Trabalho, trabalho e mais trabalho, era tudo o que Roy levava para casa durante a semana. Na quarta-feira tratou de levar o restante das pastas que sobraram em sua mesa para organizar em casa, o que era bem chato visto que o ambiente não colaborava. Estar atrás de uma mesa, mais precisamente dentro da empresa parecia animar o garoto a trabalhar mais, ele se sentia melhor fazendo o serviço lá, mas sempre acabava deixando os papéis pra depois por estar ocupado demais fazendo coisas mais importantes. Na quinta-feira, mais papéis, reuniões e muita atenção, Roy não podia deixar nenhum detalhe de fora enquanto Oliver e Felicity estavam juntos em uma reunião. Ele era o responsável por tudo, e aquilo era um terror para o mais novo. A sexta-feira chegou como um presente para Roy. Primeiro ele recebeu uma ligação de Cindy no seu horário de almoço no trabalho, depois um convite da mesma para uma festa que aconteceria naquele dia em uma casa noturna famosa no Glades. Tudo estava correndo de uma forma inesperada, mas era bom.

— Harper! – Felicity chegou de surpresa na mesa de Roy, fazendo ele se assustar involuntariamente.

— Precisa fazer isso? – Ele a olhava de forma fuzilante, mas sabia que era o jeito dela de abordar as pessoas.

— Desculpe, não percebi que estava tão concentrado. – Ela pegou de cima da mesa o papel que Roy lia, era mais um dos resumos das propostas de negócio. – Você fez isso? – Perguntou ainda lendo.

— Sim. Levei trabalho pra casa ontem e trouxe isso hoje. Não gostei muito do resultado, mas acho que o Sr. Queen conseguiria compreender claramente o que quero passar. – Ele olhou no relógio e percebeu que já estava quase na hora de ir, tratou então de começar a arrumar sua mesa.

— Digamos que... Você pode melhorar. – Ela continuou segurando o papel mesmo após terminar a leitura. – Eu posso dar uma incrementada nesse texto, se quiser. Depois você pode ler e pegar como exemplo. Oliver gosta dos meus resumos. – Completou.

— Ele nunca reclamou de algum resumo que fiz, mas ficaria extremamente agradecido se pudesse me ensinar a forma que o Sr. Queen gosta. Acredito que ele ainda não me falou nada por educação. – Roy terminou de arrumar sua mesa e desligou seu computador. Assim que levantou da cadeira, seu telefone tocou.

— Bem, vou para minha mesa terminar de arrumar minhas coisas e logo vou embora também. Me espera? – Perguntou Felicity com um olhar de canto para Roy.

— Claro, claro! Só um minuto. – Ele retirou o telefone do gancho. – Consolidações Queen, boa tarde. Em que posso ajudar? – Assim que pôs o telefone no ouvido, repetiu a frase robótica e diária.

— Garoto do café, não vá embora ainda. Preciso revisar alguns dos resumos que me entregou hoje. Vai precisar ficar e fazer algumas horas extras. Não se preocupe, tudo será adicionado ao seu salário. – Disse Oliver ao telefone. Ele estava em sua sala naquele momento.

Roy nem conseguiu contestar ou falar algo, apenas ouviu a ordem de Oliver e se calou por alguns segundos depois que ele terminou de falar. – Mas... – Ele resistiu.

— Algum problema? – Oliver continuou ao telefone.

O garoto pensou bem antes de responder o patrão. Ele não podia simplesmente dar a desculpa de que iria para uma festa mais tarde com sua amizade reconquistada e não poderia ficar para fazer o seu trabalho. Era algo supérfluo e provavelmente Oliver iria dispensá-lo dos serviços antes mesmo que ele terminasse sua justificativa. – Não. Nenhum. – Ele finalmente respondeu.

— Ótimo! Avise à senhorita Smoak que ela está liberada por hoje. Logo que o andar esvaziar, venha até minha sala. – Ele desligou o telefone sem ouvir outra palavra vinda de Roy.

Sempre que havia algum problema a ser resolvido na empresa, tudo tinha que ser feito de forma secreta, pois os funcionários costumavam se preocupar demais por assuntos pequenos, e estes logo se tornavam grandes por tais motivos. Na visão dos funcionários, o único motivo para um estagiário, na sua primeira semana ficar mais de dez minutos na sala do chefe seria por ter feito uma burrada muito grande e a empresa estar em problemas. Embora aquele não fosse o caso, as pessoas ao redor não sabiam, então Oliver preferia sempre manter a discrição para os boatos não começarem.

— Já estou indo. Vamos? – Felicity carregava uma bolsa marfim na mão e esperava Roy na frente da mesa dele.

— O Sr. Queen ligou e me pediu para ficar. Ele disse que precisa revisar alguns dos resumos que fiz. Acho que deveria ter feito a aula com você antes. – Roy sorriu sem graça, não estava animado com aquilo.

— Droga! Isso provavelmente vai me manter aqui também. – reclamou Felicity.

— Não! Ele me mandou avisar que você está liberada. Acho que o Sr. Queen não iria querer estragar os planos de duas pessoas na mesma noite. – Ele suspirou e sentou mais uma vez em sua cadeira.

— Tinha planos para hoje? – Perguntou Felicity sentida pelo rapaz.

— Minha amiga me ligou na hora do almoço me convidando pra sair hoje. Nós brigamos um dia desses, e essa seria uma ótima ocasião para nos reconciliarmos, mas... – Ele preferiu não continuar com a história. – Trabalho é trabalho. Se eu não ficar, quem vai pagar minhas contas? – Ele conseguiu abrir um sorriso sincero e então olhou para Felicity. – Se divirta por nós dois hoje. – Completou.

— Eu sinto muito por isso. Mas acontece, Oliver costuma fazer isso quando deixa tudo pra última hora. Ele é um rapaz muito ocupado, não o culpe. – Felicity tentou amenizar a situação.

— Não estou culpando ninguém, afinal, são os ossos do ofício. Vou fazer o que for necessário para manter meu emprego aqui, e quero cada vez mais deixar o Sr. Queen feliz com os meus serviços. – O garoto parecia decidido no que dizia.

— Isso! É assim que gosto de ver. Determinação. – Felicity deixou um sorriso escapar. – Agora vou indo. Qualquer coisa que precisar pode me ligar a qualquer hora. – Ela acenou em despedida para Roy antes de seguir o caminho até o elevador.

Não demorou muito para que o andar esvaziasse. Não trabalhavam muitos funcionários ali, o que facilitou para que o ambiente ficasse vazio logo.

Roy pegou alguns dos resumos que havia feito e levou consigo até a sala de Oliver. – Sr. Queen, posso entrar? – Ele colocou a cabeça para dentro da sala e Oliver fez um sinal para que o rapaz entrasse.

— Você soube da novidade? – Perguntou.

O garoto olhou para os lados, não havia mais ninguém ali. Olhou diretamente para Oliver, ele não estava ao telefone, então só poderia ser com ele aquilo. – É comigo? – Perguntou para certificar-se.

— Sim. Tem mais alguém aqui? – Oliver levantou o rosto e sorriu.

Foi estranha a forma amigável como Oliver tratou Roy, ele não se acostumaria com aquilo tão rápido. – Desculpe. – Ele sorriu tímido. – Não soube. O que aconteceu? – Ele continuou questionando enquanto se aproximava da mesa de Oliver.

— James Hunnam agora é um dos nossos investidores. Aquela dissertação sobre a proposta de negócio dele feita por você foi bastante esclarecedora. Você sabe usar bem as palavras, garoto. – Oliver já tinha alguns papéis na mão.

— Obrigado. – Agradeceu envergonhado. – Podemos começar? – Ele ainda tinha esperanças de que, se terminasse rápido, poderia ir encontrar com Cindy mais tarde.

— Está com pressa? Sente-se. – Oliver apontou para uma cadeira logo em frente a sua mesa.

— Não, não estou com pressa. – Respondeu um pouco intimidado. Não demorou muito para obedecer a Oliver e sentar-se na cadeira.

— Eu tenho saudade de ter uma vida assim, sabia? – Oliver largou os papéis em cima da mesa e olhou para Roy.

— Como? – o mais novo estava sem entender.

— Uma vida assim como a sua. Provavelmente tinha algum compromisso marcado pra hoje, alguma festa, algum encontro. Eu não tenho mais isso desde que herdei essa empresa. – o semblante de Oliver era desanimado.

— Sr. Queen, eu não quero parecer mais um garoto que só quer saber de festas. Pouco me importa se tinha algum compromisso mais tarde, meu trabalho é mais importante. – proferiu Roy, embora seu cérebro martelasse o contrário.

— Oliver. – falou de uma vez.

Roy o olhou diretamente e franziu o cenho, como se não estivesse entendendo, e não estava mesmo.

— Me chame de Oliver. – completou.

Certa vez Roy havia ouvido de Felicity que um dia ele poderia chamar Oliver pelo nome, e quando esse dia chegasse, ele poderia ter certeza de que estava entrando em um novo patamar. – Não quero ser desrespeitoso, Sr. Queen. – ele insistia.

— Se falar Sr. Queen mais uma vez, pode ir embora e não voltar nunca mais. – Oliver exibiu um semblante sério, mostrando que não brincava.

Roy levantou o olhar e percebeu que aquilo era sério. – Tudo bem, Oliver. – Falar o nome do patrão próximo dele e com sua permissão era como um peso retirado das costas de Roy. Ele não gostava daquela formalidade toda, e mesmo que só tivesse convivido uma semana com Oliver, já se sentia próximo dele desde o dia da entrevista.

— Isso mesmo, garoto. – o mais velho abriu um sorriso e abaixou o rosto para então começar a folhear os resumos de Roy. – Ao trabalho, garoto do café. – concluiu.

O garoto abriu um sorriso satisfeito, ainda era constrangedora a forma como Oliver o chamava, mas aquilo pouco importava.