Alice foi caindo pelo buraco que parecia sem vezes maior por dentro do que por fora. Parecia que nunca iria chegar ao chão, passando por diversos objetos, como cadeiras, mesas e um piano que tocava sozinho. Caiu em cima de uma cama que havia no meio do ar, a qual as molas a jogaram e ela recomeçou a cair pelo buraco novamente.

Sentiu um pouco de dor nas costas ao ultrapassar uma parte de concreto e cair no chão, embora não doesse tanto quanto ela esperava. Levantou-se, ainda mantendo-se sentada e estranhou o cabelo ondulado bagunçado e já solto que caia para cima. Só quando caiu no verdadeiro chão, deu-se conta de que estivera de cabeça para baixo.

A sala em que estava era redonda e várias portas a rodeavam. Logo ela começou a tentar abrir todas elas, não obtendo sucesso. Ao se virar, notou que havia uma mesa de vidro no centro da sala. Quando se aproximou, encontrou uma chave ali. Então, começou a tentar usá-la em todas as portas, mas nenhuma abria. Foi então que viu que o único lugar onde não havia uma porta trazia uma cortina. Puxou-a, revelando a porta mais minúscula que já vira. Somente o Coelho que seguira passaria por ali. Ainda assim, tentou a chave ali e a pequenina porta abriu, porém ela não conseguia passar por ela.

A pequena porta fechou-se sozinha e Alice voltou-se para a mesa, onde desta vez viu uma garrafa trazendo um líquido transparente. Aproximou-se e pegou a garrafa de vidro, onde havia amarrado nela um bilhete: Beba-me. A loira deu de ombros e retirou a tampa, percebendo que o que quer que houvesse ali dentro tinha um cheiro bem desagradável. Deu de ombros mais uma vez.

– É só um sonho. – Murmurou e bebeu um gole do líquido transparente.

Tossiu algumas vezes e colocou a garrafa de volta na mesa. Percebeu que tudo á sua volta parecia estar ficando maior, inclusive seu vestido. Foi então que percebeu que era ela quem estava encolhendo. Saiu de dentro do pedaço de tecido gigantesco com o vestido mais fino e confortável que usava por baixo.

Daquele tamanho, conseguiria passar pela porta, então correu até a mesma e tentou abri-la, mas estava mais uma vez trancada. Virou-se para a mesa e aos pulos tentou pegar a chave que havia deixado lá em cima, não obtendo sucesso.

Ela sofreu um Obliviate. Você realmente esperava que ela se lembrasse de tudo da última vez que esteve aqui? – Uma voz por detrás da pequena porta questionou.

Você trouxe a Alice errada. – Uma voz feminina resmungou.

Essa é a Alice certa. Ela pode ter mudado bastante, mas eu tenho certeza. – A voz de Mactwisp se fez ouvir entre as outras.

Dentro da sala, a pequena Alice avistou uma caixinha embaixo da mesa. Aproximou-se e pegou o pequenino pedaço de bolo que havia lá dentro, onde havia escrito: Coma-me.

Olhou para cima de si e viu a chave pelo vidro da mesa. Mais uma vez deu de ombros e começou dois pedaços do bolo. Levantou-se e viu tudo à sua volta parecendo ficar menor, inclusive o vestido que estava usando, que esticava. Quando já parara de crescer, precisava ficar abaixada para caber na sala.

– Essa é a Alice errada. – A voz feminina se fez ouvir mais uma vez do lado de fora da sala.

– Dê uma chance a ela. – Mactwisp pediu.

Dentro da sala, Alice pegou a chave que parecia agora pequenina para seu tamanho e segurou mais uma vez a garrafa, tomando alguns goles. Começou a diminuir mais uma vez e assim que parou, correu para a pequena porta e a abriu com a chave.

O lado de fora era o que parecia ser uma floresta, sombria e colorida ao mesmo tempo, com formas estranhas em cada lugar. Desceu algumas escadarias de pedra e passou por um portão que estava aberto. À medida que andava, ia vendo porcos verdes, pequeninos cavalos voando e outras coisas estranhas.

– Cada vez mais curioso. – A loira murmurou enquanto andava.

Foi andando até dar de cara com o Coelho Branco de colete, uma camundongo branca de vestido, dois gêmeos rechonchudos e um pássaro Dodô azul. Todos a olhavam, embora de formas diferentes.

– Eu disse que ela era a verdadeira Alice. – Mactwisp sorriu animado.

– Não estou convencida. – A camundongo cruzou os braços com insatisfação.

– Quanta gratidão. – Mactwisp falou. – Eu passei tanto tempo naquele mundo. Os animais de lá andam por aí sem roupa alguma e fazem suas necessidades em público! – O Coelho Branco reclamou.

– Você não se parece com a nossa Alice. – Uma flor, literalmente, declarou.

– Porque ela é a Alice errada. – A camundongo insistiu.

– Como eu posso ser a Alice errada se esse sonho é meu? – A loira finalmente se pronunciou.

É ela. – Longe dali, por entre as árvores,Jacky falou com um sorriso nos lábios. – Mirana ficará feliz.

– Tem certeza que só fazem oito meses? – Jack questionou, arqueando uma sobrancelha. – Sem dúvidas ela mudou bastante. Não me admira que não a reconheçam. Faz oito meses que ela saiu de Hogwarts, mas faz quase dois anos que ela não vem aqui.

– Tanto faz. – A garota bufou. – Por enquanto vamos apenas observar. – Deu um sorriso brincalhão e continuou quieta com os braços cruzados, observando tudo com atenção das sombras.

– E quem são vocês, afinal? – A loira questionou, alternando olhares entre todos ali.

– Eu sou Tweedledee e ele é Tweedledum. – Um dos gêmeos rechonchudos anunciou.

– Ele disse errado. – O outro se pronunciou. – Eu sou Tweedledum e ele é Tweedledee.

– Deveríamos consultar Absolem. – O Dodô azul declarou, não tendo falado nada até então.

– Exatamente. – A mesma flor de antes concordou. – Absolem saberá quem ela é.

– Eu a escolto. – Tweedledum se aproximou da loira.

– Nem é sua vez. Isso é injusto! – Tweedledee também foi até Alice.

Cada um pegou um braço da garota que agora estava pequenina e saíram dali andando com os outros animais. Foram caminhando até chegar numa trilha cercada de cogumelos, alguns gigantescos enquanto outros eram pequeninos.

– Quem é esse Absolem? – Alice questionou, falando pela primeira vez em muito tempo.

– Ele é sábio. – Mactwisp respondeu. – Ele é absoluto.

– Ele é Absolem. – Os irmãos Tweedle disseram juntos, ainda levando Alice.

Pararam num lugar onde havia bastante névoa, ou fumaça. Por entre a fumaça, puderam ver uma lagarta azul com um cachimbo.

– Quem é você? – A Lagarta Azul perguntou.

– Absolem? – Alice questionou, estranhando a aparência.

– Você não é Absolem. Eu sou Absolem. – A Lagarta respondeu. – A pergunta é: Quem é você? – Repetiu, soprando fumaça na direção da loira.

– Alice. – Ela respondeu entre tosses.

– Veremos. – Absolem declarou, fitando a garota.

– O que quer dizer com isso? – Alice arqueou uma sobrancelha, confusa. – Devo saber quem eu sou.

– Sim, você deve, garota estúpida. – Absolem respondeu. – Desenrole o Oráculo. – Ordenou aos outros ali.

Todos ali se viraram para um pergaminho que estava em cima de um cogumelo relativamente grande. A camundongo logo foi até lá e o desenrolou. Assim, os demais se aproximaram.

– O Oráculo. – Mactwisp falou enquanto olhava para o pergaminho aberto. – O Calendário Compêndio de Wonderland.

Alice se aproximou e passou os olhos pelos desenhos móveis no papel.

– É um calendário. – Concluiu.

– Compêndio. – Absolem se meteu, ainda quieto em seu lugar. – Fala sobre todos e cada um dos dias deste Reino desde o princípio.

– Hoje é o Dia Griblig. – Mactwisp declarou e todos voltaram a olhar o pergaminho. – No Reinado da Rainha Vermelha.

No pergaminho era possível ver um desenho de todos ali fitando o pergaminho, exatamente como estavam fazendo naquele momento.

– Mostre-a o Glorian Day. – Absolem ordenou.

– Sim. – Tweedledee sorriu. – O Glorian Day é o dia em que você mata o Jaguadarte.

– Desculpe. – Alice se virou para ele. – Mato o quê?

– Lá. – Tweedledum apontou para o outro desenho no pergaminho. – Ali é você com a Espada Vorpal.

– Nenhuma outra Espada pode matar o Jaguadarte. – Tweedledee falou. – De jeito nenhum.

– Se não for Vorpal, ele não morre. – Tweedledum disse.

Depois de alguns segundos em silêncio, Alice se afastou do pergaminho.

– Essa não sou eu. – Declarou.

– Eu sei. – A camundongo bufou, cruzando os braços.

– Resolva isso para nós, Absolem. – Mactwisp se virou para a Lagarta Azul que continuava fumando. – Ela é a Alice certa?

– Dificilmente. – Absolem respondeu e sumiu em meio à fumaça.

Assim, todos os outros se viraram para a loira e começaram a andar até ela enquanto a mesma recuava.

– Eu disse. – A camundongo declarou, indo na direção da garota.

– Eu disse. – Tweedledee concordou.

– Eu disse. – Tweedledum implicou.

– Ao contrário. – Tweedledee discutiu. – Você disse que ela poderia ser.

– Não. – Tweedledum retrucou. – Você disse que ela seria se ela fosse.

– Impostora. – Uma das flores ali falou. – Fingindo ser a Alice. Deveria se envergonhar.

Devemos ir até lá? – Jack questionou, observando tudo de longe e girando sua varinha por entre os dedos.

Não. – Jacky negou com um sorriso sapeca. ­– Ela está bem.

– Eu tinha tanta certeza de que era você. – Mactwisp declarou tristonho. – Isso vai partir o coração da Mirana.

– Sinto muito. – Alice se defendeu. – Eu não queria ser a Alice errada. Espere. – Balançou levemente a cabeça. – Esse sonho é meu. Eu vou acordar agora e vocês todos desaparecerão. – Fechou os olhos e beliscou levemente o braço. Ao abri-los novamente, franziu o cenho. – Estranho. Um beliscão sempre resolve.

­- Ela acha que isso não é real. – Jack se queixou.

Considerando tudo, eu também acharia. – Jacky deu de ombros e apenas continuou parada, observando.

– Posso te furar, se quiser. – A camundongo tirou uma pequena espada, que na verdade era uma agulha.

– Obrigada. – Alice sorriu levemente.

A camundongo foi até a loira e furou seu pé, mas diferentemente do que Alice esperava, nada aconteceu além de que agora ela estava sentindo dor no lugar onde fora acertada.

Só foram interrompidos por um barulho estrondoso e quando olharam, viram um animal semelhante a um urso, mas branco e com marcas pretas, dentes de tubarão, cauda e garras afiadas.

– Capturandan! – Os habitantes de Wonderland declararam e começaram a fugir, assim como Alice.

Juntamente com o ‘Capturandan’ vinham também soldados que pareciam cartas de baralho vermelhas com o símbolo de Copas, que capturavam alguns dos animais ali.

Alice foi correndo com a camundongo, esta última se escondendo num tronco de árvore. O Capturandan estava se aproximando da loira, que subitamente parou de tentar fugir.

– Espere. – Murmurou para si mesma. – É só um sonho. Não pode me machucar. – Virou-se para a fera, que se aproximava. – Não pode me machucar. Não pode me machucar. – Repetia quando o Capturandan se aproximou e rugiu bem à sua frente.

O animal iria atacá-la, mas a camundongo apareceu e usou sua agulha para arrancar-lhe um olho. Com a dor, o Capturandan se mexeu bruscamente, acertando Alice no braço com suas longas garras. Assim, a loira finalmente voltou a correr.

Foi por pouco. – Jack suspirou aliviado vendo a loira fugir.

Nem me fale. – Jacky respondeu e ambos começaram a seguir Alice, embora ainda não deixassem que a loira os visse.