OLIVER

Desde o início dessa maldita missão, tem uma voz em minha cabeça que não para de me dizer para não ir até o fim. Essa voz do inferno ganhou a atenção dos meus instintos agora que avistei quem eles desejam recrutar, organizações desse porte, não tem nome, lideres ou uma central, eles se espalham e infectam o mundo. Não sei por que não posso simplesmente abater todos que querem pegar os alvos. Se tem uma coisa que odeio, mais do que precisar parafusar esse sorriso falso em meu rosto, é bancar a porra da baba, o pior é que eles pensam que podem proteger alguma coisa. Quase sinto vontade de rir de verdade ao ver a lourinha que deve ter a altura da minha irmã caçula, tentando ser meu guarda costas.

Confesso que cheguei a me impressionar quando o menininho saiu para bancar o herói sem se importar com o que poderia acontecer, fiquei ainda mais impressionado quando a namorada dele interceptou o sinal da ameaça e conseguiu pará-la antes que tudo fosse pelos ares. Mas os dois são crianças distraídas e inaptas para esse tipo de serviço. Incapazes de ver uma ameaça bem de baixo dos narizes bonitinhos deles.

-Vai precisar ficar por perto, eles ainda querem recrutá-los. -Lyla diz, e me controlo para não revirar os meus olhos.

Lyla Michaellson foi uma das quatro pessoas que treinaram comigo, formando a equipe mais promissora da CIA. Ela se tornou nosso contato com a agencia e acaba passando mais tempo nesse escritório escuro do que vendo o sol. Os outros são John Diggle, um sniper que tem bancado meu guarda/motorista e odeia o cargo ainda mais do que eu odeio todo o resto. E Patty Spivot, que não sei o que vai fazer nessa missão ainda, mas tenho um pressentimento forte de que não vou gostar, eu nunca gosto.

-No mínimo vão acabar matando aqueles garotos. -reclamo me jogando na poltrona em frente a sua mesa, ao lado de John que mastiga uma maçã sem se importar com o que acontece a sua volta.

-Eles são bons. -Diggle dá de ombros, não entendo essa mania de me contradizer todo o tempo.

-John foi quem parou os capangas que estavam atrás do idiota do King. -argumento. -Eu parei o trem, aqueles garotos morreriam sem apoio.

-Só parou por que a Srta. Smoak conhecia o suficiente para dizer ao Sr. Allen como desarmar a bomba, sem falar que ele foi muito bom lidando com alguns capangas e precisa reconhecer o talento da garota com informática. -Patty já passa pela porta falando o que não deve. -Oi Lyla! -sorri radiante para a outra que mesmo sem o costume sorri de volta. -Não seja tão pessimista, Ollie. -dá um tapa em minha cabeça e entrega um envelope para Lyla. -Estou dentro! -comemora com uma dancinha estranha.

-Isso se chama eficiência, Oliver. -implica Lyla.

-Então, como vai ser? -John se levanta para jogar os restos de sua maçã fora.

-Oliver ainda vai concorrer contra King, aquele maldito não pode ganhar em nenhuma hipótese. -Lyla começa a instruir. -Mas ainda não podemos deixa-lo ser morto, a ameaça teria começado uma guerra se tivessem sucesso no último ataque. Johny, você ainda é a baba do nosso garoto. -reviro os olhos. -Patty vai estar no mesmo departamento que o Sr. Allen está liderando, precisam se aproximar deles, não podemos deixar que sejam recrutados.

-Quer que eu namore o Allen? -questiona sem parecer nada contrariada com a situação, a encaro tentando entender como uma garota assim consegue estar entre os cinco da CIA. -O que foi? Ele é um gatinho. -dá de ombros sob meu olhar de reprovação.

-Acho que o garoto já tem namorada. -comento. -Apesar que você pode fazer o tipo dele. -ela sorri radiante e acabo dando um pequeno sorriso.

-Não parecem ser namorados... -John comenta sem parecer interessado de verdade.

-Se virem. -Lyla acaba com nossa conversa paralela. -Não vai ser o primeiro casal que separam.

-Não gosto de fazer essas coisas. -Patty fala com o semblante triste. -Podemos tentar ser amigos deles. -sugere, me olhando cheia de esperança.

-Então, isso parece ser mais fácil. -concordo com Patty me voltando para Lyla. -A garota mal me notou, e olha que me esforcei.

-Bom, se é o jeito. -ela joga um crachá para mim. -Acesso caso não te deixem passar pela porta da frente antes dessa missão ter fim. -me encara como uma forma de me alertar para não precisar usá-lo. -Só tentem não fazer merda dessa vez. -murmura, parecendo cansada. John sopra um beijo em sua direção, Patty faz um tipo fofo de continência e eu apenas saio atrás dos dois.

-Vou te buscar depois do trabalho. -aviso Patty, caminhando entre ela a John em direção ao meu carro. -Vamos tentar parecer amigos da mesma forma estranha que eles, quem sabe conseguimos nos aproximar dos dois.

-Desde que não finjam ser um casal de novo. -John faz careta. -São tão ruins nisso que tenho duas cicatrizes para provar.

-Eu não queria o papel! -protestamos ao mesmo tempo fazendo Diggle rir. -Só vamos tentar não levar nenhum tiro dessa vez. -respiro fundo, jogando minha chave para Patty.

PATTY

O que pode dar errado dessa vez? Nós sobrevivemos a máfia Russa, a Tríade Chinesa e a uma espécie de seita maluca em Nanda Parbat. Não é possível que só uma ameaça sem nome e não rastreável pode ser o suficiente para nos colocar em paletós de madeira. Não, claro que não. Bom, espero que não mesmo.

-Oi! -digo animada, entrando no laboratório forense da policia de Star City.

-Ah, olá. -muito fofo, Barry sorri nervoso para mim. -Sou Barry Allen. -tira a luva de uma das mãos e me estende ela. -é um prazer.

-Novo chefe! -brinco e ele parece responder de imediato, seus olhos brilham como o de uma criança, não sei como alguém que passa o dia fuçando cadáveres consegue ser assim. -Sou Patty. -aperto sua mão. -Patty Spivot, sua nova CIS. O Mike, que era quem estava antes nesse cargo acabou sendo demitido. -começo a falar muito rápido. -Parece que a mão dele era leve demais, se é que me entende. -sussurro o final, olhando para os lados, o que o faz soltar uma risada divertida. -Precisa de mim onde?

-Ah, sim! -balança a cabeça, como se precisasse recobrar o raciocínio. -Temos que analisar os corpos dos funcionários mortos na tentativa de atentado que houve no trem de Central para Starling ontem. Estava me preparando para descer ao necrotério agora e provavelmente vamos fazer hora extra. -diz em tom de desculpas.

-Sem problemas, chefe. -dou de ombros vestindo o jaleco, pego um par de luvas e um kit. -Vamos?

-Claro.

Passar o dia com Barry foi muito mais fácil do que poderia prever. Ele tem algo quase inocente que torna incapaz não se sentir apegada. Na hora do almoço me convidou para ir com ele e outra pessoa em um restaurante pequeno ao lado da delegacia. Digito uma mensagem rápida para Oliver, falando sobre minhas horas extras com a esperança de dispensá-lo com sucesso, mas sei que não deveria gastar sentimentos tão precisos com uma mula andante como o Queen.

O restaurante era bonito, com tijolinhos aparentes em algumas paredes e mesas com bancos cumpridos, no melhor estilo anos sessenta. Adoraria poder usar aqueles cabelos, como as atrizes da época. Me sento no canto, na mesa mais afastada e Barry se senta a minha frente olhando o relógio em seu pulso.

-Ela deve estar se vingando. -murmura, parecendo não falar comigo, mas pode ser a oportunidade que esperava.

-Ela?

-Minha amiga, melhor amiga e colega de quarto. -se embaralha nas palavras com seu jeito nerd fofo. -Felicity. -volta a olhar para a janela. -Sempre a deixo esperando e ultimamente ela anda dizendo que vai dar o troco. -dá risada de alguma piada interna.

-Você gosta dela? -minha voz é completamente despretensiosa.

-Claro. -responde de imediato, sem nem mesmo pensar. Depois me olha como se tivesse feito algo errado. -Bom, gosto. Mas não gosto. -explica piorando tudo e mordo os lábios para não rir.

-Nós dois, nunca daria certo. -diz uma garota loura com a aparência angelical e um sorriso sapeca estampado em sua face, se sentando ao lado de Barry. -Oi, sou Felicity. -me estende sua mão, cheia de simpatia, acabei de entender o incomodo do Ollie. Gosto dessa garota.

-Patty Spivot. -digo apertando sua mão.

-Tentamos uma vez. -não sei por que motivo, Barry continua a explicar o assunto que estava encerrado. -Foi estranho. -faz careta.

-Ela não está interessada em detalhes. -sussurra para ele entre dentes.

-Parece divertido. -sorrio interessada e Felicity parece relaxar um pouco.

-Nos conhecemos a cinco anos. -Barry começa. -E a principio nós ficamos... -procura a palavra certa.

-Interessados? -Felicity sugere. -Romanticamente, quero dizer. -me explica chamando um garçom.

-Saímos duas vezes e foi bem legal...

-Legal até nos beijarmos! -os dois fazem careta e dou risada.

-Tenho um amigo assim. -digo me divertindo com eles. -É como se tivéssemos dividido o mesmo embrião. -os dois estão imersos no que estava contando, com olhos brilhando e tanta energia que uma pessoa como Ollie estaria cansada só de ficar sentado com três de nós juntos. -Tivemos que nos beijar uma vez... Longa história. Mas foi a pior experiencia das nossas vidas. -faço uma careta de nojo que confunde o garçom por um momento.

-Acho que tem pessoas que nós gostamos tanto que acaba não sendo capaz de ser qualquer coisa além de família. -Barry conclui enquanto fazemos nossos pedidos.

-Pode ser isso sim. -tento pensar a respeito. -Daria minha vida por ele, meu amigo, quero dizer. No entanto não importa a aparência ridiculamente bonita que tem, nunca escolheria alguém assim como um namorado.

-Pela forma que fala, não sei dizer se o ama muito, ou o odeia até suas últimas partículas. -Felicity brinca.

-Acho que nem eu tenho essa resposta. -confesso e os dois me dão seus melhores sorrisos, com direito a olhos brilhantes e tudo. Deus, espero que nós possamos proteger essas pessoas.

OLIVER

-Precisamos mesmo esperar Patty? -John me olha pelo retrovisor do carro, que estava estacionado em frente a delegacia a vinte minutos. -Sabe que ela é melhor do que nós dois juntos.

-Não é que ela seja ruim. -digo olhando pela janela. -Spivot se envolve emocionalmente e depois quase se perde quando as coisas dão errado.

-Não vamos enfrentar outro Slade, Oliver. -seu tom se torna quase paternal, faz com que me sinta um adolescente rebelde nessas horas. -Temos mais experiencia agora, e Barry Allen não parece ser um agente duplo que vai a sequestrar e te obrigar a mata-lo.

-Não custa prevenir. -respondo abrindo a porta no momento em que Patty sai da delegacia ao lado dos dois alvos da ameaça, de braços dados com Felicity Smoak, como se fossem amigas a uma vida. E esse é o motivo, de tudo o que enfrentamos esses dois alvos parecem ser completamente confiáveis, pessoas realmente boas e perder boas pessoas pode destruir alguém como a Spivot. -Está atrasada. -falo sorrindo para ela.

Patty se solta de Felicity que fica estagnada me encarando, seus olhos azuis ficaram quase escuros por trás dos óculos. Por algum motivo um grande sorriso se forma em meu rosto enquanto a observo, ela alisa a saia rodada que usa como se estivesse com medo de algo ter saído do lugar. Barry tosse, rompendo nosso contato visual e sinto o braço de Patty entrelaçado ao meu.

-Ollie, esses são meus novos amigos. -diz com sua animação cansativa. -Barry Allen, que também é meu chefe, e Felicity Smoak! -aponta para os dois. -Galera, esse é o amigo que falei. Oliver Queen.

-Nos conhecemos. -Felicity e eu dizemos ao mesmo tempo, então sorrimos. -Conheci os dois no trem. -explico para Patty que tecnicamente não deveria saber da história.

-Ah, claro! Que mundo pequeno. -sua atuação é digna do Oscar. -O que me lembra que vai ter que depor.

-Sério Patty? Me deixa plantado e ainda quer trabalhar? -pergunto fingindo indignação.

-Acho que vi seu nome listado nas intimações de amanhã. -Felicity comenta e volto a olhá-la. -Sou do departamento de inteligência. -se explica rapidamente. -Acompanhei os depoimentos hoje, não é que esteja te estalkeando nem nada.

-Por que estaria? -Barry pergunta cheio de deboche na voz, que a faz encará-lo irritada, o que não parece ser capaz de deixar ninguém amedrontado, não com aquela expressão, naquele tipo de rosto.

-Nós temos que ir. -fala ainda se ocupando com a fúria capaz de encantar coelhinhos.

-Temos? -Barry semicerra os olhos.

-Sim. -passa o braço no dele, e se vira para nós rapidamente. -Nos vemos amanhã Patty. -sorri para minha amiga, mas seu rosto parece constrangido ao se virar em minha direção. -Boa noite, Sr. Queen.

-Boa noite. -minha voz sai confusa com sua formalidade repentina.

-Tchau gente! -Barry grita sendo arrastado pela garota, enquanto acena para Patty que fazia o mesmo, parecendo uma idiota a meu lado.

-Acho que você se reproduziu como uma ameba, e a outra parte ganhou uma forma masculina. -murmuro contemplando a cena.

-Talvez não deva te dar a boa noticia que tenho, só por sua petulância. -ela se solta e começa a andar em direção ao carro.

-O que você descobriu? -a sigo e nos sentamos nos bancos de trás.

-Olá, John! -cumprimenta com um grande sorriso, ignorando minha pergunta.

-Patty, como foi o primeiro dia? -ele devolve na mesma vibe dela.

-Almocei com os dois. -se inclina, segurando nas costas da cadeira de Diggle, como uma criança contando o novo presente que recebeu no natal. -São incríveis! -reviro meus olhos. -E descobri uma coisa. -sussurra para John que dá um sorriso de lado.

-Que Oliver está a fim da lourinha? -implica.

-Isso também. -dá de ombros.

-Conta logo, Spivot! -perco a paciência e os dois dão risada.

-Eles são como nós. -deixa seu corpo se recostar no banco.

-Agentes secretos? -ergo uma sobrancelha, tentando demonstrar todo o meu sarcasmo.

-Viu, por isso não tenho vontade de te contar. -revira os olhos. -Não são um casal Ollie, e pelo que vi, parecem não ter a menor intensão de ser.

-Eu disse. -Diggle não perde a oportunidade. -Então acho que voltamos ao primeiro plano?

-Parece ser a melhor forma de os manter por perto. -Patty responde pensativa.

-Não sei, algo me diz que é melhor não me envolver com essa garota. -respiro fundo olhando as ruas sujas da minha cidade.