The Last Time

Livin' On A Prayer


A visão turva ao acordar era algo rotineiro, os olhos castanhos fitaram o teto vazio e borrado por um longo instante, os óculos deviam estar na cômoda ao lado, mas não era nada que precisasse com urgência. Um par de mãos mornas contornou seu tronco, baixou seus olhos para aquela figura feminina suave e suspirou. A cabeleira na cor de fogo cobria parte das costas nuas da moça, mas deixava um de seus seios livres. Robert olhou carinhosamente para o corpo da garota e por um instante se sentiu velho, havia ao menos dez ou doze anos de diferença de idade entre os dois.

Julie, este era o nome dela, também tinha um sobrenome, mas no momento não lhe vinha à mente. Muito doce e jovem, era garçonete de uma cantina italiana, nem fazia idéia de quem ele era, se sabia, estava disfarçando muito bem. Assim que acordou e caiu seus olhos sobre a moça, um outro nome veio à mente de Rob, veio com tanta força que ele se controlou muito para não se contorcer resmungando na cama e acordar Julie.

Cláudia. Causava-lhe uma sensação tão estranha no corpo que nem ele mesmo sabia como descrever, uma agonia, uma coceira, isso, era isso, Kady era uma coceira, uma coceira que se coça até que a pele fique à carne e sangue, mas mesmo assim não para de coçar. Robert apenas fazia o que diziam sobre coceiras, se você parar de pensar, ela diminui e você pode fazer as coisas normalmente da sua rotina, até que você se lembra novamente e ela volta mais forte do que antes.

Robert cuidadosamente se desvencilhou do abraço da moça e caminhou para o banheiro. Antes de fazer qualquer coisa, fitou a si mesmo no espelho, os cabelos se desfazendo em um emaranhado de ondas e nós acastanhados tocando a pele dos ombros, Cláudia adorava aquele cabelo.

– Preciso cortar meu cabelo. – disse em único tom para o reflexo sonolento.

Depois disso pegou uma escova e desembaraçou os fios, fez a barba, pois se lembrou de Julie reclamando do arranhar dela em sua pele, terminou tomando um banho rápido e quando saiu do banheiro, a garota já não estava mais na cama. Enrolou melhor a toalha na cintura, soltou um resmungo baixo, e foi ao encontro dela.

– Julie? – disse em voz alta, mas sem obter resposta – Julie?

– Ah! Estou aqui embaixo!

Rob desceu as escadas mais rápido, teve a impressão de ter ouvido a voz dela vindo de um lugar em que ela não era permitida estar. Parou na porta do estúdio ofegante, bufando de irritação ao ver Julie muito tranquilamente acomodada no banco da bateria sem nenhuma baqueta em mãos.

– O que veio fazer aqui? – disse entre dentes, não era de seu feitio ser grosseiro, mas ele se sentia invadido quando entravam em seu estúdio sem permissão.

– Oh, eu estava procurando por outro banheiro quando entrei por acaso aqui, que linda sua bateria! Pode me ensinar a tocar?

– Não. – disse mais ríspido do que esperava.

– Ah... – Julie disse desanimada – Me desculpe.

A ruiva se levantou do banco envergonhada, usava apenas uma lingerie e de repente parecia até com vergonha dele. Ao perceber o embaraço da jovem, Rob soltou um suspiro pesado, se dando conta da própria grosseria, e se colocou diante dela.

– Me desculpe Julie, eu só não gosto que entrem aqui sem permissão, fiquei um pouco irritado.

– Tudo bem, eu entendo.

– O banheiro é logo ali à esquerda, vou preparar seu café da manhã okay?

Ela pareceu se animar um pouco com o tom doce de desculpas dele e sorriu, passou por ele e lhe deu um beijinho suave na maçã do rosto recém barbeada. Rob retribui a gentileza com um sorriso e assim que ela fechou a porta do banheiro, ele caiu os olhos sobre a bateria novamente e mais uma vez a coceira retornou, como ele imaginava, ainda mais forte.

– Segure as baquetas com mais firmeza

Ele estava sentado atrás dela e agora segurava as mãos trêmulas de Kady tentando ensiná-la a tocar bateria

– Com você atrás de mim vai ficar ainda mais difícil

Ele riu tímido

– Por quê? Muitas pessoas ensinam a tocar assim

– Eu não vou conseguir tocar uma nota sequer com você ai atrás

– Você quer que eu saia?

Ela demorou um pouco pra responder

– N-não

Robert fechou a porta do estúdio de maneira abrupta e voltou para o quarto para colocar uma roupa e fazer o café da manhã de Julie, precisava ocupar sua mente para que nenhuma parte do seu corpo voltasse a sentir aquilo, aquela coisa indefinida que ele internamente chamava por coceira, mas que ele sabia que devia ter outro nome, tinha medo do quão intensa seria a próxima lembrança.


**


Suas costas fizeram um ruído alto ao se chocarem com a madeira da porta e um riso involuntário e gostoso saiu de sua boca, mas rapidamente uma mão abafou aquela risada.

– Shhh – ele sussurrou em seu ouvido e ela pode sentir os fios ásperos de sua barba roçando levemente na pele de sua orelha.

Delicadamente as mãos dele escorregaram delicadamente pelos seus lábios, desceram pela pele do pescoço, Anita sentiu um arrepio gostoso quando os dedos dele tocaram a região sensível de seus seios, segurando ambos com a ponta dos dedos, os lábios dele então se encontraram com os seus, pela milésima vez naquela noite, ela sentiu sua boca morna se abrir e envolver os lábios dela entre os seus, umedecendo-os, grudando-se a eles, pedindo por mais e mais a cada enroscar de línguas, a cada mordida atrapalhada e faminta por saborear aquela paixão oprimida.

Os braços de Anita se agarravam aos músculos das costas dele com tanta força que, vez ou outra, Mike se afastava um pouco para respirar mais profundamente, mas sem perder conato com o corpo da loira, com o aroma daquela pele, daqueles cabelos dourados e sedosos que escapavam feito areia por entre seus dedos. A vibração que ele sentia naquele instante em seu corpo era semelhante à primeira vez em que se deitara com uma mulher, uma euforia gostosa, quase de um adolescente que ainda se fascina com cada pequena descoberta sobre o sexo.

As mãos dela foram mais velozes do que as dele, desceram depressa por toda a extensão de suas costas nuas e pararam em seu cóccix, os dedos puxaram afoitos o elástico da cueca e os empurrou para baixo, os olhos de Anita cintilaram de libido e ele rapidamente a enlaçou pela cintura, mesmo com a cueca entre as coxas, limitando seu movimento, a rodopiou pelo quarto e a derrubou na cama, arrancando mais algumas risadinhas dela, ele adorava o som da risada dela.

Anita observou Mike terminar de despir a cueca e chutá-la para longe, mordeu o lábio quando ele apertou seu membro entre suas mãos, logo ele voltou sua atenção para o corpo dela, Anita já mal podia se conter, aquela espera a estava deixando afoita e atormentando, ao passo que Mike parecia querer fazer cada pequeno gesto lentamente, saboreando cada pequeno passo dado naquela noite.

Mike puxou a última peça íntima do corpo de Anita como fosse o embrulho do último chocolate da Terra, pois logo que se desfez da roupa Mike a admirou por completo, os dedos de Anita desceram ansiosos para aquela região úmida, mas antes que a tocassem Mike aprisionou ambas as suas mãos.

– Por quê está tão apressada? – Mike disse baixo, dando uma leve mordiscada na pele entre o umbigo e a virilha dela.

– Não brinque comigo Mike.

– Não? Mas é aí que está a graça. – Mike abriu o seu sorriso malicioso e então levou as mãos ao clitóris dela, fazendo uma massagem rápida e constante, não demorou muito para que Anita soltasse vários gemidos e se contorcesse levemente com aquele toque.

Levou os dedos à boca e sentiu o gosto singular dela em seu paladar, aquilo o instigou a continuar, penetrou dois dedos lentamente nela, o que a fez soltar um uivo de prazer, enquanto movimentava os dedos dentro dela, estimulou seu clitóris novamente, abocanhando-o e movimentando a língua de encontro a ele. Anita se contorcia e arfava cada vez mais, apertando a cabeça dele entre as coxas. Quando ele viu que ela já estava próximo ao seu limite, inesperadamente interrompeu o estímulo e distribuiu beijos por sua barriga ofegante, até atingir seus lábios e beijá-los com fervor e paixão mais uma vez.

Anita o abraçou com todo seu corpo, braços, pernas, sentia o membro rígido dele se chocar cruel contra sua região íntima. Mike então elevou as pernas dela, encaixando-as em seus ombros, massageou rapidamente o próprio membro e então, sem mais demora, a penetrou de uma única vez, sentindo a intimidade dela se contrair e apertar seu pênis, o levando a soltar um gemido rouco de excitação.

Mike segurou a cintura de Anita com firmeza e deu início às estocadas, sentindo o corpo de Anita se moldar ao seu como se fosse um só. Sua boca se abria e se fechava sem produzir nenhum som, seus olhos o devoravam com prazer e devoção, observando o suor pingar de seu queixo e deslizar pela pele suavemente morena do tórax dele. A loira o puxou para ainda mais próximo de si e o beijou, ouvindo Mike gemer no meio do beijo.

Era como se a felicidade enfim estivesse ali, como se pela primeira vez desde que se conheceram a chance de uma felicidade próspera fosse finalmente palpável. Enquanto suas respirações adquiriam um único ritmo, Mike baixava as penas de Anita, uma de cada vez, sem interromper as estocadas, para depois se deitar sobre ela e poder encarar seus olhos mais de perto. As pernas livres dela apertaram os quadris dele, suas mãos se agarraram àquelas costas largas, deixando uma marca forte em sua pele.

As estocadas ficaram cada vez mais velozes, os gemidos de Anita davam lugar a pequenos espasmos e gritos, em um misto de dor e prazer, Mike mordeu o lábio inferior dela, o sugou, e arfou demoradamente quando atingiu seu clímax. Agarrou as coxas de Anita, deslizando os dedos exercendo uma sutil pressão naquela pele alva, a puxou para que erguesse o tronco, enquanto ele se colocava sobre os joelhos.

A loira sentou-se em seu colo e encaixou-se a ele mais uma vez, abraçaram-se novamente, mas era ela quem o conduzia agora, rebolando promiscuamente sobre seu pênis. Foi a vez de Mike saboreá-la com os olhos, afastou a cascata de fios dourados que cobriam o colo dela e com uma gentileza ímpar, apalpou cada parte delam começando pelos seios, medianos, alvos, de mamilos róseos, que ele segurou com as mãos em taça, quase os envolvendo por completo. Desceu as mãos pela curva de sua cintura, esguia, mas cheia de marcas de inúmeras brigas, e de cicatrizes do acidente, muita dor já havia tocado aquele corpo. “Muita dor tocou meu corpo também”, ele não pode evitar de pensar também. Antes de chegar ali tanto acontecera, tanta dor.

Abraçou-a com força, envolvendo aquela cintura com seus antebraços fortes e apoiando sua cabeça em seu peito, sentindo-a resfolegar ainda mais, seu coração batia descompassado e veloz. Mike sentiu que gozaria mais uma vez, mas Anita o fez primeiro, permanecendo agarrada a ele, suas unhas faziam um pressão intensa em sua pele, chegava a doer, mas ele não se incomodou. Gozou pela segunda vez na noite e Anita se desencaixou dele com relutância.

Enquanto ela se deitava novamente, ambos se fitavam, sorrindo um para o outro, agora não mais com aquela malícia de minutos atrás, era com doçura que eles se encaravam agora, como se compartilhassem de um segredo, de uma piada, apenas entre eles dois.

Mike se deitou ao lado dela e acariciou seu rosto, antigamente ele costumava ver muito de Chester nela, mas ultimamente não conseguia ver nada mais do que a própria Anita, seus olhos, seu sorriso, seu cheiro e sabor, tudo era apenas dela. Anita fez uma caricia doce em seus cabelos, puxando os fios negros e úmidos de suor para longe da testa dele, contornando a ponta de seu nariz e barba logo em seguida.

– Eu achei que você nunca mais sentiria alguma coisa por mim outra vez, eu achei... achei que tinha te perdido para sempre.

– Ann... – ele disse baixo, como se saboreasse aquele apelido novamente saindo de sua boca – Eu nunca deixei de te amar, você nunca vai me perder, eu estou com você agora, me perdoe por ter sido um idiota.

– Você não foi... eu é que...

– Chega. Nós não vamos mais falar sobre isso. Eu amo você, é isso que vai importar daqui pra frente, entendeu?

O tom de Mike, apesar de sério, era aveludado e suave. Inesperadamente, Anita o abraçou, um abraço diferente de todos, um abraço de gratidão.

– Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida Mike, eu te amo, eu nunca mais vou te magoar outra vez, você não merece. Eu nem sei o que um cara maravilhoso como você está fazendo com uma fodida feito eu, mas eu não quero que fique com mais ninguém, eu não quero mais ninguém, só você Mike.

– Sabe, isso é ótimo de se ouvir – ele riu e Anita corou – Você é minha e eu sou seu e é isso, só espero não levar outra bala perdida.

– Seu idiota, você quase morreu, não teve graça.

– Eu posso rir depois de ter passado não posso? Agora vem aqui, deita de conchinha comigo pra eu poder te encoxar.

Anita soltou uma gargalhada descontrolada e Mike tapou sua boca novamente.

– Shhh... – ele disse outra vez.


**


– É isso, eu estou morta – Kady disse depois de se jogar no sofá e afundar o rosto em uma das almofadas. – Não é possível que seres humanos tão pequenos façam tanta bagunça.

– Ta reclamando de quê? Daqui a uma hora você vai embora, eu vou passar o resto da minha vida com eles!

– Não fale como se não os amasse! – ela atirou uma almofada nele, mas esta caiu no chão antes de atingi-lo – Arg, até me falta força pra acertar a cara de um Bennington!

– Não fale como se não nos amasse – ele a parafraseou em meio à risadas e Kady exibiu sem cerimônias seu dedo médio para ele.

– Você é um idiota, assim como a sua prima!

– Falando nela... ainda teve notícias?

– Não muitas...

– Mike foi para lá – O tom de Chester foi mais desapontado do que ele esperava.

– Sério! Oh meu deus! Eles devem estar se comendo loucamente agora!

– Provavelmente... – o olhar dele se desviou.

– Ah, eu me esqueci, você e ela costumavam...

– Está tudo bem, ela vai ficar melhor com ele, eu atraio muita destruição. Estou começando a considerar as possibilidades de ser apenas eu e as crianças.

– Não seja estúpido! Você logo vai encontrar alguém que faça bem pra você e então você também vai poder fazer bem pra ela.

– Alguém como você?

Os olhos de Kady se abriram de espanto, por um instante ela se engasgou nas palavras.

– Nós somos amigos Chester, é diferente.

– Você não falou no Rob o dia inteiro...

– Isso não significa nada.

– Me desculpe, eu estou sendo um idiota e ainda estou enchendo o seu saco...

– Quando for a hora você vai encontrar a pessoa certa.

– Você está sendo, me desculpa mais uma vez.

– Não se preocupe com isso okay? – Cláudia olhou no relógio – Já está tarde, é melhor eu ir para casa.

– Tudo bem, eu te dou uma carona.

Chester se levantou e estendeu a mão para Kady se levantar, ele sabia que na estava apaixonado por ela, aquele comentário tinha sido idiotice. Ele não queria que pensassem que ele estava atirando para todo lado, talvez quem tivesse feito aquela pergunta fosse seu próprio ego.

Normalmente o seu ego era o culpado de tudo de ruim que acontecia em sua vida, jurou a si mesmo que tentaria controlá-lo ao máximo possível, não permitiria mais que ninguém além de ele mesmo se machucasse dali pra frente.


**


– Eu só posso ficar o domingo, prometa para mim que não vai insistir para que eu fique até segunda!

– Você pedir que eu faça essa promessa só prova que está louca pra ficar mais, então eu não prometo nada!

– Promete pra mim Spike!

– Me obrigue. – Um sorriso desafiador se abriu no rosto dele, e então ele enfiou a mão no bolso para pegar suas chaves. Anita então, de maneira inesperada saltou sobre as costas dele e começou a distribuir cascudos pela cabeça de Mike. – AAAAAAAH! Socorro!

– Toma seu safado, toma! – disse enquanto acertava a cabeça dele mais algumas vezes.

Numa tentativa de se livrar dela, Mike rodopiou algumas vezes e logo Anita se desequilibrou e caiu sentada no chão, resmungando, falando palavrões e mostrando o dedo.

– Você é desprezível Bennington!

– Cala a boca e me ajuda a levantar, seu chinês troll!

– Chinês? Tem certeza que eu sou chinês, Anita?

– Chinês, japonês, tudo a mesma coisa.

– E você faltou a aula de geografia! – Mike a ergueu do chão com um único puxão e a beijou rapidamente. – Olha só sua chata, por causa desse seu piti eu nem sei pra onde as chaves voaram.

Anita as encontrou sem dificuldade ao lado de um jarro de flores à esquerda da porta do apartamento, logo em seguida ambos entraram. Ambos jogaram suas respectivas mochilas no chão e então se jogaram no sofá, um pouco cansados.

– Kady vai surtar quando souber que estou aqui! – Anita disse quase que para si mesma.

– Mike? Oh Até que enfim voltou.

Anita ergueu o tronco quase que automaticamente ao ouvir o som daquela voz, a figura de Anna então surgiu do interior do apartamento, vestida em uma das camisetas de Mike, provavelmente trajando mais nada do que isso. Os cabelos castanhos e lisos dela estavam presos em rabo de cavalo torto, o olhar de Anita faiscou na direção de Mike, que aparentava estar tão surpreso quanto ela.

– Anna? O que está fazendo aqui? – Mike se colocou de pé e questionou em tom rígido – Pensei que tivesse voltado para sua casa.

– Eu sei, mas eu não consegui ficar lá... eu senti sua falta – disse em tom tão meloso que Mike teve medo de que Anita a agredisse.

– A polícia está procurando por você.

– O quê? Ela está foragida? Pelo quê?

– Ah, olá Anita, tão tinha visto você por aqui. – Anita imediatamente se levantou, seu corpo inteiro vibrava de raiva.

– Pelo assassinato da Talinda – as palavras saíram hesitantes pela boca de Mike.

– Você... MEU DEUS! ELA ERA SUA AMIGA! COMO PODE? E ainda teve a cara de pau de me incriminar no velório dela... sua filha da puta!

– Ann... se acalme por favor.

- Mike você precisa ligar pra policia e dizer onde ela está agora!

– NÃO! – Anna gritou – Você não pode fazer isso Mike.

– Eu não posso te esconder aqui Anna, a Tali merece ter isso esclarecido.

– Não pode me denunciar... não no meu estado Mike – o desespero de Anna era visível, ela tremia e suas mãos suavam, ela buscava uma última chance de escapar daquela situação, aquela era sua única alternativa.

– Estado? – os olhos de Mike se semicerraram desconfiados.

– Foi por isso que vim para cá – ela arquejava, parecia organizar as idéias – Eu estou grávida Mike.

– Não pode estar falando sério...

– Eu falo sério, não pode me deixar ir para a cadeia esperando um filho seu!

A fala de Mike então se foi, ele desviou o olhar de Anna para Anita e a loira estava muito pior do que ele, mantinha-se boquiaberta e uma lágrima ousada escorreu pela maçã de seu rosto.

– E-eu vou sair daqui – Anita pegou a mochila, mas Mike se colocou diante dela antes que ela pudesse sair.

– Não vá embora.

– Eu não consigo ficar aqui...

– Fique na cidade ao menos, amanhã pela manhã conversamos com calma. – Anita não respondeu, apenas foi caminhando a passos rápidos em direção à porta. – Eu te amo Ann.

Ela então bateu a porta com força atrás de si, Mike apoiou os antebraços na porta recém fechada e respirou por um longo instante antes de virar-se para Anna novamente.

Os olhos dela estavam marejados e ela tremia, mas ainda assim esboçava um ar de triunfo insuportável que fazia com que Mike se imaginasse esbofeteando-a com força, mas ele logo dispersou aquele pensamento, ele nunca agrediria uma mulher, por mais repugnante que ela fosse.

– Eu espero, para o seu próprio bem, que isso não seja apenas um golpe. – ele disse entre dentes.


**


Já passava das 23h quando Chester tomava o caminho de volta para casa, estava cansado e se sentindo um idiota por ter dito aquela coisas para Kady, justo ela que parecia ainda muito sentida pela separação com Rob. As ruas da grande Los Angeles estavam pouco movimentadas para um sábado a noite, estava ventando frio e uma tempestade ameaçava cair. Gostava de dirigir em alta velocidade com as janelas abertas em dias assim, o frescor que entrava por elas era rejuvenescedor.

Pensou no tempo em que já estava sem Talinda, o tempo aos poucos parecia cicatrizar aquela dor, a rotina aos poucos ia normalizando. É isso que acontece quando as pessoas morrem certo? Depois de um tempo, a dor vai sendo sobrepostas por contas para pagar, trabalhos a cumprir, filhos para criar e de repente, aquela dor se torna uma lembrança triste, que ainda lhe arrancará algumas lágrimas no decorrer da vida, mas que sempre o obrigará a seguir em frente. Chester se sentia assim, seguindo em frente.

A rádio do carro pareceu prever o que ele precisava ouvir, era uma música popular em todo lugar, mas nem por isso deixava de ser uma excelente canção.

Aumentou o volume, sabia que ao menos aquela música espantaria seu cansaço até que chegasse em casa. Sem muita demora, começou a cantar a música a plenos pulmões, não havia mais ninguém na rua, o carro era dele, o rádio também, não havia mal algum em perturbar a vizinhança de outras pessoas cantarolando um clássico dos anos 80.

Tommy used to work on the docks

Union's been on strike

Hes down on his luck...it's tough, so tough

Tommy costumava trabalhar nas docas

O sindicato entrou em greve

Sua sorte está baixa ... É duro, tão duro

Chester acompanhou aquele ritmo quase como se fosse uma de suas próprias músicas, sua língua acompanhava quase que com naturalidade. Quando o refrão chegou, soltou rapidamente as mãos do volante e gritou junto com o Jon.

Ooooooooh, We're half way there

Whoaaaaaah, Livin' On A Prayer

Take my hand, we'll make it, I swear

Whoaaaaaah, Livin' On A Prayer

Ooooooooh, estamos quase lá

Whoaaaaaah, vivendo em uma oração

Pegue a minha mão, nós vamos conseguir isso, eu juro

Whoaaaaaah, vivendo em uma oração

Na euforia da canção, virou a música em uma esquina escura, apenas a três quarteirões de sua casa, continuou dirigindo com uma única mão, olhou pela janela momentaneamente e teve a impressão ter reconhecido um vulto de longos cabelos negros esvoaçantes, aprecia flutuar pela calçada no outro lado da rua.

– Tali...?

O som de um “CRASH” ensurdecedor o assustou, o pegou de surpresa. Um corpo rolou pelo capô de seu carro, deixando uma mancha avermelhada de sangue, junto com o vidro trincado de seu pára brisas. Ele se distraíra por um único instante.

– Oh meu deus, oh meu deus, oh meu deus... caralho! – assim que parou o carro, Chester levou um curto segundo para retomar sua respiração, que ele havia prendido sem perceber logo no instante do choque. Desatou o cinto de segurança e saltou do carro tão esbaforido, que cambaleou para frente assim que seus pés tocaram o solo. Correu em direção ao corpo inanimado no outro lado da rua e ficou sem ação.

Era uma moça, uma jovem, tocou rapidamente em sua jugular e demorou um pouco para que ele enfim conseguisse distinguir entre o que eram os batimentos cardíacos da garota e o que eram os dele próprio. Ainda estava viva.

Ao tocar no pescoço da garota, suas mãos voltaram rubras de sangue e aquilo apenas serviu para que ele se assustasse ainda mais, enfiou a mão no bolso tremendo muito e ligou para emergência. Assim que o socorro foi confirmado, ele não tinha mais nenhuma alternativa a não ser aguardar.

Olhou mais minuciosamente para a garota, o corpo aparentava frágil demais, vulnerável demais, seu sangue havia embebido parte de seu rosto e de sua roupa, uma poça de sangue se formava ao seu redor em uma velocidade muito grande.

Chester apenas cobriu o próprio rosto e praguejou, a música, que ainda tocava em seu carro, ecoava alto pela rua vazia.

We've got to hold on ready or not

You live for the fight when that's all that you've got

Oooooooooooh, We're half way there

Whoaaaaaaah, Livin' On A Prayer

Take my hand, we'll make it, I swear

Whoaaaaaaah, Livin' On A Prayer

Nós temos que agarrar, prontos ou não

Você vive pela luta quanto ela é tudo que você tem

Ooooooooooooh, estamos quase lá

Whoaaaaaah, vivendo em uma oração

Pegue a minha mão, nós vamos conseguir isso, eu juro

Whoaaaaah, vivendo em uma oração