Meu coração se explodia em um misto de emoções ao ver Elisabeth encolhida ao lado da mulher loira. Uma parte de mim não podia estar mais feliz por estar vendo seu rosto mais uma vez, e a outra parte estava irritada, me sentindo traído, com toda essa dor da perda e nenhuma explicação para nada.

Seus olhos escuros encaravam os meus tentando dar uma explicação que eu não compreendia. Quando percebi a mulher loira estava saindo com um expressão triste e magoada do rosto puxando Elisabeth pelo braço, vendo apenas ela se virar uma última vez para olhar meu rosto.

O homem que estava calado até então começou a falar algo sobre o labirinto. Meu ódio fazia com que minha audição falhasse. Meus punhos se fechavam com vontade de esmurrar aquela cara. Ele falava tão naturalmente sobre o labirinto. Era tudo um jogo. E nós éramos as peças. Nós éramos os peões.

Ele se calou e um garoto se aproximou do seu lado. Suas vestes eram sujas e um pouco rasgadas, alguns pequenos machucados se realçavam na pele branca. O garoto que eu tanto vi na Clareira estava com os olhos irreconhecíveis, perdidos em lagrimas.

Gally chorava em silenciosamente rios de lagrimas que me davam vontade de consolar o garoto, mas a arma que ele portava nas mãos me fez fazer o contrário.

–Gally abaixe a arma. – Thomas disse lentamente levantando as mãos.

Ao ouvir isso Gally começou a chorar cada vez mais, como se estivesse contra sua vontade.

–Gally. – Falei dando um passo a frente.

–Não! – Ele berrou me fazendo parar. – Não podemos. Não podemos.

Ele se lamuriava baixo quase em silencio.

Um estrondo fez com que a porta atrás deles se abrisse tirando a atenção de todos, inclusive de Gally.

Era Elisabeth. Ela entrou correndo empurrando tudo que estava em seu caminho dando um salto e pulando nas costas do homem de jaleco. Ela tampava seus olhos arranhando seu rosto com as unhas. O homem se debatia jogando-a com um grande força no chão. Ela arqueava suas costelas em função da dor.

Se não fosse por Thomas agarrar meu braço eu ia sair correndo dando meu jeito de atravessar aquela parede de vidro. Ao fundo pude ver ela se arrastando pegando uma prancheta e tacando na cabeça do homem que apenas o fez abaixar por alguns segundos. Com a feição irritar ele agarrou ela pelo braço fazendo ficar marcas roxas logo chamando seguranças que a arrastaram daqui fazendo-nos ouvir apenas um “não” esganiçado de Elisabeth que fez meu coração parrar.

Provavelmente minha respiração também parou, pois só vi que não estava respirando quando o homem começou a falar.

–Não liguem para ela, está louca.

Depois disso ele lançou um olhar frio para Gally que já retornara sua postura apontando a arma para Thomas.

–Você vê agora? Nunca saímos. Nunca iremos sair.

Falando isso Gally puxou o gatilho fazendo um estrondoso “BUM” ecoar pela pequena sala.

De repente tudo ficou mais devagar. O tempo não passava mais, as lagrimas agora, não apenas de Gally, caiam devagar. O corpo de Thomas era jogado para o lado enquanto o pequeno garoto se jogava em sua frente sendo atingido pela pequena bala de metal que perfurava seu peito.

Chuck apertava a camisa de Thomas que se encontrava praticamente em cima dele, chorando tanto quanto Gally estava no começo. Minhas mãos subiram a boca não acreditando no que estava vendo.

Teresa soltava lagrimas pesadas enquanto o choro de Thomas ecoava. O pequeno menino que lutava agora não estava conseguindo aguentar muito, seus olhos pesavam enquanto agarravam agora a mão de Thomas e sussurrava alguma coisa. Todos os Clareanos se encontravam em choque. Quando finalmente os olhos castanhos de Chuck se fecharam Thomas caiu na realidade. Ele levantou abruptamente indo para cima de Gally acertando-o com um soco em sua mandíbula. Ele esperneava contra o loiro que apanhava de Thomas.

Eu deveria fazer algumas coisa. Mas eu não fiz, eu não queria fazer. Como se não bastasse passar por esse furacão de emoções ainda fui obrigado a ver uma pura criança morrer. Alguns guardas que apareceram separam Thomas de Gally que agora estava apagado em um canto da sala.

O homem cujo nojo por ele aumentava a cada estante disse que havia muita coisa para explicar. Que tudo que havia acontecido até agora tinha um motivo. Mas as respostas não vinham agora.

Pelo resto do meu cérebro que ainda raciocinava pude entender que iriamos para um dormitório. Para isso passamos pela porta de vidro quase em uma marcha de tão desolados que estávamos. Um grande corredor cinza se estendia pela minha visão. Parecia até um corredor do labirinto. Esse pensamento me fez sentir um arrepio pela espinha.

Um choro histérico na porta a nosso frente me fez ter certeza que Elisabeth estava ali. O grupo passou por minha frente me dando a oportunidade de ver entre a abertura da porta.

Era um quarto relativamente grande. Paredes brancas e uma cama de casal com uma colcha azul escura. Elisabeth estava de joelhos no meio do quarto com os cabelos bagunçados. Suas mãos agarravam o tapete em seus joelhos enquanto ela soltava um grito agoniado que fazia meu coração doer.

Olhei em volta e vi o homem de jaleco na frente do grupo de Clareanos que praticamente cambaleava atrás dele. Thomas estava por último praticamente se segurando pelas paredes. Ao ver que o campo de visão do homem estava longe de mim entrei no quarto cronometrando quanto tempo eu ia ter antes dos seguranças chegarem.

Ao ouvir a porta fechando Eliasabeth levantou seus olhos esbugalhados até mim. Corri até ela me ajoelhando em sua frente. Seus olhos eram irreconhecíveis, cheio de medo e dor, cheio de insanidade.

Ela arregalava seus olhos para mim como se quisesse ter certeza que eu estava ali. Suas mãos tremulas subiam pelo meu rosto passando a mãos por toda a extensão dele. Ela se jogou em meu pescoço em um abraço tão apertado. Meus braços logo a envolveram retribuindo o abraço. Mesmo com seu corpo tremendo a sensação era maravilhosa. Seu calor passava para meu corpo trazendo em meio de todo o caos uma saída, um resquício de paz. Ainda podia ouvir algumas lagrimas escorrendo pelo seu rosto fazendo-me desgrudar dela. Meus olhos corriam por todo seu rosto descendo logo para seus braços que estavam roxos. Envolvi seus machucados com meus dedos fazendo-a sentir calafrios. Meus dedos deslizavam por seu braço por toda a extensão roxa. Estar com ela aqui me fez notar a saudade que estava dela.

Subi meus dedos por seu pescoço que também estava um pouco machucado. Meus dedos continuavam a subir passando por sua bochecha fazendo pequenos círculos. Seus grandes olhos estavam fechados apenas sentido meus dedos em sua pele. Um grande impulso dentro de mim fez com que eu puxasse seu rosto contra o meu colando nossos lábios iniciando um beijo desesperado. Não importa o que estava acontecendo, eu precisava disso.

Senti as mãos de Elisabeth subirem pelo meu pescoço fazendo-me ficar arrepiado. Logo agarrando o cabelo da minha nuca fazendo arfar entre o beijo. Me separei dela olhando em seus olhas que ainda me pareciam tão perdidos.

–Elisabeth...

–Me escute. – Ela fala baixo com uma voz rouca e fraca. - Não temos muito tempo até perceberem que você está aqui. Você precisa confiar em mim. Você precisa entendeu?

Balancei a cabeça atônito.

–Também precisa confiar na Ava Paige.

–Quem?

–Naquela mulher que estava no meu lado.

–Beth eu não confio em ninguém daqui.

–Precisa acreditar em mim. – Seus olhos insanos mostravam suplica. – Ela só quer ajudar.

–Como você sabe?

–Eu sei porque ela é minha mãe.