- Como assim um baile, Alice? – Anna perguntou

- Te disse que essa seria a reação dela - Alice disse para Mary.

Era sábado, e as três meninas estavam na casa de Alice, como costumavam fazer há anos. Discutiam sobre a festa de aniversário de Mary, que seria daqui a algumas semanas.

- Pelo amor de Deus, pra que baile? Tu falou que ia esperar pelas minhas ideias, Mary. Eu tava pensando em algo como festa na piscina.

Mary ponderou a ideia por alguns segundos, mas depois balançou a cabeça.

- Era uma boa, mas já decidi pelo baile, já falei com meus pais inclusive e eles amaram. Pensa bem, é nosso último ano na escola, minha última oportunidade de fazer algo com todos os meus amigos daqui, e eu realmente quero isso.

Anna suspirou, não tão contente com a ideia. Ela não gostava muito de dançar, era do tipo que quase nunca ia em festas ou shows, a não ser às festas de aniversário e aos shows de artistas que ela de fato gostava.

- Como vocês decidiram isso sem mim?

- Eu tava com a Alice no telefone - disse Mary- A gente te ligou, ontem à noite, mas você não atendia o telefone de jeito nenhum, ligamos pra sua casa e sua mãe disse que tinha ido na casa de um amigo — ela falou, entonando a palavra “amigo” com um sorriso cheio de malícia.

Anna reprimiu as meninas com um olhar.

- Eu tava na casa do Edward, estudando com ele – justificou, revirando os olhos.

As três se olharam e riram.

- Sério, vocês precisam conhecer ele melhor, é um garoto incrível, e ele tem um talento surreal pra música.

- Se eu não te conhecesse tão bem, dona Anna, poderia jurar que você tava apaixonada porque, sério, teus olhos brilharam agora.

A garota corou e olhou pro chão.

- Para, Mary, sério, não tem nada. Você sabe dos meus planos pra esse ano, sabe que ter qualquer tipo de relacionamento não está nos planos. E tem mais, o Ed é um amigo muito bom pra mim, as coisas estão bem como estão.

Alice a puxou para um abraço, depois segurou suas duas mãos.

- Anna, não é querendo cobrar nem forçar nada, mas se surgir uma chance de felicidade na sua vida, pegue. Você não precisa se sentir culpada, ok? Não é como se todos os garotos do mundo fossem te magoar, e não é como se um relacionamento fosse tirar seu tempo pra estudar. Afinal, o que temos entre a gente é um relacionamento, e você é uma nerd desde que te conheço.

Anna deu um empurrão de leve em Alice, depois sorriu, com gratidão estampada no rosto. Amava muito as duas amigas. Conversaram e se divertiram bastante a tarde inteira, depois os pais de Anna chegaram para busca-la. Passaram em frente a casa de Ed, de carro, e ela viu o garoto sentado na grama, como sempre, tocando violão. Não conteve um sorriso.

Algumas semanas se passaram, Anna e Ed estudavam juntos pelo menos umas 3 vezes por semana, as vezes na casa dele, as vezes na casa dela, as vezes na escola. Não restavam dúvidas de que isso estava sendo produtivo para os dois, e as notas de Ed estavam aumentando progressivamente, o que fez com que a garota ganhasse a confiança e a admiração dos Sheeran. É claro que Edward as vezes ficava indisposto, reclamava, falava que queria treinar e que estava com menos tempo de tocar, mas se mantinha firme na medida do possível. No fundo, ele sabia que só teria que aguentar mais um pouco.

Naquela sexta-feira, durante o intervalo, Anna, Alice, James e Matthew estavam ajudando Mary a distribuir os convites para o seu aniversário. James, que era muito bom em computação, tinha preparado todo o design, e colocado no convite um texto feito por Anna. Todos os 5 estavam envolvidos de corpo e alma na preparação da festa, que seria a primeira do ano, depois de quase 5 meses de estudos intermináveis. Toda a expectativa ainda era aumentada pela perspectiva das férias, daqui a pouco mais de 1 mês.

Quando estavam passando pelo bloco B, cada um com um bloquinho de convites na mão, Anna se surpreendeu quando olhou para o lado e viu Mary indo até Edward. Viu os dois conversando, sorrindo e, depois, viu quando ela entregou o envelope a ele. Tudo bem que, depois de 5 meses, Ed e seus outros amigos já tinham construído um bom relacionamento entre si, Alice e Mary inclusive gostavam muito dele, e Ed era um dos únicos que ria das piadas sem graça de James. Porém, Anna não imaginava nunca que ele seria convidado. Suprimiu um sorriso que se formava em seus lábios e foi terminar de distribuir o bloco de convites que estava em sua mão.

Quando o sinal do fim do intervalo tocou, os 5 reuniram-se na frente da sala.

- Missão cumprida! – falou Matthew

- Missão cumprida? Hahaha, o trabalho ta só começando, Matt – disse Mary

O garoto soltou um suspiro e concordou com a amiga.

Anna aproximou-se de Alice e falou com a amiga:

- Acho que foi egoísmo da minha parte imaginar que só eu era amiga do Ed.

Alice riu para a amiga e a deu um abraço:

- Foi mesmo. Todo mundo gosta dele, não fica com ciúme, tá? E, ah, foi ideia minha. De nada.

Anna reprimiu a amiga com o olhar, estirando a língua, e Alice só riu.

Faltavam duas aulas para terminar o dia, e Anna já olhava constantemente para o relógio, ansiosa. Ela ficava assim nos dias em que ia estudar com o Ed, preparava as aulas com muito cuidado e carinho e, em sua cabeça, era isso que explicava sua ansiedade.

Quando chegou em casa, almoçou apressada e subiu para o seu quarto. Olhou as coisas uma última vez: estava tudo organizado. Todos os cadernos, livros e papeis separados, aguardando em seu devido lugar. Não restava outra coisa a fazer, senão esperar Ed chegar. Estava ansiosa para conversar com ele sobre a festa de Mary. Então, para se distrair, ficou vendo alguns vídeos divertidos na internet. Se reprimiu mentalmente por rir de tanta besteira, e concluiu que isso era efeito das piadas de James. Depois de ouvir tanta piada ruim, uma que fosse levemente mediana já conseguia fazê-la rir. Surpreendeu-se com o de uma garota dançando de um jeito completamente tosco, que tinha milhares e milhares de visualizações. Se distraiu tanto com isso que nem ouviu a campainha de casa tocar.

Edward esperava pacientemente do lado de fora, as mãos dando uma última arrumada no cabelo e os pés balançando seu corpo para frente e para trás. A porta se abriu, revelando uma Jully com cara de sono. Não demorou 5 segundos para Nick vir correndo e pular em cima de Ed, que se abaixou para cumprimentar o cachorrinho.

- Oi, Jully – disse Ed – cadê a Anna?

- Tá lá em cima, no quarto dela. Você sabe o caminho – falou, piscando pra ele.

- Claro. Você tava dormindo? Desculpa ai – ele disse, sem graça

- Relaxa, Ruivo. Eu durmo de novo – encerrou a irmã mais velha de Anna, deitando-se no sofá.

Ed subiu as escadas e parou em frente ao quarto da amiga. Todas as vezes que ele ia lá, era sempre ela quem abria a porta da casa, então ele bateu na porta do quarto com certa hesitação. Menos de 2 segundos depois, a porta se abriu.

- Ed! – Disse Anna, claramente surpresa – Caralho, não ouvi a campainha, desculpa.

- Desculpa pelo quê, doida? – A voz dele começou a falhar, e ele a puxou e envolveu o pescoço da garota com os braços, que era como costumava abraça-la. – Eu sei que demorei um pouco mais, mas é que eu tava ajudando meus pais a colocarem as malas no carro. Eles foram passar o final de semana na casa do meu avô.

- O seu avô...o que ta doente? – Anna perguntou, o olhar entristecido.

- É...

- Ele tá bem, Ed?

- Tá sim, na medida do possível. Tá se esquecendo aos poucos das coisas. Meus pais não quiseram que eu e meu irmão fossemos dessa vez, meu pai sabe o quando fico mal ao ver meu avô daquela forma...é realmente muito difícil, mas acho que deve ser mais ainda para eles.

- Sinto muito – ela disse, abraçando-o. Ed fechou os olhos e repousou a cabeça no ombro da garota por alguns instantes.

Anna tentou animar o garoto do jeito que pode. Eles estudaram algumas horas, depois desceram para fazer um lanche, conversaram com Jully e brincaram com Nick. Quando Edward anunciou que já ia embora, Anna disse que ia junto.

- Não que eu não queira sua companhia, mas, por que? – Ele disse, sem conter um sorriso.

- Bem, se o objetivo do dia é animar você, pensei em fazermos uma coisa que não fazemos há muito tempo, e que sei que você gosta.

Ed olhou para os lados e fingiu estar constrangido.

-Anna! – Disse, com um rindo de forma maliciosa – Isso não é hora de dar em cima de mim!

- Ai meu Deus! – Ela falou, gargalhando, cobrindo o rosto com a mão direita e dando um tapa no ombro do garoto com a esquerda – Tu não existe né? Deixa de ser assim – disse, o rosto vermelho, ainda sem conseguir parar de rir. Sem dúvida, um dos passatempos preferidos de Ed era fazê-la ficar com vergonha. Anna admirava, e muito, o humor dele, a capacidade que ela tinha de não levar a vida tão a sério, o jeito leve de encarar as coisas. Era completamente diferente dela, que vivia estressada e preocupada com o futuro e as vezes se esquecia de todas as coisas boas que aconteciam no presente, e de tudo que ela tinha para desfrutar. Eles foram o caminho todo assim, rindo e se divertindo, Ed fazendo piadas, Anna rindo das piadas, e um clima leve tomando conta do ar. O sol estava se pondo, e o céu sem nuvens anunciava que seria uma noite repleta de estrelas.

Eles chegaram na casa de Ed quando a noite já havia se instalado. Anna esperou do lado de fora, sentada na grama daquele jardim que eles tanto gostavam de ficar, e que tinham tantas lembranças juntos, desde o dia em que se conheceram daquela forma “inusitada”. Estava bastante escuro, a lua sem muito brilho, apenas a pouca luz vinda das estrelas. Ed voltou com seu violão e uma lanterna, que entregou a ela.

- Edward – ela disse, enquanto ele se sentava ao seu lado – Você vai à festa da Mary?

- Claro que eu vou – ele respondeu – adoro festas. Tem pessoas, tem música, e tem bebida.

Ela deu um tapa no ombro dele. Sempre fazia isso.

- Você não tem idade para beber.

Ele gargalhou e deu de ombros. Anna continuou reprimindo-o com o olhar.

- Para de ser assim, mulher. Só temos uma vida.

- Exatamente. Por isso temos que planejá-la bem.

- E você já parou para pensar que, mesmo planejando, as coisas podem fugir do nosso controle a qualquer momento?

- Mas planejamento envolve saber lidar com imprevistos, Ed.

- Bem, não acho que valha a pena – ele disse, olhando para o horizonte.

Anna suspirou.

- Talvez algum dia eu consiga botar algum juízo nessa sua cabeça.

Ele riu para ela.

- É...talvez – falou, enquanto pegava o violão e começava a dedilhá-lo.

- Não me animo muito com festas – ela continuou, falando mais para si mesma do que pra Ed – mas é a de uma das minhas melhores amigas, e é nosso último ano juntas, então acho que talvez seja legal.

Ed estava tentando achar algum acorde na música que tocava. Segurava a palheta entre os lábios.

- hmmsjwi hmm sjwjmm hmamsj – ele falou

- Han? – Ela perguntou, rindo muito e levando as mãos aos lábios de Ed, para tirar a palheta dali

- Eu disse que não tem como não ser legal, já que eu vou estar lá – Ele disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Ela riu de novo. Já estava com as bochechas doendo.

- Eu vou apenas parar de levar a sério essas coisas que tu fala.

Dessa vez, ele quem riu, e pegou a palheta das mãos dela para voltar a tocar.

Eles ficaram ali, tocando, esquecendo do tempo, e a noite caiu ainda mais. Os pais de Anna ligaram, perguntando se ela não iria chegar para o jantar, mas Ed pegou o telefone e convenceu a mãe da menina (que ele chamou de “tia”) a deixar ela comer por lá, afinal, era sexta. Os pais de Anna gostavam de Ed tanto quando os pais de Ed eram gratos por Anna.

Depois de um tempo, eles entraram em casa e foram preparar a comida deles e de Matthew, que estava no quarto dele, provavelmente jogando videogame, conforme disse Ed. Eles colocaram os pratos em cima da mesa. Sanduiches, biscoitos, sucos, torradas, um banquete completo.

- Quer saber – disse Ed – Isso aqui tá parecendo um piquenique. Quer comer lá fora?

- No escuro?

- Tem lanterna para isso né. Achei que você gostasse de olhar as estrelas.

- Eu amo – ela disse e, como se isso tivesse sido suficiente para convencê-la, ela juntou as coisas e as levou para o jardim, Ed seguindo-a logo atrás.

Eles forraram uma toalha grande, por causa das formigas, sentaram-se em cima e colocaram a comida. Ed comia de um jeito tão desesperado que Anna passou a maior parte do tempo rindo e no final da refeição ainda culpou o menino pela barriga que estava doendo.

- Você tem razão, estudar cansa – ele concluiu enquanto suspirava e olhava para o céu.

Anna lhe deu um sorriso tímido, que demonstrava também o seu cansaço. Havia sido um longo dia, mas ela estava muito feliz por fazer Ed se sentir melhor e por estar ali com ele. Juntou tudo e colocou na cesta, em um cantinho da toalha. Ela bocejou e depois deitou-se, com a cabeça voltada para o céu repleto de estrelas. Alguns minutos se passaram em silêncio total, até que Ed juntou-se a ela e deitou ao seu lado, as cabeças dos dois encostando uma na outra e eles inclinados cada um para cada lado, como os lados de um triângulo.

Ela apagou a lanterna e eles ficaram ali, admirando as estrelas e um silêncio quebrado apenas pelos sons da respiração dos dois.

- Anna – ele sussurrou – Muito obrigado. Sério, não só por tudo que você vem fazendo por mim, mas por hoje. Teria sido um dia horrível se você não estivesse aqui e agora.

Ela não respondeu, apenas esticou o braço para o lado e tocou delicadamente a mão dele. Eles deram as mãos ao mesmo tempo, como se elas tivessem vida própria e uma estivesse desesperada para segurar a outra. Ficaram assim, o dedão de Ed acariciando a mão da garota. Ele sentiu um frio no estômago, e sabia que não tinha nada a ver com a comida.

Anna deu graças a Deus por estarem em total escuridão, só assim Ed não perceberia nem o rubor nas bochechas dela nem o sorriso de orelha a orelha que se formara em seu rosto e que não iria sair nem tão cedo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.