A chuva caía do lado de fora do Starbucks. Os carros voavam, alguns até ultrapassando os sinais vermelhos. Meu café expresso estava esfriando em cima da mesa e eu não tinha vontade nenhuma de bebê-lo. O relógio marcava nove horas e quarenta e cinco minutos. Na minha concepção, apenas quarenta e cinco minutos de atraso.

Era sexta-feira. Na quarta, tínhamos marcado esse encontro e ele jurou que apareceria sem falta. Eu já deveria ter previsto isso. As pessoas começaram a se levanter das mesas ao redor e ir embora, deixando-me sozinho com meu café gelado. Minha paciência tinha se esgotado quinze minutos atrás.

Decidi ir para casa. Não ficaria ali esperando por alguém que, com certeza, tinha se esquecido do nosso compromisso. Joguei o café no lixo e saí, já com as chaves na mão. Cheguei ao prédio vinte e dois minutos depois. Meu apartamento ficava no sétimo andar e eu não estava com a mínima vontade de subir os lances de escada. Dentro do elevador, juntei-me a duas senhoras que carregavam sacolas de mercado. Eu sabia que elas me encaravam, suplicando por ajuda, mas meu ego ferido me forçou a apenas olhar para frente e ignorá-las. As duas saíram no quarto andar, deixando-me seguir viagem sozinho. Cheguei ao meu andar e entrei no apartamento. Boris estava dormindo no sofá da sala e as luzes da cozinha estavam acessas, um cheiro de manteiga no ar. Deixei meu casaco no cabideiro ao lado da porta e tirei os sapatos. Patrick logo apareceu com um balde enorme de pipoca. Ele sorriu ao me ver.

Já faziam dois anos e quatro meses desde que Patrick veio dividir o apartamento comigo. Nos conhecemos numa galeria de arte em Chicago, quando ambos estávamos começando em nossas carreiras. Ele é uma daquelas pessoas que te transmitem segurança só por estarem respirando o mesmo ar que você.

- Olá.

- Oi.

- Como foi? Pensei que fosse chegar bem mais tarde...

- Ele não apareceu.

- Vai ver ele estava ocupado.

- Não, ele esqueceu mesmo. Aquele idiota - Sentei no sofá ao lado de Boris, que acordou assustado. O pug olhou direto em meus olhos e voltou a se aconchegar na almofada. Sempre acho que ele quer me dizer alguma coisa com esses olhares.

- Ligou para ele?

- Não e nem vou. E se você mexer nesse telefone, vou cortar todos os seus dedos.

- Calma, Ryan. Deve ter uma boa explicação pra isso.

- Agora eu não quero nem saber. Hm, pra que essa pipoca?

- Como eu achei que fosse demorar mais, aluguei um filme.

- Pete vai vir aqui?

- Não, ele está em LA. Eu ia assistir com o Boris mesmo.

- E qual é?

- Scott Pilgrim contra o mundo. Com Chris Evans e Kieran Culkin.

- Você não baixou esse filme tipo, ontem?

- Não é a mesma coisa.

Patrick me entregou o balde e colocou o filme no dvd. Boris acabou acordando de novo e foi dar um passeio. Quando o filme acabou, já eram onze horas e trinta e cinco minutos. Patrick estava sonolento e foi direto para o quarto. Boris já estava roncando na cozinha. Quanto a mim, tomei um belo banho quente e fiquei escrevendo para o meu próximo livro. A editora estava me pressionando, o que não ajudava muito.

Terminei uma página às duas e cinquenta e sete, mas não tinha sono. Levantei-me da cama e abri as portas do ármario, retirando uma pequena caixa. Eu tinha prometido parar com os antidepressivos, mas eu precisava dessa noite de sono. Eu tinha que terminar o livro.

Abri a tampa e despejei um comprimido em minha mão. Engoli à seco e voltei a guardar a caixa dentro do armário. Deitei na cama e fechei os olhos.