Elsa acordou pela manhã temerosa. Seu medo era que realmente tivesse imaginado tudo e estivesse mais uma vez sozinha. Ela se mexeu e não sentiu ninguém ao seu lado. Logo ela abriu os olhos e realmente não havia ninguém ali. A loira se levantou abruptamente, olhando em volta até se deparar com o olhar divertido da gêmea mais velha sobre si.
– Você devia ter visto sua cara. – Elena riu.
Ela formou uma bola de neve em sua mão e a arremessou na direção da morena. Elena ergueu o braço com a palma voltada para a bola de neve, como se para se proteger, mas esta derreteu antes de sequer atingir a palma. Isso apenas fez com que a mais velha risse ainda mais.
Elsa revirou os olhos e foi até ela, abraçando-a de novo.
– Nunca mais me assuste assim. – Pediu.
– Eu te prometi, não prometi?
– Eu sei e eu acredito em você. – Elsa respondeu, mas suspirou logo em seguida. – Mas só porque acredita em alguma coisa não quer dizer que é verdade.
– É assim que se torna verdade. – A morena repetiu o que uma vez havia dito à loira.
Elsa sorriu com a resposta da outra e se afastou dela, porém continuou segurando seus braços como fizera no dia anterior.
– Obrigada. – Agradeceu.
Elena parou de rir e assumiu um olhar sereno.
– Então o que a Rainha da Neve gostaria para o café da manhã? – Perguntou.
– Rainha da Neve? – Elsa repetiu, divertindo-se.
– Não te falei que escolhi um apelido para você? – Elena falou, sorrindo. – Mas a pergunta é séria. O que quer para o café da manhã? Eu não trouxe minha varinha, então terei que ir pegar.
– Não sei, eu...
Elsa não terminou de falar, pois Elena já estava correndo e se atirando janela afora. Elsa correu até a sacada, temerosa, mas o que encontrou foi a irmã voando em direção à floresta com seu Pesadelo Arrepiante.
Elena voou até a floresta com seu dragão, mas parou abruptamente no ar ao constatar a neve cobrindo as árvores. Depois de se recuperar do choque, ela se aproximou mais e desceu, ficando de pé no meio da floresta. Olhando em volta, viu que a floresta estava inteiramente congelada.
– Elsa. – Foi o pensamento que lhe veio à mente.
Elena continuou parada lá por alguns segundos, mas logo balançou a cabeça. Pegou algumas frutas pelas árvores e descongelou-as, de modo que a loira não suspeitaria.
Assumindo novamente a postura anterior para evitar que Elsa descobrisse algo, Elena montou em seu dragão, voltou para o castelo e desceu na sacada do quarto. Elsa estava sentada na cama, com as pernas cruzadas e um sorriso satisfeito.
– Ainda gosta de maçãs? – A morena perguntou, jogando uma maçã para a loira.
Elsa a pegou sem dificuldade e assentiu, dando uma mordida em seguida.
– Algum problema? – A loira perguntou ao perceber que Elena estava estranhamente inquieta.
– Não, claro que não. – Elena deu um sorriso meio forçado.
Elsa concordou ainda desconfiada. Elena se aproximou da mais nova e a puxou para fora do quarto, levando-a para a sala onde Elsa terminara de construir seu castelo.
– Então, o que quer fazer hoje? – A mais velha perguntou. – Construir móveis para o castelo? Voar nos dragões?
Elsa deu um sorrisinho brincalhão.
– Eu prefiro... – Não terminou de falar e jogou uma bola de neve recém-feita na outra. – Isso!
Elena nem ao menos se mexeu ao constatar o que vinha em sua direção. A bola de neve, por outro lado, derreteu antes de atingir o rosto da morena, que trazia um sorriso desafiador.
– Me acertar com uma bola de neve? – Elena arqueou uma sobrancelha. – Boa sorte com isso.
– Assim não vale. – A loira se queixou.
A morena gargalhou baixinho e deu de ombros.
– Eu paro de derreter suas bolas de neve se você parar de trapacear. – A mais velha falou entre risos. – Não vejo neve por aqui para que eu possa revidar se você me atingir.
Elsa também sorriu e fez mais uma bola de neve. Desta vez a jogou para cima, como feito muitos anos antes, e esta se desfez em centenas de flocos e estes preencheram a sala com neve.
– Agora sim. – Elena sorriu e, antes que Elsa pudesse perceber, a mais velha lhe arremessou uma bola de neve no rosto.
A loira sorriu e as duas irmãs começaram uma guerra de bolas de neve. Algumas vezes havia trapaças, como Elsa desfazendo as bolas de neve que a morena jogava ou Elena derretendo as mesmas. Porém acabaram se divertindo e já era mais de meio dia quando pararam, exaustas e cobertas de neve.
– Faz tempo que não me divirto assim. – Elsa comentou, sorrindo e abraçando a mais velha. – Obrigada.
– Eu não fiz nada. – Elena respondeu sem graça.
– Você ficou. – Elsa falou. – Nunca deixou de cuidar de mim.
Elena sorriu e estava a ponto de falar algo quando foi interrompida.
– Elsa! – Ouviram uma voz vinda do andar de baixo.
As duas se separaram e se entreolharam.
– É a voz da Anna? – Elena questionou confusa.
Ouviram novamente e Elsa assentiu. Elena derreteu a neve espalhada pela sala e a que estava nas duas e logo elas desceram. No andar de baixo, encontraram uma Anna maravilhada olhando para o trabalho que Elsa tinha feito no castelo.
Assim que Elsa e Elena apareceram, Anna olhou boquiaberta para a loira e depois para a morena, que apenas alternava olhares entre as duas irmãs.
– Uau... Elsa, Elena, vocês parecem diferentes... É um diferente bom... – Anna falou meio atrapalhada. – E esse lugar é incrível. – Disse olhando em volta.
– Fale alguma coisa. – Elena pediu, percebendo que Elsa continuaria calada.
– Obrigada. – Foi tudo que a loira disse, mas também esboçou um sorriso satisfeito. – Eu nunca soube do que era capaz.
– Eu sinto muito pelo que aconteceu. – Anna começou a subir as escadas. – Se eu soubesse...
– Não, está tudo bem. – Elsa a interrompeu, recuando. – Você não tem que se desculpar, mas provavelmente deveria ir. Por favor.
Elena balançou a cabeça em reprovação e suspirou. O gesto foi o suficiente para fazer com que Elsa olhasse para ela como se pedisse ajuda.
– Mas acabei de chegar. – Anna argumentou.
– Elsa, vai ficar tudo bem. – Elena tentou convencer, mas a loira balançou a cabeça levemente, o suficiente para que Anna não visse o gesto.
– Você pertence à Hogwarts. – Elsa respondeu a Anna.
– E você também. – Anna e Elena disseram ao mesmo tempo.
Elsa olhou para a mais velha com um semblante quase suplicante. Elena desviou o olhar rapidamente, fitando Anna.
– Não. – A loira falou para as duas. – Eu pertenço aqui. – Elsa lançou um olhar de “você briga comigo depois” a Elena quando esta ia começar a discutir. – Onde posso ser quem sou sem machucar ninguém.
Elena logo desistiu do que ia dizer e se aproximou de Elsa, pondo a mão em seu ombro. A loira sorriu minimamente.
– Na verdade, sobre isso... – Anna começou.
– Essa não. – Elena murmurou, sabendo exatamente o que Anna ia falar.
– “Essa não.” O que? – Elsa questionou baixinho para que só Elena pudesse ouvir.
Elena soltou um suspiro aliviado quando viu a porta do castelo começando a se abrir.
– Espere, o que é isso? – A loira perguntou ao ver a porta se abrindo.
De lá, entrou o mesmo boneco de neve que Elena, Elsa e Anna fizeram há tantos anos antes. A loira e a morena olharam incrédulas Olaf, como Elsa o chamara naquela época, se aproximar de Anna.
– Oi, eu sou Olaf. – O boneco se apresentou enquanto andava. – Eu gosto de abraços quentinhos.
– Olaf? – Elsa e Elena perguntaram confusas.
– Você me construiu, Elsa. – Olaf explicou. – Vocês duas se lembram disso?
Elsa e Elena se entreolharam. Elena sorriu para ele e depois olhou para Anna. A ruiva também parecia bastante contente.
– E você está vivo? – Elsa perguntou, com um sorriso mínimo, antes que Anna pudesse dizer algo.
– Hum... Acho que sim. – Olaf respondeu, mexendo os “braços”.
Elsa olhou para as próprias mãos e Elena lhe lançou um sorriso. A loira retribuiu rapidamente.
– Ele é como aquele que nós construímos quando éramos crianças. – Anna começou, abaixando-se para ficar da altura de Olaf.
– Sim. – Elsa concordou e Elena mais uma vez sorriu para ela, segurando-lhe uma das mãos.
– Então, nós éramos tão próximas. – Anna falou. – Nós podemos ser assim novamente.
– Ela tem razão, Elsa. – Elena concordou.
Elsa até sorriu um pouco, mas esse sorriso morreu quando algumas lembranças invadiram sua mente. O dia em que machucara Anna e acabara quase matando Elena.
– Não, não podemos. – Elsa respondeu, abraçando o próprio corpo e se afastando. – Adeus, Anna. – Começou a se retirar do salão e a subir as escadas.
– Elsa, espere... – Elena e Anna falaram ao mesmo tempo.
Em nenhum momento a morena saíra de perto da loira e começara a subir as escadas junto com ela. Anna se levantou e também começou a segui-las.
– Não. – Elsa respondeu, virando-se um pouco, mas sem parar de andar. – Estou apenas tentando proteger você. – Disse para a ruiva.
– Não vai conseguir desse jeito. – Elena argumentou, mas a loira balançou a cabeça, discordando.
– Você não tem que me proteger. – Anna falou, aproximando-se. – Eu não tenho medo. Por favor, não me afaste novamente. Dê atenção para mim. – Começou a cantar. – Você não tem que se manter distante assim. Por uma vez na eternidade eu consigo entender. Por uma vez na eternidade, nós podemos resolver. Nós podemos descer a montanha. – A essa altura, as três já estavam no andar de cima, na sala em que antes Elena e Elsa brincavam de guerra de bolas de neve. – Não precisa se afligir. Pois por uma vez na eternidade, eu vou estar aqui.
– Elsa, escute-a. – Elena pediu.
A loira se virou para a ruiva.
– Anna, volte, por favor. – Elsa também começou a cantar. – Esqueça as preocupações. Aproveite o sol e de Arendelle abra os portões.
– Sim, mas... – Anna tentou falar, mas Elsa a interrompeu.
– Apenas me deixe aqui. – Elsa se virou e começou a caminhar para a sacada. – Eu sei que quer o nosso bem. Nós estamos sozinhas, mas livres também. – Segurou a mão de Elena e a apertou. A morena olhou para ela com um semblante meio infeliz, meio reconfortante. – Vocês estão seguros se eu não vir ninguém. – Voltou para o castelo trazendo a mais velha pela mão.
– Não estamos não. – Anna a seguiu.
– Como não estão? – Elsa se virou para ela e alternou olhares entre a ruiva e Elena.
– Tem uma coisa que não contei. – As duas cantaram juntas.
– E o que é que eu não sei? – A loira prosseguiu.
– Que um inverno em Hogwarts você fez. – Cantaram ao mesmo tempo.
– O que?! – Elsa exclamou aterrorizada.
– Eu vi hoje quando fui à floresta. – Elena explicou, enquanto Anna falava ao mesmo tempo:
– Quando você foi embora, espalhou um inverno eterno em todo lugar.
– Todo lugar? – Elsa questionou assustada.
Vários flocos de neve começaram a cair e se espalhar pela sala.
– Elsa, se acalme. – Elena pediu.
– Mas está tudo bem. Você pode descongelar. – Anna respondeu.
– Não, não posso. – Elsa falou e olhou para Elena, pedindo ajuda. – Eu não sei como.
A mais velha continuou calada e balançou a cabeça, sem saber o que falar.
– Eu sei que você pode. – Anna prosseguiu, ignorando os flocos de neve que começavam a formar uma pequena tempestade de neve ali mesmo. – Por uma vez na eternidade...
– Meu sofrimento não tem fim. – Elsa começou a cantar ao mesmo tempo.
– Você vai ver que sim. – Elena prosseguiu, tentando acalmar a loira e consequentemente a tempestade de neve a sua volta.
– Você não tem que temer. – Anna continuou.
– Esse frio, essa dor não saem de mim. – Quanto mais Elsa cantava, mas o vento frio e a neve ao seu redor pioravam.
–Elsa, por favor, não fique assim. – Elena pediu.
– Não controlo a maldição. – A loira continuou.
– ... Nós podemos reverter. – Anna disse esperançosa.
– Desse jeito as coisas piorarão! – Elena e Elsa cantaram juntas. Elsa como um lamento e Elena para que a irmã visse o que acontecia e se acalmasse.
– Não tema. – Anna continuou pedindo.
– Como eu temi. – Elsa se virou de costas para Anna e Elena e viu seu reflexo no gelo. A face assustada. Logo se virou novamente para as duas. – Vocês não estão seguras aqui.
– Eu não sei! – Elsa gritou e todo o gelo se reuniu nela, mas logo foi liberado para todos os lados, acertando tanto Elena quanto Anna.
A força que atingiu Elena foi menor, uma vez que ela derreteu a maior parte, e ela, mesmo quase caindo no processo, logo se aproximou de Elsa. Anna, por outro lado, caiu de joelhos e pôs a mão no coração, onde o gelo a atingira.
– Elsa. – Elena chamou e quando a loira olhou para ela, a mais velha apontou para Anna, que estava de joelhos no chão.
– Anna! – Ouviram-se vozes e logo Kristoff, Alice, Andersen, Jack, Mirana, Merida, Rapunzel, Jacky e Soluço apareceram correndo até Anna. – Você está bem?
– Eu estou bem. – A ruiva disse enquanto Kristoff a ajudava a se levantar. – Eu estou bem.
– Vocês vieram também? – Elsa pareceu ficar ainda mais nervosa.
– Não importa, Elsa. – Elena respondeu.
– Tem razão. – A loira suspirou. – Vocês tem que sair daqui.
– Não. – Anna insistiu. – Eu sei que podemos resolver isso juntas...
– Como? – Elsa a interrompeu. O gelo das paredes do castelo começava a ficar mais duro. Mais escuro. Isso Elena percebeu. – Que poder você tem para parar esse inverno? Para me parar?
– Anna, nós temos que ir. – Kristoff tentou convencê-la.
– Não. – Anna discordou e se virou para Elsa e Elena, mas seu olhar estava centrado na loira. – Por que você tem tanto medo de ficar perto de mim?! – Questionou quase gritando.
– Porque quando nós éramos mais novas eu quase matei a Elena! – Elsa gritou em resposta.
– O que? – Anna recuou um passo.
– Eu sou um perigo! – Elsa respondeu chorando. – Por minha causa ela quase morreu!
Anna ficou calada, fitando de maneira perplexa e um tanto ressentida a loira a sua frente e de maneira suplicante a morena. Elena se manteve ao lado de Elsa e quando esta a olhou, a morena apenas murmurou que ficaria tudo bem e tentou sorrir.
– Por isso você precisa ir embora. – Elsa virou-se novamente para Anna e para os amigos.
– Não. – Anna finalmente respondeu, apesar de abalada, se manteve firme em sua decisão. – Não vou sair sem você, Elsa.
– Nenhum de nós vai. – Jack se pronunciou, tendo ficado calado por bastante tempo.
– Sim... – Elsa começou.
– Elsa, não faça isso. – Elena pediu.
– ... Vocês vão. – A loira completou e construiu um monstro de gelo.
Quando o gigante começou a tirar Anna, Olaf, Andersen, Jack, Mirana, Merida, Alice, Rapunzel, Jacky, Soluço e Kristoff dali, Elsa abraçou uma atordoada Elena.
– Você não devia ter feito isso. – Elena falou assim que o monstro de gelo colocou os outros para fora.
– Eu a machuquei. – Elsa chorou, ainda abraçando a mais velha. – A vocês duas.
– Elsa, eu... – Elena ia falar, mas foi interrompida por um barulho estrondoso que vinha de fora do castelo. Ao olhar pelas portas da sacada, ela pôde perceber o monstro de gelo perseguindo os amigos e a irmã. – Isso não é bom.
Deu um beijo na testa da loira e pulou da sacada, aterrissando em seu dragão e começando voar, perseguindo o monstro. Viu todos pulando de um precipício e logo foi até lá, suspirando aliviada ao perceber que havia um monte de neve lá embaixo para amortecer a queda.
O monstro se preparava para pular quando a morena acendeu duas bolas de fogo, uma em cada mão, porém inexplicavelmente mais fracas do que pretendia, e o fez recuar novamente para o castelo.
Assim que deixou o monstro sob controle, Elena entrou novamente no castelo de gelo da irmã. Olhando em volta, percebeu as paredes cheias de espinhos e escuras. Não tardou para que subisse e procurasse Elsa naquela mesma sala, mas a loira não estava ali. A morena seguiu para o quarto e encontrou Elsa deitada de costas para ela numa das camas e encolhida, chorando.
– Você quer falar sobre isso? – Elena perguntou, trazendo um semblante infeliz.
– Não. – Elsa respondeu, sem se virar para ela e ainda chorando.
– Você quer ficar sozinha?
– Não.
Elena contornou a cama e sentou-se no chão de gelo, encostando-se ao móvel a qual a irmã estava deitada. Segurou a mão de Elsa e ficou ali enquanto a loira chorava.
Fale com o autor