P.O.V Nick

Deixei-a no chalé dela, como já era de costume, e fui pro meu. Cheguei lá e não havia ninguém. Eles já deviam ter ido pro jantar. Tomei um banho e saí. Minha barriga doía de fome, no entanto, eu estava infeliz. Ela não iria.

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Cheguei lá e mecanicamente peguei minha comida, sentei e comi. Não prestei muita atenção nas conversas e quando era chamado eu respondia com monossílabos. Estava sem vontade. Como era incrível que quando ela não estava eu desmoronava. Ela era a minha alegria agora. Estar sem ela, mesmo estando perto dela, era quase insuportável.

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Não aguentei muito tempo e logo voltei pro chalé. Onde encontrei um Bryan adormecido. Pelo menos, hoje, eu não era o único sem-coragem-pra-nada. Troquei minha roupa por um calção [meu preferido pra dormir] e deitei, sem camisa mesmo pois estava quente e o ar não estava ligado.

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Tentei dormir, mas não consegui. Só o que vinha a minha cabeça era um nome. Consegue adivinhar qual? Sim. Melanie. Aquela garota me deixava louco. Não no mal sentido... Mas ela simplesmente me fazia esquecer tudo. Eu só conseguia pensar nela e naquele beijo [quase beijo] de hoje cedo. É incrível que quando as coisas começam a dar certo, vem alguma coisa e atrapalha.

Lembrei da sensação do hálito quente dela perto da minha boca, da respiração acelerada enquanto eu me aproximava e me arrepiei. Eu amava aquela garota. Era certo. Eu nunca havia sentido isso. Nunca mesmo! Nunca me interessei por garota nenhuma. Eu as achava superficiais. Mas agora, com a Mel, era tudo tão diferente. Ela era diferente. E isso me atraia.

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Decidi levantar e pensar um pouco lá fora. Aqui no quarto ainda estava insuportável. Não que estivesse fazendo calor nem nada... Mas eu não conseguia ficar quieto. Então saí do chalé e fui tomar um ar.

Assim que passei pela porta uma sensação de alívio me atingiu. Não por estar mais fresco aqui fora, mas porque ela estava lá. Sentada no batente do chalé número 4. Abri um sorriso involuntário e comecei a andar em sua direção. Contudo, no momento que eu descia o batente do meu chalé, ela se levantou e abriu a porta para entrar, mas parou quando ouviu uma voz que vinha do escuro [e que não era a minha]:

- Sozinha? À noite? Você é corajosa. – Falou. Ela se virou procurando de onde a voz vinha, quando uma figura aparecia das sombras. Aston.

- Você. – O tom dela demonstrava que ela ainda guardava rancor, o que não era pra menos. – O que faz aqui?

- Calma Mel...

- Não me chame assim. – Ela rebateu.

- Desculpe... Melanie. Eu não estou aqui para... – Agarrá-la? Pensei. –...ofendê-la. – O que?

- O que quer então?

- Eu queria me desculpar. Por aquilo... Você sabe. – Ah ta certo! Ele agora virou santo. Afinal, porque eu ainda não havia me movido?

- Como é?

- Você ouviu. – Ela falou se aproximando. O sangue me subiu à cabeça. – Eu me arrependo por ter feito aquilo. E queria suas desculpas... – Nessa hora eu não aguentei.

- Você não tem o que fazer não James? – Perguntei. Mel se surpreendeu. Afinal, eu estava atrás dela.

- Nick? – Olhei pra ela e depois pra ele.

- Vai embora cara.

- Ei cara. Eu tô pedindo desculpas pra ela...

- Eu não quero saber. Eu...

- Não. – Ela interrompeu tocando no meu braço. – Tudo bem Aston. Contanto que não se repita, nem comigo nem com ninguém. – Ela falava confiante.

- Ok. – Ele falou e se virou pra ir. – Tchau Nick. – Pura provocação. Comecei a avançar atrás dele, mas mãos quentes me seguraram pelo braço e eu esqueci de tudo.

- Deixa ele. – Ela falou quando me virei pra encará-la. – Não quero que você compre essa briga. Até porque ela já era...

- Mel ele...

- Esquece Nick. Passa uma borracha. – Ela disse soltando meu braço e se virando. Respirei fundo.

- O que você tá fazendo aqui fora? – Perguntei.

- Não consegui dormir. – Disse se sentando no mesmo lugar que estava antes. Eu me sentei ao seu lado.

- Você também? – Ela olhou pra mim confusa. – Perdi o sono. Saí pra levar um ar.

- É. Eu também. – Falou e virou o rosto pra frente, encarando o jardim. Fiquei sem saber o que falar. Então ficamos um tempo em silêncio.

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- Porque você ia entrar?

- Tive uma ideia pra escrever...

- E?

- Acabei esquecendo. – Ela disse sorrindo.

- Também, com uma presença daquelas – Me referi à Aston – não tem que não perca a noção. – Ela riu.

- Verdade. – Falou e ficamos novamente em silêncio.

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Eu olhava pra frente, encarando o jardim. Estava escuro, mas isso não impedia a grama de brilhar com o orvalho refletido a luz da lua. Havia borboletas sobrevoando as flores aqui e ali. Era um cena bonita de se ver, ainda mais estando com ela. Mesmo assim eu sentia que faltava alguma coisa. Para minha surpresa ela falou algo.

- Tá pensando em que? – Disse ela ainda olhando pra frente. Pensei em falar qualquer coisa, mas decidi que já estava mais que na hora de....

- Você. – Disse rápido demais. Ela ficou rígida e me encarou pasma.

- O-o que? – Já que comecei tenho que terminar. Me endireitei virando meu corpo todo de frente pra ela e a encarei.

- Mel... Já tem um tempo que... E-eu – Ótimo! Estou gaguejando. – queria te falar uma coisa... – Ela ficou calada, esperado. – Bem, a verdade é que... – Eu estava com minhas mãos molhadas de suor. – eu gosto muito de você. – Pronto. Falei! Dei um tempo pra ela processar a ideia, tempo esse que eu também precisava pra me recuperar. Ela não falou nada. Esperei de novo, mais um pouco. Nada. – Mel? – Ela olhou pra mim. Seus olhos estavam uma mistura de confusos e... felizes?

- D-de verdade? – Eu sorri. Que pergunta...

- Mais do que tudo nesse mundo. – Eu consegui falar sem gaguejar. Ela pareceu mais confusa ainda. Me veio outra vontade repentina. Mas não de dizer algo, e sim de fazer. Me aproximei mais dela e olhei em seus olhos. Aquela imensidão azul perolado em que sempre me perdia. Entretanto, dessa vez eu não me perdi, eu me achei.

Coloquei a mão em sua nuca e a puxei pra mais perto. Foi como deja-vu. Eu podia sentir sua respiração acelerada, competindo com a minha. Seu hálito quente e doce inebriando meus sentidos, mas ainda assim eu pude encontrar forças para selar nossas bocas. Eu a beijei. Doce e delicadamente. Foi como me jogar num mar de doçura. Sua boca era suave e [por incrível que pareça] tinha gosto de morango. Me aproximei ainda mais e pus a outra mão em seus cabelos lisos. Ela, que até agora estava praticamente imóvel, se manifestou. Colocou as duas mãos em meus cabelos e os acariciou, nos juntando ainda mais. Nossas bocas juntas, agora se movimentavam em perfeita sincronia, nossas línguas travavam uma batalha que eu pensei ser impossível ganhar. Nesse momento eu senti uma onda de calma. Uma sensação avassaladora de paz, mas no mesmo instante eu senti um formigamento na barriga, por todo o meu corpo. Era incrível o que só um beijo podia fazer comigo.

Pouco tempo depois, nos soltamos procurando por ar. Ela arfava, eu também. Nós não havíamos nos distanciado tanto. Ainda estávamos de frente um pro outro, no entanto ela ainda continuava de olhos fechados, respirando pesado. Eu a observei encantado. Ela estava corada, seus lábios macios estavam num formato estranho, entre um sorriso e uma careta. Nesse momento eu fiquei curioso pra saber sobre o que ela pensava. Eu a respeitava sabia os seus limites, tinha mais ou menos ideia de que ali era o limite até onde eu podia ir... Mas ver seu rosto com aquela contradição, entre um sorriso e uma careta, seus olhos fechados e os seus pulmões arfando por qualquer vestígio de ar disponível, era muita tentação para mim, ela ia abrir os olhos, não pude segurar, aquela visão era tanto encantadora como tentadora, avancei selando nossos lábios novamente. Foi incrível. Eu a peguei de surpresa, ela não reagiu, mas eu percebi que havia feito algo muito audacioso, logo após de colar os lábios e os puxei novamente, arrependido (em parte).

- Mel eu... – Ela fez sinal de negação com a cabeça abrindo os olhos.

- Eu... Eu preciso pensar. – Então ela começou a se levantar. Eu me levantei também, e antes que ela desaparecesse pela porta do chalé eu a segurei pela mão e a fiz me encarar. - Nick eu preciso de um tempo. Pra... processar. – Ela falou sorrindo sincera. Doía a ideia de ter de deixá-la, mas eu assenti.

- Você me conta depois? – Perguntei com uma angústia no peito. Eu tinha medo de uma rejeição.

- Você espera? – Ela perguntou. Mas não fazia sentido pra mim. Eu não queria ter de esperar, queria saber agora. “Tudo a seu tempo.”

- O tempo que for necessário. – Disse e deixei-a ir. Levando consigo a resposta que eu tanto quis e queria. Quando ela sumiu de vista, o aperto no coração aumentou. Eu me senti nervoso. Quando ela ia, levava tudo consigo. Ela era meu porto, minha segurança. “Porque? Porque eu me sentia assim?”

Eu podia ter ficado lá, com cara de otário encarando uma porta de vidro, mas nessa hora eu realmente senti frio e percebi que estava sem camisa. Me abracei tentando aquecer e voltei ao meu quarto pra ver se conseguia dormir depois de tudo aquilo. Mas não consegui.