De repente, em meio a tanto barulho envolvente no aeroporto, ouço passos desesperados vindo em minha direção. Depois meu nome é falado aos berros e desesperos. Volto mais uma vez minha cabeça para trás.

— Adan... - ele chorava.

— Por favor, não tente me impedir Carter.

— Me escuta ta legal.

— Desculpe, mas meu avião me espera.

— Vai valer a pena, eu prometo. Se mesmo assim quiser ir eu te pago outra passagem.

— Tudo pra você se resolve com dinheiro não é mesmo?

— ADAN EU VIM ATÉ AQUI PORQUE EU NÃO AGUENTO FICAR SEM VOCÊ. TUDO QUE PEÇO É QUE ME ESCUTE. - ele aperta meus ombros com força.

— A resposta é não. Se eu ficar, aquelas sombras vão me cobrir mais uma vez.

— Prometo que não vão. Eu não vou deixar.

— Promete? Do mesmo modo que dizia que me amava?

— Adan, eu imploro, imploro de joelhos. - Carter ajoelha no chão. - Por favor, vamos conversar.

Um senhor que estava em minha frente coloca sua mão direita em meu ombro e sorri.

— Todos merecem uma segunda chance rapazinho. Ouça o que tem a dizer.

As palavras que aquele senhor me disse, abriram um pouco minha mente, eu tive minha segunda chance com várias pessoas, tinha chagado a hora da eu mesmo dar uma segunda chance a alguém.

— Você tem vinte minutos. - digo por fim, saindo da fila e perdendo o voo.

Sentamos em poltronas mais afastadas, afinal era algo particular, ninguém precisava escutar as desgraças da minha vida.

— Sei que está me odiando agora, e nem sei se tenho como me redimir, muito menos chances da gente voltar, mas mesmo assim queria dizer a você as coisas que aprendi com você, Adan.

Fico sem entender.

— Eu jamais havia me imaginado com um outro garoto, sempre fui o popular entre as garotas, o disputado por elas. Rachel foi minha oitava namorada, e olha que só tenho dezessete anos de idade. Quando era jovem, e quando meu pai ainda era uma pessoa sã, costumava me levar ao parque no centro, foi onde conheci Melissa. Foi amor a primeira vista, paixão boba de criança. Até que os anos foram passando, e a gente foi crescendo e descobrindo coisas novas. Nós demos nosso primeiro beijo aos doze anos, ela nega isso, até entendo o por que, foi horrível. Dai o tempo nos pregou uma peça e acabamos afastados.

Ele falava sem olhar para mim, sentia sua dor em cada palavra. Olhava para o chão, para o teto, para a esquerda e direita também.

— Foi ai que você entrou não só na minha vida Adan, mas na dela também. Você foi o motivo para nos tornarmos próximos de novo. Isso durou pouco, até nosso primeiro beijo. Adan aquele momento para mim me marcou de inúmeras maneiras, foi quando tive certeza que gostava de você, contraposto com a ideia de que tinha desenvolvido um sentimento por um garoto. Foi difícil, mas tudo foi possível com a sua ajuda, e a dela também. Poxa, somos o trio não é? Ou éramos pelo menos. Quando você ficou em coma, eu não pude suportar. As pessoas me julgavam e falavam que você não ia mais acordar. - ele deságua em lágrimas. - Foi um momento horrível que nunca mais quero passar, nunca havia ficado tão mal por não ter alguém do meu lado. Por isso, por achar que nunca mais ia conseguir sentir o que sentia contigo, descontei aquele sentimento nas besteiras que você ficou sabendo. Acredite, foi até bom Dawn ter dito tudo de uma vez, foi a primeira coisa certa que aquela nojenta fez. Errei pelo que fiz, e errei ainda mais por não dizer logo a verdade. Só queria dizer que tudo foi por causa do sentimento que tenho por você Adan. Porque eu te amo.

Por dentro eu estava chorando junto a ele, me debulhando com cada palavra vinda da boca de Carter, por cada emoção colocada na história. Por fora, minhas lágrimas já sequer escorriam e meu coração não foi tocado nem com as palavras profundamente verdadeiras.

— Sentimentos. É uma palavra engraçada não é Carter? As pessoas são assim, ferem os sentimentos, pensando apenas em si próprias. Os casados brigam e se separam, namorados largam e nunca mais voltam a olhar na cara um do outro, pais e filhos discutem tão feio a ponto de um querer matar o outro. Para que existe sentimentos em uma sociedade banhada a solidão? Todos ficam sozinhos no final, e aqueles que um dia estavam conosco simplesmente desaparecem, fazendo essas mesas coisas com outras pessoas, para então pode deixa-las sós também. Prefiro agarrar a sombra que me consome antes dela tentar tomar controle de mim. Adeus Carter...

Dou as costas a ele e finalmente saio, deixando-o com aquela dor profunda, sem sequer dar-me o luxo de me preocupar. Não compro outra passagem, muito menos volta para casa. Ando durante horas pela rua, até chegar a um terreno vazio, cercado por madeiras envernizadas, e com um barranco enorme no centro. Era um projeto de construção, estava lá desde os meus sete anos de idade. Para meu total desconforto Melissa estava a minha espera, como se soubesse que iria para lá.

— Me arrependo de contar as coisas para você. Sabe até onde venho quando as coisas ficam impossíveis.

— Sou sua melhor amiga, é minha obrigação saber.

— Essa palavra pra mim não existe.

— Não quero que se torne alguém diferente, digo por experiência própria, é algo que a gente não consegue controlar.

— O que você não consegue controlar é o seu fogo no cú de querer o namorado dos outro.

— Você tem direito de estar bravo.

— Bravo? Nunca disse que fiquei bravo. Eu até tenho que agradecer a vocês, por me fazerem cair na real de novo.

— Adan por favor...

— Melissa some da minha frente. - digo com a voz mais firme do que nunca.

— Eu só queria dizer que sinto muito.

— SOME DA MINHA FRENTE! - grito e com impulso de agressão, empurro-a barranco a baixo. Ela cai desmaiada.

Também não consigo me preocupar, mesmo estando estirada no chão. Dou uma última olhada para ela, não consigo deixar de notar que seus cabelos já estavam bem grandes desde a vez que ela cortou para tornar-se a Melissa das trevas, ou algo do tipo. Aquela que um dia julguei um anjo, agora era um maldito demônio.

Contorno todo aquele buraco enorme. Continuo até sair do outro lado do terreno. Dou de cara com um campo verde, que meu pai me levava quando criança para balançar no pneu preso na única árvore do lugar. Ele não havia perdido sua beleza mesmo com o passar dos anos e com as condições do clima, fazendo chuva, sol, nevando ou em meio a trovoadas, aquele campo com a árvore de balanço nunca desistia, sempre estava firme e forte. Queria saber como conseguira suportar as coisas, por mais difíceis que são. Contraposto à árvore que aguentava de tudo, havia um garoto que nunca vê o lado positivo das coisas, que tem medo de se arriscar e tudo voltar a tona, um garoto que estava completamente perdido em meio a tudo aquilo. Era como se houvesse um caminho na frente dele, mas um em que ele não podia andar, apenas observar de longe. O vento ecoa forte fazendo um som de brisa curioso por onde passava, balançando as folhas da árvore e os cabelos castanhos do garoto perdido.

Eu já não tinha certeza de mais nada.

Eu já não sabia que eu era...