“Oh, who decides from where up high?

I couldn't say I need more time

Oh, grant that I can stay the night

Or one more day inside this life”

Too Much Is Never Enough— Florence + The Machine

Os olhos o seguindo, a atenção instantânea, estavam de volta. Agora, com uma máscara tão simbólica quanto a de seus pais, Aleksei andava pelo salão cumprimentando gente, desculpando-se pelo atraso. Era abraçado pelo salão, bajulado pelas pessoas, não mais tendo que pisar com cuidado e esperar pelos cantos. Que poder um nome tem, não?

Aleksei estava de bom humor. Depois daquele tempo vivendo como outra pessoa, era um tanto reconfortante voltar para sua própria pele, mesmo que ela demandasse mais fineza, mais requinte, mais distanciamento. No fim das contas, ele podia não gostar de partes de si mesmo, mas continuava levando-as consigo por hábito, e hábito acaba dando conforto, de uma forma ou outra.

Além disso, ele estava com uma ideia um tanto divertida na cabeça. Não sabia se iria colocá-la em prática ou não, afinal só queria fazer isso pelas reações que receberia, e essa talvez não fosse uma razão boa o suficiente. Quem sabe? Decidiria depois.

No momento, tudo o que Aleksei devia se concentrar em fazer era conversar com as selecionadas que não tinha podido conhecer nas últimas quase duas horas como guarda. Com as que conhecera conversaria depois, já que não precisava ter tanta pressa. Algumas estavam dançando no centro do salão, outras estavam pelas mesas conversando com outros nobres. Correndo os olhos pelo salão, Aleksei identificou uma das damas que definitivamente não parecia estar tendo uma conversa agradável com o marquês à sua frente.

— Senhorita Anadyr — cumprimentou Aleksei, até surpreso com a rapidez que tinha feito aquilo. A raiva é realmente um motor impressionante para fazer as coisas — Marquês de Utkin, perdão pela intromissão, mas imagino que não irá se importar se eu interromper sua conversa por um minuto, não? Gostaria de conhecer todas as selecionadas nessa noite ainda.

Aleksei nem esperou uma resposta para conduzir Lara para outro canto do salão, fazendo um pouquinho de esforço para manter a expressão neutra e não rir. A cara surpresa de Lara matou aquele fiapinho de diversão em um segundo.

— Perdão, senhorita, não queria ter sido tão abrupto — começou ele, tentando não soar tão incerto quanto se sentia —, mas parecia que não estava muito confortável ali.

— E não estava! Muito obrigada por me salvar da chatice daquele vel-, daquele senhor, vossa alteza, de verdade. Só fiquei surpresa com uma atitude tão, hã, impulsiva de sua parte. Algum motivo para isso?

Aleksei sorriu um pouco, sem humor. Claro que estaria surpresa, Lara era prima de Leonor. Ele não tinha conhecido a Anadyr antes da Seleção, mas Aleksei imaginava que deviam ter tido alguma conversa sobre ele, e se lembrava bem de qual era a opinião de Leonor sobre sua personalidade.

— Digamos que depois de tantos anos de convivência eu já ouvi o suficiente para saber o tipo de coisa que sai da boca dele — respondeu, lembrando imediatamente da vez, anos atrás, na época em que Aleksei deixara de dançar, em que ouvira o Marquês dizer para sua mãe: “Já era tempo de Aleksei parar com essa ideia de dança, Yeva, estava querendo dizer isso a você faz tempo. Não faz bem para a imagem do garoto, alguns dos outros nobres estavam começando a ficar preocupados que… Bom, você sabe. É um alívio saber que ele entrou no rumo.” A criança de Aleksei nunca perdoou o preconceito e a mesquinhez que estava em cada letra do que ele dissera, e sua mãe, apesar de ter conseguido manter a compostura, praticamente mandou o Marquês calar a boca. É, ele não gostava muito do homem.

— Mas o que eu disse sobre conhecê-la era verdade — disse, mudando de assunto para parar de passar raiva — Se não lhe incomodar, claro.

— Não incomoda, alteza — Lara sorriu, e havia um brilho de curiosidade em seus olhos — Afinal, não é para isso que estou aqui? Vamos, vou tentar fazer uma boa imagem de mim mesma nos cinco minutos que você deve ter livres.

Lara era uma criatura interessante. Da cabeça aos pés sua postura denunciava que tinha sangue nobre nas veias e parecia muito consciente disso, na mesma medida em que parecia não dar a mínima. Gostaria de mais do que cinco minutos de conversa com ela, assim que possível.

*

Aleksei não sabia se tinha permissão para mandar selecionadas embora no dia seguinte ao baile. Muito cedo? Muito insensível? Não fazia a menor ideia, só sabia que, depois da conversa que tivera com uma delas, filha de um dos figurões da indústria, como ela tinha feito questão de mencionar, o czareviche estava mais do que inclinado a ser muitíssimo apressado e insensível na manhã seguinte.

Estava com esse pensamento incômodo na cabeça quando se deparou com uma das mesas espalhadas pelo salão, rindo numa descontração que não era vista em grande parte do salão. Era como um ponto de luz, na verdade, e a fonte era Leena Volkov.

Aleksei quis assistir aquilo por um momento. A garota, mesmo que talvez não tivesse noção disso, tinha os nobres sentados na mesa na palma de sua mão. Estavam encantados, não havia melhor maneira para descrever. O czareviche bem que gostaria de se juntar a eles, ouvir o que ela dizia, mas acabaria com aquele clima descontraído no momento em que chegasse perto, tinha certeza.

Contudo, apesar de seus esforços, Aleksei viu aquele momento ser interrompido, e por uma pessoa que ele não esperava que fosse causar tal reação: Catherina. Leena vacilou em sua descontração por um segundo somente. Bem pouco, o equivalente a um tomar de fôlego para responder o que quer que Cat tivesse lhe perguntado. Tão pouco que Aleksei se perguntou se não estava vendo coisas, embora uma vozinha em sua cabeça lhe afirmasse que estava certo.

Um tempo depois, tendo desistido de chegar até a mesa em que a senhorita Volkov estava, Aleksei tinha se sentado na bancada em que as bebidas estavam sendo distribuídas, que estava surpreendentemente vazia no momento. Precisava descansar de seu papel de anfitrião um pouco.

— Vossa alteza — Aleksei ouviu a voz às suas costas e virou-se para ver Leena — Não me apresentei direito ainda. Leena Volkov.

Aquela hesitação que Catherina causara não estava ali mais. Ele e Cat representavam a mesma trava social em questão de poder, e Catherina sempre tivera mais jeito com as pessoas. Qual seria a diferença para Leena?

— Eu sei — respondeu e Leena sorriu um pouco. — É a primeira — a mentira era pequena. Theresa se aproximara dele quando estava disfarçado e, embora ela soubesse, o resto do salão não sabia — que vem falar comigo e não o contrário, senhorita, deveria lhe parabenizar pela coragem, acho.

— Obrigada — sorriu, se sentando no banco ao lado. Deus, como Aleksei desejava ter essa desenvoltura — Reparei que você estava olhando para a minha direção e achei que era hora de me apresentar.

A garota disse isso sem um pingo de malícia, mas Aleksei sentiu um calor rápido de vergonha. Tinha que começar a levar a capacidade de observação dessas mulheres mais a sério, era a segunda vez na noite que era pego de surpresa assim. Leena, contudo, deixou claro que não estava realmente incomodada, e conduziu uma conversa que parecia provar que não estava mesmo. Era admirável, com toda certeza.

*

Aleksei sabia reconhecer os conquistadores. Os que ganhavam atenção, corações e tudo que estivesse no caminho para conseguir poder. Os que tinham mais coragem e perspicácia do que deixariam você perceber. Yanna Kazantseva era uma dessas pessoas.

Viu-a conversando com seus pais, e no jeito de assentir de seu pai, parecia claro que estava impressionando-o com o que quer que estivesse dizendo.

Era muito fácil confundir conquistadores com pessoas capazes de qualquer coisa por status. As diferenças eram sutis e, Alek tinha que admitir, não conseguia diferenciar de primeira. A questão era que enquanto os conquistadores gostariam de fazer algo útil com o poder recebido, os caçadores de status só queriam o conforto que a hierarquia lhes trazia. No fim das contas, talvez Aleksei não estivesse tão mal familiarizado com o que Theresa lhe dissera mais cedo. Ambição não faz ninguém ruim, o que se faz dela é a questão.

— Pai, mãe — se aproximou, cumprimentando seus pais e percebendo que mal falara com eles naquela noite ainda — Senhorita Kazantseva. De que estão falando?

— Política — respondeu Yanna, e tudo nela denunciava uma criação que a prepara para aquele tipo de ambiente — Estava parabenizando o Czar pela administração que tem feito do país.

Aleksei quase riu. Ela tinha acertado o ponto fraco de Damian direitinho.

— É bom saber que está interessada no assunto, lhe ajudará muito em seu caminho nesse palácio — comentou Damian, e Aleksei assentiu. Se seu pai queria insinuar que gostara da garota como possível esposa para o filho, Aleksei devia prestar atenção.

Mesmo diante de três membros da família real, Yanna falava com a firmeza de quem não está um pouco nervosa, e Aleksei devia admitir que estava um tanto admirado. Não fazia a menor ideia de que tipo de imagem estava passando para ela, conseguia ler as pessoas até um certo ponto, e ela parecia ter construído uma fachada social tão consistente quanto a sua. Bom, era precisamente para isso que estariam ali durante todos aqueles meses, não? Descobrir se o que achavam um dos outros era real ou imaginário. Só teria que ser paciente.

*

O baile estava chegando ao fim. Ainda demoraria uma boa uma hora para as pessoas irem embora, mas as movimentações para tal logo começariam a aparecer. Aleksei sabia por conta da música. A orquestra estava tocando uma valsa calma, doce, e continuaria tocando músicas assim até o fim da noite. Era um convite sutil e contínuo para que as pessoas sentissem sono e fossem para casa, o que logo começaria a mostrar resultado.

Aleksei tinha falado com quase todas as selecionadas. Tinha acabado de falar com Virginia Vodyanova, Victoria Protaskova e Khadija Nkosi. Ficara repassando os nomes a noite toda, se esforçando para não errar nenhum. Devia ter alguma espécie de compreensão geral se não lembrasse de todas, afinal eram vinte mulheres, mas sabia que não aceitaria esse tipo de desculpa de si mesmo. Quer dizer, se decorara os nomes de uma centena de nobres para não ofendê-los, era o mínimo que podia oferecer àquelas garotas.

Faltava uma dama só, e Aleksei foi encontrá-la sentada perto da orquestra, ouvindo a música com a atenção de alguém que ou amava muito o que ouvia, ou, além de amar, também sabia reconhecer a maioria das notas. Evelina Zamolodchikova pareceu sentir o olhar de Aleksei, pois mirou-o no mesmo instante. O czareviche não estava tão perto e a máscara cobria muito bem o rosto da garota, mas ele jurou que os olhos dela se arregalaram por meio segundo antes de ela abrir um sorriso e virar a cabeça, pegando uma taça que o garçom oferecia.

— Senhorita Evelina — cumprimentou Aleksei, sentando-se em uma das cadeiras livres da mesa que ela ocupava — Como vai?

— Muito bem, vossa alteza — não havia resquício do susto de antes na expressão dela — Imagino que sou a última das garotas a serem conhecidas hoje.

— Bom, sim — pensou um pouco. Como das outras vezes, não fazia a menor ideia de como levar a conversa adiante — Espero que não tenha a ofendido com isso, não escolhi com critério algum.

— Não ofendeu, alteza — ela deu um sorriso educado, mas ficou calada.

Havia uma frieza ao redor dela que Aleksei conhecia com perfeição. Via aquilo em si mesmo todo dia. Talvez fosse por isso que tentou continuar com aquela conversa atrapalhada.

— Tem interesse em música, senhorita?

Agora parecia ter capturado a atenção dela de um jeito mais efetivo. Era a única coisa que tinha como assunto.

— Sim, sou violoncelista — o sorriso que ela abriu agora parecia mais sincero que os outros — Estava ensinando essa peça que a orquestra está tocando para meus alunos antes de vir para o palácio.

— O Cisne, de Saint-Saens — disse Aleksei, e o nome daquele movimento em específico veio com facilidade. Quando se tem alguém como Aberash como amiga, acaba-se aprendendo uma ou duas coisas sobre música — Essa é uma das favoritas do regente, ele a toca em quase todos os bailes.

— Deveria parabenizá-lo, ele tem bom gosto — um acorde suave como uma respiração finalizou a música e outra se iniciou sem que o silêncio durasse demais — De fato, não houve nem uma música errada, nada que destoasse da ambientação. No começo, músicas tranquilas e vibrantes…

— No meio, as mais dramáticas e as valsas mais conhecidas, quando as pessoas vão realmente dançar com o que está tocando… — continuou Aleksei, recitando o padrão que Aberash lhe apontara um dia.

— E, no fim, as canções de ninar para informar os convidados que é hora de ir embora. — havia um tom de humor na voz dela — Suponho que quando chegarmos nas peças só com o piano, será a hora de apagar as luzes.

— Geralmente, sim — fazia tempo que não tinham bailes, mas Aleksei puxou da memória o que costumava acontecer — Sempre ficam algumas pessoas para trás, e não é pouco comum que se aventurem a tocar os instrumentos um pouco. Se quiser fazê-lo, senhorita, acho que os músicos vão gostar de ver alguém que realmente toca.

— Vou considerar a ideia — o distanciamento permanecia ali. Quem era Aleksei para julgar, no fim das contas?

— Além da música, como esse primeiro baile lhe pareceu, senhorita? — arriscou Alek.

— Interessante seria a palavra, imagino — respondeu, mais pensativa do que fria, dessa vez — Não é como se estivesse acostumada com situações assim, mas não é tão difícil quanto parece.

Não era tão difícil? Aleksei olhou para Evelina por um segundo. Não conseguia se lembrar do momento em que se viu, de fato, em seu primeiro baile. Lógico que para ele era fácil, fora treinado para aquilo a vida inteira, mas sabia bem que para maioria das pessoas era difícil, cansativo, drenante. Então ele percebeu: ela devia ter, sim, muita prática naquilo, só não da mesma forma que Aleksei.

— E você, alteza, o que achou de suas vinte pretendentes?

Aleksei foi pego de surpresa pela pergunta, mas estava um pouco grato. Mudar de assunto facilitava as coisas.

— É difícil conhecê-las em um período tão curto de tempo — disse, elaborando uma resposta neutra sem pensar muito. Por que responderia a verdade? No momento não parecia que lhe traria vantagem alguma — Mas é um bom começo, creio.

Difícil dizer o que o sorriso torto de Evelina queria dizer. Não dissera algo que fora além do vago.

— Realmente, é pouco tempo. Algumas garotas estavam ficando bem inquietas com seu atraso, alteza, com medo que não sobrasse tempo para que falasse com elas. — disse, e a alfinetada podia ter sido intencional ou não, mas estava ali, e ela percebeu que Aleksei percebeu — Não quis ofender, alteza, perdão.

— Está constatando um fato, não teria como me ofender — disse Aleksei, lembrando-se, com as palavras dela, da ideia que tivera mais cedo. Chegou à conclusão que, sim, estava com muita vontade de botá-la em prática — Vou deixá-la ouvir a música em paz, senhorita, obrigado por seu tempo.

Aleksei levantou-se e despediu-se de Evelina com uma reverência curta. O momento não poderia ser o mais perfeito para o que ele planejava. Era justamente a hora em que a família real geralmente agradecia pela presença de todos, e tinham atenção de todos os convidados.

Primeiro Damian falou, completado por Yeva. Aleksei raramente falava nessas ocasiões, por isso a expressão surpresa de seus pais quando ele tomou a palavra.

— Gostaria de agradecer a todos pela presença esta noite — começou, sentindo todos os olhos em si — Foi um baile belíssimo e, esperamos, um começo auspicioso para a Seleção. Mais cedo essa noite, a condessa de Bykov alertou-me sobre como meu atraso no começo da celebração poderia ser considerado um sinal de má sorte. Gostaria, então, de assegurar a ela e a todos aqui presentes que não há azar nenhum por conta disso. Estive no salão desde o momento em que as portas abriram, só estava com uma máscara diferente, menos óbvia — Aleksei fez uma pequena pausa pelo bem da dramaticidade — Ouvi e vi muita coisa interessante hoje, e posso afirmar que, o que quer que aconteça daqui para frente, com certeza será interessante. Novamente, agradecemos pela presença, e um bom fim de noite e uma boa viagem de volta a todos.

Quando Aleksei finalizou o discurso, o salão estava em um burburinho agitado. Alguns estavam claramente desesperados e, mesmo que Aleksei soubesse do motivo de uma parte deles, tentou guardar os rostos de todos que deviam ter dito ou feito algo que não queriam que o herdeiro descobrisse. Catherina gargalhava ao seu lado, e ele mesmo mal conseguia parar o sorriso que dançava em seus lábios. Estava certo, as reações tinham sido impagáveis.

*

Aleksei ainda tinha que pensar sobre o que fora esse primeiro baile. Contudo, o que faria agora não seria pensar. Com resultados bons ou ruins, a chance que tinha sido dada a ele naquela noite era um presente grande. E, bem, ele poderia ter suas dificuldades em demonstrar afeição, mas sabia agradecer, e era isso que planejava fazer.

Um leve sorriso lhe tocou os lábios ao ouvir o ruído de conversa animada que vinha da cozinha. Imaginara que, mesmo que o baile tivesse se finalizado, a noite estava longe de acabar para as pessoas que ocupavam o grande aposento do outro lado da porta, e essa era sua deixa.

Aleksei não se deixou intimidar pelo final abrupto da conversação quando entrou na cozinha. Estava acostumado. Quando algumas das criadas e guardas fizeram menção de se levantarem para reverenciá-lo, ele os parou com um acenar de mão.

— Por favor, não se incomodem — se fez dar um sorriso. Saiu mais natural do que ele esperara — Não vim atrapalhar as conversas de vocês por muito tempo, sei que vocês tiveram que lidar com uma quantidade exorbitante de nobres hoje, imagino que estejam cansados.

Alguns deles riram, suprimindo a risada depressa. Aleksei não pretendera fazer uma piada, mas entendeu o porquê do riso. Lidar com a nobreza era uma tarefa mais cansativa do que parecia. Entendeu também o porquê de não confiarem nele para fazerem graça da situação. O czareviche não inspirava esse tipo de reação.

— Vim agradecê-los. Me misturar na multidão não teria sido possível sem a colaboração de todos vocês, muito obrigada — hesitou por um momento. Geralmente pararia por ali, mas, olhando as expressões das pessoas à sua frente, sabia que era pouco, não era sincero — Deve ser um tanto estranho, ajudar a realeza a passar despercebida.

Alguns acenos de cabeça, em concordância. Aleksei decidiu instantaneamente que gostava daqueles ali que eram tão sinceros a pontos de exibir suas emoções, mesmo que rápidas e contidas, perante o herdeiro.

— Imagino que meus motivos não sejam relevantes ou que façam muito sentido, mas acho que foi importante para um bom desenrolar nessa Seleção, e isso é graças a vocês. Obrigado, de verdade. — agora era suficiente. Mesmo que quisesse, não era capaz de se expor mais do que isso ­— Boa noite, bom descanso a todos.

O ambiente ainda estava um pouco tomado pela tensão que a presença de um membro da família real em um lugar de livre circulação dos criados e guardas, mas tinha diminuído substancialmente. Um pouco antes de sair, Aleksei recordou-se de algo, que com certeza seria um agradecimento melhor do que suas palavras:

— Ah, o Duque Bianchi enviou vinhos da safra desse ano como presente pelo início da Seleção, mas, como ninguém é capaz de beber tamanha quantidade de bebida, nem no palácio, decidimos presentear vocês com uma grande parte deles. — Aleksei observou, satisfeito, as expressões se iluminarem com alegria. Contaria para o pai o que fizera no dia seguinte, imaginando que ele não ficaria muito irritado, só um tanto decepcionado de não poder ter tomado do vinho — As caixas foram colocadas na despensa que estava vazia, lá no fundo.

O burburinho de conversa voltou com toda força quando Aleksei fechou a porta atrás de si, ouvindo os passos de muita gente se encaminhando para a última despensa no lado direito da cozinha.

Era bom causar alguma coisa além de desconfiança.