Acordei no chão. Minhas costas doíam pelo desconforto e eu sentia fome. Brendon não estava em lugar algum. Levantei-me, lavei o rosto no banheiro e me olhei no espelho. Meus olhos estavam vermelhos e eu tinha olheiras profundas. Eu me sentia bem mais fraco que o normal.

Abri o armário e peguei uma caixa de comprimidos para dor de cabeça. Tomei dois. Notei que ainda usava as mesmas roupas e que estas estavam impregnadas pelo cheiro da droga. Tirei-as, colocando-as na parte de baixo do monte no cesto da lavanderia, e coloquei um pijama. Já eram quinze para as oito.

Saí do quarto e só vi Boris, sentado no sofá com os olhos fixos na tela da TV. A luz da cozinha estava acessa, mas não havia barulho ou cheiro algum; a porta do quarto de Patrick estava entreaberta, mas o cômodo estava vazio. Estranhei e fui pegar uma cerveja, sentando-me no sofá com Boris em seguida. Ele parecia gostar do programa que estava passando. Era um documentário sobre o nazismo, focando a mente de Hitler. Não que eu fosse fã dele, mas seu cérebro funcionava de maneira muito interessante.

Uma hora e quatorze minutos depois, a porta da frente se abriu. O documentário já tinha acabado e agora Boris e eu assistíamos à um show reprisado do Green Day, datado de 1996, no Japão. Patrick parou na minha frente, bloqueando minha visão. Ele estava sério. Ele sabia.

- Decul-

- Quieto - Ele colocou Boris no chão e se sentou do meu lado.

- Você me odeia?

- Eu não odeio você. Nem ele.

- E... Cadê ele?

- Hospital. Pete deu um soco no nariz dele.

Não contive o riso e quase que faço a cerveja voltar.

- É seu namorado. Não ria.

- Desculpa. O que ele fez? Ele bateu em você?

- Não, só discutimos. É que Pete ficou meio nervoso com o bate-boca.

- Entendo... - Apoiei minha cabeça em seu ombro - Hm, ele não teve culpa. Eu-eu podia ter dito não.

- Você não diria. E está tudo bem agora. Pena mesmo vai ser se desfazer das roupas que vocês estavam usando. Porque, você sabe, o cheiro não vai sair.

- Tudo bem. Será que ele me odeia?

- Não, ele te ama.

- Obrigado.

- Não me agradeça. Olha, eu não mando em você, mas eu quero o seu bem. Maconha, tudo bem. Só não tente coisas mais pesadas. Sabe onde isso vai dar.

- Claro, eu prometo.

- Certo - Ele se levantou, um sorriso em seus lábios - Está com fome? Estou com muita vontade de cozinhar hoje.

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Pete e Brendon chegaram logo depois que Patrick e eu terminamos de jantar. Pete estava tenso e foi direto para o quarto sem dizer uma palavra, apenas abraçou Patrick e foi embora. Brendon sentou-se conosco na mesa. Seu nariz estava inchado e eu senti raiva. Não conseguia olhar para ele direito. Eu queria vingança.

Depois de alguns minutos, Patrick se levantou e uma porta se abriu e fechou.

- V-você está bem?

- Estou.

- Quando eu apaguei?

- Por volta das sete e meia, mais ou menos. Caiu da cama.

- Hm. E depois, Patrick apareceu.

- É... Me lembra de nunca mais brigar com ele? Não com Pete por perto.

- Desculpa por isso.

- Não foi sua culpa - Ele colocou a mão por cima da minha na mesa. Estava quente - Mas, obrigado.

- Então...

- Então.

- Vai dormir comigo hoje?

- Até quando você quiser, Ross. Por quê? Já está cansado? Ficou dormindo 80% do dia.

- Não... Só queria saber - Senti meu rosto arder e sorri sem jeito - Só isso.

- Sei. Sabe, bem que a gente podia ver um filme, sei lá. Qualquer coisa que não me leve a outro soco.

- Patrick tem alguns ótimos filmes.

- Certo - Ele se levantou e passou uma mão pelo meu cabelo - Escolhe um ai, que eu vou te esperar lá dentro.

- Claro. Eu já vou.

Levantei-me e fui até o armário ao lado da TV, onde Patrick guardava seus "clássicos". A maioria eram dramas policiais e thrillers, mas achei um título que talvez Brendon fosse gostar. Quando cheguei ao quarto, ele estava deitado na cama, de pijama. Era um conjunto salmão de camisa e calça com pequenas flores e sóis e nuvens e eu não consegui evitar rir alto. Liguei a TV e coloquei o filme;

- O que vamos assistir? - Ele deu espaço para eu me deitar junto a ele.

- A Bela e a Fera - Sorri para ele, que levantou uma sobrancelha.

O filme começou, e o queixo dele foi ao chão. Passei os braços pela sua cintura e pousei minha cabeça sobre o seu peito. Na terceira música, cheguei mais perto do seu pescoço, beijando-o devagar. Ele pôs a mão no meu queixo e me puxou para um beijo. Quando percebi, minha língua já estava descendo pela garganta dele, nossas camisas estavam no chão e a temperatura, mais alta que o normal.

De repente, ele me empurrou e começou a rir descontroladamente, pedindo desculpas sempre que recuperava o fôlego. Minhas bochechas estavam quentes e eu sentia falta do seu toque. Perguntei o que tinha dado nele.

- É... Ai, é essa música.

- O que tem a música? - Agarrei as pernas dele, e ele só fez rir mais.

- Para... Para, Ryan. Es-essa música... Cara, é muito broxante.

- Fala sério.

- Eu... Eu tô falando. Cara...

- Brendon, eu odeio você.

- Não, não odeia. E desligua esse treco antes que eu morra.

- Você é uma criança grande.

- Foi mal... Desculpa, Ryan.

- Cala a boca - Peguei o cobertor debaixo da cama, abri-o e me enrolei nele, ficando de costas para ele - Dorme, vai.

- Desculpa - Ele entrou no cobertor e me abraçou - Eu vou te recompensar, tá?

- Espero que seja logo.

- Uhum. Vai ser.