If I die Young bury me in satin

Lay me down on a bed of roses

Sink me in the river at dawn

Send me away with the words of a love song

If I die young- The Band Perry

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—Grace, nós vamos, só... Só me de um dia para resolvermos tudo por aqui, ok?

Eu não a respondi de imediato, apenas continuei andando de volta a casa, precisava processar tudo isso ainda. Minha família está viva, e eu vou reencontrá-los, nada me impedira, absolutamente nada.

—Tudo bem.
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Eu estava brincando com Judith dentro da casa, a pequena menina parecia não se importar com nada la fora, com os walkers, com as pessoas más, nada, ela tem seu próprio mundinho, regado a inocência, inocência que praticamente ninguém tem, exceto ela. Ela me olha com seus grandes olhos cor de mel e sorri tentando se apoiar no sofá para ficar em pé.

— Isso querida, venha aqui. — Eu disse estendendo a mão para a menina que tentava se equilibrar e dar um passo.

—SOCORRO! — O momento de ternura acaba com o grito das meninas, fazendo Judith cair e começar a chorar.

—Ta tudo bem, Judy, shshsh. —Eu digo a menina enquanto a pego no colo e a coloco em seu chiqueirinho. A menina continuava chorar no chiqueirinho enquanto eu pegava minha arma e corria para a rua depois de ouvir um tiro.

No lado de fora, pelo menos meia dúzias de walkers queimados arrastavam se ate o cercado, imediatamente comecei a atirar contra eles, junto com Carol e Tyreese, logo Mika se juntou também, ate mesmo Lizzie. Tiro após tiro, todos estavam mortos.

—Está tudo bem, você conseguiu. — Carol disse abraçando Lizzie que estava um pouco chocada com a cena, pelo menos ela entende agora, espero.

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Já era noite, eu estava esticada no sofá, Judith dormia em meus braços, Mika brincava com sua boneca no chão, Carol e Lizzie descascavam nozes na mesa e Tyreese cochilava na poltrona. Estávamos todos em um silêncio agradável, apenas o som das nozes quebrando e da lenha sendo queimada.

—Eu tive que fazer aquilo. — Era Lizzie quebrando o silêncio, fazendo minha atenção desviar se de Judith e estabelecer sobre ela.

— Entende o que eles são agora? —Eu pergunto a ela, colocando o bebe adormecido no chiqueirinho logo após indo em direção a mesa.
—Sim.

—É ruim e da medo, eu sei, mas é como vivemos agora, você precisa crescer. —Carol disse enquanto descascava mais nozes.

—Não quero ferir ninguém, não quero ser má. —Era miúda voz de Mika, vindo do chão da sala.

—Você tem que ser má algumas vezes. —Eu respondi olhando para a menina.

—Mas só às vezes. —Lizzie complementou.

—Acho que temos muitas nozes aqui, já estão enjoadas? —Carol perguntou com um sorriso.

—Não. — As irmãs responderem ao mesmo tempo.

—Eu conheço uma receita, vamos la. —Ela se levantou e foi em direção a cozinha, conosco indo atrás.

A receita consistia em assar as nozes com açúcar e canela. Já estávamos terminando a segunda forma quando Lizzie fez uma noz voar pela cozinha, ocasionado uma onda de risos de todas nós, eu devo admitir, a menina esta ganhando um espaço em mim.

—Eu fazia isso com a minha vó, quando eu era pequena e vocês já estão mais que prontas pra cozinharem, quem quer por no forno? —Carol falava com um tom amigável para todas nós.

—Eu!! — As irmãs falaram juntas novamente, indo em direção ao fogão. Carol sorriu pra elas antes de olhar pra mim e lançar outro sorriso no qual eu retribuí.

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Nós estávamos dentro da casa, brincando com Judith, a pequena menina continuava insistindo em ficar em pé sozinha. Carol e Tyreese haviam saído para procurar um cervo e nós resolvemos ficar aqui.

—Vamos fazer um piquenique? —Mika perguntou olhando para mim.

—Claro você prepara o lençol na rua e fica com Judith, eu e a Lizzie vamos fazer mais nozes tostadas.

—Tudo bem. —A menina respondeu saltitante enquanto pegava Judith e a levava para a rua com um lençol em mãos.

Eu e Lizzie fomos em direção a cozinha e começamos a preparar as nozes silenciosamente. Açúcar, canela, açúcar, canela.

—Eu não queria entender antes o que eles eram antes, mas quando quase pegaram a Mika eu entendi, de verdade. —Lizzie disse olhando para mim, as nozes já haviam sido esquecidas pela menina.

—Eu fico feliz por você ter entendido o que eles são. —Eu disse olhando para ela com um leve sorriso.

A menina assentiu retribuindo o sorriso e quando abria a boca para falar mais alguma coisa, ouvimos um grito vindo pelo lado de fora, que nos fez sair para a rua imediatamente. No lado de fora, um walker está sob Mika arrancando um pedaço de sua bochecha e os gritos da menina começaram a se calar conforme a vida da menina ia terminando.

—MIKA! — Lizzie correu em direção ao walker comendo a pele da sua irmã agora morta e fincou uma faca em seu crânio, retirando seu corpo de cima de Mika e apoiou se sobre ela a chorar e prestar seu luto.

Meu corpo foi retirado do choque quando ouvi o choro da pequena Judith e me fez ir até ela e aproximar ela de meu peito, tentando acalmá-la. Meus olhos encheram de lágrimas, lágrimas de uma vida tão inocente ter sido retirada desse jeito, lágrimas por Judith ter presenciado isso. Ouvi passos vindos atrás de mim e imediatamente apontei minha arma, apenas para descobrir que era Carol e Tyreese tão chocados com a cena quanto eu. Eu abaixei a arma e deixei que todas as lagrimas rolassem. Tyreese se aproximou de mim e tirou Judith de meus braços que continuava a chorar, eu estava sem forças para discutir, apenas deixei que a levasse.

—Lizzie... —Carol disse suavemente, se aproximando da menina em luto.

—E-Eu tenho que terminar com o sofrimento dela, eu preciso acertar seu cérebro. —Lizzie respondia com sua voz embargada do choro, seu rosto estava coberto do sangue de Mika, como suas mãos também.

—Eu posso fazer isso Lizzie, eu faço, só... Só preciso que você...

—NÃO! Ela é MINHA irmã, eu vou fazer isso. — Lizzie interrompeu Carol e logo pegou sua faca e por um minuto, o único som que se ouvia, era o som do crânio de Mika sendo perfurado.

—Tyreese, você leva as meninas para dentro e eu arrumo tudo aqui, tudo bem? —Carol disse com uma voz triste.

—Não! Carol, eu quero enterrar ela, você não pode tirar isso de mim, eu preciso me despedir dela. —Lizzie levantou-se desesperada, a tristeza da pequena loira está acabando comigo.

—Nós não vamos enterra la sem você se despedir, Lizzie.— Eu olhei para a menina com aros vermelhos. — Eu prometo, só precisamos deixar Carol cavar e nós... nós vamos nos lavar para enterrar ela. Mika não gostaria que a enterrássemos desse jeito.

A menina olhou para mim e assentiu, vindo em minha direção e me abraçou, eu prontamente a abracei de volta e juntas fomos para dentro da casa. Subimos os degraus da escada e fomos para o quarto no qual eu estava hospedada e a sentei na cama, ela estava totalmente aérea das coisas que se passavam ao seu redor, com os olhos sem brilho, focados em qualquer coisa na parede. Passo um pano úmido tentando tirar o sangue de seu rosto pálido e de suas mãos, a menina estava totalmente destruída.

—Foi minha culpa... Deveria ter protegido ela.

—Não é sua culpa. —Eu disse segurando suas mãos. —Hey, você não tem culpa de nada. — Minhas mãos acariciavam a da pequena menina.

—Grace, estou com medo. — Lizzie disse olhando agora diretamente para mim.

—Do que? —Perguntei sentando ao seu lado, a menina começava a chorar de novo. Peguei a cabeça da menina e coloquei em meu colo e comecei acariciar seus cabelos.

—De morrer.

—Você não vai, eu não vou deixar, eu estou aqui. —Eu sussurrei em seu ouvido enquanto continuava a acariciar suas madeixas.

—Você promete?

—Prometo querida.

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Estávamos todos em volta da pequena cova cavada por Carol, Tyreese caminhava em nossa direção com Mika em seus braços enrolada em um lençol, Lizzie estava ao meu lado, com seus olhos fixados no corpo da sua irmã. A pequena Judith estava em meus braços, sem fazer nenhum barulho parecendo entender o que acontecia naquele momento.

Enquanto Carol iniciava o processo de jogar terra sob o corpo da menina agora morta, Lizzie se afastou de mim e foi em direção a algumas flores. Virando-me, avistei Lizzie colhendo algumas flores e colocando junto ao seu peito. Ela retornou ao meu lado com as flores e voltara a observar o pequeno funeral da irmã.

Com o enterro terminado, Lizzie se aproximou da cova e deixou algumas flores silvestres em seu pequeno tumulo e logo se deslocou para a segunda cova com dois sapatinhos pendurados e deixou mais algumas.

—Lizzie, você quer dizer alguma coisa? —Tyreese perguntou para a menina.

—Vamos embora daqui.

—Nós vamos, Lizzie, nós vamos. — Eu respondi a ela com sinceridade.

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Eu estava com minha mochila sob meus ombros, meus olhos davam a ultima olhada na casa que me trouxe alegria e dor, lagrimas e sorrisos. Lizzie estava ao meu lado, também olhando para a casa, mais especificamente onde a irmã agora descansava, todos estavam fazendo isso, dando sua ultima olhada antes de voltarmos para o mundo real.

— Estão prontas, meninas?—Carol parou na nossa frente, nos perguntando.

Peguei a mão de Lizzie assenti para ela, antes de das mais uma olhada na casa e começar a andar para longe de lá. Talvez o Terminus seja um novo recomeço para todos, talvez todos nós poderemos viver de novo e não apenas tentar sobreviver.