Campainha. Anita já se preparava para deitar quando ela tocou, ficou um pouco feliz por ainda não estar dormindo, pelo menos assim era um pouco menos de estresse. Ela se enrolou no robe preto e foi atender a porta, quando a abriu, sentiu um tremor percorrer sua espinha.

– Chaz?

O moreno abriu um sorriso suave, tinha a aparência cansada e o rosto um pouco pálido, mas mesmo assim manteve o sorriso.

– Será que eu posso entrar?

Ela abriu passagem para ele, que entrou puxando a mala, Anita olhou para a mala e fez uma expressão confusa

– Não foi para casa?

– Fui, mas eu não pude ficar – O rosto dela ainda demonstrava incompreensão, ele mordeu o lábio inferior antes de falar – Talinda descobriu tudo, descobriu sobre você.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, a bomba enfim havia explodido. Anita desabou no sofá e levou as mãos ao rosto. Era difícil de acreditar que a relação deles tinha se sido rompido e ela era a responsável. A angústia que tomara conta dela à tarde voltou com ainda mais força.

– E você – ela fez uma pausa breve – veio atrás de mim?

– Foi só em você que eu pensei quando fechei a porta atrás de mim – Ele estava de pé diante dela, os olhos baixos, esperando uma resposta dela – Você me quer aqui com você?

Ela permaneceu sentada, esperara a vida inteira por ele,agora ele estava ali, diante dela, verdadeiramente disposto a ficar com ela. Mas ela só conseguia pensar no motivo daquilo não estar sendo tão mágico quanto ela imaginara. Pensou em Talinda, em Tyler, uma criança tão nova e principalmente, pensou em Mike. Ela levantou o olhar e viu os olhos castanhos, quase negros, de Chester esperando pela resposta dela, ele mudara tanto, nem de longe se assemelhava ao adolescente que crescera ao lado dela.

– E então Ann? – ele estava ansioso por uma resposta, a primeira reação dela não foi exatamente como ele esperava, ela havia ficado tensa, retraída. Devia estar pensando em Mike. Uma pontada de ciúme o atingiu, não era nele que ela deveria estar pensando agora.

Ela se levantou e encarou os olhos dele, eram exatamente da mesma cor dos dela, a palidez da pele também era a mesma. Ela passou a mão pelo rosto dele, ele automaticamente fechou os olhos e segurou a mão dela junto ao seu rosto

– Você tem certeza que é isso que você quer pra você Chaz? – Ela falou baixo, quase sussurrando, como se as paredes pudessem ouvir

– Eu tenho, você é que parece que não esta muito a vontade.

– Não é isso Chaz, eu só estou com medo

– Com medo do Mike?

– De tudo, da sua esposa, da mídia e da reação do Mike também

– Eu não me importo, desde que você esteja comigo

Ela então deixou os lábios colarem aos dele, o medo que estava sentindo não desaparecera, mas era melhor sentir medo nos braços dele.

Ele a segurou pela cintura e aprofundou o beijo, dando algumas mordidas suaves em seu lábio e percorrendo as mãos pelas costas dela, apertando-a com força.

Ela a principio recebeu os beijos dele hesitante, mas a medida que ela sentia o toque dele na sua pele ela ia ficando mais relaxada e em uma fração de segundos ela passou os braços pelo tronco dele e correspondeu afoita aos beijos. Aquilo que havia sido proibido durante toda a vida deles enfim agora era permitido. Ambos estavam em êxtase, Anita permitia que seu corpo fosse perfeitamente conduzido pelas mãos dele, dessa vez sem pressa, sem medo de serem pegos.


***


A noite para ele havia sido péssima, dormiu pouco, se revirou muito na cama, assim que o relógio marcou 6h da manhã ele saltou da cama e entrou debaixo do chuveiro, apesar de começar a fazer frio, ele fez questão de tomar um banho gelado, talvez ajudasse a mantê-lo são. De todo modo, ele não conseguiu deixar de pensar nela por nem um segundo sequer. A expressão assustada dela ao ouvir que ele a amava, os olhos dela durante o show, Mike refazia na própria mente tudo que havia dito a ela antes, talvez ele a tivesse assustado com a declaração repentina, ou talvez ela simplesmente não o amasse e tivesse se sentido pressionada. A cabeça dele não se aquietava de nenhuma forma.

Se vestiu, engoliu algumas torradas com um pouco de café e saiu em disparada pela porta, não agüentaria esperar muito mais sem uma explicação dela. Subiu as escadas apressado e parou diante da porta dela, respirou fundo, relaxou um pouco os ombros e apertou a campainha. Levaram apenas poucos segundos para que a porta se abrisse, o rosto de Mike se congelou.

– Chester?

Ao ver o amigo do outro lado da porta, Chester também ficou tenso, sabia que dali pra frente as coisas não seriam fáceis, principalmente para Anita.

– Entra Mike.

Mike entrou em silêncio, aparentemente só Chester havia acordado na casa. Sentaram um de frente para o outro nos sofás.

– O que faz aqui tão cedo Chaz? – Mike no fundo tinha medo da resposta, ele já suspeitara da relação de Chaz e Anita uma vez, com ele ali, parecia que tudo voltara à tona

– Acho que é melhor você conversar sobre isso com a Ann

Depois da resposta de Chester, Mike agora tinha quase certeza de suas suspeitas, mas não falou mais nada, nem Chester. Ficaram em estado de estátua, apenas se encarando por quase 30 minutos, até que ela apareceu na sala. Tinha o cabelo loiro meio desgrenhado e se enrolava em um robe de cetim preto enquanto coçava os olhos.

O rosto dela adquiriu uma expressão de pavor ao ver Mike de frente para Chester na sala, sentiu o coração disparar nervoso, as mãos suaram e o corpo começou a tremer.

Os olhos dos dois se voltaram para ela, os castanhos de Chester pareciam tranqüilos, mas os castanhos de Mike traziam uma avalanche de perguntas e uma aflição que fazia Anita duvidar sobre o que realmente deveria dizer a ele.

– Bom dia Ann – as palavras de Chester, apesar de serem apenas um cumprimento, a intimavam a abrir a boca para falar

– B-bom dia – ela fez uma pausa esperando que Mike respondesse, mas ele não saiu do silêncio, então ela voltou a falar – Chaz, será que pode me deixar a sós com o Mike por um instante?

Chester assentiu com a cabeça e saiu da sala, Anita se sentou ao lado de Mike.

– Hey – ela falou um pouco sem jeito, ele tinha o olhar entristecido, já havia se dado conta do que estava acontecendo

– É agora que você me dá um pé na bunda, não é? – ele a encarou, o rosto dela não estava muito menos cansado do que o dele – Por que não foi honesta comigo desde o inicio? Devia ter me falado sobre ele.

– Eu não queria que as coisas tivessem acontecido assim Mike, na verdade, eu nem achei que isso ia acontecer

– Você me fez de idiota – ele abriu um sorriso amargo – Deixou que eu me apaixonasse por você, sem nenhuma perspectiva de me corresponder.

– Mike – a voz dela era quase um sussurro – Eu jamais faria uma coisa dessas com você, eu gosto de você – ela suspirou – O Chester é o meu passado, eu o amei durante toda a minha vida

– É mas esse tipo de coisa a gente comenta sabe

– Você queria que eu comentasse com você que amava outra pessoa?

Ele desviou o olhar

– Eu queria que você não tivesse me deixado ir tão longe sozinho. Mas no fundo eu sabia, você era muito estranha quando estava perto dele.

– Mike eu... – O coração dela palpitava, se ela falasse que também o amava ele seria capaz de acreditar

– A Talinda já sabe?

O rosto dela se contraiu

– Sabe

Ele então se levantou

– Acho que as coisas entre nós acabam por aqui não é?

Uma lágrima escorreu pelo rosto dela, aquilo era mais doloroso do que ela imaginou que fosse, se ao menos ele gritasse, dissesse o quão canalha ela havia sido com ele, se lhe desse um tapa no rosto, lhe xingasse, ou tivesse qualquer reação agressiva seria melhor do que a complacência que ele estava tendo agora. Doeria menos.

– Mike...

Ele deu as costas para ela, ele não estava se sentindo bem, estava se sentindo a mais tola das criaturas, o idiota da história, o corno e o pior de tudo, é que ele não conseguia deixar de pensar um segundo sequer que estava completamente apaixonado por ela.

Assim que a porta bateu atrás do asiático, Anita caiu em um choro angustiante, que roubava sua respiração através dos soluços. Ainda sentada no sofá, abraçou os joelhos e chorou. Chorou por ele. Era a primeira vez que chorava por ele, justo ele que normalmente só lhe fazia sorrir, o porto seguro dela acabara de bater a porta, carregando apenas a mágoa que ela despejara como uma bomba na cabeça dele. O choro saía sonoro por sua garganta, a mesma garganta que queria gritar o nome dele à todo som, queria gritar pra que ele voltasse, queria gritar por Mike Shinoda.

– Hey, calma. O que ele disse pra você? – Sem que ela notasse, Chester se aproximou e a envolveu em um abraço morno, ela não conseguia falar, o choro não permitia – Shhhhhh, calma, tudo vai ficar bem Ann, eu estou aqui com você.

Ela saiu da posição fetal e o abraçou, deixando as lágrimas caírem em seu peito, deixando pequenas gotas sobre a camiseta dele.

– Eu estou tão confusa – ela enfim conseguiu pronunciar

Ele se esforçou pra não demonstrar a irritação que essas ultimas palavras dela causaram, ele não queria que ela estivesse confusa. Queria que ela tivesse certeza do que queria, tanto quanto ele. Mas ainda era cedo, talvez ela só precisasse ter segurança de que ele realmente agora era só dela, ela só precisava de tempo para esquecer Mike.

O choro dela agora era baixo, sendo rompido apenas pelo volume dos soluços, ele deixou que ela recostasse a cabeça em seu peito e então começou a cantar baixinho em seu ouvido.

I dreamed I was missing, you were so scared
But no one would listen, cause no one else care

After my dreaming I woke with this fear
What am I leaving when I'm done here?

Eu sonhei que estava desaparecido, você estava tão assustada
Mas ninguém iria escutar, pois ninguém mais se importava
Depois do meu sonho eu acordei com esse medo
O que eu estou deixando quando eu estou acabado aqui?


A voz dele preencheu os ouvidos dela de uma forma que ela mal podia compreender. Os soluços dela foram diminuindo, fechou os olhos e deixou que a melodia e a letra da canção a acalentassem. Ele sorriu de leve ao ver que ela aos poucos se acalmava e se aconchegava mais junto ao seu corpo.


So if you're asking me I want you to know
When my time comes forget the wrong that I've done
Help me leave behind some reasons to be missed
Don't resent me, and when you're feeling empty
Keep me in your memory, leave out all the rest
Leave out all the rest

Então, se você me perguntar, eu quero que você saiba
Quando minha hora chegar esqueça os erros que cometi
Ajude-me a deixar pra trás algumas razões que deixem saudades
Não fique ressentida comigo, quando se sentir vazia
Mantenha-me em sua memória, deixe de fora todo o resto
Deixe de fora todo o resto


**

Drew acabara de fechar a mala, olhou a janela e viu o mar de prédios da cidade de Los Angeles.

– Acho que peguei tudo que precisava, e você, já fez suas malas?

– Eu não vou agora, Drew

O mais velho franziu o cenho

– Por que não?

Kevin estava permanecia sentado na ponta da cama olhando para a ponta dos pés

– Assuntos inacabados

– Que assuntos?

– Olha Drew, VOCÊ resolveu seus problemas com Anita, não eu

– Kevin a gente já falou a respeito disso antes, não quero problemas com a polícia, okay?

– Relaxa, não é nada demais, só quero fazer ela se lembrar dos foras que me deu

– Kevin, vamos ser sensatos okay?

– Já disse pra não se preocupar Drew, em dois dias eu volto pra Phoenix

Drew suspirou

– Tudo bem, só não arranje problemas pra mim ok? Agora eu vou indo fechar minha conta no hotel.

Os dois se despediram e Kevin voltou para seu quarto. O moreno mantinha um sorriso malicioso no rosto, estava contando as horas para poder sentir o aroma dos fios loiros do cabelo dela, sentir a maciez de sua pele alva, beijar seus lábios róseos, mesmo que fosse obrigado a forçá-la a ceder outra vez.



**


Ele dirigiu pela cidade totalmente sem rumo, entrou e sal de estacionamentos de lugares que ele não tinha certeza se deveria entrar e depois de circular por vários pontos da cidade, parou perto de uma rampa de skate, onde uma porção de adolescentes se divertiam fazendo manobras. Ele saiu do carro e ficou olhando à distancia. Ele não praticava nenhum esporte, mas gostava de observá-los. Queria ligar sua mente com qualquer outra coisa que o fizesse para de pensar em Anita nem que fosse por um segundo

– Com licença, você é o Mike Shinoda?

Ele virou o rosto para fitar quem o chamara, eram dois jovens, ambos com skates debaixo do braço, ele sorriu e os garotos não esperaram que ele respondesse, já haviam o reconhecido.

– Desenha no meu skate? – Um deles falou eufórico

– Claro! – ele puxou uma caneta do bolso, já estava acostumado a andar com uma no bolso.

Logo mais uns três garotos se juntaram a eles, puxaram celulares do bolso e tiraram fotos com ele.

– Você anda de skate? – outro, um pouco mais velho, lhe perguntou

– Ih cara, sei não, só gosto de olhar mesmo, sou uma tristeza encima dessa coisa

Foram as palavras mágicas, logos todos começaram a insistir que ele ao menos tentasse, acabou se rendendo. Pegou um dos skates de um deles e subir, tentou manobrar, mas logo escorregou e caiu da pequena prancha, arrancando algumas risadas. Ele ficou feliz por ter se distraído um pouco de seus problemas, nessas horas os fãs eram sua única salvação.

Depois de alguns minutos, se despediu dos garotos e entrou no carro, assim que deu a partida seu celular tocou, ele ficou um pouco entristecido ao reconhecer o número

– Tali?

– Oi Mike

– Como você está?

– Mal – ela estava fazendo um grande esforço para não chorar

– Eu sinto muito

– Então você já sabe?

– Sim

– Eu estou tão perdida Mike – ela se rendeu às lágrimas e começou a chorar

– Tente se acalmar Tali

– Não é só por ele ter me traído com ela Mike, eu soube de outra coisa hoje – ela soluçou – eu não quero ligar pra ele, eu preciso de ajuda

– O que aconteceu? O Tyler está bem?

– Não é nada com o Tyler, ele está dormindo, é outra coisa

– Fala Talinda, eu estou ficando com medo. O que está acontecendo?

Ela deu um suspiro na tentativa de recuperar o fôlego

– Eu estou grávida Mike. O Chaz vai ter outro filho.