Eu subia a escada de metal tentando esconder minhas ansiedade. Winston subia com dificuldade a minha frente e Thomas que antes estava atrás de mim tinha voltado para o final da fila para se certificar que todos iriam subir.

As pessoas que já tinham conseguido sair nos observavam no topo da escada estendendo seus braços para os outros. Agarrei a mão de Newt que me impulsionou para frente fazendo-me finalmente sair de qualquer resquício de escuridão.

A temperatura do meu corpo mudou quase automaticamente. Minha testa começou a ficar molhada devido ao suor fazendo-me esfregar minha mão machucada tentando tirar o suor com o pano amarrado.

Levei minhas mãos aos olhos tentando forçar a vista para tentar enxergar alguma coisa.

–E agora? – Aris perguntou.

–Temos que seguir para o Norte, não é? – A voz de Thomas estava novamente em nosso alcance.

Não me importei muito com o dialogo, procurei o rosto familiar de Newt para poder falar com ele. Ele estava com Wisnton. Pelo visto sua cabeça voltou a sangrar.

–Não vejo nada além de areia. – Disse dando uma volta de trezentos e sessenta graus.

–Melhor começarmos a andar, quando a noite chegar nós descansamos. – Thomas sugeriu do meu lado.

–Não seria melhor andarmos de noite? – Perguntei. – O sol não iria nos atrapalhar.

–Não sabemos o que tem aqui de noite. Talvez alguns Cranks de mértila resolvam nos encher o saco. – Minho disse.

Pensar na possibilidade dos Cranks nos atacarem fez um arrepio cruzar minha espinha.

–Melhor andarmos logo e achar algum lugar seguro para dormirmos. – Falei passando a mão no cabelo.

–Se é que existe algum lugar seguro nesse inferno. – Minho disse tomando a frente na caminhada.

Esperei todos andarem até ficar por último ao lado de Newt.

–Oi. – Disse depois de alguns segundos constrangedores ao seu lado.

Ele respondeu um fraco “oi” enquanto diminuía o ritmo para ficar do meu lado.

–Preciso te contar alguns coisas. – Falei olhando para seu rosto.

Sua expressão me mostrava que eu não era a única que queria falar alguma coisa aqui.

–Pode começar. – Ele disse de um jeito gentil.

–As coisas estão mudando Newt. – Olhei sua expressão de “achei que isso já tinha ficado claro”. – Ava... minha mãe... bom . – Ele interrompeu minha fala passando o braço pelo meu ombro me deixando mais tranquila. – Ela tinha uma grande importância na C.R.U.E.L, ela era uma das líderes. Mas agora Janson está tomando o controle aos poucos, minha mãe não tem tanta força lá dentro agora, eu não sei o que pode acontecer. Os métodos de Janson são muito rígidos.

–Tudo vai ficar bem. – Newt não falava olhando em meus olhos pois ele mesmo sabia que era mentira.

–Se Janson tomar todo o controle da C.R.U.E.L. ele pode fazer coisas piores com a gente.

–Eles contaminaram a gente com o Fulgor, estamos em um deserto, não sei o que pode ser pior. – Ele disse com um sorriso sem graça.

–Eu queria poder lembrar mais.

–Todos nós queríamos.

Ele começou a mexer na atadura em minha mão enquanto andávamos.

–O que aconteceu com você quando saiu? –Ele perguntou sem tirar a atenção da minha mão.

–Como assim? – Questionei mexendo meus dedos entrelaçando as pontas deles com os de sua mão.

–Quando você foi no nosso quarto na C.R.U.E.L. você parecia...

–Louca?

–Perdida.

–Aconteceu uma coisas quando eu sai do labirinto. – Disse.

Com sua mão livre ele puxou meu rosto para que eu olhasse para ele.

–Eu recebi um choque muito grande de informações. – Falei desviando minha atenção para o chão. – Meu cérebro não conseguiu processar tudo direito, as vezes eu não sei o que é lembrança ou fruto da minha imaginação. Tenho algumas crises de ansiedade devido ao estresse e outras coisas.

Ele me olhava pasmo, com certeza ele não estava esperando algo como isso.

–Eu...

–Não precisa dizer nada. – Voltei minha atenção para seus olhos.

–Não, eu... nós vamos dar um jeito em tudo. Quando chegarmos no tal refúgio seguro que eles falaram tudo vai ficar bem.

–Será? Eu não acredito mais num “tudo vai ficar bem” ou um “tudo vai voltar ao que era antes”.

–Vamos acreditar em que então?

–Eu não sei.

–Você pode acreditar em mim e eu em você. É mais concreto não acha?

–Sim. – Disse deixando um sorriso tomas conta dos meus lábios.

–Então nosso problema está resolvido.

–Acho que sim.

~*~

–Estamos andando a uma hora e não vimos nada! Tem certeza que estamos indo pro lado certo? – Thomas berrou para mim na frente do grupo.

–Não estamos indo para o Norte? Então seu mértila!

–Desde de quando Minho é o líder? – Perguntei rindo para Newt.

Ele levantou as mãos para a teste mostrando uma expressão de surpresa.

–Esqueci de falar. – Ele disse rindo. –Apareceram umas tatuagens nos nossos ombros.

Ele tirou o pano que cobria o pedaço de pele e eu pude ver.

Grupo A, Indivíduo A5

A cola, Propriedade C.R.U.E.L.

–A cola? – Perguntei rindo.

–Acho que é porque eu mantenho todo mundo junto, impedindo os problemas.

–Newt. – Disse levantando os braços. – O pacificador.

–Na do Minho mostrava que ele era o líder. – Ele disse rindo.

–Todos do grupo A, certo?

–Depois que Aris chegou e Teresa sumiu eu entendi. Tinham dois labirintos né?

Balancei a cabeça afirmando.

–O que fala nas dos outros? – Perguntei curiosa.

–Na do Aris está “o amigo”, alguma coisa assim, não lembro. Na do Thomas...

– O que houve?

–É confuso.

– O que está escrito?

–“A ser morto pelo grupo B”- Ele disse sério.

Por uma fração de segundos senti o sangue parrar de correr em minhas veias.

–Não acho que o grupo B mataria ele.

–Eu não sei de mais nada.

O ambiente que antes era um deserto infernal estava ficando cada vez mais frio. A escuridão já havia tomado conta de quase todo o espaço que meus olhos podiam ver.

Uma agitação na frente fez com que despertasse não apenas a minha mas a atenção de Newt.

Ele tirou seus braço do meu ombro correndo para frente me levando em seu encalço. Passamos todos os garotos até chegar em Minho e Thomas que estavam na frente.

–O que está acontecendo? – Perguntei.

–Tem uma casa ali. – Minho apontou para frente.

Com dificuldade consegui distinguir uma casa.

–Eu vou lá. – Thomas disse.

Segurei seu pulso em um ato rápido.

–Pode ser perigoso.

–Podemos passar a noite aqui. Vai ficar tudo bem, só vou lá ver.

Sem esperar mais nada Thomas começou a andar parando no meio do caminho para berrar por alguém. Pude ouvir um “Teresa” no meio dos gritos. Por um momento tinha esquecido que Teresa também deveria estar no deserto. Ela deve ter saído junto com as garotas.

Uma luz fraca acendeu dentro da casa mostrando a porta da frente se abrindo com lentidão. Devido a luz fraca não reconheci de primeira mas depois de alguns segundos consegui ver Teresa indo em direção a Thomas.

Ele voltou a andar ficando mais ou menos uns cinco metros de distância da gente. Pude ver os dois se abraçando, e se não fosse a luz de má qualidade poderia afirmar com toda certeza que eles estavam se beijando. Depois de uns segundos eles se separaram um pouco fazendo-me por entender que estavam conversando.

Thomas virou seu rosto para nós e sua expressão não era uma das melhores. Pude ver Teresa se afastando dando uma última olhada no grupo e por fim em Thomas. Virou suas costas e entrou novamente na casa apagando a luz nos devolvendo a escuridão.

Thomas voltou devagar para nós com uma expressão um tanto desolada.

–O que aconteceu? – Perguntei botando minha mão em seu ombro.

–Nada. – Ele respondeu baixo. – É melhor descansarmos, está escuro e frio. Melhor pararmos um pouco.

–Vamos dormir. Quando o sol nascer nós voltamos a andar.