The Doctors And The Rose

Capítulo 4 - Desabafo.


--É o efeito da arma— Disse O Doutor.—Apenas causa dor, não é letal.
--Parece... Dolorido. —Respondeu ela, com uma careta.
Rose olhou para John, que agora tinha um curativo na testa. Aparentemente ela havia feito o sangramento parar. Mas ele continuava muito pálido. Ele ficaria bem sozinho por algum tempo.
--Vem cá— Disse Rose– Tem gel para dor muscular na mochila. Vamos da um jeito nisso...
Ele se aproximou. Rose cuidava de seu braço como uma mãe faria. Ele se encostou a uma arvore e ficou parado, olhando-a.
--Perdemos uma das mochilas. –Disse. –Havia dois killerblasters lá em cima. Um deles conseguiu levar uma das mochilas.
--Não tem problema. Podemos ficar bem só com duas.
--Sei disso. Mas, se você e John quiserem voltar, a qualquer momento, eu não vou impedi-los...
--Pare de ser bobo— Respondeu ela. —Claro que vamos ficar com você. Lembra que eu prometi isso? Quando você me perguntou, no tempo que ainda viajávamos jutos?—Ele concordou com a cabeça. –Pois é, a promessa ainda está de pé. Vou procurar um riacho para lavar as mãos... Estão cobertas de sangue...
Ela beijou a testa d’O Doutor e se afastou. Ele ficou stagnado por alguns segundos, lembrando-se dos velhos tempos, tentando absorver os novos. Queria ir atrás dela, mas não o fez. Ela estava segura, os killerblaster queriam apenas ele. Não poderia usar essa desculpa. Então resolveu segui-la de cara lisa mesmo.
--O que foi?—Perguntou ela, erguendo as mãos molhadas no momento em que ele apareceu. Obviamente estava pensando em killerblasters.
--Nada— Disse ele. –Só te segui.
--Hum— Fez ela, desconfiada.
--Então... Você e John estão... casados?—Perguntou O Doutor, parado com as mãos nos bolsos do sobretudo.
--Não exatamente... Mas nós estamos... meio que... juntos, sabe...—Disse ela, corando.
--Ah...
--Não leve a mal... É que eu achei que você não fosse mais voltar... Ele é igualzinho a você, Doutor. O mesmo corpo, a mesma personalidade... Os mesmos sentimentos...
Eles se encararam demoradamente. O Doutor já esperava uma resposta do gênero, mas não pode evitar de ficar um pouco triste.
--Bom..—Disse Rose, depois de um tempinho.—Acho melhor voltarmos. Caso os killerblasters reapareçam.
--Claro. –Respondeu ele, monotonamente. Mas formulava um plano em sua cabeça, embora, em seu intimo, achasse que lhe faltaria coragem... Mas seu tempo estava se esgotando... Nunca teria outra chance...
--Rose.—Chamou ele, quando ela estava um passo a sua frente. Ela se virou e ele a beijou. E ficou feliz, mas muito triste ao mesmo tempo; sabia que estava ao seu lado de novo, mas que logo acabaria. Tinha que voltar para sua dimensão, tinha um compromisso... Um ponto fixo no tempo... Seria o fim de uma era: Não veria mais Donna, nem Martha, nem Jack nem Rose...
Antes que ele pudesse se conter, havia lagrimas em seus olhos. Toda a responsabilidade de salvar a terra... A morte encarando-o... O fato de ser o ultimo, que sempre voltava a assombrá-lo, desabou sobre ele como água gelada.
--O que foi?—Sussurrou Rose, quando se separaram, enxugando os olhos dele com as mãos frias.
--Oh, Rose...
Simplesmente lhe faltaram palavras; Se sentia sozinho, triste, desesperado e, por mais que odiasse admitir, assustado. E ali estava Rose, uma das poucas pessoas que ele sabia que podia entende-lo. Sozinho na TARDIS, sempre imaginava-se conversando com ela. E agora ali estava, sem palavras, sem coragem...
--O que você tem?—Perguntou ela novamente, lhe acariciando os cabelos.
Ele olhou em volta, tentando conter as lagrimas, mas não conseguiu. Finalmente olhou-a e resolveu que, ao menos uma vez na vida, não devia enfrentar tudo sozinho.
--Rose, o que você faria se tivesse que morrer?
--Doutor... Você— Soluçou ela. –Vai... Se regenerar?
--Eu não sei... Só o que eu sei é que vou morrer quando ele bater quatro vezes...
--Ele quem?
--Longa história...
--Então vamos nos sentar e fazer uma fogueira— Disse ela. –Quero saber de tudo. Você não precisa enfrentar tudo sozinho, Doutor.

Voltaram para as arvores embaixo da ladeira, pegando gravetos pelo caminho. John continuava desmaiado. Eles arrumaram os gravetos em silêncio. Rose revirou uma das mochilas até achar um isqueiro. Mesmo com um sistema vascular binário, O Doutor tinha que admitir que perto do fogo era bem mais confortável. Rose achou comida desidratada na mochila.
--Bom, é melhor do que nada— Disse, se sentando ao lado d’O Doutor.—Então, o que houve?
--Tanta coisa... –Ele se apoiou em uma arvore.—Nem sei por onde começar... Bom... Eu tenho um... conhecido... Um inimigo, eu acho, embora eu não queria que fosse assim. Essa é a marca dele: quatro batidas.
--Quem é? Me diga, Doutor.
--Acho melhor você não saber muito alem do necessário, entenda—Acrescentou, quando Rose fez menção de responder— Que além de perigoso, que não me sentiria bem te contando.
--Mas...
--Rose, quanto mais você souber, mais vai tentar me impedir de fazer o que eu preciso fazer. Por favor, não.
--Tudo bem, então, mas... Você vai morrer?—Os olhos dela se encheram de lagrimas.
--Eu não sei. Espero que não... Eu não quero isso, não queria mudar...
--Mas você não precisa ir, precisa?
Ele concordou, com aqueles olhos tristes e cansados.
--Preciso. E já estou atrasado.
--Mas você pode ir para qualquer época, não pode...?
--Estou atrasado na minha própria linha temporal. Tenho hora certa nos eventos...
Ela se aconchegou mais perto dele, apoiando a cabeça em seu ombro.
--Então vamos ficar juntos enquanto ainda podemos.
Ele concordou solenemente, apoiando sua cabeça na dela. E ficaram assim por muito tempo. Até ficar tudo escuro, exceto pela fogueira. Rose adormeceu primeiro. Ele ficou acordado ainda um tempo, mas adormeceu também, certo de que seus sonhos seriam mais amenos que a realidade.

John acordou no meio da noite. Sua cabeça latejava e ele caiu para trás quando tentou se levantar. Levou as mãos a testa e compreendeu que havia se ferido e alguém havia lhe colocado um curativo.
ele tentou se sentar de novo, desta vez bem devagar, e viu uma coisa que fez com ele se sentisse decididamente mal; O Doutor e Rose dormindo apoiados um no outro.
“Droga!”
Era o que ele temia. Rose preferia O Doutor, claro. Ele era o incrível senhor do tempo, enquanto John era só mais um humano. Por um segundo teve uma vontade imensa de inventar qualquer desculpa e acordá-los, mas, se lembrou de repente que O Doutor sentia por Rose exatamente o mesmo que ele. Não que esse pensamento o animasse, muito pelo contrario... Mas o problema era que ele tinha certeza que Rose sentia muita falta d’O Doutor.
Se lembrava claramente dos primeiros dias que haviam ficado juntos, logo depois que O Doutor tinha partido. Rose mal falara com ele. Havia chorada em silêncio, se esquivado, chegado a disser que ele não era O Doutor...
Era verdade, não era.
Mas foram forçados a seguir a vida; Arrumaram empregos em Torchwood e com o passar do tempo foram se acostumando a idéia. Compararam uma casa, mais para fugir de Jackie Tyler do que qualquer outra coisa. Riram juntos. Choraram juntos...
Rose murmurou algo enquanto dormia e John achou melhor se deitar; Não queria que eles soubessem que tinha os visto.
“Droga!”, Pensou novamente antes de adormecer.

O Doutor acordou bem cedo no outro dia, antes de Rose. Ainda estavam um apoiado no outro. Tentou mudar para uma posição confortável, mas haviam cordas que prendiam ele e Rose a arvore.
--Rose!—Chamou, enquanto se contorcia, tentando se soltar. –Rose, acorde!
Ela abriu os olhos devagar, sonolenta, então notou as cordas e começou a tentar se soltar também.
--O que houve? Quem nos prendeu aqui?
--Devem ter sido os killerblasters... Acho que já entendi o plano deles... Temos que nos soltar, depressa...
--O que houve?—Perguntou John; aparentemente todo o barulho o havia acordado.
--Killerblasters!—Respondeu Rose. –Ajude a gente, John.
Ele se levantou instantaneamente. Parecendo meio bêbado, caindo para os lados e se apoiando nas arvores, ele começou a tentar desatar os nós.
--Caramba... –Disse, depois de uns minutos. –São nós muito bons...
--Ah, nós muitos bons!—Exclamou Rose, se mexendo feito louca, tentando se livrar das cordas.—Nós muito bons...
--Fique quieta, Rose, estou quase...
Mas ouviram vozes; vozinhas que diziam algo em algum idiomas alien. John olhou para O Doutor e ele entendeu na mesma hora; Os killerblasters não o haviam prendido por, alem de quererem matar apenas O Doutor, Acharem que ainda estava desmaiado. Lançando um olhar a Rose, ele correu e se jogou no saco de dormir onde os outros o haviam colocado e O Doutor e Rose fingiram estar dormindo. Menos de um segundo depois, apareceram os dois killerblasters.
--Devíamos matá-lo agora, não?