Fechou o zíper da calça justa com delicadeza, vestiu a velha e larga camiseta do Led Zeppelin, bagunçou um pouco os fios loiros para ganharem mais volume, e por fim deixou os olhos caírem sobre elas: Um par negro que há muito ela não havia condições de calçá-los. As calçou nos pés quase com orgulho, aquela era uma vitória. Colocou-se de pé e gostou do que viu, se identificava com o que via, a um ano atrás aquela mesma mulher chegara naquela cidade, mas seria hipocrisia de sua parte afirmar com convicção de que ainda era a mesma, quando ela chegou aqui seu coração era cego e iludido por outro homem totalmente diferente daquele que ela sabia que era o único que a poderia fazer feliz naquele momento.

- Meu deus! Se eu fosse um policial te proibia nesse exato momento de sair nas ruas! Isso é couro? – ele falou apontando para a calça dela

Anita exibiu um sorriso de glória e girou nos calcanhares mostrando o que acabara de vestir

- É claro que isso é couro

- Você parece uma maluca indo pra um show de metal – ele riu sozinho – ou pior, parece que vai matar alguém. Acho até que eu já morri por que você está mais sexy do que o meu pobre corpo pode suportar.

- Chega perto de mim pra você ver, estou o puro veneno!

O asiático soltou uma risada gostosa

- Vou parar de olhar, acho que estou ficando excitado – ele brincou escondendo o rosto entre as mãos

- Larga de ser idiota Mike! – Anita se olhou no espelho mais uma vez – Anda canta um rap

- Um rap?

- Canta caralho, deixa eu me sentir diva.

Ele gargalhou alto e acabou cedendo

Ya'll are not not r-ready no not r-ready no

We're about to drop it steady so

Do it like that, like that

like that, like that

like that, like that

like that

Anita começou a andar fazendo pose e rindo muito

Now why is everybody so petrified?

[what]

Petrified

[what]

Step aside

And just drop that...

[c'mon]

Drop that...

[c'mon]

Drop that...

[c'mon]

Drop that...

[c'mon]

Ambos gargalharam caindo na cama, Mike a puxou para junto de si.

- É estamos de volta no pedaço! Sobrevivemos!

- Pra onde vai agora?

- Vou visitar o Kevin, ele foi transferido pra penitenciária, acho que enfim ele saiu da situação que eu deixei ele.

- Não sei se acho uma boa idéia ir até lá sozinha

- Não precisa se preocupar okay? Vai ter um milhão de guardas lá, além disso, o Linkin Park precisa do rapper deles.

Um leve ar de desaponto passou pelos olhos de Mike, que Anita imediatamente notou.

- Algum problema?

- As coisas não andam muito bem sabe? Entre eu e o Chaz

O rosto de Anita se contraiu, ela ainda não havia achado uma maneira de contar para Mike o que havia acontecido quando Chester fora a seu resgate, mas ela temia que, em meio a esses ataques de fúria que Mike e Chester estavam tendo, seu primo acabasse abrindo a boca e falando de cabeça quente algo que ela devia conduzir com cuidado.

- Mike eu preciso conversar com você.

- Sobre o que?

- Eu preciso que você me ouça com cuidado, se depois do que eu falar você quiser ir embora, por mais que isso vá me machucar muito, eu vou entender – Os olhos de Anita já começavam a se encher de lágrimas, só a idéia de perder Mike mais uma vez já era assustadora, mas se ela queria construir algo verdadeiro com ele precisava ser sincera.

- O que aconteceu Ann? – Ele a olhava preocupado, aquele carinho dele só a destruía mais.

Anita respirou fundo e começou a descrever o que acontecera em seu regate, a medida que as palavras dela fluíam Mike sentia algo corroer seu corpo, mecanicamente ele foi se desvencilhando dela.

- Eu não consegui resistir, meu sangue falou mais alto. Mas me arrependi imediatamente, o que eu fiz foi nojento – Anita soltou um soluço forte – Ele sabe me manipular de um jeito que me faz agir como se tivesse 16 anos outra vez, mas machuca, destrói... Eu juro que não sinto nada por ele Mike, nada! É você quem eu amo e estou tentando explicar isso pro Chaz, mas ele não entende e me força a te machucar, mas eu não quero sustentar isso Mike! Pela primeira vez na minha eu acho que posso fazer alguma coisa certa, não quero que ele estrague isso, EU não quero estragar isso!

Anita afundou o rosto entre as mãos e chorou copiosamente, Mike permanecia estático, fitando o chão, absorvendo o que acabara de ouvir. Um segundo depois ele se levantou e falou:

- Levanta, nós vamos nos atrasar.

A loira ergueu os olhos confusa.

- Mas...

- Eu vou pensar a respeito disso, pare de chorar.

- Mike eu...

- Não fala nada Anita, sua voz ainda está ecoando dentro da minha cabeça.

De maneira suave ele a puxou pela mão, e ambos saíram em silêncio. Ele a levou até a penitenciária sem pronunciar nenhuma palavra durante todo o trajeto, apenas quando ela foi abrir a porta que ele conseguiu cuspir um ‘Tome Cuidado’, ela apena confirmou com a cabeça e saiu do carro.

Anita observou o carro de Mike se distanciar por alguns instantes, em seguida colocou os óculos escuros no rosto na tentativa de esconder a vermelhidão dos olhos, ninguém ali precisava saber que ela havia chorado, além disso, o lugar em que se encontrava exigia que ela demonstrasse firmeza.

Permaneceu sentada em uma sala aguardando até que o trouxessem, não pode deixar de lembrar todo o sufoco que acontecera ali. Desde as chantagens de Drew, a invasão do prédio, o tiroteio no show até chegar ao seu seqüestro. Um arrepio frio percorreu sua espinha, se ajeitou nervosa na cadeira, aquela não era hora de demonstrar medo.

A porta se abriu e Kevin entrou algemado, acompanhado de um guarda. Anita o analisou por um breve instante, os cabelos escuros agora estavam raspados, o corpo parecia mais magro e ela pode notar uma leve dificuldade dele para caminhar. A pele um pouco mais pálida, os lábios rachados que imediatamente se abriram em um sorriso ao vê-la.

- Eu sabia que você viria! Talvez demorasse, mas eu sempre soube!

Anita não conseguiu sorrir, sua expressão permaneceu fria e rígida.

- Eu não vou demorar – ela falou olhando para o policial na porta que apenas assentiu com a cabeça, ao voltar o olhar para Kevin novamente esperava que o sorriso em seu rosto tivesse se desfeito, mas não se desmanchara nem um pequeno centímetro.

- Você está tão linda, estou muito feliz que esteja bem. Já voltou a caminhar perfeitamente e vejo que até calçou suas botas, está perfeita outra vez!!

- Chega! Não estou aqui por motivos amigáveis. Estou aqui por que eu tenho um compromisso com minha consciência e eu te machuquei feio, cheguei a achar que tinha te matado. Só vim para me desculpar e ver se está recuperado, não para lamentar sua prisão, inclusive acho que ela foi bem merecida, posso dormir em paz outra vez sem ter que ter medo que um maluco me carregue para o meio do nada enquanto eu durmo.

O sorriso de Kevin se desfez lentamente.

- Entendo, não precisa se desculpar, eu preciso. Me desculpe, eu nunca quis te machucar.

- Não me machucou, mas feriu todos aqueles que eu amo, você não tinha esse direito

- Eles não te merecem, eles não te conhecem como eu, eles não te amam como eu!

- Cala a boca! Com quem eu fico ou deixo de ficar é problema meu! Sou eu que sei quem é bom ou não pra mim – Ele abaixou a cabeça envergonhado, Anita tentou se acalmar um pouco e respirou fundo, depois prosseguiu – Como estão as queimaduras?

- Se curando

- E os pontos nas costelas?

- Ainda doem, doem muito.

- Estão te atendendo bem?

Ele riu sarcástico

- Bem? Isso aqui é uma prisão Bennington! Não um hotel cinco estrelas!

A loira apenas franziu o cenho e ignorou a grosseria dele, aos poucos ele deixava seu eu natural falar, o eu agressivo e possessivo que Kevin tinha dentro de si. Anita desistiu de preocupar-se, se levantou para ir embora, mas antes de ir ainda perguntou:

- Quando é o julgamento?

- Daqui a seis meses

- Vejo você daqui a seis meses então

Em seguida a jovem saiu

**

- Tem certeza que é seguro? Eu nunca ouvi falar nesse tipo de vitaminas – A morena falava sem tirar os olhos do pequeno frasco

- Tenho, você vai se sentir melhor

- Eu realmente espero que funcione

- Acho até que pode tomar um pouco mais sabe? Você está muito magra Tali, há quanto tempo não dorme?

- Até perdi as contas – Talinda abriu um sorriso fraco – As gêmeas e Tyler sugam tudo de mim

- E o Chester não te ajuda?

- Sempre que pode, mas ultimamente ele anda tão estressado que prefiro que se mantenha longe. Hoje ele prometeu passar lá em casa para brincar com Tyler

Anna sorria fingindo satisfação com as palavras da amiga, podia ver nos olhos dela um leve brilho apenas de mencionar o nome do ex, ela se enchia de esperança até nos mínimos atos de afeto de Chester, aquilo irritava Anna.

- Agora tenho que ir, não quer almoçar com a gente?

- Hoje não Talinda, deixa pra outro dia

Talinda se despediu com um sorriso nos lábios e depois entrou em casa, Anna apenas observou-a entrar com uma expressão fria no rosto, em seguida foi embora.

**

- Olha pra mim Robert! Para de ser cabeça dura! – Brad tentava falar em um tom brando para que mais ninguém ouvisse aquela discussão – Não tem nada entre eu e a Claudia!

Rob fingia ignorar completamente a presença de Bradford e continuava fazendo seus afazeres, Brad o seguia como um cachorrinho falando baixo, até que o menor perdeu a paciência e agarrou o braço de Rob com força.

- Me ouve porra!

- O que você tem pra falar? Que vocês dois são só amigos? Isso você já disse Delson

- E o que você quer que eu diga? Que só por que você não deu assistência pra sua namorada agora ela ta matando cachorro a grito? Ela não está Robert! Ela te ama caralho!

- Me ama? Então por que ela terminou comigo? – Rob agora também elevava o tom – Ela pode até não estar tendo nada com você Delson, mas tem alguma coisa errada!

- Então por que não para de me tratar como o Judas dessa história e se resolve com ela? Eu não fiz nada, ela não fez nada!

Do outro lado da sala Mike permanecia calado em um canto afinando uma de suas guitarras.

- Preciso de ajuda com os vocais – O asiático levantou o olhar e viu um Chester aparentemente normal

- Tem certeza que precisa da minha ajuda?

- Sabe que preciso

Mike deixou a guitarra de lado e acompanhou Chester, ele entrou a cabine e Mike ficou do lado de fora monitorando.

- Ruim, tente estender mais os agudos – Chester obedeceu – Ainda não está bom, tente mais uma vez

Essa situação se repetiu cerca de sete vezes até que Chester desconfiasse de Mike.

- Isso tudo é uma brincadeira pra você?

- Não, você é que está cantando pior do que nunca – Mike permaneceu indiferente

- Pois não é o que parece para mim – Chester tirou os fones e saiu da cabine arfando de raiva – Eu estou tentando okay? Juro que estou tentando deixar meus problemas em casa, mas e você?

- Infelizmente meus problemas precisam de ajuda com a afinação da voz e não pude deixar em casa

- Mas que caralho Shinoda! Você já está com a porra da sua mulher okay? – Chester abriu um sorriso malicioso – Tudo bem que ela ainda prefere a mim, mas você já está com ela, agora para de fazer ceninha!

- Ceninha? – Mike riu sarcástico – Eu descobri hoje de manhã que meu melhor amigo fudeu com a minha namorada enquanto ela estava perdida numa floresta! Acha mesmo que eu estou fazendo a porra de uma ceninha? Isso deixou de ser uma ceninha a muito tempo Bennington!

Chester sentiu o sangue de seu rosto desaparecer completamente, aquilo havia sido a coisa mais infantil que ele fizera, manipular Anita daquele jeito. Ele sabia que havia usado o fato de conhecê-la melhor do que ninguém para excitá-la e seduzi-la, assim como ele também sabia que estava machucando mais gente do que deveria e a essa altura não fazia a menor idéia do que fazer para consertar.

- C-como soube?

- Ela falou pra mim – Mike outra vez se via perdendo o controle, um riso doloroso se abriu em seu rosto – Tem idéia do que é ouvir sua própria namorada dizendo que fez sexo com outro homem?

- Por que ela falaria isso? – Chester falou quase que para si mesmo

- Por que ela não quer jogar sujo Chester! Pelo menos um dos Benningtons quer ser honesto comigo!

- Você vai perdoar ela?

- Eu sei lá! Ainda nem to conseguindo respirar direito – Mike levou as mãos à cabeça – É você que me preocupa Chester. Você se perdeu de mim, eu nem sei mais onde é que você está.

- MAS QUE PORRA É ESSA QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI – Joe jogou algo no chão fazendo um imenso barulho, automaticamente todos se viraram para ele, até mesmo Dave que estava apenas sentado twitando – Por que vocês estão brigando desse jeito? Eu estou mesmo no lugar certo? É aqui onde meus amigos, minha família está? Por que eu não estou vendo minha família aqui

- Joe...

- Cala a porra da boca e me escuta Shinoda! Aliás, me escutem todos vocês – Ele respirou fundo, o asiático mantinha o cenho franzido e estava muito desapontado – Eu não sei que caralhos está acontecendo aqui, até por que ninguém me conta mais nada nessa porra, mas foda-se! Vocês são meus melhores amigos, eu dedico a vocês os últimos, sei lá, quinze anos da minha vida? E parece que isso tudo de uma hora pra outra está virando poeira diante dos meus olhos e pelo que? Mulheres? Vocês ficaram malucos? Nós somos maiores do que isso, nós somos amigos, uma família, somos o Linkin Park caralho.

- Joe você já ta vermelho e inflado, tenta manter a calma...

- Vai tomar no seu cu Dave!

- Okay, já me calei – O ruivo brincou um pouco.

- Todos vocês vão para casa agora, vão sentar e vão pensar direitinho no que está acontecendo aqui, a gente se vê semana que vem, até lá acho bom terem se resolvido. Eu não sei vocês, mas não vou deixar uma coisa tão grande como a nossa amizade e a nossa banda se perder, eu não vou permitir isso. Então Rob e Brad se resolvam, Mike e Chaz eu não faço a menor idéia do que está acontecendo com a única coisa na minha vida que eu tinha certeza que era inabalável, mas eu espero, oh não, eu imploro! Pra que se entendam, a amizade de vocês é importante demais, não só pra vocês quanto pra mim também. Me sinto mais seguro quando vejo que coisas como a amizade de vocês não se perdem, não façam com que eu me decepcione com isso – Mike e Chester se entreolharam rapidamente – Agora vão embora, todos vocês.

Joe caiu esgotado no sofá, em seguida os rapazes também saíram, todos em silêncio, apenas Dave ficou.

- Você está bem Hahn?

- Não Dave, eu estou com medo

- De quê?

- De ver meus amigos indo embora

**

Já havia escurecido quando ele entrou com o carro na garagem, antes de sair do carro ele puxou o telefone do bolso, passou o olho rápido pela agenda, olhou para o nome na tela e hesitou em discar, antes que o fizesse ouviu um baque surdo vindo do andar superior. Chester saiu do carro as pressas, ao abrir a porta da sala, ao invés de um jantar cheio de crianças, encontrou a casa coberta pela escuridão.

- Talinda? – Ele chamou não muito alto já que não tinha certeza se havia algum ladrão na casa. Ninguém respondeu.

Imediatamente ele subiu as escadas, correu ao quarto de Tyler, o garoto dormia um sono tranqüilo, ao ter certeza disso ele saiu correndo em disparada até as gêmeas, uma delas estava acordada e choramingava um pouco, provavelmente com fome.

- Tali? – Chester a chamou mais uma vez, sem obter nenhuma resposta novamente. Pegou a menina no colo, tomando cuidado para não acordar a outra pequena que ainda dormia, olhou em volta e achou uma bolsa térmica com um par de mamadeiras, deu uma para a criança enquanto a ninava, tudo aquilo estava muito estranho. Olhou pela janela e o carro de Talinda estava ali, então onde ela estava? Depois que a criança se satisfez ele a colocou novamente no berço e correu até o quarto que outrora fora dele com esposa, abriu a porta e levou um susto.

- Tali? Acorda, fala comigo – Ela estava caída e inerte no chão, parecia desmaiada. Tentou acordá-la de toda forma, mas ela não mexeu nenhum músculo – Tali, por favor...

Uma onda de terror tomou conta de seu corpo, levou o ouvido ao peito da morena e não ouviu nada, nenhum batimento.

- Oh meu deus – lágrimas de desespero já começavam a escorrer pelos seus olhos quando ele sacou apressado o celular do bolso e chamou o número que já estava na tela: Mike Shinoda.