O segundo Kumate foi um evento conturbado. Hakiro escapou da morte por obra do imponderável, literalmente falando. Porém seu tormento continuou, com Eva invadindo o seu leito as escondidas e o intimando a continuar com o desafio. O Sabaibaru deveria seguir com o trâmite do Kumate até que houvesse em si um vencedor, como era a regra. Após um longo período de recuperação, Hakiro cumpriu com a promessa e foi até os domínios da manticore no interior da Floresta de Etofuru. Mesmo diante seus assédios e inteligência acima da média, Hakiro conseguiu dar uma reviravolta, apontando um erro grosseiro de Eva durante o primeiro duelo dos dois e a mostrando o que era ser um humano no mundo e para o mundo. Ele a venceu e entregou a Anis lasciva um ensinamento que a deixou sem palavras.

Mas a história continua, com o perigo ainda maior. Certamente os eventos desde último Kumate trouxeram aprendizados... principalmente a Jason.

Quem sabe para quê viver, descobrirá como”
Nietzsche, filósofo.

Uma semana depois...

Cidade de Etofuru | Começo da manhã

A manhã na cidade de Etofuru seguiu como de praxe, com os raios do sol iluminando os bosques e praças, trazendo um ambiente convidativo para os frequentadores a caminharem e praticarem atividades esportivas e recreativas. Nas ruas o movimento da manhã já tomava força, com trânsito mediano e transeuntes caminhando pelas calçadas bem cuidadas e limpas da cidade. O comércio local, ativo e variado, já atendia a demanda, principalmente dos cafés e padarias, que serviam uma refeição matutina muito apreciada pelos trabalhadores e moradores locais em toda manhã.

E justamente de manhã que era o início das aulas em período integral das tradicionais escolas e colégios japoneses.

Era hora de estudar, em mais um dia no...

Colégio de Aplicação de Etofuru | 07:00 AM

A vida colegial continuava do mesmo jeito de antes. Alunos chegavam ao pátio, conversavam em pequenos grupos, esportistas se preparavam para meus um dia de treinamentos... e estudos.

Rapidamente as salas do colégio de aplicação (onde a preparação para o ensino superior era um diferencial às demais agremiações estudantis tradicionais) se enchiam de alunos, uns entusiasmados e outros não, como de praxe.

Tendo como cenário a sala de aula do 3° ano, onde Jason estudada, o jovem de 17 anos estava fazendo a tarefa imposta por seu professor de inglês. Conhecedor da língua, não tinha dificuldades com a matéria. Mas logo a seu lado se sentou Kazu, que disse:

— Você tem um pouco da América no seu sangue, não?

— Hm? Ah entendi... Você conhece minha história... – Disse, demonstrando indiferença.

O jovem Humis percebeu que não deveria ter dito aquilo, ficando um pouco sem jeito pelo constrangimento causado. Mas ele não ficou calado:

— Olha, cara... Desculpa. Não deveria ter dito isso, desculpa mesmo...

— Tudo bem, Kazu... Não se sinta mal com isso...

— É que vi que você está mesmo levando os estudos mais a sério que de costume desde o início da semana...

— Por tudo que está acontecendo, só quero fazer algo pra me distrair... – Jason continuou a fazer a tarefa.

— Ah sim... O Kumate.

— Sim... Escute: eu quero conversar sobre isso, mas melhor fazermos isso no intervalo. O professor já está me olhando e se esse assunto vazar para o resto da turma, pode ser muito ruim.

— Tudo bem... Você tem razão.

Foi um ato muito prudente de Jason fazer isso, já que de fato o educador estava observando a conversa dos dois e se aliviou após Kazu voltar a sua carteira.

Sendo assim, a aula transcorreu dentro do esperado, com a correção da tarefa ocorrendo ao término.

Mas enquanto ocorria a aula, desde o início travem tivemos um evento inusitado em outro lugar do colégio.

Portanto...

Sala da turma do 2° ano | Segundo andar

Fomos então apresentados a classe onde Iamiko Hawoen fazia parte. A jovem tinha acabado de se sentar a carteira e a se acomodar para o início da aula. Mas, surpreendendo a todos, a professora de geografia precisou pedir licença a classe pois havia entrado junho com um jovem rapaz trajando o uniforme do colégio. Ele tinha cabelos de cor lilás e olhos da cor roxa e sua pele era mais pálida que os demais, tendo em vista que era original do país escandinavo.

— Alunos, peço que dêem as boas vindas a um aluno transferido diretamente da Rússia para nosso país... Cumprimentem Megal D'eathy

Seu carisma exótico por sua aparência logo chamou a atenção das garotas e causando até mesmo reações diversas aos garotos, mas Iamiko parecia estar tranquila com a situação. Porém, por parte de Megal, a situação era diferente e bastante estranha: seus olhos só se ficavam na jovem, mesmo que o escandinavo sequer mudasse de posição o seu semblante.

Ao fim do cumprimento cerimonial para novos alunos, ele caminhou por entre as carteiras, exalando um cheiro adocicado como se fosse de rosas, causando uma impressão bastante atraente e característico, onde as meninas manterem suas atenções pelo jovem a sua passagem. E ele se sentou justamente a carteira ao lado de Iamiko, até ignorou esse detalhe totalmente.

Megal, voltando seu olhar a jovem, até estava concentrada em seu caderno para o início da aula, disse:

— Você é diferrente das demais...

— Hm?! – Esse diálogo a desconcentrou – Falou comigo?

— Sim... Eu lhe disse que é diferrente...

— E porque está me dizendo isso?

— Porque não me cumprimentou e se preocupou com sua própria vida... Eu gosto disso, linda japonesa.

— Olha, vamos lá... Seja bem vindo. Mas já te aviso que não costumo conversar em sala de aula e eu tenho namorado.

— Hm... Um namorrado... Você também é engraçada.

— Como é? Porque fez esse comentário?

— Porque pensou que eu estava interressado em você... Aqui no Japão elogiar a beleza de uma garrota é uma prática a enamorrar?

Bem, Iamiko não esperava por essa. Ele faz uns pergunta pertinente e ela foi um pouco grosseira em insinuar que ele estava interessado em um relacionamento. Ela, um pouco sem jeito, disse:

— Aí... É Megal o seu nome, não?

— Sim... Porque?

— Pra te pedir desculpas pelo meu jeito. E não, chamar uma garota de linda não é paquera. Por isso eu estou bem sem graça... Eu te tratei mal e você só está querendo se enturmar.

— Ah compreendi... E eu gostei de ouvir você falar o meu nome.

— Porque?

— Vocês japoneses tem um jeito peculiar de ler nomes estrangeirros... A pronúncia correta é “Migal”... e meu sobrenome é pronunciado “Diti”.

— Ah... Tá... Entendi... – Iamiko estava mesmo confusa – *Esse cara é muito estranho...*

— Me diga... Você gosta de meu sotaque?

— Bem, cada um com suas manias. Eu não vou te julgar por ser russo.

Megal, se aproximando mais da jovem, logo a disse:

— Eu só estou te trollando, sabia? – O jovem falou desta vez sem sotaque.

— Hã?! Mas o que é isso?!

— Hehe... Você caiu mesmo nessa... Eu não sou russo, hahaha!

Os demais alunos até riram junto com Megal, mas Iamiko sequer esboçou alguma irritação. Ela até dialogou:

— Ah que bom pra você... – Disse, ainda mais indiferente.

— Que curioso... Você não se sentiu enganada. Poderia saber porque não ficou surpresa?

— Brincadeiras como essa eu via quando era criança. Vindo de um um garoto como você soa estranho... Você tem algum problema de interagir com as pessoas? Porque foi mesmo constrangedor te ver agir assim...

Mesmo com Iamiko se impondo, isso não fez com que a classe inflamasse contra o jovem de cabelos lilás. E mesmo com isso, ele se manteve com o mesmo sorriso em seu rosto pálido. Passado o momento de descontração e a revelação de que não era russo, o fez explicar:

— Eu sou japonês. Estava vivendo na Rússia um tempo e decidi voltar...

— A quanto tempo? – Perguntou a professora.

— A muito tempo, mas menos que imaginam – Disse, olhando para Iamiko.

A jovem se sentiu um pouco desconfortável com o olhar do recém repatriado e transferido aluno. Ademais, ele se sentou em sua carteira e a aula prosseguiu.

Após um bom tempo de estudos enquanto terminava sua tarefa, Iamiko foi novamente fitada por Megal. Incomodada com a afronta, ela se expressou:

— O que foi? Porque está me olhando?

— Nada... Não posso te olhar?

— Não, ué! Sabia que isso está me incomodando?

— E porque?

— Como porque? Um completo desconhecido e estranho começa a ficar me encarando feito um retardado e você ainda pergunta?

— Ah entendi... Você tem implicância com retardados... Está sabendo que isso é errado, não?

— O que?! Aí, paspalho... Eu não fiz nada de errado! Você que está me assediando, idiota!

— Você não respondeu minha pergunta. Mas vejo que você tem preconceito por pessoas mentalmente limitadas... ou estou errado?

A conversa chamou a atenção da turma e, principalmente, da professora. A profissional então se aproximou dos dois, se mostrando preocupada.

— Vocês dois aí... O que está acontecendo?

— Esse idiota não para de olhar pra mim! – Disse Iamiko, irritada.

— Isso é verdade, Megal?

— Sim... Mas ela faltou com o respeito para comigo e, principalmente, contra os retardados mentais.

A Iamiko ficou ainda mais irritada, fazendo um olhar incrédulo. Mas a professora estava sendo a mais neutra possível, então:

— Iamiko, o que você disse a ele?

— Professora, esse idiota está me incomodando e a senhora quer mesmo ouvi-lo?

— Ele fez uma acusação e eu preciso saber se é verdade. Então, o que você disse a ele?

— Ah... Eu o chamei de retardado.

— Você o insultou... E por todo o tempo o chamou de idiota, como eu mesmo ouvi!

— Mas ele me irritou! Como queria que eu agisse?

— Não importa, isso não justifica! Retardados mentais são pessoas especiais e que merecem respeito. Então peça desculpas.

— Como é!? Eu pedir desculpas?! Ele não é um retardado pra que eu tenha agido com preconceito!

— Isso só corrobora com o que acabou de fazer, reconheça!

— O que?! Mas...

Antes que Iamiko dissesse mais coisas, Megal tomou a iniciativa:

— Desculpa por ficar te olhando. Sabe, eu realmente te acho uma japonesa bonita e... Bem, fico meio “aéreo” com moças assim como você. Foi mesmo um assédio e eu estou profundamente envergonhado. Me perdoe.

— Megal, então você fez isso mesmo? – Disse a professora – Isso pode ser interpretado como assédio, mas fico mais aliviada porque você pediu desculpas. Não faça mais isso, está bem?

— Sim, professora.

E as atenções logo voltaram a Iamiko. A jovem, que estava de braços cruzados mostrando irritabilidade, mostrou sua revolta:

— É sério isso? Porque a prejudicada da história fui eu!

— Megal reconheceu que agiu de forma inapropriada, Iamiko. Então trate de fazer o mesmo!

— Ah que saco... – Ela olhou para Megal em seguida – Tá, desculpa aí... Eu não deveria ter te chamado de retardado... Desculpe.

— Que bom que se entenderam... Eu não quero mais confusão na minha aula, entenderam?

Passado a bronca, a aula retorna a tranquilidade. Mas o semblante nada agradável de Iamiko era muito perceptível, principalmente pelo jovem de cabelos lilás, que mantinha aquele mesmo sorriso no rosto.

Não foi um bom início de aula para a jovem Hawoen.

Uma hora depois...

Refeitório | 12:00 PM

— Cara, como você está depois do Hakiro ter jantado aquela doente?

Essa foi a pergunta direta de Jason a Kazu, referindo-se a Eva. Sentados ao refeitório, onde estavam outros alunos conversando ao fundo, o jovem Anis felino respondeu a pergunta:

— Eva agiu paralelo a meu arbitral.

— Como assim?

— Ela tomou a responsabilidade de toda a situação, regindo ao Kumate sem necessidade de minha presença.

— P*rra, mas como assim?! Tu me deixou mais confuso agora... Você é o Arauto!

— Sim, eu sou... Tenho essa autoridade. Porém Eva... – Disse, desviando o olhar.

— Porém Eva o quê? Kazu, o que está acontecendo?

— Jason, tem coisas que eu não sou autorizado a dizer. Não insista...

— Hm... Tudo bem. Eu não vou insistir nos seus assuntos, mas você tem que me dizer o que acontece agora...

— A que se refere?

— Cara, esses Anis aí... A treta era comigo! Porque envolveram o Hakiro?

— Jason, Wing deixou isso claro pra você, não?

— Aquele filho da p*ta falou deixando em aberto... Ele não me disse abertamente que envolviria o Hakiro!

— Pois bem... Envolve todos que tiveram envolvimento com você.

— Peraí... Todos? Cara, isso quer dizer que...

Mas antes que Jason concluísse o raciocínio, os irmãos Katsumo, Paladino e Sumo, estavam se aproximando a mesa. O assunto precisou ser encerrado, pra não gerar problemas. Os irmãos se sentaram a mesa, com Sumo dizendo:

— Olha só... O casal tá reunido!

— Casal?! – Disse Jason – Vocês dois aí que vieram juntos que parecem um... Haha!

— Haha... Relaxa, tonto! E então, do que estavam conversando?

— Coisas da classe... Só isso. Tivemos aula de inglês hoje e o Kazu pediu algumas dicas.

— Ah entendi...

— E então... Quando iremos voltar a treinar? – Disse Paladino.

— Em breve – Disse Jason – Deixa passar esse período de estudo dirigido...

E não demorou muito para que Kenta e Yamuro também chegassem. Com a dupla de defensores de sentando a mesa, Lenta diz:

— Fala, time! Já vi que cheguei na hora certa... Vamos pra quadra depois da aula hoje?

— Seria uma boa, já que corri muito hoje de manhã e estou querendo gastar mais! – Disse Yamuro.

Mas Sumo logo lhes deu a notícia:

— Galera, o Jason tratou com a gente pra esperarmos o fim dos estudos dirigidos. Eu mesmo estou com muita coisa pra escrever... Todo o tempo nessa semana será importante, então azedou o treino.

— Ah verdade... Não vejo a hora dessa semana acabar... – Disse o corredor.

— E a Lupa, Sumo? – Perguntou Paladino – Pensei que ela estaria aqui com a gente.

— Bem, ela disse que queria ficar um pouco sozinha no intervalo. Estava cansada e decidiu ir para a área de descanso. Mas ela está bem.

— Ah sim... Que bom que ela esteja bem.

Logo após os assuntos do time serem definidos, a conversa se seguiu enquanto almoçavam no refeitório cheio. Entretanto, por estar alguém faltando, Yamuro disse:

— Gente... Cadê o Hakiro?

Exato. Onde estaria o jovem? Pois bem, vamos até o...

Pátio central do colégio | 12:30 PM

Sentados ao banco do lugar aberto e cheio de alunos reunidos em todas de conversa, Hakiro estava fazendo companhia a Iamiko. Conversando a um tempo, a jovem Hawoen parecia um pouco irritada e, mesmo após uma conversa animada, ela não conseguiu esconder essa angústia.

— Ok, Iamiko... Estamos aqui faz quase meia hora... Nos encontramos ainda no corredor do segundo andar e você está um pouco tensa... O que aconteceu?

— Ah nada demais... Teve um garoto novo, transferido da Rússia...

— Já entendi tudo... Então vejo que não cocei a cabeça a toa hoje na sala... – Disse, em tom sarcástico.

— Seu mané! Não é nada disso, bobo!

— Hahaha! Eu sei... É que você assim emburrada comigo é muito fofo! Hehe...

— Bobão! Grr... – Disse, dando um soco de leve na barriga do jovem.

— Tá... Hehe... Para! Eu me rendo! Não quero voltar para o hospital!

— É bom se render mesmo, seu bobo! – Disse, o abraçando carinhosamente.

— Hehe... Ok. Mas esse garoto... O que houve?

— Sério... Eu hoje quase fui cancelada pela professora na sala.

— Como é?! Você?

— Mas ela estava certa. Eu chamei o aluno novo de retardado.

— Mas porque?

— Esse é o ponto que eu queria te falar: o cara ficou me olhando como se fosse um pervertido ou coisa do tipo. Eu fui tirar satisfação com ele e o cara começou a falar demais... Então você já sabe o motivo de eu ter chamado ele de retardado.

— É, eu sei... Mas Iamiko, porque tudo isso? Você já o conhecia?

— O cara veio da Rússia! Como eu iria conhecer esse cara antes? Sei lá, Hakiro... Eu não me sinto mesmo confortável com ele... O cara também tentou me trollar, mas eu coloquei ele no próprio lugar... Talvez esse tenha sido meu erro: dar confiança.

— Fica longe dele... Mas se ele insistir ou tentar mais alguma gracinha, me chama.

Iamiko, logo após ouvir as palavras de Hakiro, agiu como se não tivesse gostado do que seu namorado havia dito. E ela, o olhando nos olhos de uma forma bem séria, disse:

— Eu sei me defender, então não ouse se meter nos meus assuntos...

— Hã?! Iamiko, porque está falando assim?

— Não me trate como uma fraca. Eu já passei dessa fase a muito tempo... – Disse, caminhando em seguida – Nos vemos na hora da saída...

— Ah... Iamiko...

— O que? – Disse, se virando.

— Eu te amo, tá? Não falei aquilo por mal. Só quero você bem...

— Tudo bem... E peço desculpas se te assustei.

A jovem então seguiu em direção ao prédio onde ficava seu núcleo. Mas antes, até porque o intervalo estava prestes a chegar a seu fim, aproveitou o tempo de sobra e foi até o banheiro.

Minutos depois...

Toalete feminino do Colégio | 12:50 PM

Já estando frente ao espelho, Iamiko praticava a higiene de praxe após usar a privada. E enquanto arrumava seu cabelo, a porta do toalete se abriu e dela surgiu Lupa. Seguindo seu caminho até uma das privadas, continuou em silêncio enquanto a humana acompanhava seus passos no espelho, pensando:

*Essa garota... Eu a vi junto com Sumo várias vezes... Será que estão juntos? Jason nunca me disse nada sobre os dois... Estranho que ela nunca fala com ninguém... e também não a vejo se socializar com outras pessoas a não ser com o Sumo...*

Saindo do banheiro e caminhando em direção a sua sala, durante seu trajeto Iamiko foi surpreendida, vindo ao corredor, por Shizuka. As duas pararam de andar e ficaram ali, fitando uma a outra. Até que ambas começaram a caminhar, com as duas indo ao encontro da outra. E quando as garotas do Colégio de Aplicação de Etofuru cruzaram seus caminhos, a Anis lhe disse:

— Em breve tudo estará terminado...

Ela continuou caminhando, com Iamiko interrompendo seu próprio caminhar. E a humana perguntou:

— Do que está falando?

Shizuka sequer se virou, mas a respondeu:

— Sua vida...

— O que tem isso?

— Entre todos, você é a mais inocente... e forte. Por isso em breve tudo estará terminado...

— Você deveria continuar seu caminho. Sabe porque? Uma esquisita como você não sabe mesmo dialogar como alguém comum!

Mas alguém ouviu a conversa: era Megal, que interveio.

— Ora... Então novamente você está rotulando uma aluna?

— Hã?! Você outra vez... Não se meta!

— Não... Isso não é o certo... Você deve ter respeito pelos outros e não sair julgando as pessoas assim de forma arbitrária.

— Cara, você acabou de chegar nesse colégio e se acha o tal, não é? Não se mete na conversa! Cuida da sua vida!

— Mas eu estou cuidando da minha vida. É um dever como cidadão defender os injustiçados.

— Ah legal... Igual o que aconteceu na sala, não? Cara, vai procurar o que fazer! Já estou ficando sem paciência contigo!

— Hm... Por isso quer descarregar suas frustrações nos outros...

— O que?! Qual o sentido nisso?

— Você se acha a normal, a que deve ser o modelo... Essa outra menina é diferente de você e simplesmente a chamou de esquisita. Você deveria ter vergonha.

Iamiko precisou mesmo se concentrar de verdade, pois estava prestes a explodir de raiva. Embora Shizuka tenha a provocado, realmente ela foi ofendida, fato. E se controlando, ela deixou claro sua visão:

— Estou indo nessa, sabe? Passar bem para os dois...

A jovem então continuou seu caminho, indo em direção ao prédio de seu núcleo do segundo ano. E restando os dois lá parados, Megal disse: — Vocês me informaram com certeza. Esta humana tem mesmo irritabilidade acima da média... e será uma delícia provocá-la mais.

— Faça logo a que veio... A destrua.

— Ei, calma... Eu estou com muita vontade de fazer isso, mas antes de devorar o alimento nós precisamos pôr tempero, pra aí sim o paladar ficar saboroso na sua plenitude.

Essa conversa então nos trouxe a uma constatação: Megal D’eathy era um Anis. Mas existia alguém próximo aos dois que ouviu a conversa: Lupa.

— Mais um Anis... aqui neste lugar.

— Hm? Quem é você? – Disse Megal, olhando para a jovem.

— Ela se chama Lupa. Está no segundo ano... e é uma Anis... ou deveria ser – Disse Shizuka, de forma fria.

— Eu ouvi o que disseram... – Disse a lupina – Deixe-a em paz.

O jovem Anis púrpuro caminhou para próximo de Lupa e, a encarando, quis tirar sua curiosidade.

— Uma Anis que tem empatia com humanos não é uma de nós.

— Ser um Anis para você... O que significa?

— Uma boa pergunta. Eu tenho uma ótima resposta: somos melhores. Só isso já anula qualquer argumento seu.

Lupa ficou por alguns instantes em silêncio, pensativa sobre a veracidade do que Megal disse. Mas o Anis de cabelos lilás não parou:

— Você deve ter critérios bem “revolucionários”... Mas não passam de heresia. Melhor não se meter com a gente, já que se “enturnou” com a escória.

Shizuka, lhe dando as costas, também se expressou:

— Não perca tempo com ela. Como disse, ela tem sentimentos humanos... e se envolve com um.

— Espere... Essa aí está ficando com um deles? Nossa, eu estava até tendo pena dela, mas agora... Haha! Você deve ser a pior pessoa do mundo... e ainda vem cobrar de mim em não fazer nada contra qualquer um desses humanos... Patético.

— Megal, vamos... Você precisa seguir com o que veio... e eu devo voltar a sala de aula.

Porém Lupa estava mudada, com seu semblante demonstrando ira com o que estava acontecendo. Rapidamente e sem que Shizuka percebesse, ela segurou em seu ombro, com um trazer de ventos ocorrendo. Ela estava prestes a atacar, mas algo a aconteceu: um pensar diferente, de como se estivesse tendo... consciência.

Por causa disso ela deixou de manifestar seus poderes e, soltando Shizuka, disse:

— Usar o pior dos humanos não nos fazem ser melhores que eles...

Até mesmo a lupina de olhos cor de mel não compreendeu o que acabara de dizer. Shizuka e Megal a olharam com desprezo e, com Lupa alí imóvel, continuaram a caminhar em direção ao prédio do colégio.

E por alí ficou Lupa, entregue as próprias dúvidas que criou em sua mente.

*Porque eu disse isso e... porque isso me machucou? Essa palavra... “machucar”... Meu pai me ensinou mas... Eu já senti isso outras vezes... porém desta vez eu me senti... machucada.*

E enquanto caminhava para o prédio, a exemplo dos outros alunos, o mesmo pensamento lhe atormentou. E de uma lembrança bastante traumática, ela se recordou de alguém que lhe trouxe essa dor, mas ao mesmo tempo um conhecimento:

*Jason...*

O rosto de Lupa enfim fez retornar sua serenidade... e sua calma.

Minutos depois...

Sala da turma do 2° ano | Segundo andar

Novamente estávamos de volta a turma de Iamiko. Recuperada e mais calma, a garota estava prestando atenção a aula de biologia, com o professor passando exercícios ao quarto e a parte do conteúdo da matéria.

Mas praticamente durante toda a aula, Megal não parou de olhar para Iamiko e ela, que tinha conhecimento disso, se manteve sóbria o suficiente para não fazer nenhuma besteira.

E quase ao fim da aula e com o professor encerrando a explicação, justamente o Anis levantou sua mão e pediu a palavra:

— Megal... O que quer?

— Eu gostaria de dar um recado a turma... Poderia aí até a frente para fazer isso?

— Claro... Fique a vontade.

Caminhando até a gente da classe, Megal esbanjava carisma, com seu sorriso característico que conquistava o público feminino da sala. Iamiko desta vez o observou, estranhando sua atitude.

*Esse imbecil... O que ele vai fazer agora?*

De pé em frente a classe, o jovem diz:

— Hoje comecei a fazer parte dessa classe e vejo que sou um cara de sorte... Ótimos professores, uma ótima classe e o melhor ambiente possível para se estudar, então... Por favor, me permitam lhes dar uma salva de palmas!

Megal bateu suas mãos, salvando palmas a classe, que aceitou e o encorajou inclusive. Mas não era somente isso que o jovem queria tratar:

— Entretanto, eu preciso fazer duras críticas a Iamiko...

O burburinho na turma foi inevitável, com todos olhando para a jovem que, se levantando, diz:

— Como é? Do que está falando?

— Senhorita, sinto muito dizer isso, mas... Sua conduta para com os alunos desse colégio inspira cuidados.

— Porque está dizendo isso? Eu tenho ótima relação com meus colegas! E eu até faço parte do grêmio de karatê! Ninguém que passe nos critérios do grêmio que tenha mal comportamento pode ingressar... então o que está dizendo não faz o minino sentido!

— Ah... Não mesmo? Pois bem, não é bem assim...

Ele então pegou um documento que estava dentro de sua mochila, onde haviam imagens antigas e até recentes de Iamiko. Olhando para a classe, Megal continuou:

— Você no fundamental agrediu vários alunos, um inclusive está recebendo tratamento psicológico até hoje. No nono período do fundamental você faltou com respeito um integrante da Escola Uteida, sujando o nome do honorário grêmio de karatê do Colégio de Aplicação de Etofuru...

— Isso foi a muito tempo atrás! Eu era mesmo uma criança nervosa, mas tive vergonha da cara e saí dessa! Eu tinha 10 anos!

— Ah sim... E você com 16 mudou muito, não? Tirando seu desenvolvimento fisiológico, o qual foi muito “considerável”, seu comportamento não condiz com esse “desenvolvimento”...

— Você está louco? Cara, todo mundo aqui me conhece e sabe quem eu sou!

— É, sabem sim... Vamos então pegar algo recente: olimpíadas de Etofuru. Você, completamente frustrada em ter perdido a disputa da medalha de ouro contra a senhorita Shizuka Haruka, que indiscutivelmente dominou toda a luta e venceu por mérito próprio, foi quase agredida por você na frente de todos que estavam assistindo, inclusive por “dois pontos”: sua mãe.... O que você tem a dizer sobre isso?

Iamiko se sentiu pressionada, não somente pelos fatos levantados por Megal mas também pelo julgamento que a sua turma estava fazendo em conversas paralelas. Ela então se aproximou do Anis, que continuou a falar:

— Você chamou a mim de retardado... Será que não entendem que um simples pensar neste tipo de alcunha já não lhes dizem que estamos diante uma aluna tóxica? Devemos proteger nossa sociedade e para isso precisamos questionar a todos os indivíduos que agem como Iamiko. Eles precisam entender que devemos ter pessoas acolhedoras e compreensivas onde moramos e como vivemos! E então... Vocês estão comigo nessa?

A aprovação foi unânime. Megal fez mesmo um discurso que inflamou o brio de todos os alunos e até da professora... menos Iamiko. A jovem já estava a dois passos do Anis e, mostrando irritação, expressou sua opinião:

— Belo discurso... Mas você não me conhece! Porque essa implicância?

— Bem, depois de hoje, vejo que te conheço bem. Igual ao bullying que você fez a Shizuka, que simplesmente estava conversando e você deliberadamente a ofendeu, chamando-a de esquisita. Eu ouvi você dizer “implicância”? Ah sim...

— E desde quando chamar alguém de esquisita é uma ofensa?

— Vejam só, colegas... Vocês ouviram por si só. A cultura tóxica que ela produz já criou sua própria bolha...

— O que?! – Disse, irritada – VOCÊ PERDEU O JUÍZO?

— Melhor abaixar a voz... O professor não vai gostar de ver você exercendo seu lado tóxico aqui.

— Cara, qual é a sua? Eu nunca te vi antes e nem sabia de sua existência, seu m*rda!

Como Megal disse, o professor não gostou mesmo de ouvir o que disse:

— Iamiko, que modos são esses?

— Será que o senhor não está vendo o que ele está fazendo?!

— Ele tem o direito de se expressar e está dizendo seu ponto de vista com fatos. E você usou um vocabulário inapropriado... Então peça logo desculpas por isso!

— Como é?! O cara começa a cagar regra que ele tirou do rabo e eu que devo pedir desculpas?!

O Anis estava mesmo disposto a tirar a paciência de Iamiko. Por isso:

— Você deveria mesmo lavar sua boca com sabão depois do que disse...

A jovem não era como as demais meninas que davam tapas em atrevidos: Iamiko aplicou um soco no rosto de Megal, o atingindo em seu queixo e o fazendo desequilibrar e cair. O susto da turma foi grande, assim como do professor.

Bem, quando esse tipo de coisa acontece, todos já sabem onde vai parar.

Diretoria do Colégio | 16:40 PM

Sentada na cadeira situada no corredor da área administrativa e docente do colégio, Iamiko estava sozinha, até que Hakiro e Jason, que receberam a notícia, pediram licença de suas classes e foram até a jovem. Com ela demostrando abatimento, Jason diz:

— Então o cara estava te provocando o tempo todo e o professor nada fez?

— Fez sim, tanto que estou aqui esperando minha mãe, que está conversando com a diretora.

— Mas Iamiko... – Deste vez era Hakiro – Você tinha que dar logo um murro na cara do vacilão?

— O cara cavou até achar o que fiz no passado e tentou me cancelar com isso... Você acha que eu ia deixar barato? Nem morta!

— Mas você correu um risco muito grande em fazer isso... Precisa de controlar.

— Controlar?! Porque não foi com você, Hakiro! Fizeram injustiça comigo lá, eu não admito isso...

E após um tempo de conversa com a diretora, a senhora Azika Hawoen deixou a sala de reuniões, seguindo até o corredor onde estavam os três. E com isso, demostrando irritação em seu rosto, ela diz:

— Vamos embora...

— Mãe, e aí?

— E aí? Aí que você só não foi expulsa porque o garoto que você deu um soco não prestou queixa! Se não fosse por ele ser muito compreensível, a essa hora você estaria com um baita problema...

— Ok, chega! Você chamar ele de “compreensível” foi o cúmulo!

— Iamiko, entenda: não importa se ele te provocou ou se foi injusto com você. Tudo isso foi apagado no momento que você deu um soco nele! Sua razão foi jogada no lixo!

— Mas mãe...

— Não vem com esse papo de “mas mãe”! Você já tem 16 anos, não é uma criança... O que você fizer agora trará consequências para toda a vida! Iamiko, você esmurrou um garoto na frente da classe toda! Não percebe a gravidade disso?

— Ele pediu por isso o tempo todo!

— Já basta! Vamos pra casa... – Disse, olhando para frente – Hakiro, se quiser vir com a gente eu lhe dou uma carona.

— Ah obrigado, senhora Hawoen... Mas eu vou precisar passar no mercado antes. Minha mãe mandou mensagem e disse que temos visita...

Depois da breve conversa, Azika Hawoen com Jason e Iamiko seguiram para o carro, mas não sem antes Hakiro dizer:

— Iamiko...

— Sim? – Disse, já dentro do carro.

— Mas tarde a gente se fala, ok? Te mando uma mensagem...

— Tudo bem... Cuide-se.

— Você também... E outra coisa...

— O que?

— Te amo, tá?

O sorriso de Iamiko voltou em seu rosto depois do gesto carinhoso de Hakiro. Embora o momento fosse mesmo tenso, o pouco de amor que recebeu já foi o suficiente para lhe trazer um pouco de calma.

Mas por quanto tempo?

Horas depois...

Arredores de Etofuru | 19:00 PM

Naquela noite fria que já escurecia a cidade, temos como cenário a mata densa que se encontrava nas redondezas do quarteirão onde ficava a residência da família Hawoen. E dentro da floresta escura lá estavam Piece 1 e Spark. Diante os dilemas das últimas semanas e nos próximos desafios que estavam por vir, a conversa era acerca de seu futuro.

— Meu senhor, o seu poder... – Disse o canino – Já o restabeleceu por completo?

— Não... e não será um processo rápido. Creio que esteja voltando aos meus 25%, que era o meu Potencial quando acordei aqui nesta cidade humana.

— Por sorte não sofremos mais ataques...

— Spark... e seu poder?

— O que quer saber, meu senhor?

— Você tem estabilizado seu poder a 100Ω, o que me preocupa... Porque o está limitando?

— Meu senhor, melhor do que ninguém sabes que eu tenho meu Potencial controlado para evitar que me rastreiem. Faço isso desde que conseguimos escapar do cento de pesquisas...

— Hm... Eu ainda não tenho essa lembrança.

— Não recebeu mais de suas cópias?

— Não... E isso me preocupa também. Desde que fui voluntariamente levado por aquela Anis lupina, isso me causou essa impressão. Eu realmente não me recordo dela e nem de seu pai, o lobo chamado Moonsand.

— Meu senhor, não me lembre disso... Eu falhei com o senhor e quase trouxe o seu fim... Me arrependo profundamente por ter limitado meus poderes.

— Era exatamente o que eu queria saber. Moonsand é um oponente poderoso... assim como você. Por muito pouco você já derrotou adversários com facilidade. Por mais que aquele lobo insolente seja verdadeiramente forte, você lidaria com a situação.

— Meu senhor, eu me equivoquei em não ter respondido a altura de seu poder e peço perdão pela minha falta, mas...

— O que foi?

— Eu não queria perder o controle, como a que me ocorreu no centro...

— O caminho que eu estou traçando é justamente esse. Me responda: você não o fez por um motivo pessoal, não é?

— Meu senhor... – Disse abaixando sua cabeça.

— Responda... É uma ordem.

Spark até tentou relutar, mas seu mestre exigiu uma resposta. Sendo assim, ele disse:

— A humana...

— Eu sabia! E eu sei muito bem que emoções humanas não convém a você...

— Grr... – A irritação era evidente – Meu senhor, tenho pleno respeito e obediência ao senhor, mas não se atreva a dizer que estou comovido por essa raça asquerosa e vil que é o ser humano.

— Então eu quero que me explique... Agora!

— Desejo profundamente, assim como o senhor, exterminá-los a todos! Sem pena nem piedade, todos irão pagar por tudo que fizeram a nós! Não importa como, mas iremos limpar essa terra maravilhosa e fazer de Riviera um lugar concreto, onde os Anis reinarão! Mas aquela humana... Iamiko... Ela é a única humana digna de ser poupada e... protegida.

— E porque a humana merece por isso?

— Ela é pura... e concordamos em muitas coisas... Mesmo que nunca iremos nos falar, eu concordo com suas atitudes e ideias. Em outras palavras, ela é a única humana que deve ser protegida por mim... e assim farei até partir para Riviera.

— Isso explica porque não lutou com seu poder aflorado contra Moonsand. Ele podia tê-lo matado inclusive... e mesmo assim preferiu seu fim ao invés de manifestar todo seu Potencial só para protegê-la... Enfim, você realmente a respeita.

— Sim, meu senhor... E novamente peço perdão pelo o que eu fiz e agradeço pelo que fez por mim. Estou em mais débito com o senhor.

— Hm... Eu o perdôo... e respeito seu zelo para com a humana. Eu sei bem o que você sente...

— Sentir coisas.... Sentimento. Emoções humanas não são pensamentos dignos de um Anis. Meu senhor, aquele humano significa muito para o... – Ele foi interrompido.

— NÃO EXAGERE! – Gritou Piece 1 – Você sabe muito bem do porquê de eu querer protegê-lo. Ele é meu ressonante e irei começar meus planos em breve... *Spark não entenderia a importância que Jason tem...* Até que não atinga meus 100%, terei de livrá-lo de ameaças. Aquele Anis ave chamado Wing 11 (eleven) deixou claro que estamos em um tipo de desafio... Jason me disse que seu amigo, Hakiro, venceu aquela Anis a uma semana atrás...

— Mas eu não senti seu Potencial, meu senhor. Na última vez eu havia rastreado seu paradeiro naquela floresta, mas...

— Os Humis conseguem esconder seu Potencial. Eles são tão humanos que sua natureza Anis fica reclusa como que fosse um couraça. Não há como saber quem é humano ou Anis enquanto eles não se manifestarem como um.

— Isso definitivamente é um imenso problema, meu senhor...

— Concordo...

A conversa se seguiu entre as árvores centenárias da região verde de Etofuru, mostrando que a dupla de Anis, do mandante ao subalterno, estavam mesmo preocupados com o desenrolar da situação inusitada e crítica que estavam passando.

E enquanto isso...

Floresta de Etofuru | Cachoeira Fujioshi

Tomemos como cenário desta vez a grande floresta que traçava até às montanhas da região de Etofuru. Por entre as águas pesadas e geladas da cachoeira, uma passagem secreta nos levou até um um riacho ornamentado, onde podíamos ver uma casa rústica de madeira que fugia totalmente do estilo japonês.

Era a casa dos irmãos Haruka.

Porém havia um visitante ao lutar: sentados na sala de estar, lá estavam Kuon e Megal conversando. Na sala aconchegante e enquanto ouviam música clássica, tomavam suco de fruta enquanto o jovem de cabelos lilás dizia:

— Uma bela casa vocês tem por aqui... Na Rússia as coisas são mais rústicas e frias, se me entendem...

— Agradeço o elogio, mas e acerca do Kumate?

— Hm... Vocês são muito apressados. Sua irmã também havia me contado... Vocês precisam saborear melhor suas presas. Iamiko é só uma humana presa em seu próprio desejo de ser aceita... Eu entendi isso no dossiê que o Arauto levantou dela.

— Resolva logo esse Kumate, Megal. O Conseil o autorizou a exigir seu Sabaibaru, mas você sabe das restrições e todas as regras, não é?

— Precisamente...

— E porque escolheu logo a Iamiko? Já deveria acabar com Jason Hawoen desde o início e logo após o restante deles!

— Hm... Hehe... Você está dizendo isso porque ele o derrotou, não é?

— Hunf... Isso não é o que estamos tratando! – Kuon ficou um pouco irritado.

— Isso me leva a uma conclusão: você quer o subjulgar, mas perdeu essa oportunidade. Porém você quer muito fazer isso mesmo assim, mas sabe que não poderá mais. E é nesse ponto onde entro na história: eu sou o “salvador da honra Anis”, o que vai continuar seu legado frente aos “humanos diferenciados” que te subjulgaram e cuspiram na sua cara... Eu estou errado?

— Megal... – Disse, com seus olhos de modificando para a de um felino – Tenha muito cuidado com as palavras que irá dizer...

— Uspokaivat, Kuon! – Megal disse para Kuon se acalmar – Eu não tenho culpa alguma da sua total falta de competência em resolver seus problemas.

— Grr... PARE DE DIZER TOLICES! VOCÊ ESTÁ AQUI PORQUE EU PEDI PERMISSÃO AO CONSEIL! ENTÃO NÃO BANQUE O INSOLENTE!

— Uhh... Você sabe mesmo gritar. Jason Hawoen deve ter adorado lutar contra você e te ouvir fazer isso a cada golpe que ele te acertou. Deve ter sido bem humilhante estar no chão e olhar sob essa perspectiva para um humano... Não é?

— SEU INFELIZ!

Kuon quase partiu pra cima de Megal, mas foi impedido por Shizuka. Sua irmã, sempre tranquila, lhe colocou a par de seus pensamentos:

— Irmão... Você já foi mais paciente.

— Shizuka, esse energúmeno tratante está nos provocando em nossos domínios!

— Ele disse alguma mentira? Me enoja vê-lo se comportar como um humano... Essas coisas, as emoções humanas, elas sujam a nossa raça. Eu vejo em você repulsa a eles, mas somos superiores. Agir no momento certo é uma estratégia de Megal... e ele assim o fará.

Com Kuon se acalmando, Megal explicou o seu plano:

— Não basta só eliminar os humanos, até porque eles fazem isso por si mesmos. Para Iamiko eu quero entregar a ela a sua própria malevolência: seu temperamento é explosivo a ponto de deixar aflorar sua toxidade. Eu irei mostrar a todos o quão ela é uma pessoa ruim... e destruir o que construiu. E após isso, com o pouco que lhe sobrou, iremos lutar no Kumate.

— E quando pretende fazer isso? – Perguntou Kuon.

— Amanhã... Um grande dia para mim e um péssimo para Iamiko Hawoen. Então, nobres irmãos Anis... Vocês tem algo para comer? Estou mesmo com fome... Hehe...

A reunião prosseguiu, com os Anis se organizando. O dossiê levantando por Kuon de todos os humanos que conheciam era mesmo uma valiosa fonte de informações e Kuon não tinha o menor motivo de guardar para si tais coisas.

Megal está no Japão sob autorização do Conseil, mas o que isso significa?

Enquanto isso...

Centro da cidade de Etofuru | Mercado

Fazendo compras a pedido de sua mãe, que estava em casa naquele dia, Hakiro logo tratou de recolher os itens da lista a qual a senhora Hakiro havia anotado poste que ele trouxesse. Mas durante esse trâmite, ele se colocou em pensamentos:

*A Iamiko sempre foi de resolver tudo na rua mesmo... Desde que eu a conheço ela vivia impondo sua força pra todo mundo. Tipo, eu adoro o estilo tomboy dela... mas eu sei que esse temperamento dela pode trazer problemas. P*rra, isso até parece coisa clichê de anime shounen, onde a garota de pavio curto sempre é retratada para demostrar empoderamento... Porque eles não fazem uma história onde a garota é forte porque é forte e ponto final? Hehe... Tenho que rever minhas lista de animes...*

Terminado as compras, Hakiro tomou um ônibus para enfim seguir pra sua casa.

Minutos depois...

Casa da Família Hakiro | 20:00 PM

Caminhando enquanto estava a segurar a bolsas, o jovem se aproximou de sua porta e, chamando sua atenção, começou a ouvir uma conversa bem animada no interior de sua casa. A risada contagiante de sua mãe lhe mostrou que estavam se divertindo e animados com a visita. Mas foi ao abrir a porta e seguir para dentro de sua casa que, ao olhar para a sala, Hakiro ficou petrificado ao observar a tal visita, que vestia sapatos s de salto alto da cor preta, uma calça jeans da mesma cor, assim como sua blusa justa ao busto. Com seus cabelos escuros soltos e usando um batom preto, seu sorriso foi espontâneo ao ver o jovem, dizendo:

— Oi darling... Você trouxe tudo? Sua mãe é um amor, sabia?

Hakiro deixou as bolsas irem ao chão, atônito e imóvel. Era Eva... e em sua casa.

Continua.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.