Ninguém comentou o ocorrido no almoço. Depois que comemos, Patrick e eu fomos para o quarto dele começar a trabalhar no livro. Ele leu o material e fez alguns esboços. Conversamos sobre o projeto da capa e como as imagens seriam distribuídas e blá, blá, blá. Mais do mesmo. Como sempre foi.

- Olha, eu tenho umas ideias bem legais. Se quiser, eu-

- Qualquer coisa que você fizer vai ficar perfeito, eu sei. Você é um gênio pra isso, Patrick.

- Hm, obrigado - Ele sorriu e evitou contato visual. Observei suas bochechas ganharem cor.

- Posso ir agora?

- Claro. Tudo vai estar pronto no prazo.

Saí da cama e corri para a porta. O dia estava nublado, mas quente o suficiente para um passeio no-

- Vai sair com Brendon hoje? - Sério Stump? Vou te queimar no tronco, seu bruxo.

- Hm, eu estava... É, por quê?

- Ele e Pete vão passar na filial da Decay aqui em Vegas pra assinar a papelada, às cinco. Só voltam de noite, eu acho.

- Droga. E o que vamos fazer?

- Ainda quer ir ao parque?

- Como sabia que- Ah, deixa pra lá.

Abri a porta e saí do quarto, indo direto para a sala. Brendon e Pete ainda estavam lá, sentados lado a lado no sofá. Assim que me sentei com eles, os dois levantaram e foram embora sem dizer uma palavra. Ouvi dois barulhos de portas sendo abertas e fechadas e deitei a cabeça em um dos braços do sofá. Boris andou até mim e se deitou no chão. Coloquei a TV no canal de esportes.

Agora que meu trabalho tinha acabado eu me sentia mais leve. Logo, a dívida seria paga e nós não precisaríamos mais ter medo de ninguém. Logo, todo esse inferno acabaria.

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- Ryan? - A voz suave de Patrick ecoou na minha cabeça.

- Sim?

- Ainda quer sair? - Ele estava em pé, olhando para mim, com Boris no colo. Sentei-me no sofá, ainda tonto de sono.

- Claro. Hm, eles já foram?

- Já. Faz uns vinte minutos. Vai colocar uma roupa decente.

Levantei do sofá e fui para o quarto me arrumar. O sono ainda tomava conta de mim, mas consegui vestir uma camiseta e uma calça jeans. Nem me preocupei com meu cabelo: Apenas o penteei com os dedos para trás. Quinze minutos depois, voltei para a sala e nós três saímos do apartamento.

O sol já cortava a linha do horizonte, deixando o céu com tons de laranja e roxo. O parque não era muito grande e dava para ouvir todo o tipo de conversa. O cabelo de Patrick estava recuperando a cor original e me perguntei se ele continuaria a pintá-lo. Os fios loiros balançavam ao ritmo da brisa suave.

Depois de algum tempo, quando decidimos nos sentar embaixo de uma grande árvore ao lado de um casal que fazia um picnique, ouvi risos nervosos vindos da minha direita e descobri duas garotas me encarando. Uma deles segurava algo. Um livro.

- Patrick, vamos embora.

- Por quê? Eu já disse que Brendon só volta à noite...

- Não é isso... Tem-tem gente aqui que me conhece.

- Ah, seus fans? Que ótimo! - Ele olhou na direção onde as garotas estavam e sorriu.

As meninas se aproximaram de nós e nos cumprimentaram com largos sorrisos. A garota que segurava o livro o estendeu para mim, os braços trêmulos. Depois que o peguei, ela ainda me passou uma caneta. Olhei para Patrick, já sentindo as pontadas de desespero atravessando meu cérebro. Ele apenas sorriu, os óculos escuros ocultando seus olhos azuis.

Eu nunca gostei de ter pessoas atrás de mim nas ruas, olhando meu nome no Google ou, sei lá, criando santuários em seus quartos com a minha imagem. Pete já esteve em uma banda conhecida, como baixista. Um mês depois, ele já tinha uma página na Wikipédia. Isso me apavorava.

- Hm, toma - Acabei de assinar e devolvi o livro à garota, que agradeceu e disse que amava meu trabalho.

- Você é muito bonito - Por um segundo, pensei que a segunda garota se referia à mim e baixei a cabeça, envergonhado. Só depois percebi que não era.

- Oh, obrigado - As bochechas de Patrick estavam rosadas e ele mantinha um sorriso tímido no rosto.

- De nada - Ela piscou para ele e foi embora com a amiga.

Encarei as costas das duas em choque. Depois, passei a encarar Patrick, que apenas deu de ombros e voltou a acariciar o pug em seu colo.

- Isso tudo foi fruto da minha fértil imaginação ou ela cantou você?

- Não seja burro, ela é sua fã.

- Não senhor. A outra é que tinha o meu livro... Ah, cara.

- Se contar, eu quebro a sua cara. E vai ter que pagar a fiança dele sozinho.

Rimos da possível situação. Pete acabaria com a garota só com um soco. Talvez nem precisasse de tanto. Quando o assunto era seu precioso e sagrado Patrick, ele virava uma fera demoníaca. Não estou exagerando.

Ficamos lá sentados até o escurecer. Quando voltamos ao apartamento, Pete e Brendon ainda não tinham voltado. Colocamos nossos pijamas, Patrick foi para a cozinha fazer pipoca e eu escolhi um bom filme policial para nós assistirmos. Foi só uma ideia que passou pelas nossas cabeças ao mesmo tempo. Tínhamos essa conexão às vezes.

Patrick voltou com dois potes de plástico lotados de pipoca e se sentou no sofá comigo. Coloquei o filme para rodar e peguei Boris do chão, deitando-o entre nós dois. Enquanto os creditos iniciais passavam, Patrick e eu trocamos um olhar amigo. Porque era isso que ele era: Meu melhor e mais fiel amigo. Devo tudo o que sou hoje à ele.

Acho que dormimos durante o filme, porque só lembro de recuperar a consciência quando ouvi a voz de Brendon. Abri os olhos devagar e lá estava ele, sorrindo para mim. Depois, foi a voz de Patrick que eu ouvi.

- Quando vocês chegaram? - Ele esfregou os olhos com as costas das mãos e bocejou. Suas bochechas estavam coradas e ele parecia muito jovem.

- Agora. Acabamos de entrar - Brendon se levantou e saiu do meu campo de visão. Patrick também se levantou, deixando-me sozinho no sofá. Até Boris tinha ido embora. Minhas costas doíam e eu realmente estava com sono.

Levantei-me, fui até a cozinha, onde Pete estava comendo um pacote de bicoito, bebi meio copo de leite e fui direto para o quarto. Quando entrei, Brendon estava na cama com Boris no colo, usando um dos meus pijamas.

- Parece que você não vai mais precisar achar um lugar pra ficar, né? - Sentei-me na cama e ele me deu um largo sorriso. O meu sorriso. A única coisa que alegrava o meu coração.