The Dream

Capítulo 48


— Eu! Levem-me a mim! – grita Marquesa, rastejando pelo chão. – Eu não sei se é Deus que me castiga! Eu não sei, mas a minha filha nunca participou de nada! – confessa e eu sorrio convencida. Parece que tudo se estava a desenrolar da forma como previa. Até parecia que tinha uma bola de cristal para adivinhar.

— Como assim? A Marquesa? – começaram a comentar entre si.

— Eu… – Eu ordenei o rapto daquela bastarda.

— E como sabemos que conta a verdade? Pode estar a tentar proteger a sua filha!

— Eu, eu tenho como provar. A letra das cartas é minha. Eu consigo dizer exatamente qual foi a conversa. A quantia exata, qual é o tipo de baú. Eu dou-lhe as provas todas que precisar. Apenas por favor não leve a minha filha! Ela não deve pagar por um crime que nunca cometeu! – Abana a cabeça negativamente.

Eu mantenho a cabeça erguida.

Sempre me ostracizou. Matou a minha mãe. Eu ainda me lembro de me terem agarrado pelo pescoço naquela noite enquanto rompiam as roupas da minha mãe. Ela esperneava-se e chorava por mim. Gritava para que ninguém me fizesse mal.

— Deus… – Pai caiu, sendo segurado por cavaleiros que lhe colocam sentada no banco.

— Eu fiz tudo por si, Theresa. Por esta família! Aquela bastarda! Queria levar o seu marido. Tal como levaram o meu! – Abanou a cabeça negativamente. – Não queria que se sentisses como eu. A ver a cara de uma bastarda todos os dias para me lembrar do erro do meu marido! – Fica de gatas a chorar profundamente.

— Adultério? – pergunta o juiz.

— Calúnias! Sempre me detestou! – berrei, dando mais passos para a direção de Marquesa. – Nunca me quiseste nesta casa. Culpas-me de adultério mas isso não passa de mentiras que inventas para cobrir tudo o que verdadeiramente pensas e sentes sobre mim! – Deixo escapar todas as palavras, a minha voz treme.

— Cala a boca. – murmura, abanando a cabeça negativamente.

— Eu nunca roubaria o marido da minha irmã! Até em momentos assim escolhes culpar as outras pessoas! Como se atreve a culpar-me! Tipo que justifica um crime desta gravidade! – berrei, ficando cada vez mais chateada. Soltando todas a emoções que tinha dentro de mim e segurei no vestido com força.

— Cala a boca! – gritou de volta e quando avançou para cima de Eleanor, segura numa faca que retira debaixo da manga.

Eu arfo e coloco a mão à frente. Grito assim que a minha mão é atravessada pela lâmina. Ela empurra-me para trás. Oiço vários berros, o meu nome a ser dito enquanto luto com ela que movimenta a faca. Os cavaleiros e polícias decidem intervir. Eu seguro no pulso da mão que sangra, vendo a lâmina atravessada e a quantidade de sangue. Berrei, tremendo a mão.

— Madame Eleanor! – grita Isaac, pegando-me ao colo. – Temos de ir para o hospital!

— Prendam-na! – pede juiz. O Marquês desmaia depois de tossir com tantos acontecimentos a desenrolar de uma vez só. Theresa grita o nome da mãe, chorando.

Fui para o hospital o mais rápido possível e fui logo atendida. Deram-me morfina antes de retirarem a faca. Foi doloroso. Isaac agarrou-me na mão. Eu olho para o rosto de preocupação e fecho os olhos mal ele retira a faca, pois ainda sinto alguma coisa. Sinto algo a furar-me a pele algumas vezes de apercebe-se que devem estar a coser a pele.

— Está quase a terminar. – assegura Isaac e eu aperto a mão dele.

— Pronto, agora não poderá utilizas esta mão. – diz o médico enfaixando-me a mão, falando então das recomendações, de trocar as fitas todos os dias, desinfetar com recorrência e voltar depois de uma semana. E tem aqui analgésicos para quando tiver dores.

Assenti com a cabeça e fiquei com o braço ao peito, com a fita à volta do braço e do ombro.

— Obrigada. – disse antes de me levantar da maca. Olho para o meu vestido e apenas noto que tem umas gotas de sangue na parte de ouro.

— Vamos, menina. – diz, pronto para me carregar ao colo.

— Não. Não… Eu consigo andar. – insisto e saio da sala. No banco sentado está Duque e eu fiquei com os olhos cabisbaixo.

— Está-se a sentir bem? – pergunta Duque, observando o meu braço enfaixado.

— Confesso que já tive dias melhores… – Estabelecemos contato visual por alguns minutos e Isaac decide retirar-se.

Fomos para o jardim do hospital.

Vejo crianças a correrem, brincarem entre si e apego-me ao braço dele enquanto caminhamos.

— Quando estava na sala de tribunal, não pude deixar de reparar no quão estranho é toda esta situação. Sabia este tempo todo que tinha sido a Marquesa Stirling? – questiona e eu assenti com a cabeça.

— Sim... Lembra-se de te ter dito que contratar pessoas não é confiável, Duque? Vi o mesmo homem que estava no dia em que a minha mãe morreu. Eu saberia que se continuasse a provocá-la, acabaria por ceder. A Marquesa agiu porque pensou que a história se voltaria a repetir.

— Sabias que iria admitir o que fez?

— Não. Podia ter seguido qualquer tipo de caminho. O objetivo era prender a Marquesa entre a espada e a parede.

— A Theresa é inocente.

— Pensava que já sabia que eu usava pessoas para meu ganho próprio. É uma características que parece detestar sobre mim.

— E o que fará depois? – questiona e eu respiro fundo.

— Ainda não acabei com tudo. Ainda falta o que tenho para o Marquês.

— O que tem para o Marquês?

— É surpresa.

— E o que pretende fazer depois deste seu plano todo? – Parei de andar e olho para as árvores sem folhas algumas.

— Isso é uma excelente questão. Algumas ideias vêem-me à cabeça, mas não tenho uma conclusão.

— Alguma dessas ideias inclui-me a mim? – questiona tentando ser subtil e eu apenas sorri.

— Talvez.