The Dream
Capítulo 23
— Vossa Alteza. – Fiz uma vénia, cumprimentando depois de alguma hesitação, pois mesmo em choque, não perderia os modos.
— De novo com a formalidade. Eleanor, prazer voltar a vê-la. – Pisca o olho e segura-me na mão para dar um beijo nas costas da mesma. Senti a pele arrepiar, principalmente com o olhar sobre mim. – Fico feliz por me vir receber logo à entrada da sua humilde casa.
— E eu… Agradeço a sua presença. Vem aqui por algum motivo em específico? Será pelo meu pai?
— Eu penso que já sabe porque vim. – Tem um sorriso misterioso e eu fico desconfiada. Ainda não percebi as intenções deste homem e começo a pensar que o nosso encontro perto da boutique Leyland foi planeada. – Ouvi dizer que a sua mão estava a ser oferecida para casamento.
— E está interessado em mim? – Tentei manter a expressão facial igual, mas queria estreitar os olhar. Existia algo de muito errado aqui. Pelo menos era o que o meu instinto me dizia.
— Penso que já demonstrei isso previamente.
— Muito bem. – Removi a mão. – Sendo assim, por favor acompanhe-nos para a sala de chá. Junte-se a nós. – Quando entrei pela sala, disse: – Chegou o nosso último convidado. Príncipe Ashar. – Os outros pretendentes ficam confusos ao ouvir o nome e olham para trás, observando-o. O meu pai apenas sorri, levantando-se do seu assento com muito dificuldade.
— Bom dia, Príncipe Ashar! Muito bem-vindo!
— Vossa Alteza. – dizem os outros, seguindo-o até este se sentar.
— Peço desculpa pelo atraso, mas tive alguns problemas pelo caminho. Estar em terras novas leva-me a ter de dar demasiadas voltas. Chego atrasado a tudo, mas em troca, fico a conhecer caminhos novos. – Todos nós nos rimos e eu aproveito para lhe servir o chá.
— Confesso que fiquei surpreendido quando recebi a sua carta com a proposta. – diz Pai. Agora começo a arrepender-me de ter o molho de cartas em cima da mesa por ler Não estava no topo das minhas prioridades, mas deveria ter estado. E aqui estávamos nós agora. Deve ser o melhor e o pior pretendente desta mesa.
— Sim… Confesso que tenho estado de olho na sua filha. É uma pessoa deveras interessante. – Eu bebi o chá, tentando não me focar no olhar dele, pois ele sorri para mim. Será que foi ele que planeou os ataques? Que tipo de jogo estaria este homem a fazer?
— Fico feliz que tenha demonstrado interesse. Agora que a situação acalmou entre ambos os países e estamos a chegar a acordos, penso que isto é uma boa forma de se integrar na cultura.
— Também penso que sim e a sua filha tem-me explicado muito sobre a cultura.
— Têm falado? – pergunta pai com os olhos estreitos e eu engulo o seco. O que iria este homem dizer? Apertei o punho no meu punho.
— Quer dizer, falamos durante o jogo de Caça. Perguntei-lhe sobre alguns costumes de Seren. Como se divertem… Como cortejam uma mulher… – Sorriu, bebendo o chá e une as sobrancelhas. – E isto… Isto é incrível. O melhor chá que experimentei até agora desde que aterrei em Seren. – Abana a cabeça positivamente e eu mostro um sorriso amarelo.
— Foi o que eu disse, filha! O melhor deste país! – diz meu Pai, gabando-se sobre mim à frente de todos eles e eu apenas fui soltando gargalhadas secas enquanto bebia o meu chá.
Príncipe Ashar pega numa bolacha, comendo e parece bastante contente com o sabor. O meu pai continua a falar sobre mim, os chás e a tentar gabar-se o máximo que pode.
— Isto é saboroso. Pensava que aqui não utilizam especiarias algumas, mas afinal deixaram tudo para as doçarias. – sussurrou-me e eu fiquei a vê-lo a colocar tudo na boca. – Não vai comer? – Aproximou-se de mim e eu abanei a cabeça negativamente.
Ele pegou numa bolacha, colocando num prato e colocou à minha frente. Todos estão focados no meu pai, exceto Príncipe.
— Coma comigo para não me sentir mal. Sou o único na mesa que está a comer. Os restantes só estão a beber chá. – Eu uno as sobrancelhas, pois em primeiro lugar, ele estava demasiado perto de mim, contacto visual demasiado prolongado e em segundo lugar, estava a dar-lhe uma bolacha sem eu querer.
Se bem que eu tinha fome e não me custaria acompanhá-lo.
— Obrigada. – A palavra custou a sair e eu comi a bolacha. Ele sorriu, parecendo feliz por eu estar a comer e pegou noutra bolacha com sabor diferente.
— Esta também é boa. De chocolate. Quando me disseram que isto era o que faziam com cacau, fiquei parvo. Isto é uma excelente criação. – Ele parte um bocado, colocando no meu prato.
— Não preciso de experimentar.
— E… Madame Eleanor? – Senhor Capell chama-me à atenção. – Por acaso quer mais chá? – questiona, segurando no bule. – Deixe-me servir-lhe. – Eu aceno com a cabeça e ele assim o faz.
— Muito obrigada. – Continua a sorrir para mim.
Continuamos a conversar pela tarde toda. Pelo menos Pai com todos eles e eu ia respondendo a algumas perguntas de Príncipe Ashar e quando alcancei parte da bolacha que ele me deu, ele disse:
— Agora lembrei-me. Trouxe uma prenda para a sua filha. – Estala os dedos e aparece um homem com uma caixa de veludo pequena nas mãos.
— Uma prenda? – Pai parece tão confuso quanto eu.
— Não precisava, Príncipe. – disse, vendo a caixa a ser colocada à minha frente.
— Faz parte. Quando estamos interessados em alguém, temos sempre de trazer uma oferenda. No meu país, é tradição. Um pequeno gesto.
Abri a caixa, vendo um par de brincos. Os brincos eram compridos, em formato de um pena, o topo composto de três círculos, vermelho, azul e preto. Eram muito bonitos e já estava a pensar nas roupas com que estes brincos poderiam combinar.
— Adorei. – Fui honesta, pegando num deles para ver com mais detalhe sob a luz do dia.
— Fico contente. Espero que os use com frequência. – Sorriu misteriosamente. Percebi logo a mensagem subentendida e eu coloquei dentro da caixa, fechando-a. Limpei a garganta.
Continuámos a conversar, ou pelo menos o meu Pai sempre a fazer perguntas até ao final da tarde. Durante o tempo todo, sussurrando com Príncipe Ashar, no fundo da minha cabeça, questionava-me quais eram as intenções dele. Casar com ele garantia-me uma boa posição. Afinal, ele era um príncipe, mais rico do que qualquer homem nesta casa. Mas o que ganharia ele em casar comigo? Gostaria de mim? Não acreditava nisso. O meu coração contorceu por não conseguir perceber as intenções dele.
— Com licença. Gostaria de ir à casa de banho. Será possível indicarem-me o caminho? – perguntou Príncipe.
— Alfred pode acompanhá-lo até à casa de banho.
— Ou então eu posso fazer isso. – sugeri e Pai faz um pequeno sorriso, trocando olhar entre nós os dois.
— Parece-me uma excelente ideia.
Levantamo-nos da mesa e fomos pelo corredor até alcançar a casa de banho. Eu fui à frente, em silêncio. Quando estávamos longe o suficiente da sala, dos guardas e empregados, parei.
— Tem ar de quem me quer fazer uma questão. – diz.
— Está certo. Tenho várias questões. Eu agradeço muito o facto de me fazer sentir confortável este tempo todo. Agradeço pela prenda. E a minha intenção não é desrespeitá-lo, Vossa Alteza. Mas eu gostava de perguntar o que quer comigo. É príncipe. Porque é que quer a minha mão?
— O motivo é óbvio e está mais do que dito. – Deu um passo à frente e eu vou para trás.
— O nosso encontro atrás da boutique Leyland foi um acaso? De facto não sabia quem eu era? – Mal fiz estas perguntas, ele esboçou um sorriso grande antes de começar a rir e eu fiquei com as sobrancelhas unidas.
— Pensa que lhe estou a perseguir? – Continua com o sorriso enorme e eu não mudo de expressão. Demora, mas depois de algum tempo, ele fica sério, suspirando. – O nosso encontro na rua foi ao acaso. Era o meu primeiro dia na cidade, fora do vosso castelo real em Seren. Queria andar por ai, conhecer os arredores a pé, sozinho. Explorar como fazia e faço em Zavia. Parei numa esquina e encontrei-lhe. Mesmo sendo um desconhecido, decidiu ajudar-me, porque sabia que se não fosse por si, teria sido roubado e talvez até espancado por aqueles rufias que estavam lá. Eu gostei de si, a sua forma de agir, forma de falar e, com toda a honestidade, a sua aparência também contribuiu para o meu interesse. – Continuou. – Parece ser uma mulher com quem me posso dar bem. Alguém que eu posso ver como uma futura possível mulher.
— Um bom argumento.
— Passei no teste? – Ergue uma sobrancelha, movendo o rosto para ver o meu e perceber qual era a minha expressão facial.
— Não reprovou. Mas não sei se passou com a nota máxima. – Cruzei os braços. – Não precisa de ir à casa de banho? – perguntei e ele assente com a cabeça, entrando na divisória, sempre a estudar a minha expressão facial. – Penso que já sabe o caminho de volta, certo? – confirmou e eu regressei para a sala de chá.
Quando o sol se começou a por, estava na altura de todos se irem embora. Coloquei o braço em volta do braço de meu pai, acompanhando toda a gente até à porta. Despedimo-nos todos e eu mantive o olhar para baixo enquanto meu pai dava as palavras finais e senti o olhar de Príncipe Ashar em cima de mim.
A porta foi fechada e eu suspirei de alívio. O meu pai sorriu, falando comigo sobre os diferentes pretendentes.
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