É uma pequena cerimônia, apenas ele, Allie, o pai e as irmãs dela em uma pequena igreja.

Ryan não é religioso, nem um pouco, mas ele sente sua garganta apertar quando o pastor o diz para repetir os votos sobre respeito, fidelidade, amor e honras eternas à Allie pelo resto de suas vidas.

Não é muito perceptível, mas pelo canto dos olhos, Ryan consegue ver um pequeno volume, aonde nada costumava estar na barriga de sua esposa. Esposa – Ryan pensa na palavra e sente o peso dela sob sua mente.

Allie chora, pequenas lagrimas descendo por suas bochechas, mas seus lábios curvam-se em um pequeno sorriso para ele, olhos brilhando quando ele desliza o anel simples de ouro –o qual seu pai ajudou a comprar- em seu dedo. A mão de Allie treme, enquanto a de Ryan mantém-se firme, mas isso é esperado, ele pensa, ela é quem terá o bebê, ele é quem os meteu nessa bagunça em primeiro lugar.

Mais tarde, ela liga para sua mãe pelo telefone do lado de fora do quarto deles. Ryan vai para dentro e deita-se na cama antiga do motel, olhando para cima e contando as rachaduras no teto, diz a si mesmo que tudo ficará bem e adormece antes de Allie entrar.

Não é como se fosse um segredo, mas em meados de abril, Allie já não consegue vestir casacos apertados nem jaquetas. As pessoas no colégio notam, mas não fazem comentários e Ryan está grato por isso, se existem comentários, são feitos por trás de portas fechadas, e de qualquer modo, eles agora são casados, estão juntos nisso.

Allie está entrando no sexto mês, todo brilho e ânimo que atraíram Ryan à ela sumindo e se apagando gradativamente, com o modo que até mesmo tocar as mãos dele parece ser muito esforço para ela.

Eles vivem no pequeno apartamento atrás da garagem de Ryan, e não é nada especial, mas tem uma porta própria e pela maior parte do tempo, eles ficam sozinhos.

Não é como se eles nunca tivessem conversado sobre isso antes. Allie abraçava Ryan, sua cabeça pressionada sob as batidas de seu coração, sussurrando coisas sobre amor eterno e todas as promessas que essas palavras carregavam.

As palavras faladas contra o pescoço de Allie, o rosto de Ryan sob a curva de seu ombro, os longos dedos dele brincando entre os cabelos loiros dela e o sorriso grande e brilhante da garota sempre que o assunto “o futuro depois do colégio” era mencionado e ela podia responder orgulhosa que Ryan não iria para muito longe e eles continuariam juntos, agora pareciam memórias distantes.

Ela não diz mais coisas assim, porque ela não diz mais nada.

Não há sussurros, dedos cruzados, sorrisos bobos, apenas os dois deitados lado a lado com nada mais a dizer para o outro além de “Com licença” ou “Quando você acabar de ler, pode, por favor, desligar a luz?”

Ryan sente-se envelhecido mas lembra a si mesmo que será pai em breve. Um adulto responsável por alguém, alguém que dependeria dele. Ele irá graduar-se em maio, como o resto de sua classe.

Na manhã da graduação, quando ele saiu, Allie estava reclamando sobre o calor, cabelo cobrindo seus olhos, evitando o olhar de Ryan.

–Eu te vejo mais tarde? –ele pergunta porque todos os formandos tem 5 convites disponíveis para seus familiares e amigos próximos. Ela não diz que não, mas Ryan não espera por ela de qualquer modo. É mais fácil lidar com decepções quando você não está aguardando por nada.

Ele não fica no campus após seu nome ser chamado, apesar de que as regras formais ditam que ele deveria ao menos ficar, comemorar e jogar sua beca no ar junto aos seus amigos.

Ele apenas abre o zíper do seu robe, o enfia na mala do carro, joga a beca no banco do passageiro e liga o rádio no último volume porque Allie não está no carro para dizer a ele o que fazer, o mandando ser cuidadoso, o lembrando do bebê e que talvez seres que não estão completamente formados não podem compreender a genialidade do Blink 182.

Ele chega em casa em tempo recorde, o que faz sentido porque a maioria da cidade está na formatura. O telefone toca próximo da cama – é a linha extra, que o pai de Ryan gastou um sábado inteiro configurando para que eles pudessem ter uma linha única.

–Ryan – soa como Allie, mas não é. É a irmã mais nova dela, Ane, pânico e preocupação presos á sua voz, atingindo a pele de Ryan, acelerando seu sangue com as palavras que ela solta apressadamente:

–Ryan, Ryan, venha rápido. O bebê... Ainda está cedo demais, mas – Ryan não consegue respirar, mas não é preciso longos fôlegos para que ele corra de volta até o carro.

Ryan está bem ciente de que não tem uma grande experiência com o processo de procriação. Ele é filho único de um filho único, então sua compreensão sobre gravidez e partos é bem limitada. Ryan termina ficando em pé ao lado da cama, com uma mão sob o joelho de Allie, balbuciando palavras de conforto sem sentido as quais Allie provavelmente nem ouve, entre os gritos de encorajamento de sua mãe e as ordens médicas das enfermeiras e do doutor.

Ele se sente como um intruso na cena, assistindo inutilmente enquanto Allie grita, cavando suas unhas nas mãos da irmã menor. A sala é pequena e está tumultuada, Ryan consegue sentir as gotas de suor rolando por suas costas, sob a camisa a qual ele tinha cuidadosamente passado na noite anterior para usar na formatura.

Parece até ironia, tornar-se pai e formar-se no mesmo dia, acontecera tudo tão rápido, porém Ryan sente um peso de 30 anos ou mais sob si mesmo.

Ryan está preso nos próprios pensamentos, fazendo cálculos mentais sob que idade ele realmente sente ter agora, então de repente Allie se arquia na cama e o doutor a diz para empurrar apenas mais uma vez, enquanto Ryan encara o estômago dela, e há um movimento monumental que ele consegue ver rolar por baixo da pele dela, os olhos de Allie dilatam-se brilhantes e azuis.

E então...então o doutor está segurando uma coisinha rosa, os braços e pernas pequeninos movem-se lentamente.

–É uma menina, vocês têm uma filha.

Allie respira pesado e rende-se, jogando-se deitada novamente na cama, e Ryan captura o seu olhar por um momento, eles olham um para o outro e o resto da sala some, a mãe e as irmãs de Allie, as enfermeiras e o doutor que está cortando o cordão umbilical. E restam apenas os dois. Ela está tremendo levemente e chorando e Ryan pensa que naquele momento, ela é a coisa mais linda que já viu em sua vida.

O bebê deles é colocado nos braços de Allie, ainda chorando, mas de leve, e depois de um momento, Ane se afasta então Ryan senta na beira da cama, desliza um braço em volta dos ombros de Allie e olha para a filha deles.

Ela tem alguns poucos fios de cabelo loiro bem claros, e os olhos semicerrados brilham em um tom descofado entre castanho claro e verde.

–Olá... – Ryan sussurra hesitante,mente, colocando seu dedo na pequena mão. Os dedos dela fecham-se apertados em volta do dedo de Ryan, e essa parte chega a parecer um milagre pra ele, que sente os anos e cansaços e o sentimento de velhice sumirem completamente.

A enfermeira atrás deles dá um meio sorriso em forma de desculpas por interromper o momento, pega o bebê gentilmente e o entrega a outra enfermeira, que segue para a enfermaria.

Os olhos de Allie estão desfocados quando ela olha para ele, e Ryan não pode culpá-la, ele nunca seria capaz de sobreviver á algo assim.

–Vocês já escolheram o nome, queridos? – a enfermeira tem um sotaque que Ryan não consegue identificar, mas sua voz é gentil e os olhos dela são calorosos. Ele pisca. Eles não escolheram, eles mal falaram sobre isso, mas Allie está praticamente em coma e Ryan tem certeza de que a criança os odiaria pelo resto da vida se a desse o nome de “Bebê”. Jesus.

–Allie – ele sussurra e as pálpebras dela tremem, mas seus olhos não abrem e suas bochechas estão pálidas. –Como iremos chamar o bebê?

Ela faz um barulho baixo com a garganta, enterrando-se nos finos cobertores que acabaram de colocar sobre ela, os olhos ainda fechados.

–Allie, vamos lá... – ele sussurra, a voz baixa, um tom de desespero leve. Isso parece atingi-la, ela abre os olhos um pouco e diz : –Eu não ligo, Ryan.

Ryan recua, mesmo sem ter a intenção, e ela deve ter percebido porque sua face muda um pouco.

–Eu só. Estou cansada. E ela é saudável. É isso que importa.

Ela fecha os olhos novamente e há aquele peso frio e morto sob o estômago de Ryan que ele nem havia percebido que estava lá até então.

A enfermeira ainda está em pé, esperando há alguma distância.

–Elizabeth. – Ryan diz, a voz clara, surpreendendo a si mesmo. –O nome é Elizabeth, Elizabeth Benson Ross.– Ele tenta não ter um colapso sob o peso das palavras, não conseguindo compreender completamente o quão grande e importante uma coisa como um nome é. A enfermeira sorri para ele levemente.

–É um lindo nome, querido. Ela é linda.

Ryan seca suas bochechas, afastando as lagrimas que se acumularam em seus olhos e consegue sussurrar: –Obrigado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.