The First Girl

Welcome to our family


–Responder uma pergunta é pedir muito?

–Cale a boca Cabeça de Mértila, já falei que isso não vai acontecer agora. Temos que arrumar um lugar para dormir ou prefere dividir uma rede com um dos garotos? –Ele me perguntou.

Olhei séria para a cara dele não gostando da piada. Esse tal de Alby falava a mesma coisa sempre : “Respostas depois” , eu quero respostas agora. O que é tudo isso? Por que não lembro meu nome? O que são esses muros que me isolam de tudo?

–Pode me responder pelo menos onde estou?

–Bem vinda ao inferno Fedelha.

*

Finalmente sai daquele buraco, percebi que minha calça jeans estava rasgada na altura do joelho revelando um belo de um arranhão feito pelo tombo. Meu rosto agora não sangrava mais, mas em compensação o sangue seco deixava minha pele grudenta. Segui Alby até ele pegar uma rede e levando a um lugar onde imaginei ser onde todos dormiam. As redes estavam separadas umas das outras mais ou menos por um metro. Ele a pendurou a minha em uma distancia um pouco maior das demais, mas nada muito exagerada, não deveria nem chegar a um metro e meio.

–Você vai dormir aqui.

Ameacei abrir a boca mas ele me cortou dizendo que não ia responder nada. Bufei de raiva observando ele se afastar. Os demais garotos estavam trabalhando, me sentia isolada do mundo, quem me botou aqui? Por que ninguém me responde nada? Mas do que nunca desejei sumir da face da Terra.

Pra passar o tempo comecei a observar os garotos trabalhando buscando algum rosto conhecido. O coreano sumido, não encontrei ele em nenhum lugar, o loiro estava com uma enxada, ele parecia preocupado, sua testa enrugava toda hora mostrando que sua cabeça deveria estar a mil, ele olhava em volta toda hora, principalmente para umas grandes aberturas que tinham nos grandes muros. Como aquilo era possível? Uma estrutura desse tamanho estar aqui e nenhuma válvula de escape? Por que eles não simplesmente não saiam pelas portas e voltavam pra casa? Casa. O que eu lembro sobre minha casa? Não lembro nem meu nome. Cor da parede, meu quarto, cachorro? Nada. Nada vinha a minha cabeça.

Levantei da rede e comecei a andar em direção a floresta para relaxar um pouco. Tomei mais cuidado agora com as raízes altas, era impressionante como naquela parte da floresta o sol não entrava por culpa das copas das arvores.

Lembrei uma coisa que Alby disse : “O tour pelo País das Maravilhas começa amanha”

Não sei porque mas esse nome me é familiar. Tentei forçar minha mente pra lembrar de algo mas nada me veio. Subi em uma arvore e sentei no galho mais baixo que deveria estar a dois metros do chão. Supus ser 14:00 . Fechei meus olhos um pouco e tudo escureceu.

*

Acordei assustada, quanto tempo será que eu dormi? Não entrava mais nenhum filete de sol o que mostrava já ser de noite. Desci do galho e fiz o mesmo caminho de volta.

–Onde a Fedelha se meteu hein? – Alguém disse.

Levantei o rosto vendo o tal Newt.

–Passeando por ai.

–Passeando por cinco horas? Haja pernas.

–Cinco horas?

–Você sumiu por cinco horas.

Eu dormi por cinco horas! Não me parecera nem uma.

–Vai perder a festa.

–Festa?

–-Nós fazemos umas festinhas de vez em quando, você vem ou vai ficar ai?

Todos os garotos estavam no meio de uma área gramada, tinha uma grande fogueira, eles estavam tão descontraídos que nem pareciam estar presos ali.

–Posso saber o motivo da comemoração?

–Isso realmente não te interessa.

Pronto, estava demorando.

Sentei afastada de todos encostada em uma pedra tentando gravar todos os pequenos detalhes. Alguns garotos dançavam em volta da fogueira, outros conversavam.

–Por que estão tão felizes?- Falei sozinha.

O coreano havia reaparecido e estava conversando tranquilamente com um garoto e queixo quadrado.

–Toma. – Alguém disse.

Olhei pra trás vendo Newt de novo.

–O que é isso?- Perguntei olhando um pote transparente contendo um liquido meio amarelado.

–Receita do Gally. – Ele apontou para o menino de queixo quadrado.

Peguei o pote receosa e dei um gole, o liquido não ficou dois segundos na minha boca e a anciã de vomito veio a ela me fazendo cuspir tudo.

–O QUE DIABOS TEM AQUI DENTRO?-Berrei olhando furiosa para Newt.

–Bem Vinda a família Fedelha. – Ele saiu gargalhando.