The Inter - Worlds (Parte 1): As Aventuras - Ano 1

Capítulo 36 - À Salvo Aquele Que Deveria Morrer


Haviam passado uma bela quantidade de dias desde que Lancelot havia partido. Haviam também acontecido várias coisas em Camelot. Teve aquele caso daquele médico (que na verdade era um mago psicopata), o Edwin Muirden, que tentou matar o Gaius e denunciar o Merlin por feitiçaria. E também teve aquele caso dos dois visitantes de Camelot que na verdade eram não tão amigáveis habitantes de Avalon, e queriam matar Arthur para conseguir seus passaportes de volta para casa.

Enfim...muitas coisas. E muitas aventuras, também. Arthur e eu ainda não estávamos lá super – super um com o outro. Em breve...em breve eu iria provar como é que eu realmente luto.

Mas naquela manhã, era um novo dia, e eu não queria que nenhum problema viesse me perturbar.

–Bom dia!

E essas foram exatamente as palavras que eu fiquei falando por uns...30 minutos? Sim. Eu tinha acordado radiante aquele dia, não sei por que. Por isso, assim que eu acabei o meu banho e tomei o meu desjejum, coloquei o meu vestido mais confortável e o mais bonito o possível, um verde, nesse caso), fiz uma trança e saí pelos corredores, dando bom dia a todos. Nada poderia estragar o meu humor, nem vozes, nem dores de cabeça...nem Arthur. Assim esperava.

Desci as escadarias, e ainda estava bem cedo. Tão cedo que as pessoas da feira ainda estavam montando suas barracas, tão cedo que mal se viam servos nos corredores, tão cedo que mal o sol havia acordado e nos dado sua bela luz.

Fiquei um bom tempo dando bom dia para todos que passavam, e decidi dar uma caminhada pela feira. Haviam vários tecidos lindos para os meus vestidos, o que seria de grande utilidade, pois os meus já estavam acabando. Voltei rapidamente aos meus aposentos, peguei uma bolsa e um pouco do dinheiro que Kryn havia me dado (sim, ele me deu dinheiro, o que eu tive dificuldade de achar no momento) e voltei a feira. Chegando lá, decidi passar por mais algumas barracas para decidir com que exatamente eu gastaria meu dinheiro.

Agora o sol já radiava os horizontes, deviam ser umas 9 horas da manhã, ou 9h30 (não sei como essas pessoas conseguiam viver tão bem sem aqueles relógios de pulso).

Uma das barracas possuía várias bijuterias. Eram lindas. A maioria era bem simples, mas eram muito bonitas. Foi quando estava observando uma delas que ouvi uma voz dizer:

–Bonita pedra...essa que está no seu cordão.

–Ah?! - disse, levantando a cabeça, ainda com a joia na mão. Era a mulher, dona da barraca. - Ah, sim. Obrigada. - respondi, voltando à olhar para as mercadorias.

Era um colar...simples. E decidi não gastar meu dinheiro com ele, e nem com nenhum outro...mas foi quando o coloquei na mesa que notei alguma coisa, que me chamou muita atenção. A barraca era forrada por um pano, e, dobrado, esse pano estava cobrindo algo.

Tirei o pano de cima, e vi um colar. O cordão era de um prata escuro, envelhecido pelo tempo. Devia ser um colar antigo, e não parecia ser muito do tipo que foi confeccionado por alguém para vender, e sim foi achado. Toquei no colar. Tinha uma pedra pesada, de tom esmeralda. Em cima da pedra, marcando o fim do cordão, estava esculpido, também daquele prata, a imagem de um dragão, em alto relevo. Observei o colar por mais alguns minutos.

–Eu vou levar esse. Quanto custa?

–10 moedas...de prata. - disse a mulher, que parecia insegura. Algo naquele colar fazia com que ela quisesse que alguém comprasse ele logo, não é a toa que estava tão barato.

–O que tem esse colar?

–Nada não... - falou, mas, olhando para os lados, a mulher se aproximou e começou a sussurrar. - Mas...alguns dizem que pertencia aos...Senhores dos dragões, quando estes ainda existiam. E com esses colares eles podiam sentir as sensações dos dragões.

–Colares? Então há outros?

–Talvez... - disse, voltando a falar normal. - se você acredita nesse tipo de coisa...

–O que?

–Digo, eu não acredito. E se acreditasse eu não teria um colar desses...sabe – se lá o que o rei pode pensar. - falou, desconfiada. Ah, sim, ela tinha medo de ser morta porque o colar tinha um dragão nele...claro.

Entreguei as moedas para a mulher, e observei o colar por mais alguns minutos. Depois, coloquei ele no bolso do vestido e continuei andando. Foi no caminho que, acidentalmente, esbarrei em um homem. Ele era alto, estava usando uma capa e capuz cor de palha, que estavam surrados, e, segurando sua mão, estava um garotinho, que tinha a pele bem clara. Seus olhos eram penetrantes, eram de um azul bem claro, que faziam um belo contraste com a cor escura do cabelo. Ele também usava uma capa e um capuz, só que não eram tão velhos como só do homem, e eram verdes, bem escuros. Algo nele me despertou uma atenção, a qual eu não gostava, como naquele dia do cálice. Por um simples momento, tentei tirar algo dele, da sua mente. Mas estava distraída demais, e nada veio. Continuei andando, para frente, até estar fora de sua vista, e, assim, comecei a minha operação de espionagem.

–Já aprontou meus suprimentos? - perguntou o homem, à um outro, que era dono deu uma barraca cheia de ervas, condimentos, etc. - Devemos deixar a cidade sem demora.

–Tudo que pediu está aqui. - respondeu o outro, entregando – o um saquinho. - Sinto muito.

Ao ouvir isso, o homem (que estava conferindo os itens do saquinho), o olhou com uma expressão que misturava choque e surpresa. Nesse mesmo momento, guardas de Camelot se aproximaram, apressados, e foi quando eu percebi do que a situação se tratava: uso de magia.

Ao ver que os guardas se aproximavam, o homem puxou o garoto para baixo da barraca e saiu correndo em disparada, procurando criar uma dificuldade na caçada deles. No meio de pessoas perdidas, tentando entender o que estava acontecendo, os guardas gritavam:

–Peguem – no!

–Prendam – no!

Mais adiante, o homem derrubou várias cestas no caminho dos guardas, criando mais dificuldades, e continuou a correr, segurando a mão do garoto (que devia ser seu filho), saindo da feira. Nesse ponto, já que estava saindo da feira, eles acabaram passando pela minha localização, mas eu não tirei meus olhos deles. De longe, eu seguia cuidadosamente a situação.

Continuaram correndo, porém, lhes apareceu outro obstáculo. Da sua possível saída, mas guardas vinham, bloqueando o caminho. Decidi acompanhá – los, e por isso, comecei à andar, com passos curtos, mas rápidos e discretos, me escondendo atrás de colunas e esquinas.

Por causa dos guardas, tiveram que escolher outro caminho, entrando nos grandes muros da cidade interna de Camelot.

Ao entrarem, foram surpresos por um guarda, que dera um grande pulo com a espada na mão. O homem rapidamente puxou o filho, mas, mesmo assim, porém este recebeu um grande machucado no braço. Quando a espada tocou o garoto, ele fez uma expressão de dor, e, na minha cabeça, eu jurava que tinha o ouvido gritar, mas não parecia como se as outras pessoas tivessem o ouvido.

O guarda, pronto para atacar novamente, correu na direção do homem, mas este fez um feitiço, fazendo – o cair para atrás, batendo na parede da muralha.

Mais guardas estavam a caminho. O homem tentava correr, mas seu filho não conseguia o acompanhar. Olhando o filho, o homem tomou uma decisão. Se direcionou ao grande portão de ferro de Camelot e fez um feitiço, fazendo – o começar a fechar.

Assim, se ajoelhou na frente do filho e, tocando – o, gritava desesperado:

–Corra! Corra!

O filho, obedecendo o pai, correu, atravessando o portão, olhando para o pai, que ficava para trás. A única coisa que restava para o garoto agora era sorte, e se também não tivesse isso, estaria como em um corredor da morte.

Ao fechar do portão, o pai voltou à olhar para o outro lado, preparando – se para segurar os guardas por mais alguns momentos, para salvar o filho. Era um ato emocionante, e difícil de presenciar. O homem conseguiu afastar alguns guardas através de seus feitiços, mas não foi suficiente. Depois de um tempo, o homem se ajoelhou, se rendendo. Alguns dos guardas saíram para encontrar o garoto, e outros ficaram lá , cercando – o.

Depois disso, me direcionei ao portão da cidade, que já estava abrindo novamente. Os homens corriam, dando ordens:

–Procure ali.

–Veja do outro lado.

–Procurem em todos os lugares.

Senti, na minha cabeça, um chamado. Escutei uma voz, chamando por ajuda. Seria o garoto?

No longe, perto das escadarias, vi Merlin. Ele parecia preocupado, olhando para algo, próximo de umas caixas e baús que estavam dispostos no pátio da frente do castelo.

–Você viu algum menino por aqui? - perguntou um dos guardas para um homem.

Eu ainda conseguia ouvir a voz do garoto na minha cabeça, com certeza era dele. E também não duvidava que seria ele para quem Merlin estava olhando naquele exato momento. Fui na direção do jovem mago, procurando saber se conseguia ver o garoto dali.

No meio da voz, eu ouvi outra voz, a voz de Merlin. Eles estavam...conversando. Merlin perguntava por que o garoto estava sendo perseguido pelos guardas, e este só implorava para que ele o ajudasse, falando que iriam o matar.

–Guardas! Aqui. - chamou um dos guardas.

Nesse momento, eu senti um frio na barriga, e por isso parei no meio do pátio, e Merlin parecia ter sentido esse frio também. Ele correu para uma pequena entrada que tinha para o interior do castelo, e eu pude o ouvir dizendo “Por aqui.”, e assim, continuei o meu caminho, parando nas escadarias, e olhando para o menino.

Este começou a correr, segurando o braço machucado, à chamado de Merlin, e assim, os guardas o viram, gritando várias coisas, dentre elas “Por ali!” e “Peguem ele!”.

O mago e o garoto só entraram pela pequena entrada seguindo caminho, saindo do meu campo de visão. Rapidamente entrei do castelo. Indo na direção de Merlin, assim que o vi subindo as escadas.

–O que está acontecendo? - perguntei.

–Explico depois. - respondeu Merlin.

Assim, eu o segui, e este entrou no quarto de Morgana.

–Esqueceu como se bate na porta, Merlin? - falou Morgana.

–Os guardas estão atrás dele. Eu não sabia o que fazer. - explicou Merlin, ofegante.

Nesse mesmo momento, as expressões de Morgana e Gwen mudaram, mudaram de sorrisos para caras sérias, principalmente pelo fato de ouvirem alguém bater na porta.

–Senhora? - alguém perguntou, era um guarda. - Senhora! - repetiu o guarda, mais alto e batendo ainda mais na porta.

–Lá. - disse Morgana para Merlin, apontando para uma cortina que ficava no quarto, onde Merlin e o garoto se esconderam.

Eu estava parada, petrificada por alguma razão. De repente, voltando a realidade, me afastei da porta.

–Desculpe perturbá – la, senhora. - começou um dos guardas, assim que Morgana abriu a porta. - Estamos procurando por um garoto druida. Acreditamos que ele veio por aqui.

–Não vi ninguém. Só estamos eu e minha serva...e Lady Ana. - disse, ao se lembrar da minha rápida entrada no quarto.

–Melhor manter a porta fechada.

–Claro. Obrigada. - disse, fechando a porta, indo direto ao local onde estavam Merlin e o druida.

Só tinha um pensamento na minha cabeça.

Druida...é claro!

Na verdade, todos nos aproximamos. Merlin estava sentado no chão, com o garoto deitado em cima dele. Tocando no braço dele, Merlin mostrou para Morgana sangue em sua mão, sangue que vinha do machucado do druida.

***

Ainda no quarto de Morgana, eu e Merlin olhávamos através da janela. O homem, pai do garoto druida, estava prestes a ser executado.

–Povo de Camelot! - começou Uther. - O homem perante vocês é culpado de usar mágica e feitiços. Pela nossa lei, a sentença por esse crime é a morte. Ainda estamos procurando por seu cúmplice...

–Não vou mais assistir a isso. - disse, me virando, quando chegou Morgana, que tomou meu lugar.

–Quem acobertar o garoto, será acusado de conspiração...- continuou o rei, senti um breve nervosismo, e olhei para o garoto...nós estávamos acobertando – o. -...e será executado como traidor. - eu, Morgana e Merlin trocamos olhares preocupados. - Que isso sirva de aviso para o seu povo.

–Você deixou seu medo de magia se transformar em ódio. - disse o homem. - Tenho pena de você.

–Não posso ver isso. - disse Morgana, assim como eu tinha dito antes, e foi ao encontro do garoto, mas Merlin continuou lá.

Em uma questão de segundos, eu só pude ouvir o barulho de um martelo caindo. Merlin só se virou, evitando ver a cena. E foi nesse momento que eu ouvi a voz do druida novamente em minha cabeça, gritando “Não!”, e Merlin também parecia ter escutado o garoto gritar. Nesse mesmo instante, um espelho se quebrou, assustando – nos. E no rosto do garoto, pude notar uma expressão de raiva.

***

Passado um tempo, eu voltei ao quarto de Morgana. Ao bater na porta, ela abriu, acompanhada de Merlin.

–Posso entrar?

–Claro.

–Ele está melhor? - perguntei.

–Não muito. Está pálido demais... - explicou Morgana, me dirigindo ao garoto.

Agora, ele estava deitado, dormindo. No garoto, sem camisa e sem a capa, pude notar um símbolo, o símbolo dos druidas. Aquele alerta estava me vindo novamente, e estava começando a ficar perturbada. Como eu queria poder contar isso para alguém...para Merlin. Nunca contaria para Morgana, sabe – se lá que prejuízos isso poderia trazer...

–Eu não poderia ver um garoto inocente ser executado, Merlin. - disse Morgana, continuando sua conversa com Merlin. - Que mal ele poderia fazer a alguém?

–Uther acredita que ele possuí magia, e isso o faz culpado.

–Uther está errado.

–Acredita nisso? - perguntou Merlin, surpreso.

–E se mágica for algo que você não escolhe? E se ela escolher você? - falou Morgana, e eu quase fiquei sem ar. Era a verdade, ora, a mais pura verdade, e eu era um ótimo exemplo a ser dado, não só eu como Merlin e Morgana também...as três pessoas que estavam conversando naquele momento. - Por que estão me olhando assim?

–Nada. - respondemos, quase que simultaneamente.

–Por que o está ajudando?

–Foi uma decisão repentina.

–E você? - perguntou Morgana, se direcionando a mim.

–Eu? - perguntei, procurando a melhor resposta que poderia encontrar. - Se você para pra pensar eu nem estou tão ajudando ele...eu só realmente acho que Uther está errado sobre matar pessoas só porque elas tem magia...principalmente se não fizeram nada de errado, então acredito que não deveria ele deixar matar esse também...mas, no momento, só senti que tinha que ajudá – lo...

–O que vamos fazer com ele? - interrompeu Merlin. - Não pode ficar aqui.

–Temos que encontrar uma forma de levá – lo de volta a seu povo.

***

Naquela noite, inventei uma desculpa e consegui ter jantar na mesa do quarto mesmo, não estava afim de jantar com o rei, e tinha muitas coisas a fazer. Assim que cheguei no quarto, corri para a minha bolsa, procurando o livro que continha a história de Merlin, para me lembrar exatamente quem era o druida, já que fazia muito tempo que tinha lido aquela história. Não achando o livro em lugar algum, decidi chamar Kryn.

–Kryn?

–Eu!

–Onde está o livro?

–Que livro?

–Você sabe exatamente de que livro eu estou falando.

–O livro de Merlin?

–Exatamente!

–Eu tirei ele daí.

–POR QUE????

–Porque eu percebi a tão grande inutilidade dele.

–Como?

–Primeiro você quase não usou ele até agora, e você já leu, vai ter que lembrar! É que nem colar em uma prova eu te deixar com o livro. E qual é a graça de ficar com ele?

–Ah, sua criatura infeliz.

–Tchau tchau! - disse, sumindo.

–Kryn? Não!

Tá, então eu tinha que lembrar...quem era o druida? QUEM ERA O DRUIDA?

***

–Febre?

–Sim, acho que a ferida está infectada. Eu pensei em chamar Gaius, mas Merlin discorda em chamá – lo. Não quer que...

Nesse momento, ouvimos passos se aproximando do quarto de Morgana, e depois, bateram na porta, e esta fechou a cortina, deixando somente ela de fora.

De uma pequena abertura da cortina, eu e Merlin observávamos a cena.

–Arthur! A que devo a honra?

–Não se entusiasme, não é uma visita social. - explicou Arthur. - Procuro o menino druida. Terei de procurar no seu quarto.

–Não vai procurar no meu quarto.

–Não leve a mal. Tenho que procurar no castelo inteiro. - me deu um frio mais uma vez...só fiquei rezando para não ter deixado nenhum item mágico ou coisa do tipo do lado de fora da minha bolsa ou das minhas estantes de gavetas, resumindo, nos lugares onde um garoto druida não poderia se esconder. - Só vou levar alguns minutinhos.

–Não quero você bagunçando minhas coisas.

–Não estou interessado em suas coisas, só estou procurando qualquer prova de que o menino druida esteja no castelo.

–Talvez ele esteja escondido no seu quarto. - disse Morgana, irônica, quando nós percebemos que as botas do menino estavam fora da cortina. - Ele está uma bagunça, você nunca saberia.

Me afastei da cortina, fingindo que queria olhar para o garoto, e, enquanto Merlin pensava que estava distraída, ele fez um feitiço, trazendo as botas para perto.

–Não é minha culpa ter um idiota preguiçoso como servo.

–Se não consegue nem achar seu servo, como acha que vai encontrar o menino?

–Estou comovido com a confiança que tem nas minhas habilidades. Por mais que eu gostasse de ficar conversando, quando mais cedo começarmos, mais cedo acabaremos. - eles não tinham começado ainda?!

–Bom, vou te livrar desse trabalho.

–Acredite em mim, se pudesse encontrá – lo faria isso.

–O druida está escondido atrás das cortinas. - O que? Ela tinha nos entregado ou só estava de zueira? Arthur direcionou um olhar na direção da cortina, e eu rapidamente puxei Merlin para trás, que estava desatento, e caiu bem em cima de mim.

–Levante – se. - sussurrei para ele. - Com cuidado.

–Tenho certeza que seu pai amaria saber como gasta seu tempo olhando as minhas coisas... - voltamos a olhar a cena. - ...Vá em frente.

–Você se satisfaz me fazendo de tolo?

–Você não precisa de ajuda para agir como um tolo. - segurei um riso com dificuldade. - O que está esperando? Dê uma olhada.

–Por que não volta a pentear o seu cabelo, ou seja lá o que faça o dia inteiro?

–Tchau, Arthur. Boa sorte com as buscas. - disse Morgana, e assim, Arthur bateu a porta, e eu e Merlin soltamos um suspiro de alívio.

***

–Merlin, tem certeza do que está fazendo?

–Estou fazendo o que posso.

–Eu não sei o que é que você está passando nele, mas simplesmente parece que não é isso. - falei, avaliando a situação e me lembrando de todos os machucados que já tive, e tentei adaptar tudo para a Idade Média. -Você sabe que tem que limpar a ferida antes de tratá – la, não? - disse.

–O que?

–Ai, ai. Você precisa limpar antes, Merlin!

–Desde quando você entende sobre esse tipo de coisas? - perguntou Melrin.

–Desde que a minha irmã começou a se interessar em medicina..e também porque eu sempre fui o tipo de pessoa desatenta que se machuca demais. Deixe – me ajudar.

–Do que precisa? - perguntou Morgana.

–Seria bom se tivesse água e toalhas, para limpar a ferida...melhor.

–Ok, vou trazer. - disse, se levantando.

Por um momento, o druida olhou para Merlin como se os dois estivessem conversando, mentalmente, e estavam, mas então o druida fechou os olhos. O druida o agradeceu, o chamou de Emrys.

–Fale comigo. - disse Merlin, fazendo com que eu o olhasse com uma cara estranha.

–Não sei se ele não pode falar, ou está apenas com medo. - disse Morgana, aparecendo atrás de nós.

Lavei a ferida, e depois disso, Merlin passou a coisa estranha que ele tinha preparado.

***

–MORDRED! - gritei, ao acordar, só depois percebendo o quão alto eu tinha gritado, e rezando para que ninguém tivesse ouvido.

Sim, Mordred, o druida era Mordred. Foi só enquanto dormia que percebi isso. Ele falou comigo naquela noite, na verdade. Também me agradeceu por ajudá – lo. E me chamou de um nome estranho...Amaryen alguma coisa. Não podia mais ajudar aquele menino. Agora que tinha me lembrado quem ele era, ele que me aguardasse! Tinha que arranjar um jeito de contar isso para Merlin...mas como? Como contar para ele sem revelar o meu segredo? Sem estragar nossa amizade? Minha mente ficou confusa. Não sabia o que fazer.

–Morgana. - ouvi o garoto dizer, novamente. Ele estava falando com a bruxinha agora, hein...que coisa.

Ele falaria com todos nós, nós que temos magia, mas, incrivelmente, eu conseguia escutar tudo o que ele falava para os outros, como se eu estivesse ouvindo uma gravação de alguma conversa entre eles.

Estava perturbada. Muito perturbada. E se Merlin também conseguisse ouvir o que ele me falava...já saberia do meu segredo, com certeza. Mas...pensando melhor, ele saberia o de Morgana, o que ele não sabia naquela época, se não me engano. Mas, naquele tempo o dragão com certeza já deveria tê – lo alertado do garoto. Ai, meu Deus, o que fazer?

***

–Vou tratá – lo, mas assim que possível, tire – o de Camelot. - disse Gaius, ao grupo de pessoas da sala: eu, Merlin, Morgana e Gwen. - Ninguém pode ser pego ajudando – º

–Bom, pelo menos uma coisa sabemos.

–O que?

–Você não é um médico.

Depois de um tempo, acabaram decidindo que Morgana levaria o garoto para fora da cidade, mas antes, Merlin precisaria pegar uma chave, que estava com Arthur.

***

–Pegou as chaves?

–Peguei. A porta está atrás do escudo, no final do arsenal.

Merlin parecia olhar estranho para o druida. Será que ele já tinha descobrido a verdade? A verdade sobre o destino do garoto? Em breve, eu teria que falar com ele, assim que encontrasse tempo.

–Empacotarei água e comida para a viagem. - informou Gwen. - Tome cuidado.

O ambiente possuía uma grande tensão. Todos pareciam nervosos e preocupados, menos Mordred, que parecia estar feliz por finalmente poder voltar para casa.

***

E o alarme tocava. Eu, Gwen e Merlin permanecíamos, agoniados, na casa de Gwen.

–Eles estão vindo. - disse Merlin, espiando pela porta.

–Temos comida suficiente para três dias. - disse Gwen, assim que Morgana e Mordred entraram.

–Seu cavalo está alimentado e hidratado. Eu o levarei até ele. - completou Merlin.

–Não há sentido em todos nós nos arriscarmos. - disse Morgana.

–E quanto a você?

–Eu me arriscarei. - respondeu.

–Morgana...

–Não poderia viver comigo mesma se algo acontecesse a vocês. - explicou, percebendo o quão rápido o tempo estava passando. - Temos que ir.

–Adeus, Amaryen. Adeus, Emrys. - pude ouvir a voz do druida na minha cabeça, enquanto ele nos olhava.

A porta foi fechada. A sorte tinha sido lançada. Os presentes na casa esperavam que tudo desse certo. Estavam errados.

***

–Com licença, Arthur, eu acredito que... - disse, ao entrar no quarto, percebendo a presença de Morgana e Merlin, além de Arthur, é claro. - Desculpa, estou interrompendo algo?

–Ela é confiável. - disse Morgana para Arthur, e este fez um sinal para que eu entrasse.

–O que houve? - perguntei.

–Nós estamos planejando tirar o druida das masmorras.

–Oh, a sua parte boa finalmente apareceu. - disse, dando um tapinha nas costas de Arthur. - Então, qual é o plano?

–Uther vai suspeitar de Morgana se ver o garoto sumindo, então ela terá que estar com ele no momento em que ele fugir.

–O álibi perfeito. - comentei.

–Assim, Merlin terá que tomar meu lugar no plano. - completou Morgana.

–Tem uma grade que cobre a entrada para o túnel. Leve uma corda e um gancho. - explicou Arthur, para Merlin.

–Não, não posso.

–Merlin, você entende? Se você não estiver lá para nos encontrar, com certeza, seremos pegos. - mesmo aceitando, Merlin parecia totalmente negativo sobre ajudá – los.

–E, aonde eu entro no plano?

–Claro. Caso Merlin necessite de ajuda, você irá ajudá – lo. Mas, você virá comigo primeiro, se necessário, distraia guardas e esse tipo de coisa.

–Claro...

***

–Pronto. A fumaça funcionou. - informei Arthur, com a voz abafada pelo pano que cobria a minha boca. - Ali, as chaves. - disse, indicando a localização do molho de chaves.

Não estava muito certa do que fazer. Parte minha queria libertar o garoto, pois ele ainda era inocente. Essa parte queria que eu deixasse à salvo aquele que deveria morrer. Mas, a outra parte, gritava para que eu entregasse o garoto, entregasse a situação, de um jeito disfarçado, é claro, e preservasse a vida de Arthur de ser perdida pela espada de Mordred. A qual dos dois deveria responder? Acabar com o druida...como?

–Não tenha medo. - disse Arthur, ao entrar na cela de Mordred. - Mandei um recado para o seu povo, estou te levando para eles. - estendeu a mão. - Você deve ir comigo.

Eu pensei em fechar a porta da cela...mas eu estava tentando fazer com que encontrassem ele...então deixei a porta escancarada mesmo, para que qualquer um notasse.

–Eu vou voltar. Vou conferir se Merlin já chegou.

–Isso, vá.

–Nos ajude. Estão vindo . - podia ouvir em minha mente, martelando minha cabeça. - Vão me matar. Não faça isso. Pensei que queria me ajudar.

Não sabia se devia realmente ir chamar Merlin. É, eu não devia. Mas tinha medo que Arthur me odiasse ainda mais. Não poderíamos continuar com essa rixa. Iria somente piorar nossas vidas.

–Merlin! Arthur está esperando por você! - sussurrei, enquanto corríamos para socorrer a dupla que nos esperava.

–Onde diabos você esteve? - perguntou Arthur a Merlin.

–Tive problemas na saída do castelo.

–Tire as grades daqui, estão vindo.

Merlin posicionou o gancho nas grades. Logo, estas tinham caído no chão, e o príncipe e o druida estavam salvos do lado de fora.

–Se meu pai perguntar onde estou, diga que fui caçar. - explicou Arthur, ao subir no cavalo. - Seria melhor ficarem longe. Ou serão mortos aqui mesmo.

–Adeus, sei que um dia nos encontraremos novamente. - disse Mordred, mentalmente.

O cavalo começou a correr, na direção da floresta, e nós nos afastamos.

Eu sabia que tudo ocorreria bem. Mas, no nosso próximo encontro, não poderia deixar que o garoto continuasse a ser o mesmo...não poderia deixar que continuasse a viver...a menos que saísse desse caminho de morte...