dar um jeito nisso. – Ele assegurou. – Ou pelo menos tentar. – Suspirou e virou-se para a loira. – Astrid, se alguma coisa der errada, não deixe que ninguém encontre o Banguela.

– Tudo bem. – Ela concordou. – Mas promete que não vai dar nada errado?

O castanho não sabia o que responder, mas foi salvo por Bocão, que apareceu e o levou para a arena. O castanho se dirigiu ao centro do local e observou as dezenas de pessoas à sua volta, entre os quais estavam seus amigos, que sorriam para ele.

– Eu aposto dez galeões que ele vai matar o dragão. – Jack declarou aos outros oito ali.

– Aposto cinquenta que ele não mata. – Elena respondeu sem tirar os olhos do portão de onde o dragão sairia.

– Não confia no nosso amigo? – Mirana questionou.

– É claro que confio. – Elena deu de ombros. – Ele conhece bem os dragões e sabe seus pontos fracos e às vezes eu penso se ele não poderia fazer um deles não o atacar ou até tornar-se seu aliado. É com isso que estou contando.

– Eu ainda estou com o Jack. – Merida declarou. – Dez galeões que ele mata.

– Eu também. – Mirana concordou. – Embora eu ache isso uma brutalidade desnecessária. Aposto vinte.

– Estou com eles. – Alice disse. – Aposto dez.

– Eu também. – Rapunzel se juntou aos outros. – Aposto quinze.

– Eu aposto quinze que ele mata. – Anna falou.

– Eu aposto vinte que ele mata. – Jacky sorriu.

– Desculpe, irmã. – Elsa sorriu sem graça. – Aposto trinta que ele mata.

Elena deu de ombros e voltou a observar Soluço. O castanho, que já estava segurando uma pequena adaga e um escudo, mantinha os olhos completamente centrados no portão da qual o dragão sairia. Bocão o abriu e de lá saiu um dragão completamente em chamas.

O animal circulou a arena e depois de algumas voltas, as chamas que o cobriam se apagaram. Ele começou a se aproximar lentamente de Soluço, que deixou o escudo e a adaga caírem no chão e se manteve a frente da fera.

O dragão ainda parecia hostil, então o castanho retirou o único sinal de que ele poderia ser um viking: Seu capacete.

– Eu não sou um deles. – Disse e jogou o capacete no chão.

O dragão pareceu ficar menos hostil, mas não completamente, como Banguela fazia.

– Parem a luta. – Soluço ouviu seu pai ordenar.

– Não. – O castanho respondeu, aproximando sua mão do dragão. – Vocês todos tem que ver isso. Tudo que sabemos sobre eles está errado. Não precisamos matá-los.

– Eu disse: PAREM A LUTA! – Stoico gritou e bateu com um martelo em uma das grades da arena.

Isso fez o dragão se agitar e começar a perseguir Soluço. Astrid entrou na arena e jogou um martelo no dragão, o que a fez começar a persegui-la. Stoico abriu o portão do local e o castanho e a loira correram para lá, porém o dragão segurou Soluço, colocando-o no chão com suas garras encima dele.

Nesse momento, Banguela apareceu e retirou o dragão de cima de seu amigo, ficando entre a fera e Soluço.