Corine havia adormecido encolhida em seu canto e despertara quando Bellatrix gritou em seu ouvido para que acordasse.

– Vamos levá-la de volta. Lorde das Trevas tem uma lição para Draco – ela sorria radiantemente.

– Pra onde vocês vão me arrastar agora? – perguntou ela levantando-se.

– De volta para a casa do seu namoradinho. Temos um jantar de família hoje – riu ela.

Grayback aparatou antes de Corine e Bellatrix, deixando-as sozinhas no cômodo deteriorado.

– Está tentando me assustar? – Corine mantinha sua cabeça erguida como se pudesse enfrentar Bella apenas com seu olhar.

– Assustá-la? – a mulher riu mais uma vez sonoramente – Você é tão patética.

Corine puxou sua varinha que a muito vinha escondida dentro de seu vestido, entre seus seios e arriscou desarmar a bruxa mais velha que pairava a sua frente.

– Expelliarmus! – disse na esperança de que a varinha da mulher voasse para fora da sua mão, mas os reflexos de Bella eram impecáveis e o feitiço ricocheteou batendo contra uma das paredes de madeira ao fundo.

– Como ousa? – perguntou Bella direcionando a garota um olhar enfurecido – Você está pedindo para ser morta! Crucio! – exclamou ela vitoriosa.

Corine sentia como se seu corpo estivesse sendo repuxado e como se algo fosse enfiado em seu cérebro, fazendo-a ter a vontade de gritar ou talvez morrer. Era uma sensação terrível, ela mal podia expressar exatamente o que estava sentindo, apenas chorar e se contorcer contra o chão repleto de poeira.

Quando tudo aquilo foi embora ela ainda estava no chão, extremamente cansada e impotente como se não houvesse mais forças, nem líquidos e muito menos proteínas em todo seu ser. Ela como se estivesse morrendo aos poucos, porém ainda assim tivesse uma prolongação de vida apenas para sentir as dores e o sofrimento.

– Isso lhe serve como um aviso, minha querida? – perguntou Bella, apoiando a varinha em seu próprio queixo como quem pensa. Corine apenas a lançou um olhar fraco e raivoso de onde estava – Me parece um sim – então ela riu. Agarrou a garota pelo braço direito e aparatou.

Corine estava jogada no chão de mármore escuro dos Malfoy esperando misericórdia. Sua visão agora estava turva, embaçada e suas mãos tremiam. Sentia que seu corpo começava a se recuperar, porém ainda tinha a sensação de que poderia desmaiar a qualquer momento.

Olhou em volta e lá estavam alguns comensais, Draco sendo parcialmente segurado por Lúcio, que direcionava a ela um olhar de restrição, desprezo e nojo e seus pais.

Seus pais. Corine perdeu o fôlego por um longo espaço de tempo. Sua mãe chorava e seu pai tentava consolá-la de todas as formas ainda sem deixar de observar Corine caída no chão em sua fraqueza absoluta.

– Por quê? Porque John? – questionava sua mãe em voz baixa para seu pai.

Era responsável pela aflição de sua mãe e por seu sofrimento. Sabia que havia provocado aquilo quando se envolvera com Draco. Este ainda lançava-lhe um olhar preocupado, mas Corine sentia aquilo como se fosse piedade, piedade por tê-la envolvido em tudo aquilo antes de saber que ela era uma mestiça. Sentia nojo dela, tinha certeza. E então, com um súbito pensamento, um gesto impensado cuspiu no chão dos Malfoy e estampou o desprezo em seu rosto.

– Ela tem um grande talento para o drama – concluiu Lúcio com um sorriso e alguns comensais riram de sua situação ridicularizadora.

Draco ainda a olhava de seu lugar, mas sem ser repreendido pelo pai para que ficasse em seu lugar.

– Isso é tudo? – perguntou o Lorde das Trevas que agora estava de pé em frente a ela. Corine levantou seu rosto – Cuspiu num chão tão limpo só para igualá-lo a sua condição imunda de mestiça? Coloque-se de pé! Agora.

Corine levantou-se lentamente observando a feição ofídica de Voldemort.

– Pelos boatos que ouvi, Senhor – começou ela – Não sou a única mestiça nessa sala.

Voldemort pareceu sentir-se ofendido. Olhou em volta, encarando seus seguidores e procurando alguma expressão de divertimento entre eles e virou-se para Corine novamente, mas dessa vez levantando sua mão gelada e branca e metendo-a no meio da bochecha da garota em sua frente. Corine perdeu o equilíbrio por um momento breve indo parar no chão novamente. O impacto das mãos do homem contra seu rosto fez com que um pequeno corte se abrisse próximo a seus lábios, que latejavam fracamente.

– Fique longe da minha filha! – exclamou o pai da garota, vindo na direção de Voldemort como se pudesse realmente enfrentá-lo.

– Avada Kedavra! – disse a criatura a sua frente sem algum traço de sentimento em sua voz a não ser o prazer. Um raio esverdeado atingiu John Gouldfye diretamente no peito, fazendo com que seu corpo jazesse no piso gélido com os olhos vidrados e sem vida.

– Não! – gritou a mãe de Corine – Porque está fazendo isso conosco?

Voldemort virou-se para a mulher de cabelos escuros e ondulados como os da filha andando em sua direção e colocando suas mãos no queixo da mesma, olhando seu rosto com atenção.

– Digamos que sua filha prestou serviços a mim e não é mais necessária, agora que sabemos que é uma mestiça. O pai da garota tinha como mãe uma trouxa, a senhora não tem conhecimento de tais fatos?

A mãe de Corine ainda chorava e não dizia uma palavra.

– Se acha que sobreviverá apenas por seus pais serem bruxos e sua família ser sangue puro está totalmente enganada. Bruxos não devem se envolver com uma raça tão repugnante e você deveria saber disso antes. Você envergonhou seu nome, Celine Shire. Sua mãe deve ter ficado tão decepcionada.

Voldemort tinha expressão de desapontamento e deboche. Soltou a cabeça da mulher com força e virou-se para Corine mais uma vez. Chamou Draco a frente e o garoto emergiu, relutante no meio da sala.

– Veja bem meu querido. Deve aprender uma lição hoje: Mestiços sujam sua linhagem e, por mais que deseje estar com uma, por mais que a ame essa garota ainda não deixará de ser uma mestiça. Suja, impura.

Draco mantinha-se em silencio observando a cena. Corine chorava em silencio no chão observando o corpo de seu pai e o sofrimento de sua mãe sob o corpo sem pulso do marido.

– Toma conhecimento disso ou prefere morrer como os pais da garota? – perguntou o Lorde das Trevas apontando discretamente para o casal mais a frente.

– Vá em frente Draco – começou Corine – Diga e ele que eu devo ser morta, que eu não valho nada e que meu sangue está tão sujo que sou indigna de você! Admita que sou totalmente desprezível por meu crime de ter avós não bruxos! Fale ao Lorde das Trevas o quão foi nojento dividir sua cama comigo – sentiu seu coração despedaçar-se por completo após proferir essas palavras. Havia se entregado a Draco e agora era entregue por ele á Voldemort como um animal para o abate.

Lorde das Trevas bateu palmas enquanto todos, inclusive Malfoy, permanecia em silêncio.

– Muito comovente essa sua historia de amor, Draco! Espero que com o tempo a morte dela torne-se menos dolorosa com o tempo.

O Lorde das Trevas levantou sua varinha e abriu os lábios. Corine preparou-se para a morte, prendeu sua respiração e fechou os olhos enquanto apertava seu corpo contra o chão.

– Pare! – gritou Draco estendendo a mão e ficando entre a garota e o bruxo – Por favor, pare!

– Draco, pare de envergonhar-se – reclamou Lucio em seu lugar – Isso é uma vergonha.

Malfoy encarou o pai enquanto algumas lagrimas profundamente tristes rolavam por suas bochechas.

– Eu prometi que não te deixaria morrer Corine – falou ele dirigindo-se a ela sem olhar para seu corpo encolhido no mármore – E não vai, nem que eu tenha que morrer no seu lugar.

– Saia já daí Draco – ralhou Lúcio nervosamente intercalando seu olhar entre o filho e o homem a quem servia tão fielmente.

– Não! – respondeu – Não vou sair daqui. Corine vai sobreviver.

– Não seja idiota – repreendeu a garota levantando-se lentamente pelas costas de Malfoy – Se ele te matar me matará em seguida. Então não adiantará de nada morrer por mim Draco. Escute o seu pai e não se envergonhe.

Celine Gouldfye levantou seu olhar para a filha com um breve sorriso nos lábios. Passou as mãos pelo rosto do marido por um momento. Então se levantou e correu em direção a filha, agarrando seu braço.

– Obrigada por o que quer que tenha feito a Corine, Malfoy – disse tão rapidamente que Draco nem teve tempo para olhar para o rosto da mulher e então elas já tinham aparatado.