Depois de quatro longas horas de prova, a cabeça de Edward latejava. Primeiro porque quase não dormira noite passada (o que não era raro) e segundo porque eram muitas questões para responder. Olhou o relógio. Faltavam 30min

E 20 questões.

Droga. Vou terminar essa merda nunca

Encostou-se na parede e tentou relaxar, deixar sua mente tranquila para usar da melhor forma o tempo que lhe restava. Fechou os olhos e, sem querer, deixou-se levar pela imaginação. Música, palco, sucesso, fãs, família, prêmios. Abriu os olhos. 25 minutos.

Merda.

Ok, foda-se. Vou chutar essa bosta logo

Pintou as últimas 20 bolinhas do gabarito de qualquer jeito e saiu da sala. Sentia-se cansado e tonto. Um de seus amigos se aproximou

– E ae, cara, tudo certo? – Questionou.

Ed o cumprimentou com um aperto de mãos

– Tudo beleza, man. Cansado só.

– Tocando violão até tarde de novo, né...

Ele riu.

– Relaxa cara, to tranquilo. Só preciso comer alguma coisa

Foi até a cantina, pegou uma coxinha e sentou-se em um banco próximo a saída. Pegou o celular e mandou uma mensagem para sua mãe

Oi mãe, já acabei a prova. Onde vc ta?

A resposta veio poucos minutos depois:

Presa numa reunião. Só posso te pegar daqui a 30min, ok?

A que ele respondeu:

Deixa então, vou voltar andando. Sim, eu sei o caminho e sim, eu vou tomar cuidado. Te amo, beijos

Edward guardou o celular e terminou de comer. Sentia-se um pouco menos tonto, mas ainda exausto. Fez uma nota mental de não ficar estudando até madrugada em dias que tinha essa maldita prova escolar para fazer. Fez outra, ainda, encorajando a si mesmo por faltar menos de um ano pra tudo isso acabar. Mas, na verdade, isso não o tranquilizava. Uma vez terminada a escola, não teria mais como se esconder. Também tinha menos de um ano para dar um rumo a sua vida.

Abaixou a cabeça para arrumar sua mochila, mas quando a levantou viu, a poucos metros de distância, a fã-da-taylor. Ela olhou pra ele, deu um sorriso leve que mais pareceu obrigado e levantou a mão, fazendo uma saudação.

Ele se levantou, colocando a mochila nas costas.

– Opa – falou

– E ai? – Ela respondeu. Fez um cumprimento com a cabeça e o deixou pra trás.

Ele começou a andar atrás dela e, quando os dois deixaram a escola e estavam seguindo o mesmo caminho, ele acelerou o passo e encostou a mão no ombro dela, que soltou um suspiro de susto.

– Desculpa – falou ele, mas não conseguiu conter o riso.

– Muito engraçado - ela respondeu, com raiva.

Só nesse momento ele percebeu o cansaço nos olhos da menina. Estavam repletos de olheiras, sua pele estava sem cor e ela não parava de bocejar.

– Ei, desculpa de verdade, menina da Taylor – ele disse, ainda mantendo seu humor - Parece que estamos indo para o mesmo lado. Vai andando pra casa?

– Só em dias de prova – ela disse, abandonando a voz de raiva e voltando a andar, o que ele acompanhou. – porque largamos mais cedo e meu pai não pode vir me buscar.

– Ah, legal.

–Uhum

– Então, menina da Taylor, ainda não sei seu nome.

– Anna – ela disse, dando outro bocejo.

– Por que tá tão cansada? Não dormiu direito?

– Na verdade não, fiquei estudando até tarde para a prova.

– Ah...e como foi?

– Foi muito boa, eu acho. Só me enrolei um pouco com física, mas é meio que normal. Não é muito minha praia. E a sua?

Ed soltou um longo suspiro, parte pelo cansaço, parte pensando no que iria falar

– Acho que foi boa, dentro dos meus padrões. Não ligo muito pra escola.

Ela o olhou com um ar de interrogação

– Como assim? Justamente no ano de vestibular?

– Promete que não vai rir? – Ele perguntou

– Claro – ela respondeu, só que já estava rindo

– Eu quero ser músico.

Ela sorriu para ele.

– Ta, cara, legal, de verdade. Eu amo música, mas acho que é importante ter alguma outra base. Vai que não dá certo.

– Tem que dar certo – ele disse.

Ela riu de novo

– Então quer dizer que a prova foi ruim?

– Tá, foi. Não seja tão cruel – ele falou, rindo.

– Mas então por que você tá com essa cara de acabado, tão horrível quanto a minha?

– Só porque eu não tava estudando pra escola, não quer dizer que eu não estava fazendo algo importante – ele disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo

Ela claramente discordava. Abriu a boca para falar algo, mas desistiu. Ed não sabia se era porque estava muito cansada ou se ela não queria falar a verdade para ele. Mas podia sentir que estava sendo julgado. Então ele mudou de assunto:

– Tipo, onde você mora? Porque a gente já ta quase chegando na minha rua.

– Moro exatamente lá, sendo que no começo. Há uns 10 minutos da sua casa, que por sinal eu costumava ir quando era pequena.

– Legal. Então vai lá cantar Taylor Swift comigo, quando quiser – ele disse, em tom de brincadeira

Ela riu de novo.

– Valeu. Mas esse ano vai ser meio complicado. Muita coisa a estudar, muitas coisas a planejar.

Ele a encarou e ela levantou os ombros com um sorriso de lado, como se dissesse: “foi mal”. Ficaram um tempo em silêncio, até, depois que entraram na rua, a menina parou em frente a uma casa.

– Moro aqui – disse – Obrigada pela companhia

– As ordens – ele respondeu – Tchau.

Ela o cumprimentou novamente com a cabeça e virou de costas, abrindo o portão

– Ei, Anna

Ela se virou e olhou pra ele

– Vê se descansa um pouco antes de estudar. Não vai conseguir fazer uma boa prova amanhã se estiver muito cansada

Ela riu, ironicamente dessa vez.

– Obrigada, mas não se preocupe comigo. Te desejo juízo também.

– Valeu – ele disse, fingindo que estava ofendido.

– Tchau, Edward – ela encerrou, entrando fechando a porta atrás de si e deixando o garoto sozinho

Pode me chamar de Ed ele disse, para si mesmo, e retomou a caminhada.

Anna passou a tarde estudando. Ed também. Anna resolveu todos os exercícios do seu livro para a prova de amanhã de matemática. Ed estudou a mesma matéria, mas de uma forma diferente. Música é matemática.

O garoto estava no lugar de sua casa em que mais gostava: no jardim, em contato com a natureza. Passou a tarde lá, fazendo anotações no seu caderno, quando sua mãe apareceu:

– Edward, vai estudar. Você não tem prova amanhã?

– Tenho mãe, mas é de matemática, e você sabe que eu sou bom nisso.

– Não interessa. Levante dai a vá estudar. Edward, entenda de uma vez por todas: Você tá em um ano decisivo na sua vida. Eu e seu pai fizemos todo o sacrifício do mundo para te trazer para uma cidade referência em educação.

Pseudo educação, pensou.

– Então – continuou – faça o favor de levantar agora.

– Mãe, é sério, eu...

– Não, Ed. Não quero discutir agora isso de novo – A mãe falava agora com um tom de voz firme e elevado, o que fez ele se calar - Eu sei que você tá com essa ideia fixa de ser músico, mas você tem que entender que eu tenho obrigação de não aceitar isso. Eu não vou jogar seu violão fora, não vou te impedir de estudar música, você sabe. Mas não vou admitir em hipótese nenhuma que você jogue seu futuro no lixo. Precisa ter outra alternativa, Ed. Você precisa estudar. Conversa encerrada. 5min para você entrar.

Mas eu to estudando, mãe. Só não o que você e a sociedade esperam.

Edward respirou fundo, frustrado. Já tinha levado muitas e muitas lições de moral nesse estilo, desde que anunciara seu sonho de ser músico, em 2006. Antes do ensino médio, sempre fora um aluno exemplar na escola. Agora, ele discutia muito com seus pais, mas chegou um momento em que começou a ceder, pelo simples medo de perder a boa relação que tinha com sua família. De lá pra cá, sua mãe acreditava que estava enfim conseguindo mudar a “cabeça dura” de seu filho, mas ele simplesmente refletia tudo o que ela falava, em vez de absorver. Ao mesmo tempo, sentia que iria explodir a qualquer momento.

Ed juntou suas coisas, entrou em casa e foi para o seu quarto. Respirou fundo, e abriu seus livros, ainda embalados, da escola. Tentou procurar o que estudar, mas se deu conta de que simplesmente não sabia qual seria o assunto da prova. Quando percebeu, lembrou-se de Anna.

Resolveu procura-la no facebook. Mandou uma mensagem:

Oi, Anna. Aqui é o Ed, do The Team e da sua rua hahahah. Desculpa por atrapalhar seus estudos, mas, veja pelo lado positivo, eu resolvi seguir seu conselho e tomar juízo. To querendo saber o assunto da prova de amanhã. Pode me ajudar?

Encostou a cabeça na mesa e, em poucos minutos, o cansaço do dia anterior alongado com esse o consumiu, e ele adormeceu.

Acordou 30min depois, o celular vibrando. Abriu seu facebook

– Olá, ruivo, que bom saber que fui uma boa influência pra você. Vou te mandar um print com os assuntos da prova hahaha. Boa sorte!

Não pode deixar de rir. A garota sabia também como zoar, apesar de parecer toda certinha.

Sem ter mais como enrolar, ele abriu os livros e estudou. Acabou constatando o que já imaginava: Não se interessava nem um pouco por nada daquilo, mas conseguia estudar a matéria numa boa, só não tinha muita paciência. Desistiu alguns minutos depois.

Não dá. Odeio estudar as coisas repetidas. Já estudei isso em anos anteriores, cara. Pra que de novo? Que ideia idiota de criar um ano escolar só para ficar revisando tudo.

Deitou-se em sua cama e, dessa vez, dormiu de vez.