The High School

Verdades Sejam Ditas


Sem hesitar levantei-o e coloquei seus braços em meus ombros, caminhei com ele até minha casa.

Elizabeth se assustou ao me ver com ele naquele estado, minha mãe adorava Carter, até mais que eu mesmo se bobear. Depois de explicar a situação ela se exaltou. Decidiu leva-lo ao hospital. Ligou o carro e me ajudou a colocar ele deitado no bando de trás.

Nunca a vi correndo tanto com o carro, durante o caminho ela ligou para Theo e pediu para que nos encontrasse lá.

Chegamos ao hospital em mais ou menos 30 minutos. Logo Carter já estava aos cuidados do médico na sala de exames, não estava mais desacordado, porém estava fraco e fora de si.

Enquanto esperávamos na sala de visitas decidi que era melhor ligar para sua mãe.. Foi o que fiz.

— Senhorita Anabelle, sou eu Adan...

— Oi Adan, quanto tempo. Esta tudo bem?

— Comigo está tudo bem sim, mas com o Carter nem tanto. Estava vindo embora do colégio e o encontrei em uma situação deplorável, caído na calçada. Estava com garrafas de bebidas do seu lado e também drogado. Mas agora já está tudo bem, minha mãe e eu trouxemos ele para o hospital central.

— Não acredito nisso, ele mentiu mais uma vez para mim. Estou indo ai agora mesmo.

Mais ou menos 15 minutos depois ela já estava lá. Chegou e me abraçou agradecendo por tudo, depois foi cumprimentar e agradecer Elizabeth também. Gostei do fato de nossas mães se conhecerem, amigos de verdade os pais sempre conhecem uns aos outros.

Srta. Axel me chamou em um canto, e desesperada começou a desabafar comigo.

— Adan, já não sei o que faço mais com meu filho. Ele era um garoto esplendido, comportava-se, agora pela influencia dessa garota, Carter não é mais a mesma pessoa. Mata as aulas, bebe e usa drogas todos os dias, não para mais em casa, briga com todos, e...

— E o que?

— Não queria falar isso para ninguém mas... Ele me arrumou um grande problema ultimamente, podendo sujar até a imagem de candidato de seu pai como consequência. Carter foi influenciado, mandou várias fotos sem roupa alguma para a família de sua ex namorada Rachel, como troco pelo termino. Descobri que foi tudo porque Dawn mandou, e estava drogado, por isso o fez.

— Aquela garota não tem limites mesmo. - exalto-me.

— Ele não me escuta, nem a seu pai, nem a sua irmã, mesmo que Alice seja a pessoa que ele mais ame nessa vida.

— Realmente, ele também não me escuta mais. Para dizer a verdade ultimamente ele tem se afastado de todos... É tudo Dawn pra cá e pra lá.

— Eu já não sei mais o que fazer. - abaixa a cabeça descontente.

O médico sai da sala de exames e interrompe nossa conversa.

— Podem entrar, ele já acordou completamente dos efeitos agora.

Elizabeth fica esperando lá fora enquanto a mãe de Carter e eu entramos. Lá estava ele, com uma especie de camisola todo sujo e com os olhos ainda vermelhos dos efeitos, literalmente acabado fisicamente.

— Carter meu filho por que fazer essas coisas? Já te disse para parar de andar com essa garota, ela é má influencia.

— Já chega mãe.

— Desculpe interromper esses assuntos de família, mas Srta. Anabelle, se não fosse Adan, seu filho poderia ter corrido vários problemas. Ele está com uma infecção alcoólica, causada pela mistura de bebida e entorpecentes, sabe-se lá o que poderia ter acontecido com ele se seu amigo não tivesse o encontrado a tempo. - interrompe o doutor.

— Deus! Está vendo Carter são com essas pessoas que você deve dedicar-se.

— CALA A BOCA MÃE, ELA É MINHA NAMORADA! - grita.

Sem que possa ver a reação escuto o "plaft" do tapa em seu rosto. As marcas dos dedos ficam estampadas como vergões.

— Já chega. Você não vai me tratar assim ouviu? - fica com cara de arrependimento.

Provavelmente foi a primeira vez que Carter havia levado um tapa. Com todo o dinheiro que sua família esbanjava, deveria ter sido daqueles garotos que tiveram todos os brinquedos que queria na infância, toda as revistinhas de super heróis, além de sempre ter tido empregados para limpar sua sujeira e preparar sua comida. Ou seja, nunca levava broncas, nem mesmo deveria ser contrariado.

Ele irrita-se, mas cala a boca. A cara de espanto do médico com tudo aquilo chega a ser bem cômica, certeza que viraria um meme se fosse fotografado. Ela o segura forte pelos pulsos, o tirando da mesa de exames, agradece mais uma vez a mim e leva Carter que sequer olha na minha cara.

Estaria bravo? Não queria deixar ele assim... Mas por fim conclui que fiz minha parte como amigo, e que se estivesse irritado a culpa não era minha, além de que seria um idiota se ficasse assim comigo. Sinceramente se tratando de Carter acredito que escolheria a opção "ser idiota", mas era só esperar para ver.

Voltamos para casa. Theo já estava conosco. Elizabeth disse que prepararia um jantar muito especial. Fiquei sinceramente assustado, ela não é aquele tipo de mãe que se dá bem com a cozinha. Jogava todos os temperos que encontrava e rezava para sair algo bom. Mas dessa vez fomos surpreendidos, preparou uma lasanha de quatro queijos e estranhamente estava tão bom que repeti e refeição três vezes.

Fui deitar-me depois de tantas coisas em um mesmo dia.

Durante a noite flashbacks de Justin surgiam. Sei que tinha que superar, mas não era nada fácil, foi muito doloroso e sei que seria ainda mais no enterro do corpo no dia seguinte, pensava seriamente se deveria, ou melhor, se conseguiria ir. Pesadelos terríveis me cobriam e cercavam, sentia-me sem saída. Depois de um tempo, que parecia para mim ser uma eternidade, tudo passou e o sono me levou.

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Mesmo cercado de dúvidas, lá estava eu no dia seguinte, em frente ao caixão. Praticamente o colégio todo estava lá. Melissa não soltava minhas mãos, disse ela que se não as segurasse, as lágrimas viriam. Deixei, afinal também me sentia seguro ao lado dela. Suas unhas cravavam minha carne tão forte que chegou a sangrar, mesmo assim deixei que continuasse. Sua dor nem se comparava com a minha.

Os pais de Justin vieram até nós. Disseram que seu filho falava da gente toda hora, que foram as melhores pessoas a ter entrado em sua vida, enquanto ainda vivia. Mais abraços e mais lágrimas. Nunca ficava mal em velórios, vai ver era porque os últimos que fui ainda era uma criança sem saber muito das coisas do mundo. Digamos que nesse não chorara, mas ficara com um sentimento de dor enorme.

Carter surgiu do nada e pediu para ficarmos a sós.

— Não posso deixar Melissa. Tem que ser agora? - pergunto.

— Tudo bem Adan, pode ir. Ficarei bem, prometo. - interrompe Mel.

Fico meio acanhado, mas por fim resolvo ir. Ele me leva até palmeiras perto de onde estava sendo o enterro. Notei que meu terno era igual a o seu, até da mesma marca, única coisa que diferenciava eram as gravatas, usava uma borboleta verde, enquanto eu usava uma normal azul.

— O que você quer? - pergunto.

Ela me abraça de repente e com força. Derrama lágrimas em meus ombros enquanto soluça em meio ao choro.

— Ei calma! O que houve? - insisto em perguntar mais uma vez.

— Me desculpe, estava longe de todos, até de meu melhor amigo. Se não fosse você sabe-se lá o que poderia ter acontecido não é mesmo? Mesmo te deixando de lado, você mostrou o quanto se importa comigo... Por favor me perdoa... Vendo o que Justin fez, percebi que a última coisa que quero e que se sinta sem esperanças a ponto de fazer o que ele fez. Errei mas insisto em minhas palavras... Estarei sempre a seu lado Adan. Demorei a noite toda para criar coragem de vir falar com você. - termina me abraçando novamente.

— Tem medo que me mate? hahaha. Estou lutando para meu passado não voltar, e graças a pessoas como você estou conseguindo mante-lo distante. Não precisa se desculpar, você sabe que é muito importante pra mim, mesmo se estivéssemos brigados, por mais feia que tivesse sido a briga, faria a mesma coisa todas as vezes.

— Você é incrível Adan.

— Eu digo o mesmo de você Carter. - ele sorri maravilhosamente. Pelo menos era o que as meninas que ele pegava falavam.

Senti um imenso mar de felicidade, nunca havia me sentido assim antes. Por alguns minutos a dor de perda foi sobreposta da alegria que senti.

Voltamos ao velório. Percebi que não deveria ter deixado Mel sozinha. Havia colocado um banquinho ao lado do caixão, e com as mãos sobre ele chorava serenamente, um choro silencioso mais cheio de amargura e ardência. Corri e a abracei. Em poucos minutos ela parou, novamente nosso abraço mostrou-se como reconforto. Odiava ver Melissa daquele modo, sentia sua dor, como se fossemos uma só alma dividida em dois. Carter fez o mesmo, sorri repentinamente em meio ao abraço, finalmente nós três juntos outra vez, os meus melhores amigos.

Depois de um tempo o caixão é levado e por cima dele jogado terra e flores. Muitos choravam. A mãe de Justin escondia a visão atrás do paletó de seu marido, que passava as mãos em suas costas para conforta-la daquele momento que nenhuma mãe merece passar. Agora literalmente toda existência do garoto do cabelo azul foi apagada e de baixo da terra seu corpo iria começar a se decompor e sumir como sua alma.

Pouco a pouco amigos e familiares iam indo embora. Elizabeth deu uma carona para Carter e Melissa também. Deixando ela por último.

— Te vejo amanhã no colégio Adan? - pergunta tendo disfarçar o quanto estava mal.

— Claro, até amanhã Mel.

E assim mais um dia da minha medíocre e sem sentido vida termina.

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O colégio ainda estava com um ambiente sombrio, trite, abalado... Os professores mal conseguiam se concentrar para dar aula e os alunos ficavam twitando mensagem de conforto sobre Justin.

Como já imaginava Melissa não estava lá. Não sabia ao certo se ela voltaria tão cedo ao Delarriva.

No almoço sentamos eu, Carter, Gary e Chloe, que agora já havia conquistado a confiança de todos, realmente havia mudado muito. Dawn ficou brava ao ver Carter conosco e veio tirar satisfações.

— O que você pensa que está fazendo com esses idiotas hein? - grita irritada.

— Quem você pensa que é para falar com a gente assim minha querida? - interrompe Chloe.

— Cale a boca, não falei com você. - faz um olhar de deboche.

— São meus amigos, vou ficar com eles hoje. A propósito preciso conversar com você depois. - diz Carter.

— Isso que eu ganho por transar com você todos os dias?

— A gente não precisa saber de suas relações sexuais sabia? - irrito-me, não sabendo ao certo porque fiquei daquele jeito.

— Está com ciumes Adan? - novamente debocha.

— A culpa agora é minha de você ser tão... fácil. - interrompe Carter.

— Não acredito que disse isso. - fica desconjurada.

Sai bofejando alto e batendo os pés, perecia uma criança de cinco anos de idade quando não ganha o doce que queria.

— Ei Dawn... Espere. - seguro Carter antes de levantar por completo e ir correndo feito cachorro para aquela maldita garota.

— Adan, e se ela fizer alguma coisa ruim depois? Se ela fez comigo pode muito bem fazer consigo mesma.

— Primeiramente ela não é idiota, e segundo ela precisa sim de ajuda... mas é da sua ou de um médico? - pergunto retoricamente.

Ele fica confuso, respira fundo e volta a comer conosco.

No fim das aulas Carter vai conversar com Dawn atrás do colégio. Como somos bem curiosos, Chloe e eu ficamos escondidos perto da caçamba de lixo para ouvir tudo.

— O que você quer falar comigo? Por que agiu daquele jeito comigo no refeitório? - pergunta.

— Eu que faço as perguntas... Você me deixou largado na calçada dois dias atrás... Por que? Se não fosse Adan me encontrar eu poderia estar morto.

— Nossa, não exagera amor.

— SEM AMOR! O QUE HOUVE NAQUELE DIA? - grita.

— Ai! meu deus que estrés. Você ficou MUITO chapado, foi isso. Invadimos um restaurante e você começou a fazer um show de stripper em cima das mesas, até que o segurança te tirou de lá. Você estava me fazendo passar muita vergonha então fui embora e te deixei na calçada sentado pro efeito passar logo. Ou seja, te fiz um favor.

— Me deixou sozinho enquanto estava completamente bêbado?

— Mas não é para tanto.

— Não é mesmo, é para mais... Adan tinha razão, você precisa de um médico. Acabou Dawn, cansei de suas idiotices.

— Não acredito que vai escutar aquele imbecil.

— Aquele imbecil é meu melhor amigo, e mil vezes melhor do que você.

— Quer saber, dane-se vai com ele então. Já aproveita e fala logo dos seus sentimentos por ele...

— Sentimentos? Para de ser idiota.

— O único idiota aqui é você. Qualquer um percebe o que sente... Quer saber, adeus!

Ela sai, mas suas palavras ficam em minha cabeça. Será que ele sentia algo por mim mesmo? Mas ele era hétero! Deve ser só as asneiras de Dawn como sempre. Claro que era... Até parece. Carter gostando de mim, era uma grande piada

Enquanto estava perdido em minha mente, Chloe chamava por mim, e só quando grita que saio do meu transe mental.

— ADAN!

— Ãn? O que houve?

— Nada, é só que você paralisou repentinamente. Os dois já acabaram por aqui, podemos ir...

— Claro, claro... Vamos.

Chloe iria dormir em casa, tínhamos um trabalho de história para fazer. Era um maquete muito complexa sobre a 2ª Guerra Mundial. Elizabeth pediu pizza e preparou a cama de hospedes para ela. Demorou, praticamente varamos a noite para fazer, mas o resultado ficou excepcional, não aceitaria menos que a nota máxima nesse projeto.

Antes de irmos dormir, Chloe fez um pedido que me deixou um tanto quanto surpreso.

— Adan, vai acontecer em breve! E por causa de ter sido tão arrogante com as pessoas tenho medo de não conseguir ninguém... Posso te fazer um pedido?

— Claro Chloe, o que quiser...

— Aceita ir ao baile do colégio comigo? - suas bochechas tornam a corar e eu me espanto com o convite.