The Heiress

Capítulo 3- Insonia


Saí da diretoria ainda alterada. Cambaleei pelo grande corredor, e para evitar uma queda me apoiei em uma grande estátua de um homem. Será que aquelas rimas realmente significavam algo? Minha cabeça ameaçou começar a latejar, mas decidi esquecer aquilo. Devia ter sido engano, ou uma pegadinha do Bruno. Recuperando o equilíbrio voltei a andar, indo para a sala de DCAT. Quando cheguei ao segundo andar me dei de cara com Juliano. Ele analisou meu olhar, como sempre fazia, provavelmente procurando algum sinal. Sorri para ele.

“Eu estou bem”

“Isso eu posso ver. Agora, da pra explicar que diabos estava escrito naquele papel?”

“Eu... Eu te falo depois.”

Ele olhou para mim e revirou os olhos.

“Lena, por favor. Eu estou preocupado...”

“Relaxa Ju! Vamos para a aula vai...”

“O professor ta contando aquelas histórias de vida...”

Um barulho no corredor o interrompeu e ele me puxou pelo pulso para um canto.

“Agora você pode me falar?”
“Como você é chato!”

Ri e lhe mostrei o pergaminho. Ele leu atentamente e arqueou as sobrancelhas.

“Hã?”

“Pois é. É zoeira de alguém, tenho certeza.”

Ele permaneceu me olhando com aqueles olhos azulados intensos, mas logo sorriu.

“Certo, ‘Herdeira do corvo’, vamos para a aula.”

Entramos na grande sala de paredes negras. O professor me lançou um olhar feio e alguns alunos começaram a rir e fazer piadas sobre o fato de eu estar voltando do “banheiro” junto do Juliano, enquanto outros só me olhavam como se eu fosse uma doença contagiosa.

A aula acabou e junto delas muitas outras. O dia passou devagar, e eu sempre me pegava tentando entender aquelas rimas. Quando meu horário de aulas acabou, fui andando com Cris até o salão comunal, que falava algo sobre moda.

Entramos no cômodo rodeado por escadas. O clima estava refrescante, por causa de algum feitiço. Eu e Cris sentamos em um sofá. Tirei minha varinha do bolso e comecei a treinar alguns feitiços novos enquanto minha amiga desenhava.

Eu já estava terminando o dever de casa quando Juliano chegou ao salão, com três picolés na mão. Ele nos entregou dois deles e começamos a fazer o trabalho, enquanto Cris esboçava roupas.

Logo, já anoitecia e tínhamos nos livrado de todos os deveres. Ficamos conversando e rindo até a hora de dormir.

A noite era algo bem original no dormitório feminino da casa Leste. Como a escola ficava no meio de uma floresta tropical, mesmo com as paredes e o chão de pedra, o quarto ficava quente. Dezenas de garotas dormindo ao meu lado. Uma, no outro canto do quarto, era sonâmbula, e no momento estava levantando para um passeio noturno. Cris tinha a cama do lado da minha, e roncava levemente enquanto mudava de posição no móvel de madeira. Eu estava com insônia, durante toda a madrugada aqueles versos que havia recebido voltavam a minha mente. Impedida de descansar, peguei o pergaminho e me enfiei debaixo do cobertor. Com minha varinha, fiz um simples feitiço (lumos) e uma bolinha de luz se acendeu na ponta do graveto. Reli cada palavra milhares de vezes, mas era impossível entender algo. Até que, finalmente, próximo às 5 horas da manhã, consegui adormecer.

E mesmo assim, nem mesmo no meu modo inconsciente eu tive sossego. No meu sonho, uma voz cansada recitava aquele poema em minha mente. A cada nova palavra, um elemento aparecia. “A quem a velha alma persegue...” Eu pude ver uma cena, de Raven voando atrás de mim, como uma sombra. “E de quem os olhos mais atenção chamar...” Meus olhos, azuis como o céu, apareceram. “Deve saber que a távola redonda ainda há quem segue...”. Fui arrancada daquele sonho misterioso, que talvez pudesse me dizer algo, quando alguém chacoalhou meu braço tentando me acordar.