POV - Nikoru

Sempre que eu fechava os olhos, um rosto pálido e triste surgia dentre os devaneios de minha mente, e sua voz falhada me deixava altamente angustiada.

– Hey... - Uma voz feminina me chamava. - Você está bem?

Desviei meu olhar da janela daquele quarto, e encarei a menina loira que estava a minha frente com um olhar preocupado.

– Fionna... - Sem querer, mudei de assunto completamente, trazendo a tona os pensamentos que não me deixavam em paz. - Você gosta de alguém?

– E-Eu? - Suas bochechas foram ficando vermelhas, destacando o aloirado da mecha que saia de sua touca.

– Sei que não temos muita intimidade, mas...

– Flame Prince! - Interrompendo-me, Fionna, agora com as mãos na boca e o rosto mais vermelho que um tomate, disse, praticamente aos berros.

– Você gosta dele?! - Sem esconder meu espanto, disse no mesmo tom que o da aloirada.

O silêncio consumia o quarto, até que eu e Fionna rasgamos o mesmo com diversas gargalhadas.

Minha barriga doía, e como parecíamos duas idiotas, eu ria ainda mais.

Depois de um tempo, finalmente nos recuperamos e nos encaramos por alguns segundos.

– E você? - Ela disse meio sem jeito, evitando-me olhar nos olhos.

"Marshall. Eu gosto do Marshall." Pensei, mantendo essa frase somente em minha cabeça.

– Nikoru? - A garota me cutucou, fazendo-me acabar com meus diversos pensamentos.

– Eu ainda não sei... - Suspiros entrelaçaram-se em minha frase, deixando-a com um ar mais sério.

– Não sabe, ou não quer falar? - Um sorriso meio sem graça dançava nos lábios da menina, que olhava para o lado e escondia o corado de suas bochechas entre seus cabelos.

Eu não sabia responder a essa pergunta. Marshall me deixava nervosa, e seu toque me deixava arrepiada, mas seu ego era maior que tudo, e conseguia esconder todas as suas qualidades.

Fionna pareceu notar meu desconforto, e com um sorriso fraco, mirou a janela.

– Sabe... - A garota começou, e as palavras saiam de sua boca feito sussurros. - Às vezes as pessoas que menos esperamos são as que mais mexem com nosso coração.

Estranhei, pois aquela não parecia a mesma garota que eu havia conhecido a pouco tempo. Acho que todos tem seu lado "filosófico" de vez em quando.

Comecei a pensar em suas palavras que foram se misturando com as poucas lembranças que eu tinha de Marshall.

– É, eu acho que você tem razão... - Aquela frase saiu de minha boca e ficou perdida no ar. Como fragmentos sem um som.

POV- May

Cake, apesar de ser apenas uma gata, tinha várias habilidades, e uma delas era a costura. A gata parecia uma aranha tecendo sua teia, era rápida e ágil, e por incrível que pareça tudo que ela tocava ficava perfeito.

– May, você parece ansiosa pro baile, isso é por causa de alguém? – Ela deu um riso malicioso.

– O que? Não! – Disse quase aos berros, é claro que eu não ia dizer e muito menos admitir.

A gata parecia se divertir com minha vergonha, mas não tirou proveito disso, apenas se voltou novamente para sua costura. Em cima da mesa havia três vestidos. Um deles era verde água dividido com alguns babados brancos, o segundo era vermelho com várias rendas contornando-o, e por final havia um no estilo “Lolita”. Ele era preto e coberto por vários laços e babados.

– Esses vestidos são todos da Fionna? – Perguntei analizando-os.

– Claro que não. Eles são pra você e Nikoru também, basta escolher qual o seu preferido e ele será seu.

– Eles são tão bonitos, Cake! – Elogiei

– Obrigada, agora escolha o seu.

Aproximei-me da mesa. Todos eles eram bonitos e cheios de detalhes, mas o que mais chamou minha atenção foi o terceiro. Ele era diferente de todos os outros e combinava perfeitamente comigo.

– Cake, este é tão perfeito, mas e se Nikoru ou Fionna o quiserem?

– Não vão, pois ele é seu.

– Obrigada Cake! – Abri um largo sorriso e abracei a gata.

– Está esperando o que? Vá experimentá-lo, eu vou chamar as outras meninas pra escolherem seus vestidos.

POV- Nikoru

Depois de um tempo de tensão, ouvimos Cake a May vindo em direção ao cômodo em que estávamos.

– Fi? Nikoru? - A voz da gata vinha da escada.

– Cake? - Fionna levantou-se, assim desfazendo a troca de olhares e o clima pesado que estava anteriormente.

– Não, espere! Não venha aqui! Estou trazendo uma surpresinha. - A frase de Cake subiu as escadas e deslizou por nossos ouvidos, deixando-nos realmente curiosas.

Ficamos sentadas como antes, mas com os olhos fixos no início da escada.

A silhueta de Cake apareceu, logo, acompanhada pela silhueta de May.

Pouco depois, a gata entrou no cômodo.

– Apresento-lhes, princesa May!- Cake tomou uma posição de reverência.

May subiu os últimos degraus que faltavam, e o que vi me deixou encantada.

A mesma vestia um vestido encantador. Ele possuía curtas mangas bufantes que surgiam por de baixo de um corsete preto, que terminava em diversos babados e rendas.

Um laço preto prendia os curtos cabelos de May, deixando-a com um ar inocente.

Fionna e eu ficamos sem palavras para descrever o quão bonita May estava, e Cake, com um sorriso orgulhoso, gabava-se de uma forma zombeteira.

– E isso é só o começo! - Ela mostrou-nos os outros vestidos. - Andem, vão experimentá-los.

Peguei o último vestido, que era verde água. Assim como o de May, possuíam curtas mangas bufantes que saiam de dentro de um corsete. Mas as mangas eram verde água, e o corsete era um tom salmão com algumas flores um pouco mais escuras. Conforme o vestido descia, tecidos daquele verde tão bonito iam cobrindo o enchimento da saia, e no final, dois grandes laços.

Estava tão animada, que por um momento esqueci que não tinha ânimo nenhum para aparecer naquela festa. Até por que, eu não queria ter que olhar para o rosto de Marshall depois daquela briga.

– Cake, obrigada, mas eu não vou ao baile... - Meus olhos miravam o chão amadeirado, e as palavras saiam num tom envergonhado.

– Mas o que? Por que? - Todas gritaram em uníssono.

– Bom, eu tive uma briga feia com Marshall, e quero evitar ao máximo encontrá-lo...

As meninas se entreolharam e voltaram a me encarar.

– Não acredito que aquele babaca fez isso! Como ele consegue? - Cake disse, e Fionna concordava balançando a cabeça.

– Niku, você não pode deixar de curtir a primeira festa que o príncipe Gumball nos dá por causa daquele sem educação! - Pela primeira vez, May parecia realmente irritada.

Cake me pegou pelo braço, Fionna pegou o vestido, e as duas me levaram pra dentro do banheiro.

– Tome um banho e se vista. - As duas disseram em coro. Cake estava com um sorriso medonho no rosto, fazendo-me entender aquilo como uma ameaça, até por que, ela provavelmente havia ficado horas naquele vestido.

POV - May

Após alguns minutos eu já estava pronta, assim como Fionna, Cake e Nikoru. Já eram 18:30, porém como o baile era às 19:00 horas não tínhamos com o que nos preocupar.

– Ah, eu estou tão ansiosa! – Disse Cake se contorcendo, enquanto fitava o relógio a todo instante.

– Cake, nós precisamos esperar dar o horário certo. – Repreendeu Fionna

– Podemos chegar um pouco antes? Por favor, Fi. – Os olhos de Cake brilharam.

– Ah Cake, não faça essa cara. – Disse Fionna, desconfortável. – Tudo bem, nós podemos chegar mais cedo. – Suspirou.

Cake abriu um largo sorriso e aumentou seu tamanho para que pudéssemos subir nela como um meio de transporte. A mesma corria em direção ao castelo. Parecia que Cake estava descontrolada.

– Ei calminha ai Cake. - Murmurou Fionna, mas ela sabia que a gata não iria obedecê-la.

Assim que chegamos ao castelo, Cake nos colocou de volta ao chão e foi em busca de Lord Monocronicórnio. Eu sabia o tempo todo que ela esperava para encontrá-lo, por isso estava tão ansiosa.

– Caramba, eu nunca vi a Cake desse jeito! – Exclamou Fionna.

– Não se preocupe, ela só deve estar assim por causa do baile – Disse Nikoru.

Adentramos o castelo, estava mais bonito que antes. Paredes cobertas por enfeites e cheio de mesas com vários cidadãos do reino doce.

Mordomo menta veio em nossa direção.

– Já tem uma mesa reservada pra cada uma de vocês e seus acompanhantes. Queiram me acompanhar, por favor.

– Mas nós queríamos ficar na mesma mesa, além disso, eu estou desacompanhada. – Disse Nikoru com uma expressão triste.

– Como assim desacompanhada? Hoje á tarde alguém reservou uma mesa para dois e citou seu nome. – O mesmo conferiu a lista que estava em suas mãos.

– O que? Mas eu não reservei nada! – Disse Nikoru, surpresa.

– Sim, mas alguém reservou em seu nome.

– Quem? – Ela perguntou se aproximando para examinar a lista.

– Ele não deixou um nome, só disse que chegaria em breve.

Nikoru se sentou-se à mesa e começou a procurar Marshall em meio a uma multidão de pessoas, provavelmente já pensando que o mesmo não viria.

Fionna foi ao encontro de Flame Prince, o qual vestia um terno da mesma cor de seus cabelos alaranjados. Ele parecia desviar qualquer olhar e evitar um contato com Fionna, mas mesmo assim ela parecia extremamente feliz.

Já eu, bem... Embora eu tivesse sido convidada por Gumball o mesmo parecia ausente da festa, talvez resolvendo suas responsabilidades, além disso, ainda não eram 19:00 horas.

– Mordomo Menta! – Chamei.

– Sim?

– Bem, eu sei que ainda é cedo, mas Gumball deveria ser um dos primeiros a estarem presentes na festa, aconteceu alguma coisa?

– Ah sim, ele passou o dia todo em seu quarto se preparando, ele está realmente nervoso.

– Você poderia dizer a ele que nós chegamos?

– Sim senhora.

Era meio estranho acreditar que Gumball estava tão nervoso a ponto de esquecer-se de sua própria festa. Provavelmente o mordomo menta, com tantos convidados para atender, iria demorar muito. Então, eu mesma fui alertar Gumball de nossa chegada.

Eu não fazia a menor ideia de onde era o quarto real, mas eu não iria descobrir se ficasse apenas parada. Subi as escadas mais próximas e caminhei por vários cômodos. O castelo era realmente maior do que eu imaginava.

Finalmente eu havia encontrado uma porta, talvez fosse arriscado abri-la sem permissão, mas eu não tinha escolha.

Girei a maçaneta e adentrei o cômodo. Estava cheio de roupas espalhadas pelo chão, o guarda-roupa estava entreaberto e o lugar parecia solitário, mas tinha algo em cima da cama. Algo cor-de-rosa. Aproximei-me sorrateiramente e acabei encontrando Gumball, o mesmo vestia um terno preto, mas parecia desacordado.

Me aproximei ainda mais do mesmo, ele parecia extremamente cansado, mas se ele abrisse os olhos provavelmente iria pensar que eu era alguma espécie de stalker maluca.

Caminhei novamente até a porta e o olhei pela última vez. Ele parecia ter permanecido acordado a noite toda.

Me voltei para a porta já girando a maçaneta, porém senti um calor quente em minha nuca. Gumball estava acordado o tempo todo? Virei-me para encará-lo, mas o mesmo ainda parecia desacordado. Ele era sonâmbulo?

– May... – Ele murmurava com uma voz bizarra que fez com que eu me afastasse. – Eu te amo.

Senti minhas bochechas esquentarem. Embora soubesse que ele não estava consciente, aquelas palavras realmente haviam saído de seus lábios.

– Gumball, acorda! – Tentei chamá-lo, enquanto cutucava de leve seu ombro.

O mesmo abriu os olhos, parecia ter perdido o equilíbrio, provavelmente não fazia idéia de que eu estava no quarto, ele parecia extremamente confuso.

– M... May, o que está fazendo aqui? E por que já está vestida para o baile?

– Gumball... O baile já começou. – Disse sem jeito – O mordomo menta me disse que você passou o dia todo aqui então eu pensei que você estivesse mal com alguma coisa.

– Como assim? Eu dormi o dia todo? – Ele parecia desapontado

– Provavelmente. Eu estava esperando por você no salão, mas imaginei que deveria estar presente no inicio do baile.

– Tem razão, eu sinto muito.

– Tudo bem, mas... Você é sonâmbulo? – Perguntei me lembrando de suas palavras que ainda me perturbavam.

– Eu não sei, talvez. – Ele deu de ombros – Eu disse alguma coisa estranha?

– O que? Não, você só... – Disse desajeitadamente

– Eu o que? - Ele perguntou fazendo uma expressão duvidosa.

– Você disse que... - Fitei o chão e parei de falar.

– Eu te ofendi? Eu sinto muito, falo muitas besteiras dormindo.

– Você não me ofendeu. – Suspirei me lembrando de suas palavras.

– Ah, que bom. – Disse abrindo um sorriso. – Espere, estamos atrasados, não é?

– Não, nós apenas chegamos um pouco mais cedo.

– Tudo bem, então vamos antes que realmente nos atrasemos. – Ele pegou meu braço e me puxou para fora do quarto.

O castelo parecia cada vez mais cheio, olhei em direção á Nikoru, ela ainda estava sozinha e deprimida.

– O Marshall não iria acompanhar Nikoru? – Perguntou Gumball com um olhar estreito.

– Eles brigaram... Talvez ele venha mais tarde, o mordomo menta disse que alguém havia reservado uma mesa.

– Marshall é indecifrável. – Ele riu

– Se a Nikoru gosta dele, não vou interferir, mas ainda assim não vou com a cara dele.

– Está tudo bem, eles vão resolver seus conflitos e Marshall vai mudar.

– Espero que sim. – Disse olhando novamente na direção de Nikoru.

– Você quer dançar? – Perguntou se aproximando de mim.

– O que? Eu não gosto muito de dançar... – Disse tentando me afastar

– Por que? – Ele fez uma expressão triste.

– Eles tocam músicas estranhas, eu não me sinto muito bem.

– Não são estranhas, mas eu posso pedir uma música de sua preferência.

– Gumball...

– O que? Estou te irritando? Desculpe, eu apenas quero que você se sinta confortável. – Disse cabisbaixo.

– Eu vim para o baile por sua causa, você não me irrita.

–Então qual o problema? – Ele perguntou se aproximando novamente.

– Eu só não gosto de dançar, sou mais desajeitada do que pareço e...

– May, você não precisa dançar bem, apenas se divirta.

– Obrigada Gumball... – Disse corada – Você foi muito legal comigo desde que cheguei em Aaa.

O mesmo ignorou minhas palavras e pegou meus braços. A música era lenta e me deixava ainda mais aflita.

– Não se importe com isso, apenas esqueça que há pessoas em sua volta.

Eu observava o rosto rosado de Gumball, enquanto tentava disfarçar minha falta de coordenação.

Nossos rostos ficavam cada vez mais próximos. Embora eu quisesse me afastar, Gumball me observava fixamente, impedindo qualquer movimento do tipo.

– Você está indo bem. - Ele sorriu

– Obrigada. - Disse, desviando o olhar

Minhas bochechas estavam queimando e meu coração estava batendo extremamente rápido.

O mesmo se aproximou do meu rosto, eu podia sentir sua respiração quente. Ele tinha cheiro de chiclete.

Nossos lábios se tocaram e eu senti meu estômago queimar. Senti um calor invadindo meu corpo, não sabia se aquilo era bom, mas nunca havia sentido nada parecido.

A música tocava lentamente em minha cabeça, e as "pessoas" ali presentes rodavam no mesmo ritmo. Sentir os lábios do Gumball pela primeira vez me tirou daquela realidade tão incomum.