Uma garota? Melhor dizendo, outra garota? Corri até a caixa para poder olhar com meus próprios olhos. Sim, era uma garota. Diferente de Elisabeth ela tinha cabelos negros e sua pele era muito pálida, quase como uma folha de papel.

Ela se mantinha parada fazendo-me não distinguir se estava dormindo ou desmaiada. Em um súbito suspiro ela abriu os olhos ofegando revelando duas grandes bolas azuis.

Em meio de sua falha respiração ela chamou por um nome. Ela chamou por Thomas. Todos os garotos agora encaravam o novato que ainda encarava a menina.

Sem mais muita paciência com tudo de louco que estava acontecendo aqui pulei na caixa para examinar ela. A garota tinha um papel em sua mão amaçado e também um pouco molhado. Um papel contendo apenas quatro palavras confusas.

Ela é a última

A fúria me subiu à cabeça ao olhar a garota. O que era isso? Uma troca amistosa? Os criadores levam uma e botam outra? Quem eles pensam que são para fazer isso? Como eles puderam fazer isso? Eu sei que eles não são bons seguindo apenas pelo princípio de nós estarmos aqui, mas tirar Elisabeth de nós e botar uma outra no lugar? Isso era cruel. Isso doía muito.

A garota que agora voltava a dormir me fazia relembrar as últimas horas da Clareira. Tantas perguntas se formavam em minha cabeça, simultaneamente com a raiva e a frustração.

Alby pulou do meu lado me perguntando o que tinha no papel. Sem dizer uma palavra entreguei o papel a ele e sai da caixa andando para a floresta deixando todos pra trás. Alby cuidaria desse pandemônio que está se formando na Clareira. Muros que não fecharam, chegada de pessoas uma atrás da outra, o bilhete, tudo. Não tinha cabeça para isso agora.

Queria só que as portas abrissem para mandarmos os corredores para o penhasco.

Andava desviando das raízes tentando esfriar a cabeça, ou com sorte cair e bater a cabeça no chão e esquecer as últimas horas na Clareira.

Sentei na terra seca encostando meu tronco em uma das árvores. Minha cabeça rodava tendo arquivar todas as informações, mas eram muitas informações de uma vez só.

Ouvi alguns passos nas folhas secas fazendo alguns “CRACK” me fazendo levantar os olhos. Eu já ia mandar Minho ir embora quando vi que não era ele. Era Thomas.

Ele caminhou até ficar do meu lado sentando por fim no chão em silencio.

–Oi. – Ele falou.

Soltei um suspiro e respondi um “oi” arrastado.

Um silencio constrangedor se instalou no local sendo quebrado por minha pergunta.

–Você conhece ela?

Thomas não pareceu surpreso com a pergunta demorando alguns segundos para responder.

–Não. Quer dizer, eu não me lembro de nada, ela não me parece familiar.

–Tem certeza? Tente forçar a memória, ela parecia te conhecer.

–Eu... eu não consigo. – Thomas respondeu parecendo frustrado.

–Newt, eu sei que eu sou novo aqui, mas eu quero mesmo ajudar a sair daqui. Eu quero dar meu melhor aqui dentro, será que você pode confiar em mim?

–Claro Tommy. –Disse tentando ser amigável com o garoto.

Ele riu com o apelido.

–O que está acontecendo aqui?

–Eu não tenho ideia. Desde que você chegou tudo está desmoronando. Temos que descobrir porque. As coisas estão mudando, prepare-se para mudanças, porque vamos sair daqui logo.

–Newt, como se faz para virar um corredor? – Ele perguntou um pouco envergonhado.

Soltei um riso sem graça.

–Minho tem que te escolher. Você tem que ser bom.

Falar sobre isso me fez lembrar de Elisabeth de novo. Maldição. Voltei minha atenção para Thomas para esquecer de Elisabeth.

–Será que ele me escolheria?

–Se sobressaia. Mas olha, demora muito pra se virar um corredor, menos Eli... – Fechei meus olhos com raiva de mim mesmo por sempre voltar para o mesmo assunto.

Thomas soltou um sorriso seco me reconfortando.

–Eu sei que deve estar sendo difícil pra você, com todos os acontecimentos, mas ficar sentado aqui não vai fazer a gente sair daqui.

–Obrigado

A palavra pegou ele de surpresa.

–Eu precisa ouvir isso. – Falei sorrindo.

–A garota ainda está dormindo, Jeff acha que ela está em coma.

–Sério?

–Sim.

–Eu acho melhor voltarmos, você está certo, ficar sentando aqui não vai ajudar em nada. Ficar sentado aqui faz a morte de Elisabeth ser em vão.

Com isso levantei e comecei a andar ouvindo Thomas acelerar o passo pra se manter do meu lado.

–Onde está Alby?

–Com a garota na ala hospitalar.

Com essa informação caminhei em direção a mesma vendo Alby conversando com Jeff e Minho

–Alby.- Falei alto para chamar sua atenção.

–Onde você meteu essa sua bunda de Mértila? – Disse Minho se levantando.

–O importante é que eu estou aqui agora. Qual é o estado dela?

–Está estável. Ela respira e seu coração está batendo lentamente, tudo indica um coma. Vamos alimentar ela fazendo com que permaneça viva. Ela fala coisas sem noção muitas vezes chamando por ele. – Jeff disse apontando para Thomas.

–Ela chama por Thomas? Ok depois vemos isso. O importante é ela acordar e nós contar o que sabe. Minho quero que você estre no labirinto e vá para o penhasco, garanta que os verdugos saiam de lá.

–Ok. –Disse ele indo para a porta.

–Eu vou com ele. – Alby disse.

–O que? Você nunca foi no labirinto, Alby é loucura.

–Eu quero ver isso, quero ver o penhasco.

Soltei um suspiro longo.

–OK.

–Você está no comando Newt.

Falando isso Alby foi embora com Minho.

–O que fazemos agora? – Thomas me perguntou.

–Esperamos. Esperamos eles voltarem.

~*~

Chuck entrou na sala quieto falando que Caçarola já tinha feito a comida. Estava com pena de Chuck, eles estava claramente abatido por tudo que estava acontecendo. Antes que o menino fosse embora não me contive e chamei por seu nome.

–Sim?

–Vem aqui Chuck.

Ele atravessou toda a sala para chegar no meu lado logo se sentando.

–Tudo vai ficar bem ta? Eu sei que são palavras vazias, mas vamos sair daqui, não será em vão ok?

Ele sorriu parecendo grato por minhas palavras depois se levantando e indo embora.

Todos nós comemos em silencio, todos abalados pelos acontecimentos. Elisabeth, a nova garota, o bilhete. Afinal de contas o que significava aquele bilhete?

“Ela é a última”

Isso significava que não iam mandar mais pessoas. O que significava que a caixa não ia subir mais. O que significava que não iam mandar mais alimento?

Quanto tempo vamos continuar sem alimento?

Pouco tempo.

~*~

As portas já estavam quase na hora de fechar e nenhum sinal deles, todos os Clareanos estavam na porta Leste aguardando Minho e Alby. Um dejavù passou pela minha cabeça não trazendo as melhores sensações.

Quando finalmente elas começaram a se mover nenhum sinal dos dois havia surgido.

Vamos voltem.

Qual é

Cadê vocês?

Eu repetia essas palavras na minha mente.

Minhas mãos suavam fazendo com que eu as esfregasse na minha blusa. Ao longe duas pessoas apareceram. Minho e Alby. Claramente dava pra ver Alby sendo carregado por Minho. Eles não iam chegar a tempo.

Todos os Clarenaos berravam para Minho se apressar mas não era o suficiente. Minha voz saia um pouco esganiçada pela altura que eu berrava.

Agora as portas estavam quase se fechando e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa Thomas saiu correndo na minha frente passando pelas paredes do labirinto me fazendo berrar mais. Thomas tinha entrado no labirinto.