Muitas pessoas passavam na sua frente, a maioria vestida com roupas coladas e meia-calça assim como ela. Olhava de um lado para o outro e não se alterava. Era a concentração em forma de garota. Faltando pouco para os seus 14 anos, fora aceita para fazer os testes do Kaleido Star, mesmo que, para eles, fosse necessário ter 15 anos para poder utilizar os aparelhos mais perigosos e, portanto, fazer o teste para os mesmos. Nada como a ajuda de um pai milionário para investir no crescimento da filha e convencê-los a dar essa exceção. "Ao menos este presente de aniversário valerá a pena", pensava ela, enquanto alongava os braços e as pernas, o olhar fechado e toda a concentração do mundo no seu número que passava em loop mentalmente.

Estava ansiosa, extremamente ansiosa, mas não demonstrava. Layla Hamilton jamais demonstrava seus sentimentos impulsivos, especialmente quando se tratava de algum sentimento que pudessem julgá-la. Felicidade? Talvez, por aquela chance que conseguiu do seu pai, mas não completamente feliz. Havia muito mais pessoas à sua volta felizes, provavelmente todas, por estarem com seus pais ou parentes naquele dia tão especial... Exceto uma.

No meio de tantas fileiras para os testes, ao abrir os olhos notava um garoto dez vezes mais frio que ela. Hesitou minimamente ao receber um olhar do mesmo. Parecia tê-la percebido na sala apenas quando ela o "achou" e ele, se não fosse pelo olhar determinado, diria ela que não desejava estar ali. Por alguns segundos, pensou tê-lo visto em algum lugar antes daquela audiência, mas era uma possibilidade quase nula, já que mal via pessoas da sua idade, exceto no colégio e, claro, não costumava reparar em ninguém por lá.

Finalmente, após um tempo, deixavam os candidatos entrarem na sala de testes. A ansiedade aumentava tanto que provavelmente estava começando a mostrá-la em seu rosto, mas mantinha um silêncio absoluto. Sequer conversava com a sua empregada, mãe de Macquarie, sua melhor amiga de infância, que estava ali consigo e cuidava dela com ainda mais cuidado e carinho desde que sua mãe falecera. Era sua única companhia e, mesmo assim, não trocava palavras com ela, apenas confirmava ou negava qualquer pergunta doce e gentil que ela murmurava em seu ouvido.

Passadas as horas, seu nome era finalmente chamado. Sobrenome, depois nome. Depois de tanto observar os fracassos e sucessos naquele palco, saber o que fazer estava cada vez mais fácil. Sua competição mental era algo que a fortalecia desde cedo e ali não fora diferente. Na sua vez, todas as piruetas e giros que fez no ar e em barras foram perfeitos, como se tivesse nascido naquele espaço, apesar de raramente mostrar uma tentativa de sorriso, graças à concentração. O professor de Ballet ficara maravilhado com sua compostura e seu equilíbrio. Não havia como negar que tinha sido a melhor dentre todos que já haviam sido apresentado, e mesmo assim ela se roía por dentro por ter cometido um pequenino erro em um dos passos. Como sempre, não demonstrava, muito menos demonstrava que estava feliz ou convencida de que era a melhor ali. O semblante natural, calmo e frio não fitava ninguém em especial. Apenas sentou-se novamente no seu lugar, ouvindo algumas baixíssimas exclamações de felicidade contida de sua empregada e outros cochichos inaudíveis sobre sua performance quase impecável, mantendo-se calma.

Depois de mais algumas apresentações, uma em particular valeu mais a pena de se observar. O garoto de antes subiu ao palco após ter sido chamado e a fez arregalar levemente os olhos ao se apresentar. Tinha os movimentos tão ou mais perfeitos que os dela. Mesmo de um modo completamente frio, mostrava completa elegância, assim como ela. "Como pode..? De onde esse garoto surgiu..?!", pensava ela, enquanto mal piscava ao assisti-lo. O ciúmes logo batia ao ouvir algumas exclamações dos professores, três fileiras à frente da dela, ao término da apresentação dele. Afinal, era ela a favorita do ano, ela tinha sido impecável, até ele aparecer. Se não ganhasse a nota máxima, ficaria extremamente irritada. Irritada não, revoltadíssima! Como alguém como ele, um ninguém, que surgiu repentinamente no seu meio, poderia roubar o brilho daquela que deveria entrar precocemente no circo mais belo que existia, e ganhar a glória que muitos queriam conquistar, conquistando o mundo?

Estava com raiva e por alguns segundos demonstrou isso ao fitá-lo impiedosamente. Mas, mais uma vez, parecia que ele sabia quem o fitava e logo seus olhos encontraram os dela, provocando um retorno daquele olhar. Ao vê-la daquela forma irritadiça, o garoto deu um mínimo sorriso que a confundiu, envergonhou e a fez mudar o olhar, da raiva à leve hesitação, mais uma vez.

Ele sabia quem ela era, afinal, ou simplesmente estava debochando do seu fracasso? Ou ambos? Não importava. Para ela, havia sido um insulto ter ido tão perfeitamente bem e ela iria dar o troco. Sabia que ambos haviam sido aceitos, não era sequer necessário prestar atenção nas próximas apresentações, mas ao ver o nome dele em primeiro lugar nas notas só confirmou aquele sentimento de revolta em seu peito.

Ela treinaria mais. Morreria treinando em casa se precisasse, treinaria durante uma semana inteira até o primeiro dia de treinos começar ali, para que assim não tornasse a repetir qualquer erro e perder o seu tão desejado posto. Especialmente para.

"Você me paga... Yuri Killian"

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.