The Dark Side of The Moon

I — Problemas de Ignição


A cidade de Gotham parecia tão tranquila quanto uma tarde de verão, por mais que a noite já tivesse caído e as ruas desertas aparentassem não trazer nenhum problema. O céu enegrecido não impedia os bandidos e criminosos à saírem nas ruas, mas os cidadãos se sentiam seguros o suficiente para arriscar colocarem seus pescoços para fora de casa, torcendo para não levar um tiro.

Correndo pelos telhados, quase tão imperceptível quanto as nuvens, uma sombra esgueirava-se pela cidade, à procura de problemas. O vulto permanecia imóvel no topo de um prédio velho qualquer, a capa presa em suas costas tremulando com o vento noturno e a sacudindo de um lado para o outro. Não era o tipo de coisa que assustaria os moradores de Gotham, visto que já estavam acostumados com o herói da cidade.

A sombra observou enquanto dois homens conversavam baixinho num beco escuro. A iluminação não ajudava, e era difícil ouvir o que eles falavam graças à altura, mas o ser soube que não poderia ser nada bom. Com alguns segundos de espera, ele saltou para dentro da viela silenciosamente, aproximando-se dos dois, que pareciam não ter ouvido o vulto. O primeiro dos suspeitos era um homem alto, com a cabeça coberta por um chapéu preto. Usava simples calças jeans e uma camisa cinza. Era deveras mais alto que o segundo, e debaixo de seu braço, ele carregava uma maleta da mesma cor de seu chapéu, com fechos de metal que eram, no mínimo, incomuns. Pareciam ter letras estranhas e desconexas, ao lado de espécies de números que, combinados, definitivamente abririam a pasta. O chapeleiro virou-se para trás, mostrando por brevíssimos segundos o seu rosto... Peculiar. Suas feições eram felinas; o nariz achatado e rosado, pequenos pontos preto e repuxados, parecidos com bigodes, escapando das maçãs de seu rosto, olhos puxados brilhantes e uma boca estranha. Quando o homem abriu a maleta, depois de alguns estranhos movimentos com os dedos longos, o vulto escondido resolveu agir.

Ele surgiu das sombras com um pulo, chutando a pasta e a lançando para o outro lado da viela. O homem de chapéu gritou, puxando um revólver calibre trinta e dois de sua cintura, enquanto o outro corria para fora do beco, em pânico. O estranho tinha o punho firme, a arma em riste, e demonstrava experiência com a mesma, visto que seus dedos não tremiam e a pistola mantinha-se em extrema linha reta na direção do rosto daquele que chutara — de maneira muito rude, na opinião do estranho — seu objeto de trabalho para longe. O vulto se ergueu, fazendo-se presente pela primeira vez, mas os olhos felinos do homem estavam tão cerrados de raiva que ele nem ao menos reparara em quem estava diante de si.

— Batman! — ele gritou, repuxando os lábios bizarros para um sorriso ainda mais macabro.

O ser parado diante de si deu um sorriso e então um passo para a frente, revelando-se para o estranho. Ela usava uma roupa de malha preta com o símbolo do morcego amarelo em seu peito, onde, coberta pelo mesmo material, escondia-se a forte armadura de kevlar revestida de ósmio líquido. Um cinto negro com detalhes escarlates prendia-se em sua cintura, e uma máscara no mesmo formato de um morcego escondia seu rosto. Sua fisionomia era clara e extremamente diferente da do Homem Morcego.

— Não. — a sombra declarou, a voz feminina fria e calculista, porém mais jovem, revelando não ser, obviamente, o Cavaleiro das Trevas — Mas se não abaixar essa arma, gatinho, vai desejar que fosse ele.

Vendo que o homem não iria recuar, Batgirl desviou a tempo de evitar que os tiros disparados pela pistola automática a atingissem. Ela sacou seu bastão do cinto, fazendo-o crescer até que pudesse atingir o revólver do homem e o atirou para o outro lado do beco, o deixando desarmado. O estranho pareceu perdido por alguns segundos, até esticar os braços para trás, revelando garras afiadas e brilhantes, provavelmente feitas de titânio, saindo diretamente de suas unhas. As partes de kevlar do uniforme da heroína tilintaram quando as armas entraram em contato com o mesmo. Ela até arriscaria fazer alguma piada com sua madrasta Selina mais tarde, dizendo que havia lutado contra um dos seus "discípulos" quando chegasse em casa, mas, no momento, seus reflexos a salvavam de ter a cara cheia de cortes enquanto sua mente trabalhava furiosamente na busca de pontos fracos em seu inimigo.

A heroína estudou seu adversário por alguns segundos. Ele não parecia um exímio lutador como a Mulher-Gato, por mais que tivesse o benefício das garras retrateis ao seu dispor. O homem apenas fazia ataques sem mira ou alvo, ele simplesmente agitava os braços na direção de Batgirl e parecia torcer para acertá-lo. Usando da ponta de seu bastão, ela empurrou o estranho para frente pelo peito e usou a base para derrubá-lo, fazendo-o imediatamente retrair as garras para que as mesmas não furassem seus olhos. Batgirl pressionou o joelho contra as costas do homem-felino e o manteve imóvel, até o mesmo por suas gadanhas para fora mais uma vez e cravá-las com profundidade na perna da garota. Uma vez livre, ele correu para fora do beco e desapareceu na noite fria.

Encontrando-se sozinha, Tessa Wayne puxou a máscara de seu rosto para avaliar o machucado que queimava em sua pele. A arma feroz do homem haviam atravessado a dura camada da armadura e perfurado sua perna esquerda, que pulsava fervorosamente. Ao longe, atrás de uma lata de lixo, estava a maleta que o estranho derrubara. A moça arrastou-se, um tanto trôpega, até a mesma e encaixou-a debaixo do braço, enquanto mancava até a moto estacionada algumas ruas abaixo. Ela iria descobrir o que havia naquela pasta, e iria descobrir como aquele homem poderia ter habilidades felinas. E sorriu ao se lembrar da pessoa perfeita para ajudá-la.

{...}

O céu azul de Metrópolis deixava a enganar. Mesmo com o Sol à postos e alto no espaço cerúleo, um tempo frio e nevoso assolava e soprava violentamente contra os moradores da cidade, castigando-os como um ceifador. Mas, entretanto, frio era a última coisa que de fato incomodaria a garota de cabelos negros como carvão que, naquele momento, disputava uma partida de futebol no campo de sua escola. Enquanto as outras jogadoras, apesar de estarem correndo e se exercitando, escondiam-se em casacos esportes e de camurça, Lara Kent expunha seu corpo saudável e infinitamente mais resistente ao frio sem nem ao menos tremer. Usando uma fina camisa de malha aerada, a garota sorriu ao cruzar o campo de futebol com a bola em seus pés e chutar com força moderada o suficiente para lançá-la direto para o gol. As garotas de seu time comemoraram, totalizando o quinto ponto que a morena fazia, enquanto o time adversário soltava xingamentos na direção da mesma.

Lara era uma ótima esportista, sempre presente nas olimpíadas da escola e marcando presença onde quer que fosse. Deveriam ser seus olhos verdes, os cabelos negros, o corpo bonito ou a personalidade forte, mas de uma forma ou outra, ela sabia como causar uma ótima impressão. Claro, nem Jesus agradara a todos, então era óbvio que nem todos gostavam da sua maneira espontânea de chamar atenção. Sua super audição capturava os comentários maldosos sobre si, o que a fazia rir em silêncio. Ela rolou os olhos ao ver Hillary Greenberg aproximar-se, acompanhada de seu cardume de piranhas, todas encolhidas em casacos de lã caros vindos de algum país europeu. Estava claro que iriam começar com a dose diária de aporrinhação que era obrigada a ouvir. Entretanto, Hillary estava um pouco... Mais agressiva do que o usual.

— Hillary, eu não quero confusão...

— Você é ridícula, Lara. Acha mesmo que vão prestar atenção em você só porque é a estrelinha do time de futebol? Os garotos querem mulheres de verdade, — Hillary, com seus seios siliconados e os falsos cabelos loiros, abriu um sorriso — não jogadoras. Se toca!

E com um empurrão "violento" — no qual a garota precisara fingir que não aguentaria permanecer de pé normalmente —, elas finalmente a deixaram em paz. Ela suspirou aliviada, e com um olhar agradecido em direção aos céus, ela se preparou para deixar o campo, pendurando sua bolsa no ombro, quando viu a pessoa mais improvável que poderia ver em situações normais surgir em sua visão, acenando um tanto discreto na sua direção afim de chamar sua visão. Ela sacudiu a cabeça, cruzando o lugar na direção das arquibancadas com a brisa gelada batendo contra seu peito, não acreditando que era mesmo a garota Wayne olhando para si. Os cabelos castanhos escuros, em conjunto aos olhos puxados do mesmo tom, facilitavam a enxergar a semelhança com Bruce Wayne para que Tessa fosse reconhecida como sua filha, e depois de alguns minutos na sua presença, a missão tornava-se ainda mais fácil do que roubar doce de criança sonolenta.

— Sempre querendo mostrar esse corpo, né, Lara? — Tess comentou, friccionando as mãos contra os braços, impedindo o frio de chegar à suas articulações e fazer as mesmas doerem. A Kent sorriu.

— Ser super resistente tem seu lado bom. — ela entortou a cabeça, espantando alguns fios negros que ultrapassavam seu rosto graças ao gesto — Não acredito que saiu de Gotham para vir até aqui. O que está fazendo em Metrópolis, Tessa? Não te vejo desde o natal do ano passado.

A Liga da Justiça havia saído de cena a quase quatro anos, todos haviam decidido que queriam tentar levar uma vida normal; Bruce e suas empresas, Clark e o jornal, Diana retornara a Themyscera; Barry apenas trabalhava no Departamento de Polícia de Central City... Todos haviam voltados suas vidas para a simplicidade. Claro, eles ainda tomavam conta das suas cidades, mas a Liga estava de "férias sem data de término". Mas em quase todas as festividades anuais, eles se reuniam para se verem novamente. Portanto, era raro os jovens heróis estarem se vendo. Tessa e Lara, entretanto, foram praticamente criadas juntas, desde muito novas. A Wayne até ousaria chamá-la de sua mais longa amiga. A garota dos cabelos castanhos deu um pequeno sorriso de lado, dando as costas à Kent e chamando-a com um único dedo por cima de seu ombro.

A limusine preta blindada — coisa que Bruce sempre insistia para que sua filha usasse — esperava do outro lado do campo de futebol, logo em frente à saída principal da escola. Lara riu ao ver a expressão chocada de Hillary, e ignorou o chilique que a loira deu enquanto entrava no carro. Tessa, sem esboçar expressão alguma, pediu que seu motorista seguisse caminho. Ela então fechou a pequena janela fosca entre os bancos traseiros e os dianteiros, e puxou a maleta que havia recuperado na noite passada de um compartimento secreto no chão do carro. Lara amarrou os cabelos negros no alto da cabeça, meneando a cabeça. Sua visão de raio-x, ao tentar usá-la contra a pasta, foi repelida, fazendo seus olhos verdes arderem violentamente. Tessa balançou a cabeça.

— Tem doses de kriptonita, não vai conseguir fazer muita coisa. — Batgirl explicou, pousando a maleta em suas pernas cobertas por uma calça jeans — Mas continuo precisando da sua ajuda.

— No que?

A morena puxou a pasta e a colocou em pé, revelando as travas de símbolos irreconhecíveis. De um lado, as insígnias que lembravam letras de forma, porém ainda mais complexas e desconhecidas. Do outro, havia uma lista dos mesmos diagramas, porém um pouco mais bem desenhados. Lara a encarou confusa, seus olhos franzidos e os lábios apertados.

— O que é isso?

— Bem, eu esperava que você me dissesse. — Supergirl a olhou incrédula, um tanto quanto ofendida — Não me olhe assim! Você é a única alienígena que sobrou por aqui, ok?

— Eu sou metade alienígena, entendeu? Bom, não faço a menor ideia do que seja isso. Definitivamente não é escrita kriptoniana.

— Eu estou indo para Central City agora, posso deixar você em casa no caminho.

— De jeito nenhum. Eu vou com você, Tess.

A Wayne suspirou, sabendo que não conseguiria convencer a garota do contrário, e com duas batidas na janela, ordenou ao motorista que pegasse a rua principal para seguir até a saída de Metrópolis. A morena sorriu; se aquilo era um mistério, queria estar dentro. Seria bom estar de volta à ação.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.