The Dream

Capítulo 32


Eleanor pega no vestido verde-esmeralda pendurado no manequim. Dobra o mesmo, colocando na caixa bordeaux, enrolado em papel. Fecha a caixa, olhando para as outras cinco caixas que se encontram por cima da secretária. As empregadas fecham os baús cheios de vestidos.

Saem juntas, logo de manhã cedo, levando o coche. Ela boceja, pois tinha ficado a noite toda acordada a tentar terminar os vestidos das encomendas especiais. Depois de alguns minutos a tentar lutar contra a vontade de dormir, cede e fecha os olhos. Brevemente, as narinas são invadidas pelo cheio de fumo. Ela estremece, ficando com as sobrancelhas unidas antes de pestanejar algumas vezes, acordando pelo aroma desagradável.

Boceja novamente, esticando o corpo antes de olhar para fora do coche. Vê uma multidão em volta da boutique Layland, não consegue ver exatamente o que é, o coche não se mexe mais por causa do aglomerado de pessoas, mas ela consegue ver o fumo negro e percebe que não é bom sinal. Eleanor não espera e sai logo do coche.

— Senhorita Eleanor! – disse Isaac acompanhando a senhora.

Ouve vários gritos e pessoas a correrem desalmadamente. Ela vai passando entre as pessoas, Isaac segurando-lhe no braço para não lhe perder de vista e vai contra várias pessoas que seguram baldes de água nas mãos. Perto da entrada, ela vê madame Leyland a ser segurada por várias pessoas enquanto berra e chora.

— Madame Leyland? – Eleanor toca-lhe suavemente no braço com expressão de compaixão.

— Senhorita Eleanor! – Abraça-lhe. – Eu peço desculpas! Eu peço imensas desculpas! – continua a repetir o mesmo e Eleanor não perceber porque é que a senhora continua a dizer isso. Até parece que a boutique é de Eleanor.

— Como é que aconteceu? O que é que aconteceu, madame Leyland?

— Senhorita Eleanor. Eu… Eu não sei! Estava tudo a correr normalmente e assim do nada uma das salas ardeu! A-rdeu! Começou no armazém. To-Todas as encomendas foram à vida! E-Eu não sei o que fazer! – disse gaguejando.

Matilda ergueu-se observando o lugar em chamas, pedidos de ajuda, senhoras a serem resgatadas, cavaleiros a entrar e a saírem a tentarem ajudar o máximo de pessoas possível.

— O que devo fazer? – pergunta várias vezes a si própria enquanto abana a cabeça negativamente. – A minha vida está aqui. Todos o meu dinheiro aqui! Eu não acredito!

Eleanor teve de respirar fundo, tentando o máximo para consolar a mulher que tremia como varas verdes. Senhorita Leyland vai ao chão por causa das pernas fracas e Eleanor olha para o lugar em chamas cerrando os punhos. Fogo posto? Será coincidência estar a acontecer isto na mesma semana em que foi chamada para a esquadra da polícia? Alguém deve saber o que faço e sem isto, sem a boutique, não tenho forma de fazer dinheiro, pensa Eleanor. Ela segura-se ao colar, não tem a certeza se é algum ataque conta ela, mas dentro de si, sente que com certeza é.

Cavaleiro Isaac coloca a mão nas costas de Eleanor e outra empregada segura-lhe na mão para suavizar os tremores. Ela está a pensar se isto é uma coincidência ou se tinha tido a mão de alguém. Tinha um mau pressentimento. Eleanor respira fundo e olha novamente para a senhora que está no chão.

— Madame Leyland. Tem de se levantar. – Segura-a pela mão, agachando-se. – Recomponha-se. A boutique ardeu, mas não está tudo acabado. – assegura – Eu irei ajudar-lhe. – Leyland olha para Eleanor parecendo confusa.

— A-Ajudar-me? Porque fará isso?

— Porque… Penso que fazer roupa e vendê-la é uma das poucas coisas que me traz felicidade e me preenche o vazio. Porque no final do dia, foi a única que aceitou vender a roupa que eu desenho. – Apertou as mãos dela e a madame parece comovida, lábio inferior a tremer, mas contém as lágrimas. – Falaremos mais tarde, quando esta situação acabar. Neste momento, só tem de garantir que as chamas se apagam, as vítimas vão para o hospital e que se consegue recompor. Peço desculpa por não continuar aqui consigo.

Seguidamente, ela parte. Força-se para não olhar para trás e quando chega ao coche, respira fundo. Tem as mãos a tremer. Não poderá vender os seus designs, não poderá dar à vida pedidos por algum tempo, não receberá dinheiro. Atira a cabeça para trás, olhando para o teto do coche. Ainda por cima, terá de ajudar madame Leyland. Não queria deixá-la assim como estava. Tal como ela, moda é essencial para a sua vida.

Durante várias semanas, sempre que ia com mãe à cidade, utilizava as mesmas peças de roupa, saltitando, mas sempre com cuidado para não sujar o seu vestido. Era um presente que a mãe tinha conseguido ao juntar tecidos que ia conseguindo dos vestidos que madame Stirling não queria e tinha de valer por semanas. Foi o mesmo vestido que utilizou no último dia trágico que teria com a sua mãe.

Eleanor começou a sentir calor. Abanou-se com a mão, mas parecia insuficiente. Respirou fundo e o batimento cardíaco parecia acelerado. O teto do coche com vários desenhos a fazer-lhe sentir náuseas. Abriu a porta do coche. Não pediu que parassem.

— Madame Eleanor? – pergunta Isaac.

Ela fica de joelhos no chão, sujando o tecido e coloca a mão sobre o peito, tentando regularizar a sua respiração. Não sabia porque se sentia assim, não sabia que reação era esta, mas fcar dentro do coche estava a fazer com que ela sentisse mal. Isaac pergunta o que se passa, mas ela não responde, apesar abana a cabeça negativamente e continua a olhar para baixo.

No final, finalmente encara o céu, vendo as nuvens carregadas cinzas a taparem o céu azul e diz:

— Quero ver a minha mãe.