Um feixe de luz explanou em minhas pupilas cerradas. Deparo-me com um ambiente parcialmente branco fosco, cheio de aparelhos e pessoas ao redor.

Elizabeth logo se assusta e grita para as enfermeiras. Nesse momento já tinha me tocado de que estava no hospital. Elas vêm correndo, enquanto minha mãe leva as mãos até a boca, e ajoelhasse no chão gélido em modo de agradecimento por estar vivo. Tudo em meu corpo doía, tentava mexer as pernas, levemente elas davam sinal de movimento.

— Mãe... - falo de repente.

— Filho. Meu amor. Graças a deus você está bem. - diz levantando-se e colocando a mão em meu rosto.

— E por que não estaria?

— Nada meu filho. Simplesmente nada... - ela sorri.

— Aonde está Melissa? - pergunto.

— Eu não sei querido.

— Preciso saber. Ela precisa de ajuda, deixei ela daquele jeito encostada na calçada. - lembro-me do carro vindo em minha direção tentando frear.

— Acho que você não entendeu querido.

— Não entendeu o que exatamente, mãe?

— Filho, isso é difícil... Você ficou mais de dois meses em coma, ai mesmo, nesta cama.

— Para de brincar assim mãe. Sofri o acidente faz poucas horas. - assusto-me.

— Eu sinto muito meu amor. - ela abaixa a cabeça.

Não poderia ser verdade. DOIS MESES EM COMA? O que seria de mim agora?

— Isso quer dizer que...

— Sim, o ano já terminou filho.

— Mas e as aulas? E meu irmão?

— Seu irmão já se formou. Quase que não passa pelas suas notas, mas conseguiu.

— Isso só pode ser brincadeira. Eu perdi tudo esse tempo...

— O que importa é que você está bem. - sorri novamente.

Fico minutos parado, pensando em tudo, tentando processar...

— E o Carter?

— Ele é um amor de pessoa. Ele veio todos os dias desde o acidente te ver.

Foi falando nele, que o mesmo aparece na porta. Ele fica em estado de choque ao me ver, com a boca entreaberta.

— Oi... - o silêncio toma conta.

Sem falar exatamente nada, Carter corre em minha direção, pula na cama e me abraça confortavelmente. Agradeci por pelo menos não esquecer o quanto o amava.

— Eu senti tanto a sua falta. - diz chorando em meus ombros.

— Xiu... A minha mãe.

— Está tudo bem, querido. - Elizabeth interrompe.

— Você sabe? - pergunto com as bochechas coradas.

Ela apenas sorri.

— Adan, por que você me assustou assim? Eu achei que nunca mais ia voltar pra mim.

— Uma vez alguém me disse que não ia a lugar nenhum, isso se aplica a mim também.

— Eu te amo. Nunca duvide disso! - diz com toda a clareza do mundo.

— Eu também... Gosto de você. - não conseguia dizer as palavras "te amo" com Elizabeth ali.

Ficamos por um bom tempo abraçados, enquanto minha mãe conversava com o médico que já estava no quarto.

— Com licença Sr. Blake. - ele me chama.

— Sim senhor.

— Posso examinar sua perna?

— Claro. - confirmo.

Ele coloca suas luvas brancas e a máscara da mesma cor. Coloca suas grandes mãos firmemente sobre minha perna direita. Até ai tudo bem, nada demais. Tudo muda quando ele as coloca sobre a esquerda.

— AI! - exclamo. Doeu pra caramba.

— Era o que eu temia.

— Vou ficar sem andar né? Sabia, eu já sou muito sortudo mesmo.

— Hahahaha. Calma rapazinho. Você só terá que ficar algum tempo usando muletas, nada mais que umas três semanas.

Legal, eu havia acabado de acordar, descubro que estava em coma, e que teria de ficar com muletas por semanas? EXISTIRIA ALGUÉM MAIS SORTUDO QUE EU? Essa até eu sabia responder...

Por fim dou um suspiro e o respondo...

— Tudo bem.

Horas depois eu já estava com a perna toda enfaixada, minhas coisas que estavam no quarto, todas guardadas nas malas, e já estava em frente a recepção para as considerações finais antes de ir embora. Carter não desgrudava de mim um segundo sequer, nunca tinha o visto daquele modo.

A recepcionista do hospital preencheu todos os papeis necessários e assinei alguns também. Em seguida depois de, como todos estavam dizendo, meses naquele lugar, finalmente ia para casa.

A viajem de volta foi decepcionantemente chata. Carter ia conosco, segurava minha mão e não a soltava por qualquer que fosse a circunstância, estava começado a achar tudo aquilo muito estranho.

Pelo caminho via algumas lojas que nunca havia visto antes, outras que fecharam e até mesmo uns guardas de rua novos. Realmente estava começando a acreditar que tinha ficado em estado de coma, mesmo que fossem poucas coisas, as mudanças eram perceptíveis, até mesmo para a pessoa mais lerda do mundo, no caso eu mesmo.

Logo já estávamos na frente de casa, ela não estava diferente, pelo menos isso. Theo veio correndo me abraçar...

Pêra ai... O THEO VEIO ME ABRAÇAR? Algo realmente não estava certo. Voltando...

Ele ficou feliz ao me ver novamente, nunca me abraçou daquele jeito, como já disse inúmeras vezes, adorava os momentos de irmãos com Theo.

— Ei pirralho, até que senti sua falta.

— E quando você não sente não é mesmo. – brinco.

— Ah vem cá... – ele se agarra à minha cabeça com uma das mãos, com a outra bagunça meu cabelo.

Era tudo tão estranho... O que para mim parecia ter sido míseras horas, para todos eles, foram vários meses.

Viro meus olhos para a varanda de casa, e por incrível que pareça, Kimberly estava lá.

— Kimberly?

— Bem-vindo de volta Adan.

— O que faz aqui? – pergunto obstinadamente confuso.

— Bom... – suas bochechas ficam avermelhadas do nada.

— É o que eu estou pensando? – olho então para Theo.

— Como posso explicar... – ele diz sorrindo.

— NÃO ACREDITOOOOOOO! – grito. – Meu ”shipp“ deu certo. – comemoro.

— Mas posso afirmar que foi difícil conquistar essa gracinha. – Theo sendo Theo.

— Foi o que sobrou né. – Kimberly brinca.

— Irmão, desculpe... Pelo que tudo indica perdi a sua cerimônia de formatura.

— Relaxa maninho, o que importa é que você está bem. – sorri.

— Falando nisso, como eu vou fazer com o colégio? Teoricamente não terminei o primeiro ano, certo?

— O diretor Steve disse que iria deixar você fazer uma prova. Se for bem passará direto, afinal você não perdeu tanta coisa assim. Legal não? – Carter responde minha pergunta.

— Poxa, mais um teste...

— Sei que vai bem, querido. – diz Elizabeth, me motivando.

— Estarei torcendo por você amor. – rebate Carter.

Todos ficaram quietos, afinal deveria ser tudo muito estranho para eles. Meu irmão era o que mais me preocupava, qual seria a sua reação em relação a eu namorar um garoto? No fim não deu em nada.

De repente lembrei de Melissa.

— Eu preciso ir ver a Mel...

— Vamos comer alguma coisa primeiro, você deve estar faminto.

Foi ai que pensei pra pensar que não havia comido nada durante todo aquele tempo, pelo menos nada que não fosse por meio de sonda hospitalar.

— Eu como pelo caminho mãe. – digo. – Carter, você vem comigo?

— Claro.

— Até logo gente, não demoro.

— Cuidado com as muletas. – ouço minha mãe alertar-me.

No caminho, Carter teve de ligar para seu motorista, minhas pernas doíam muito. Ele levou-nos em menos de dez minutos. Lá estávamos, em frente à residência dos Fabien.

Sr. Fabien atendeu a porta, ficou feliz ao me ver.

— Filha, temos visitas. – ele grita da porta de entrada.

— Já vou pai. – ela responde na mesma altura, vinda do seu quarto no segundo andar.

Mel desce correndo, estava com uma meia azul e a outra rosa, seu cabelo todo despenteado, pelo menos estava em sua cor natural novamente. Literalmente ela havia acabado de acordar, férias era sua segunda coisa preferida, depois claro de suco de blueberry.

— O que foi papa... – ela se assusta.

Corre rapidamente em minha direção, pulando em meu colo.

— Adan, não acredito que acordou. – diz ainda em meu colo.

— Ficarei atormentando você por mais um bom tempo.

— Eu fiquei tão preocupada. Como começar a me desculpar por tudo?

— Esquece isso, tudo que mais importa é que você está melhor. – fico extremamente feliz em vê-la bem outra vez.

— Você é o melhor amigo do mundo.

— E você é a minha. – Melissa me fazia tão bem, igual a Carter.

Resolvemos sair para comer, estava faminto. Fomos em nosso lugar preferido, a cafetaria perto do colégio, que a propósito era um breu sem todos aqueles alunos.

Melissa e Carter, de vez em quando, olhavam-se assustados, como se estivessem tentando esconder algo. Ignorei. Nada estragaria a minha ”volta“.

Finalmente estava tudo em seu devido lugar mais uma vez. Eu estava onde queria estar, com as pessoas que mais desejava estar, os meus melhores amigos.

................................ No dia Seguinte ................................

Estava nervoso, não poderia deixar de aproveitar essa grande e única oportunidade que o diretor Steven havia me dado. Carter me esperava na porta, em frente a sala. Melissa estava quase chegando, disse que queria estar lá para me dar forças.

Algumas perguntas eram obvias, outras nem tanto. Na parte de cálculo consegui ir bem rápido, meu namorado ficou me ajudando durante toda a noite. Todos esperavam muito de mim, era muita pressão, e não queria ficar um ano atrás de todos meus amigos. Estava difícil me concentrar, não era do tipo que acreditava em mim mesmo.

A prova era extensa, mais de noventa questões, todas elaboradas só para mim, fiquei com certo dó dos professores terem de fazer um teste separado para mim, principalmente por estarem em suas férias.

Quatro horas e meia fazendo a porcaria daquela prova, finalmente consigo levantar a bunda da cadeira e entrega-la ao diretor Steven.

— E então Adan? Acha que conseguiu? – pergunta com aquela expressão séria de sempre.

— Vamos esperar para ver senhor. – dou um sorriso tímido e saio da sala.

Teria que esperar um dia para a nota sair, ou seja, mais pressão por parte de todo mundo.

Minhas pernas ainda doíam bastante, tiraram um pouco minha concentração durante a prova. Carter anima-se ao me ver sair da sala.

— E então? – pergunta.

— Sinceramente... Não sei. – respondo desanimado.

— Para com isso, você é muito inteligente e sabe disso. Aliás, só precisa de 75,5% de acerto. Eu sei que você consegue.

— Obrigado pelo apoio Car... Amor. – foi a primeira vez que consigo chama-lo assim.

Melissa chega suando de tanto correr.

— Pelo visto cheguei atrasada não é? – pergunta enquanto respira ofuscante.

— Um pouco. – sorrio.

Como não se tinha muito mais o que fazer, resolvemos ir para minha casa assistir um filme.

Fizemos uma grande bagunça na sala, era pipoca para todo lado, almofadas no chão, mas estávamos mais uma vez juntos e era isso que mais importava. Mel fez de tudo para colocarmos terror, e assim foi feito. Theo e Kimberly aproveitaram a deixa para assistirem conosco enquanto davam uns amassos. Eles ficaram em um sofá, Carter e eu no outro, estava deitado em seu colo, enquanto ele acariciava meus cabelos. Melissa acabou ficando com o tapete mesmo. E assim mais um dia se completava.

Carter dormiu comigo a noite toda, nem mesmo ligou para seus pais.

Logo amanhece novamente. Descemos tomar o café que Elizabeth preparou. Olho para a mesa toda arrumada, algo me espanta, lá estava o envelope com minha nota.

— Eu não tenho coragem de abrir. – digo já querendo voltar e me trancar no quarto.

— Filho, independente de tudo, eu estarei ao seu lado. – diz Elizabeth.

— Eu também. – Carter complemente.

— Tá legal, não tenho nada a perder mesmo. A não ser um ano inteiro...

Pego o envelope, minhas mãos tremiam feito peixe fora d’ água. Abro, puxo lentamente a folha com a nota. Olho bem rápido, em relance. Consegui ver os malditos números...

Dizia: 75,8% Parabéns!