Acordei. Havia sonhado com aquela garota nova durante quase todo o final de semana, não sabia o porquê, se é que pode se chamar de sonho, pois com ela tudo parece um devasto pesadelo. Contudo Chloe não foi a única com quem sonhei.... Carter apareceu nos meus sonhos, mesmo sem lembrar o que acontecia neles. A questão é porque? Porque sonhava com ele? Porque tinha tanta esperança se eu sabia que no final tudo seria a mesma coisa, acabaria sozinho e sem amigos, como sempre foi, como sempre será...

Pode até parecer genérico dizer que sei o que pode acontecer em meu futuro, mas se sempre ocorreu dessa forma qual o motivo pra não continuar acontecendo? Já aceitei minha realidade. Melhor mesmo seria aproveitar enquanto ainda tinha tempo.

De repente meu celular toca. Era Melissa.

— Alô?

— Oi coisinha. - diz com sua voz doce.

Coisinha era um apelido que ela criou para mim, um tanto quando infantil, mas vindo dela até que ficava um pouco legalzinho, no diminutivo mesmo.

— O que quer? Falar sobre a Chloe de novo?

— Que? Claro que não, pra que falar dessa coisa horrenda?

— Tudo bem, o que é então?

— Queria saber se não quer ir a festa no Carter hoje comigo? Meu pai pode levar a gente...

— Nossaaaa! A festa, eu tinha esquecido. Claro, pode ser, se não for atrapalhar.

— Não vai, passamos ai as 19 horas pode ser?

— Sim, pode.

— Tudo bem entã........

Desliguei sem esperar Melissa terminar de falar. Como assim havia esquecido da minha primeira festa de verdade? Algo que estava tão empolgado, eu simplesmente esqueço, que raiva.

Tinha apenas uns cinquenta minutos para estar pronto antes de minha carona chegar. Tanta coisa para fazer, em tão pouco tempo. Fui correndo ao banho, estava com tanta pressa que esqueci de tirar as calças antes de entrar no chuveiro, quando percebi era tarde demais. Sai do banho, voltei ao meu quarto para escolher o que vestir, optei por minha calça jeans de sempre, rasgadas no joelho, a camiseta vermelha que pertencia ao meu pai antes de ir na guerra, e meu tênis preto. Depois de algum tempo fiquei pronto, terminei tudo faltando ainda dois minutos para Melissa e seu pai chegarem, sentei e respirei fundo por fim, nunca fui tão rápido como havia sido.

Olhei na gaveta da cômoda do meu quarto, duas pulseiras simples e douradas estavam jogadas lá, catei e as embrulhei em dois saquinhos separados, verdes com detalhes brancos.

Finalmente eu escuto a buzina do carro.

Olho pela janela, são eles me esperando lá em baixo. Ela já sorri feliz ao me ver no alto do segundo andar de minha humilde casa.

Desço as escadas animado, quando dou de cara com Elizabeth, que logo pergunta a onde estava indo tão empolgado daquele jeito.

— Nossa, a onde vai arrumado assim?

— Naquela festa que te falei.

— A na casa de seu amigo Carter?

— Isso essa mesmo, mas apenas colega mãe. Não tenho amigos.

Ela me olha desapontada. Para disfarçar e deixa-la feliz, dou um sorriso falso, sempre a motiva a ficar melhor. Não queria preocupa-la com meus problemas, afinal meu pai ir para a guerra e correr riscos de morte todos os dias já mexe demais com o seu emocional, por isso prefiro fingir que está tudo bem, sorrindo eu não preciso explicar minha dor, mesmo que exista.

— Tudo bem filho, não volte tarde.

— Certo, até mais Elizabeth. - Sorrio novamente ao me despedir.

Finalmente consigo sair de casa, Sr. Fabien estava com o motor ligado, entrei e os cumprimentei envergonhado, o pai dela tinha uma cara de bravo, revoltado com a vida, pelo menos era o que aquele bigode da mesma cor do cabelo, meio grisalho, mostrava. Porém era só um mero esteriótipo, fomos conversando sobre vários assuntos e percebi que ele é um homem muito bom. Enquanto isso Melissa selecionava as musicas que tocava no caro pelo seu celular, ela adorava Shawn Mendes, fomos escutando tanto que aprendi a gostar, Mercy era minha musica preferida dele, apenar de me identificar com todas elas, eram perfeitas.

Depois de um tempo um tanto razoável chegamos a um enorme muro cercado por folhagens, muito bem cuidadas por sinal. No meio um enorme portão cinza com detalhes ramificados. Parecia até a entrada de um hotel cinco estrelas.

— A onde estamos? Não íamos na festa na casa de Carter? - pergunto confuso.

— Então, estamos aqui, é só entrar.

— Nessa enorme construção?

— Sim.... Você não deve saber quem são os pais dele né?

— Na verdade não.

— O pai de Carter é o senhor Kane Axel, o prefeito da cidade, e a mãe dele é a famosa advogada Anabelle Axel.

— O PAI DELE É O PREFEITO DA CIDADE???? Aquele que ficou mundialmente famoso por seu talento em empreendedorismo?

— Esse mesmo.

— Impossível de acreditar, eles não se parecem em nada. Esse homem é frio e seu filho é tão....

— Tão o que? - pergunta confusa.

— Tão gentil.

— Ele puxou a mãe, é uma pessoa incrível.

Balancei a cabeça para ter fim a essa conversa sobre os pais dele. Então entramos, logo deparei com a casa, grande, mas nada monstruoso como um palácio por exemplo, três andares, bem rustica para ser exato. Cheia de janelas enormes e detalhes de estilo Barroco antigo.

— Vamos Adan, a festa é na piscina atrás da casa.

Contornamos a enorme casa, andamos um pequeno jardim, nele havia uma linda estátua pré moderna, uma jovem segurando um vaso nas mãos, bem esculpida aliás. Gostava bastante dessas coisas mais antigas. E então estava lá, a tão sonhada festa, praticamente o colégio inteiro estava presente.

— Nossa. - exclamei.

Melissa sorriu, ela sabia que era minha primeira vez em uma coisa dessas, e esse fato para ela era engraçado.

Logo dei de cara com meu irmão.

— Ei pirralho, o que ta fazendo aqui?

— Deveria perguntar a mesma coisa...

— Não ia perder de modo algum uma festa dessas.

— Ainda mais você né. - digo com sarcasmo.

— Você não é todo depressivo? Deveria ficar em casa sozinho como sempre, ou decidiu mudar agora do nada? hahahaha.

— Não em enche babaca.

O "amor" de irmãos que tinha com Theo era uma coisa bem engraçada depois que se acostuma, no fundo a gente gostava muito um do outro, mas claro que não demonstrávamos. Contudo tinha os momentos em família de vez em quando.

Saímos, Melissa e eu começamos a procurar por Carter, andamos bastante mas nada. Ela então decidiu desistir, tirou a roupa de cima e pulou na piscina.

— Vamos, se divirta, uma hora ele aparece.

— Vou procurar mais um pouco, daqui a pouco estou de volta.

Continuei a procura dele, quando de repente esbarro em alguém.

— Me perdoe, foi um acidente.

— Tudo bem moleque, fica tranquilo.

— Ei, você é Kimberly não?

— Sim, me conhece?

— Você meio que apresentou a escola para mim e mais algumas pessoas no primeiro dia de aula.

— Ah claro.... Mas te conheço de outro lugar. Já sei, é o mijão da foto não é?

Abaixo a cabeça constrangido.

— Sou....

— Ei me desculpe, não queria te deixar envergonhado. Cara foi só uma foto, esquece isso, todo dia acontece alguma coisa naquela escola, quase ninguém mais lembra disso.

— É...

— Olha, não se preocupe com o que as pessoas falam de você, falo por experiência própria. Antigamente todos me julgavam pela minha aparência, por só usar preto da cabeça aos pés, me chamavam de demônio, noiva das trevas, de lésbica, apenas pelo modo como me vestia. Isso machucava, mas com o tempo aprendi que o único modo de pararem e não se importar mais, eu me sinto bem usando essas roupas, então porque não usa-las? Se as pessoas não gostam o problema é delas, sou assim e quem quiser aceitar é bem vindo na minha vida. Com isso quero mostrar que não deve mais se importar com o que falam, logo ninguém mais vai sequer lembrar disso.

— Nossa, Kimberly, você mostrou ser totalmente ao contrário do que achei que era. Obrigado por essas palavras.

— Que isso, só não se acostuma, sou legal mas tenho também meu lado bruto, ou melhor meu lado gótico hahahaha. A proposito, você é o irmão do Theo né?

— Sim, infelizmente sou.

— Nossa, ele é tão chato assim? Espera é claro que é, tenho a maior parte das aulas com ele.

— Ele é um caso especial, não se parece comigo.

— É pude ver.

— Viu, aproveitando que está aqui, por acaso viu o Carter?

— Não o vi não, faz uns 20 minutos que ele sumiu daqui de perto.

— Entendo.... Bom vou indo, tenho que acha-lo. Até mais.

— Até logo irmão do Theo.

Acho que poderia dizer que fiz amizade com uma veterana, Kimberly é uma figura totalmente divergente da que imaginei, achei legal esse pequeno diálogo que tive com ela.

Olhei de relance e vi uma a porta dos fundos que dava acesso a casa estava aberta, logo comecei a me aproximar, e ouvi vozes. Entre elas estavam Chloe, Gary, o braço direito de Carter, e o próprio. Sem pensar entrei rapidamente, o que fez com que todos parassem e olhassem para mim.

— Adan você veio? - diz Carter.

— Me desculpem...

— Mas pelo que está louco?

— Atrapalhei vocês.

— É atrapalhou mesmo. - interrompe Chloe com sarcasmo.

— Vou indo, afinal você está ocupado com seus outros amigos não é...

— Ei, Adan espere...

Saio correndo, com pequenas lágrimas escorrendo em meu rosto, ando sem direção e só para quando chego na estátua logo na entrada. Carter chega minutos depois e senta ao meu lado.

— Mas o que houve amigo?

— Amigo? Tem certeza?

— Claro que tenho, porque tá assim?

— Nada....

— Você me ajudou aquela vez, chegou minha vez de faze-lo agora.

— Olha, me desculpe, sinto muito é coisa minha. Eu tenho tanto medo de reviver meu passado, que fico paranoico as vezes. Tenho medo de perder as pessoas que me fazem bem, tenho medo de ficar sozinho de novo e não suportar dessa vez. Toda vez que tento fazer amizades eu acabo com tudo por causa dessa minha desconfiança, eu só queria ter a certeza de que não vou ficar só mais uma vez.

— Adan, não fique assim, você me deixa até mal com isso, sinto muito deveria ter te dado mais atenção de qualquer forma. Mas acredite, eu não vou a lugar nenhum...

— Não vai?

— Claro que não, pode me considerar seu amigo a partir de agora.

Sem conseguir me controlar, em um movimento brusco me aproximei de Carter, e nossos lábios se encostaram um contra o outro, mas logo se soltaram. Não sabia o que acabará de ocorrer, só que minhas mãos estavam tremulas, meu coração parecia querer sair pela boca, e minhas bochechas logo se avermelharam.

— Sinto muito, me perdoe....

Ia sair correndo novamente quando Carter me segurou com força pelo pulso, o que me impediu.

— Ei, calma. Não foi nada... Não se preocupe.

— Eu não sei porque fiz isso, eu... eu....

— Adan fique calmo, não tem problema, você só estava assustado. Agora vamos voltar pra festa e curtir ta legal?

— Ta bem... - digo por fim.

Minhas pernas tremiam, ainda não acreditava no que ocorreu, e o porque de meu corpo agir contra minha vontade. Voltamos a festa e fomos para onde estavam os outros.

— Nossa demoraram, estavam se pegando por acaso? - diz Chloe com aquela voz irritante.

Olhamos um para o outro, eu abaixo a cabeça, mas posso perceber pelo canto do olho a risada sarcástica de Carter.

— Quer saber, deixa pra lá, fiz trufas especiais para o Adan. Pegue! - sempre com aquele mesmo cinismo.

— Pare Chloe, Adan não tem cara de quem já....

— O que comeu uma trufa? Não moro em outro planeta sabia? Me dê uma.

Peguei e comi o doce, era até que gostoso, meio amargo com calda de morango. Vindo dela achei que estaria envenenado.

O tempo foi passando, minutos, e eu estava começando a suar bastante, estranhei mas não liguei muito. Do nada minha visão começou a embasar, aos poucos tudo ia perdendo cor e ficando cinza, mesmo escutando a voz das pessoas que estavam comigo, tudo que via em minha frente era criaturas parecidas com dementadores do filme do Harry Potter. De repente cai, e perdi um pouco a consciência, contudo ainda ouvia vozes. Ouvi passos em seguida.

— ADAN!!! O que deram pra ele? Carter isso é maconha nessa trufa? - era a voz de Melissa.

— Ei, calma querida, é só pra ele se divertir. - Chloe se entromete.

— Cale a boca garota.

— Adan, Adan. - sinto ela me cutucando.

Do nada tudo fica preto.

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Sinto que tem pessoas em volta de mim, abro meus olhos, Melissa, Kimberly e alguns outros estavam me cercando fazendo vento com as mãos.

— O que houve? Me sinto estranho.

— Basicamente você chapou pela primeira vez?

— EU USEI DROGAS? - assusto-me.

— Meio que sim, mas relaxa, o efeito já passou.

Eles me ajudam a levantar.

— Vamos embora, essa festa já deu o que tinha que dar.

— Espere, e meu irmão, me viu nesse estado?

— Não, ele está se esfregando na May ainda.

— Menos mal..... Vamos então. - Melissa conclui.

Começamos a nos afastar da festa indo em direção a entrada, quando vimos duas pessoas se pegando perto da estátua de entrada. Olhamos novamente, e vimos a pior cena de nossas vidas, Carter e Chloe. Eles saíram antes de nós enquanto o pessoal me ajudava.

— Eu não acredito nisso! Carter, você acabou de jogar nossa amizade no lixo, não acredito que ta fazendo essa burrice, com essa.... essa garota desprezível? Esquece, até nunca mais. Você morreu pra mim.

— Ei, Melissa espere..... Adan, você entende não?

— Me perdoe, mas prefiro falar com alguém que eu goste, sinto nojo de você agora. Até mais Carter Axel....

Ele olha decepcionado para mim, mas algo maior em mim falava mais alto. Apenas parti.

Depois de alguns minutos o Sr. Fabien chega e nos leva de volta. Finalmente chego em casa quase no fim da noite, meu irmão por sua vez ainda demoraria mais uma meia hora para voltar, depois dormia nas aulas e não sabia porque ia mal nos testes.

Cheguei e logo Elizabeth perguntou sobre a festa.

— Foi legal mãe...

— Só isso? E Carter está bem?

— Não sei, não somos amigos....

— Como assim?

— Apenas não somos mãe.

Outro olhar de tristeza, sorrio novamente e subo para meu quarto. Olho no bolso e percebo que esqueci de dar as pulseiras para certas pessoas, mas isso ia ter de esperar. Ligo para Melissa e conto algo que ocorreu......

— O QUE???????? REPETE ISSO ADAN!!!! - grita desesperada.

— Eu e Carter nos beijamos na festa.