Depois de voltarem de Wonderland, já à noite, todos foram para os dormitórios. Extremamente cansada, Anna foi a primeira a adormecer entre as outras quatro companheiras. Porém, não foi exatamente o descanso que esperava.

Já era noite e todos no castelo se encontravam dormindo em suas camas, exceto uma Anna de aparentemente sete ou oito anos. A ruiva foi andando animadamente até uma porta branca com flocos de neve pintados nela. Não tardou para que a abrisse e entrasse no quarto.

Dormindo na única cama do cômodo, estava uma Elsa mais nova, de talvez oito anos.

– Elsa. – A mais nova chamou, subindo na cama. – Acorde, acorde, acorde. – Ela pediu.

– Anna, volte a dormir. – Elsa pediu, abrindo minimamente um dos belos olhos azuis.

Anna se deitou por cima da irmã e colocou um dos braços por cima da testa, como em uma cena dramática.

– Eu simplesmente não posso. – Falou. – O céu despertou, por isso estou acordada, por isso temos que brincar. – Disse, abrindo completamente os braços.

– Vá brincar sozinha. – Elsa disse, empurrando Anna da cama e fazendo a mais nova cair no chão.

Anna caiu sentada no chão e fez uma cara pensativa, mas que logo em seguida se desfez em uma expressão de compreensão. Feliz com sua ideia, a mais nova subiu novamente na cama da irmã para mais uma tentativa.

– Você quer brincar na neve? – Perguntou, abrindo um dos olhos de Elsa.

A loira sorriu com entusiasmo, mas logo se lembrou de um pequeno detalhe.

– Chamou a Elena? – Elsa questionou.

Quando viu a mais nova franzir o cenho, logo soube a resposta. Levantou-se, ficando sentada na cama de frente para Anna.

– Prometemos que só faríamos isso se ela desse permissão e nos acompanhasse. – Elsa lembrou.

– Eu sei, mas agora ela está dormindo. – Anna cruzou os braços. – Não vai deixar. E você e a Elena são gêmeas. Ela não é tão mais velha que você. – Anna falou emburrada.

– Mas nós prometemos. Se realmente quer brincar, temos que ir perguntar. – Elsa sugeriu.

Anna sorriu para a irmã e logo as duas correram até o quarto ao lado do de Elsa. Abriram lentamente a porta e lá encontraram uma já adormecida garota que tinha a idade de Elsa. Seus cabelos eram castanho-escuros como os da mãe e os olhos azuis como os das duas irmãs, sendo mais próximo ao azul-gelo de Elsa, estavam fechados. A semelhança entre ela e a loira era mais que notável. Elsa se aproximou com Anna logo atrás e cutucou o braço da gêmea mais velha.

– Elena. – Elsa chamou.

– Vocês deveriam estar dormindo. – Elena falou sem abrir os olhos.

– Mas queremos brincar. – Anna interviu.

– Vão dormir. – A mais velha pediu.

– Nós não estamos cansadas. – Elsa falou.

– Mas eu estou. – Elena falou, virando-se de costas para as meninas.

Anna subiu na cama e começou a pular em cima de Elena. Elsa soltou um risinho baixo com a cena e ficou parada observando.

– Por favor, por favor, por favor. – Anna insistiu.

Elena soltou um suspiro e tirou Anna de cima de si, levantando-se em seguida.

– O que eu não faço pelas minhas irmãs? – Ela perguntou, revirando os olhos.

Anna deu alguns pulinhos de alegria e logo em seguida começou a puxar Elsa e Elena para fora do quarto.

– Vamos lá, vamos lá, vamos lá. – Anna apressou enquanto as outras duas faziam sinal para que ela ficasse em silêncio.

Logo as três entraram em um enorme salão e pararam em seu centro.

– Faça a magia, faça a magia. – Anna pediu, dirigindo-se a Elsa.

Elsa, Elena e Anna já sabiam que seus pais eram bruxos e que também seriam, mas havia um detalhe curioso nas duas mais velhas. Elsa e Elena conseguiam fazer determinados tipos de feitiços sem o uso de uma varinha. Elsa só conseguia com feitiços de gelo e Elena com feitiços de fogo.

Elena observou de perto Anna se aproximar da irmã e Elsa criar uma pequena bola de neve.

– Pronta? – Elsa perguntou e Anna balançou a cabeça em sinal de concordância.

Elsa jogou a bola de neve para cima e ela se desfez em dezenas de flocos que caíam pela sala formando uma bela visão.

– Isso é incrível! – Anna gritou, pulando de um lado para o outro.

Elsa e Elena soltaram um riso baixo e se entreolharam.

– Ela tem razão. – Elena fala. – É realmente incrível.

Elsa sorriu para a irmã gêmea e chamou Anna. A mais nova se aproximou da loira.

– Veja isto. – Elsa falou para a ruiva.

Batendo seu pé, o chão congelou, formando uma pista de patinação, a qual Anna começou a escorregar. Elena segurou a irmã mais nova e a guiou patinando pelo salão com Elsa, que sabia patinar perfeitamente, seguindo as duas.

Logo depois, Elsa fez um pouco de neve e ali as três criaram um boneco de neve. Elsa e Anna deram algumas gargalhadas com a cabeça meio torta que Elena fez. Ao terminar de dar os toques finais, Elsa virou o boneco para Anna, que estava sentada no colo de Elena, e segurou os gravetos que formavam os braços do boneco, mexendo-os.

– Olá, eu sou Olaf. – Elsa falou, fazendo uma voz diferente como se fosse o boneco. – Eu gosto de abraços quentinhos.

– Eu te amo, Olaf. – Anna falou, correndo até onde a irmã estava e abraçando o boneco.

Elena também se aproximou das duas e passou a mão carinhosamente na cabeça de cada uma, mesmo que Elsa tivesse sua idade e Anna não estivesse muito longe disso, e sorrindo quando as duas olharam para ela.

– Eu tenho uma ideia. – Elena falou e começou a puxar as duas irmãs e o boneco para a pista de gelo.

A mais velha contou as irmãs a brincadeira e logo Anna estava agarrada ao boneco de neve com Elsa logo atrás usando seus poderes para empurrá-los pelo salão enquanto Elena observava as irmãs se divertirem encostada à parede. Ainda era nova, tinha apenas oito anos assim como Elsa, mas gostava de se manter quieta em seu lugar e observando suas irmãs com cuidado.

Durante a noite, as três fizeram várias coisas. Anna e Elsa brincaram em um escorrego de neve criado pela loira e no impulso, Anna caíra em cima de Elena que estava sentada em monte de neve à frente do escorrego.

A morena apenas riu enquanto a ruiva começava a pular em montes de gelo criados pela loira. Mas em algum momento, Elsa escorregou e na tentativa de salvar a irmã de uma queda, acertou-a acidentalmente com seus poderes. Elena, ao ver que Anna se machucaria seriamente se caísse no chão daquela altura, correu até a mais nova, que estava inconsciente, e a segurou antes que caísse no chão, mas acabou caindo deitada no processo.

Elsa correu até as duas e se ajoelhou ao lado de onde Elena ainda estava deitada com uma desmaiada Anna, a qual uma mecha de seus cabelos começava a ficar branca, nos braços. Em meio ao desespero, Elsa perdeu o controle de seus poderes e a partir de onde estava o chão começa a congelar e não tardou até o gelo atingir Elena.

Uma camada fina de gelo percorreu o corpo da morena, mas curiosamente não chega à cabeça ou até onde ela segurava Anna.

– Elena! Anna! – Elsa gritou. – Mamãe! Papai! – Ela chamou os pais logo em seguida.

– Está tudo bem. Está tudo bem. – Elena falou com a voz rouca por causa da súbita fraqueza provocada pelo gelo, tentando acalmar a irmã. – Vai ficar tudo bem.

Logo, foi ouvido o barulho da porta se abrindo e os pais das garotas correram até onde as três estavam.

– Elsa, o que você fez? – O pai perguntou ao ver o estado do salão e das meninas. – Isso está ficando fora de controle.

– Foi um acidente. – Elena defendeu a irmã mais nova.

A mãe delas pegou Anna dos braços da filha mais velha e o pai ajudou Elena a se levantar, segurando-a nos braços, vendo que ela está fraca demais para ficar em pé sozinha.

– Estão muito geladas. – A mãe falou ao encostar-se à pele das duas filhas.

– Eu sei onde temos que ir. – O pai falou, ainda segurando Elena.

Depois de pegar em um dos livros um mapa, todos partiram a cavalo. O pai levava Elena e Elsa e a mãe levava Anna. Os cavalos corriam a toda velocidade e o que Elsa se encontrava deixava para trás uma trilha de gelo por onde passava. Não tardou para chegarem a um lugar cheio de pedras.

– Por favor, socorro! – O pai falou. – Minhas filhas.

As pedras do lugar remexeram-se um pouco e logo começaram a rolar até onde a família estava, transformando-se em trolls ao chegar até eles.

– É o rei. – Um deles falou.

Todos abriram espaço e um troll se aproximou de onde estavam o rei, a rainha e as três filhas.

– Sua majestade. – O pequeno ser falou, pegando a mão de Elsa em seguida. – Nascida com poderes ou amaldiçoada?

– Nascida. – O rei respondeu, abaixando-se cuidadosamente ainda segurando Elena. – E estão ficando mais fortes.

O troll fez sinal para que o rei aproximasse Elena para ser examinada.

– Não. – A mais velha recusou. – Primeiro a Anna.

O pai e a mãe assentiram e logo em seguida a rainha se abaixou para que o troll pudesse examinar a filha mais nova. O troll colocou a mão de pedra sobre a testa de Anna e falou:

– Tem sorte que não foi no coração dela. – Disse, tirando a mão da testa da ruiva. – O coração não é tão fácil de ser mudado, mas a cabeça pode ser persuadida.

– Faça o que deve. – O rei pediu, olhando com preocupação de uma filha para outra.

– Eu recomendo removermos toda a magia. – O troll falou. – O senhor, majestade, pode fazer isso.

– Um Obliviate? – O rei perguntou e o troll imediatamente assentiu.

O rei assentiu e, com cuidado para não machucar Elena, pegou uma varinha no bolso. Logo a apontou para Anna e com uma última olhada para o troll, ele falou:

– Obliviate! – Lançou o feitiço.

O troll observou calado e assentiu.

– Ela vai ficar bem. – Declarou.

– Mas ela não vai lembrar que eu e a Elena temos poderes diferentes dos dela? – Elsa perguntou.

– Vai ser melhor. – O rei respondeu antes do troll.

– Ouça-me, Elsa. - O troll começa. – Seu poder só vai crescer. Tanto o seu quanto o de sua irmã. – Ele começa a mostrar algumas imagens. – Há beleza em ambos, mas também há grande perigo. Deve aprender a controlá-lo. O medo vai ser seu inimigo.

As imagens assustaram a loira e ela correu até onde os pais estão.

– Não. – O rei declarou. – Nós vamos protegê-la. Ela pode aprender a controlá-lo, eu tenho certeza. Nós só...

Ele foi interrompido por um mínimo gemido vindo da filha mais velha.

– Elena! – Ele chamou, mas a garota já havia fechado os olhos.

– Coloque-a no chão rápido. – O troll ordenou e o rei não tardou em obedecê-lo.

Com um gesto das mãos, uma pequenina varinha surgiu e o troll a apontou para Elena. Disse algumas palavras ininteligíveis e os outros ali presentes perceberam o gelo que cobria a menina derreter.

– Ela tem sorte de ter essa habilidade com o fogo. – O troll declarou. – Caso contrário, teria morrido.

Elsa se encolheu com as palavras do troll e agarrou a perna do pai. Ele a abraçou com um braço só, usando a outra para trazer Elena de volta para si.

– O que nós faremos? – A rainha perguntou desesperada.

– Eu conheço um feitiço que pode ajudar. – O troll declarou.

– Qual? – O rei perguntou.

– É específico para casos como o de suas duas filhas. – O troll explicou. – É chamado de Cadeado de Fogo e Gelo. Ele trancará os poderes das duas.

– Tudo bem para você, Elsa? – A rainha perguntou e Elsa prontamente assentiu.

– Só funciona se forem as duas. – O troll advertiu. – Se querem fazê-lo, vou lhes dizer como. Elsa, segure a mão de sua irmã, Elena. – O troll ordenou e a loira obedeceu. – Agora tudo o que o senhor, majestade, precisa fazer é recitar o feitiço Claudatur. – O troll explicou e o rei concordou.

– Claudatur. – Apontou a varinha para as mãos entrelaçadas de Elsa e Elena.

Elsa se segurou para não gritar e todos ali presentes viram a face de Elena se contorcer de dor. Passaram-se alguns poucos segundos desse modo e Elsa finalmente relaxou a postura rígida.

– Está feito. – O troll declarou. – Mas há algo que vocês devem saber.

– O que? – A rainha perguntou.

– Há dois feitiços que elas não podem fazer. – O troll respondeu. – Se fizerem, não haverá como trancar esses poderes novamente.

– Quais são? – O rei perguntou.

Anna levantou-se abruptamente de sua cama, suando frio. Com a respiração acelerada ela olhou para o lado, mais exatamente para as duas camas próximas à sua.

Elena e Elsa dormiam tranquilamente em suas camas. Por um segundo, Anna se pegou perguntando a si mesma se o sonho que havia tido era uma lembrança apagada e imperceptivelmente sua mão passou para o cabelo ruivo, mais exatamente para a mecha branca que havia ali.

A ruiva balançou a cabeça e deitou-se novamente em sua cama, porém não conseguiu dormir pelo resto daquela noite.