Minutos depois, os dois chegaram à casa de Seth. Ainda estavam calados quando entraram na casa, e Amy sentou-se no sofá da sala.

- Me desculpe por ter sido grossa com você - ela murmurou, constrangida. – É apenas o meu jeito, não sei ser diferente.

- Não precisa pedir desculpas – ele apenas respondeu, no mesmo tom, segurando a mão dela.

- Ah, você tem algo para eu dar um jeito nesse machucado? - ela perguntou, colocando os dedos sobre o corte no rosto, que voltara a sangrar.

- No banheiro, vem – ele a puxou até o corredor, entrando em uma porta no começo do mesmo.

Tirou uma caixinha com algodão, gases, álcool e outros produtos e remédios. Ela foi cuidadosa ao começar a tratar o machucado. Lavou com sabão e não se queixou quando a dor começou a atacar. Já estava acostumada. Pegou um algodão e começou a limpar o resto com álcool. Depois, pegou um pedaço de gase e começou a colocar sobre o corte, com todo o cuidado possível.

- Seth, poderia me ajudar? – ela o chamou e ele atendeu o pedido. – Não consigo ver até o final do corte.

Ela puxou o cabelo para o lado oposto, enquanto Seth arrumava o resto da gase. Ele arfou ao ver o que havia detrás do pescoço de Amy.

- A.. Amy – ele chamou por ela. – O que foi isso?

Amy percebeu o que tinha acontecido. Se amaldiçoou mentalmente. Pelo reflexo do pequeno espelho a sua frente, poderia ver a expressão de horror de Seth ao ver sua antiga cicatriz. Ela suspirou e arrumou o cabelo, levantando para ele ver a cicatriz completa. Quase atravessava de um lado à outro. Ele fechou os olhos, aterrorizado.

- Foi a sua mãe, não foi? – ele perguntou, quase sussurrando.

- Sim, foi ela – Amy respondeu, virando-se para ele.

Seth a abraçou novamente. Ele não tinha a mínima idéia do que fazer, mas abraçá-la, de certo modo, o acalmava. E ela retribuiu, apertando os pequenos dedos na blusa que ele usava, enquanto deixava a cabeça tombar no peito quente dele. O dia havia sido exaustivo, além das aulas, encarou uma maluca no banheiro e outra maluca na antiga casa, que por pouco não a matou. Amy suspirou novamente, cansada. Separou-se de Seth, guardando tudo o que tinha usado e entregou a ele. Os dois voltaram para a sala e Amy sentou-se no sofá, Seth puxando a cabeça dela para o seu colo. Ela começou a brincar com os dedos sobre o tórax, enquanto ele colocava algumas mechas do cabelo dela no lugar.

- Como.. – ele começou, procurando as palavras certas. – Como sua mãe fez isso no seu pescoço?

- Bem, foi logo depois do enterro do meu pai – ela suspirou, fechando os olhos para relembrar do momento torturante. – Ela estava maluca, mas talvez estivesse certa. Ela me culpava pela morte do meu pai e quando entramos em casa, ela me puxou enfurecida para a cozinha. Não sei de onde apareceu, então de repente eu senti algo muito quente no meu pescoço, como se estivesse tudo derretendo ou algo do tipo – Amy parou, abrindo os olhos e encarando um Seth bastante preocupado. – E depois, ela despejou a água sobre o local. A dor foi alucinante. A pior que já senti na minha vida. E foi isso.

- Ela é um mostro – ele sussurrou, o tom com raiva na voz. – Como alguém pode fazer isso? E ninguém ao menos percebeu? Ela não te levou ao hospital depois?

- Sim, ela levou – Amy respondeu. – Porém, como todas as outras vezes, eu era apenas ignorada, como uma se fosse obra de uma criança desastrada ou algo do tipo. Eles não se importavam. Crianças mentem o tempo todo e comigo eles achavam o mesmo. Minha mãe apenas os persuadia, inventando que eu havia batido no fogão, derrubando o bule de água quente em mim mesma, apenas por idiotice.

- Isso é maldade – Seth falou. – Mas esse não é a sua única cicatriz, certo?

- Não, infelizmente, não – ela respondeu. – Eu tenho algumas em outras partes do corpo, algumas por causa de surras levadas ou quando eu não cooperava para fazer o trabalho de casa completo. E muitas marcas, por todo o corpo.

- Vem cá – ele falou, puxando-a para mais perto. – Nunca mais aquela maluca vai encostar em você ou te fazer algum mal. Eu vou te proteger e ninguém nunca mais vai te machucar.

Após logos segundos, Amy achou a palavra certa para responder aquele gesto dele.

- Obrigada Seth - ela se pronunciou, quebrando o silêncio. - Obrigada por tudo que você fez por mim até agora, por me aturar e.. - Amy parou mais uma vez, o encarando profundamente. - E obrigada por ter me salvado naquele dia da floresta. Se não fosse você, eu não estaria aqui agora. Obrigada.

Ela o abraçou e os dois ficaram daquele modo, até que um barulho quebrou o silêncio novamente. A barriga de Amy roncava de fome.

- Acho que tem alguém com fome - Seth brincou, enquanto Amy ria e batia nele. - Bom, minha mãe saiu e eu não sei quando ela volta e eu também não sei cozinhar.. Então vem, vou te levar pra conhecer uma pessoa.

Minutos depois, os dois andavam entre as pequenas casas e a floresta que cercava a reserva, chegando a uma casa bem parecida com a de Seth.

- Amy, ah, uma coisa que preciso te alertar. Quem vamos conhecer tem uma cicatriz horrível no rosto e é bom você não encará-la muito. Talvez ela não goste muito - ele a advertiu.

- Sorte sua, por que eu não tenho problema algum com cicatrizes - Amy respondeu, sorrindo de lado.

Os dois deram as mãos e entraram juntos na casa. Assim que Amy viu de quem Seth se referia, ficou um pouco assustada. O nome dela era Emily e tinha trêz cicatrizes enormes em um dos lados do rosto. Não era nem um tanto normal, mas Amy já estava acostumada com aquilo, afinal, tinha varias pelo corpo e não tinha motivo para ter medo ou algo parecido. Ela deu um passo a frente e a cumprimentou.

- Oi, eu sou a Amy, sou.. ah - ela encarou Seth, não sabia como deveria se referir a ele. - Sou melhor amiga dele.

- Por enquanto - Seth sussurrou, fazendo Emily sorrir.

- Prazer Amy, sou a Emily. Sou prima desse cabeça dura ai, então, tome cuidado com ele, certo? - ela falou, sorrindo e Amy apenas retribuiu o sorriso de volta.

- Ah, Emily, por acaso, você tem algo para comer? - Seth perguntou. - Minha mãe saiu e não deixou nada feito.

- Claro que sim, cabeça dura. Agora venham - ela respondeu e levou os dois para a cozinha.

Depois de servidos e Seth com a boca cheia de bolinhos e outras comidas, Amy se pronunciou, curiosa sobre a cicatriz de Emily.

- Emily, me desculpe perguntar, mas o que aconteceu para você.. Hum, sabe, essa cicatriz no seu rosto - Amy perguntou.

- Bom, eu fui atacada por um urso e isso aconteceu. Esse lado do meu rosto e por todo o meu braço - Emily respondeu, levantando a manga da blusa e mostrando a Amy o resto da cicatriz.

- Ah, okay - Amy falou. - Parece que somos gêmeas de alguma maneira.

- Como? - Emily perguntou.

Amy tirou com cuidado o curativo recém feito por ela e Seth e mostrou a cicatriz, não tão grande, mas bem parecida no rosto. Emily sorriu torto, demostrando pena.

- Não foi um urso que fez isso com você, certo? - ela perguntou e Amy negou.

- Foi apenas a.. minha mãe - Amy respondeu, sussurrando a ultima palavra.

O silêncio foi imediato, até o momento que Seth voltou para casa com Amy e eles se despediram de Emily com um "Até Logo". Logo uma discussão começou na pequena casa na reserva. Seth queria dormir no sofá e ceder a cama para Amy, já ela, se recusava a deixa-ló dormir no sofá e os dois acabaram juntos, abraços, no quatro de Seth. Uma situação cômica, se Amy não estivesse gostando tanto. Em anos, aquela era a primeira vez que se sentia segura depois da morte do pai. E ela apenas aproveitou o momento, ouvindo os batimentos de Seth perto de seu ouvido, seus pés gelados ao redor das pernas dele e um sorriso bobo no rosto. E assim, ficaram até cair no sono.