POV Merida

– Sua consequência é beijar a Merida! - Indagou Astrid para Jack. Como eu fiquei? Gelada! Ele ficou espantado, mas se levantou e ficou em pé, fazendo sinal para eu levantar.



– Mas eu tenho namorado! Você não pode aceitar essa consequência! É sério Jack! - Ele estava com cara de bravo, mas eu tinha razão! Ian estava meio incrédulo, e encarava Astrid sem expressão:



– Sem problemas Merida, vai lá. Cuidado, o Frost não morde, mas congela. - Ele disse de lado.



Isso deveria ter sido engraçado? Sabe, vindo do meu namorado acho que eu deveria rir, mas estava tensa demais preocupada com o que viria a seguir. Me levantei e arrumei minha roupa e tentei prender o cabelo, mas como sempre ele nunca me obedece!



– Ui, cuidado para não ser mais que um beijo hein?! O desafio foi beijar, e não algo mais. - Zombou Wilbur, fazendo todos rirem, menos Astrid e Ian que ainda se encaravam com olhares de desafio/dúvida/ raiva.



– Calado Topetudo! - Jack disse furioso e constrangido. Sério que eu teria que fazer aquilo? O Ian concordou muito fácil, e eu não quero perder meu namorado fofinho e perfeito.



Ai ai, Ian.



Caminhei com Jack para longe daquele grupinho zombeteiro para termos um pouco mais de “privacidade” no meio do desafio. Passamos por várias arvores e arbustos até que a risada de Wilbur não pudesse mais ser ouvida, então aproveitei o embalo do silêncio mortal em que estávamos e perguntei.



– Jack... Sabe, já que estamos no escuro entre essas árvores estranhas, temos mesmo que cumprir a consequência? - Notei que tínhamos andado muito, já não víamos mais as luzes das lanternas e velas acesas. Jack parou e me encarou diante da minha pergunta.



– Sim! Não podemos quebrar as regras.



– Mas quem garante que o Soluço e Rapunzel vão mesmo cumprir aquele "depois" dele? - Perguntei indignada e olhei na direção que Jack me apontou.



Ele observou a Lua e voou para alguma árvore, olhei novamente para onde ele tinha apontado e vi quePunzie e Soluço estavam lá, parados, feito duas estátuas.



Ambos estavam desconfortáveis com a situação. Até tentei ouvir o que o Soluço disse para ela, mas não consegui e vi Punzie apenas concordar com a cabeça para os dois se virarem um para o outro.



Prendi a respiração quando vi as mãos de Soluço segurarem o rosto de Punzie e os dois realmente se beijarem. Começaram com um selinho – um leve toque de lábios um pouco demorado –, mas logo foi seguido de um longo.



Pelo que "experimentei" com Ian, notei que o beijo foi calmo e suave; E mesmo no escuro tenho certeza que os dois ficaram vermelhos quando separam o beijo.



Rapunzel saiu correndo de volta. Soluço esperou até ela desaparecer para voltar. E os dois estavam de cabeças abaixadas.



Argh! Que péssimo desafio o Ian tinha que arrumar! E claro que a Astrid ia revidar! Se não nele, em mim. Agora aqui estou eu: em uma floresta - ou quase isso - escura, sob a luz da Lua, e com o Frost me olhando de cima da árvore!



– Vamos logo com isso Foguinho?! - Em um pulo ele estava na minha frente. Recuei um pouco e sem perceber, estava próxima o suficiente da árvore para ficar encostada nela apenas com um passo.



Encarei-o de olhos meio arregalados, o que o fez sorrir e se aproximar perigosamente. No impulso, virei o rosto e ele errou o lugar do beijo. Jack ficou com uma cara de frustrado incrível, recuou um pouco suspirando cansado.



Abaixei a cabeça, melhor acabar logo com isso! Quanto antes terminasse, melhor seria, certo? Respirei fundo e o encarei determinada.



Ele pareceu entender o que pensei, sorriu e se aproximou novamente, me fazendo sentir sua respiração gelada contrastando com a minha, quente.



Tocou na minha nuca e eu senti algo como nunca senti antes com o Ian. Os dedos compridos de Jack se enrolaram em meus cabelos, desfizeram o meu penteado e me puxaram para o beijo.



Não sei explicar o que senti, foi algo bom, muito bom.



O beijo de início foi duro, seco e sem nenhum carinho – isso foi minha culpa, porque resisti. Mas um “clique” na minha mente fez todos os músculos do meu corpo virarem água, tornando o beijo calmo e suave.



Sabe aquelas luzes que parecem em lendas para meninas? Exato! Senti isso, como se me "libertasse" de algo.



Rodeei os braços ao redor do pescoço de Jack, não me importando muito com o que aquilo resultaria. Eu só queria...



– O que é isso!? – Jack indagou furioso. Eu estava nervosa, com vergonha e não sabia o que sentir; O Picolé estava colado em mim! Estávamos grudados, uma areia negra nos envolvia nos impedindo de se mexer.



– Desgruda Picolé! - Eu tinha certeza que estava vermelha. Sentia meu rosto arder muito, ou seja: super vermelha. Ele sorriu de lado parecendo realizado por eu ter o chamado de Picolé.



Caramba, que menino estranho!



– Vejo que voltou ao normal Foguinho. Finalmente, e pelo visto o Topetudo acertou como quebrar o feitiço; só que eu não imaginava que seria comigo.



– Não entendi absolutamente nada! Voltar ao normal? Só quando eu me desgrudar de você e te acertar uma flecha!



– Só assim irá desgrudar do loiro... - Do que ele estava falando? O que aconteceu?



– Me explique tudo isso! Não estou entendendo n-a-d-a! Como "voltar ao normal"? Eu sempre estive normal!



– Tudo menos isso. – Me remexia tentando me soltar, mas era inútil e Jack continuava a falar. - Agindo como antes?! Haha, não! Eu vou explicar...



Não deu ouvidos ao que ele dizia mais; aquela proximidade não era nada legal, nada legal mesmo! Eu conseguia sentir a respiração gelada de Jack contra meu pescoço me arrepiando de frio e, como guardiã do verão, acho que isso não é agradável. Me remexia, tentava tirar minhas mãos do lugar ou qualquer outra coisa para me livrar e tudo era em vão.



– Isso não é hora de discutir relação, pombinhos. - Disse uma voz fria e impiedosa chegando próximo a nós. Virei um pouco a cabeça e consegui finalmente ver o tal inimigo que tínhamos. – Olá Jack.



– Breu! – Jack rangeu os dentes ao vê-lo. - Nos tire Já daqui! - Falou aquilo quase cuspindo na cara do homem de areia negra;



Aquilo já estava incomodando de mais; continuei me mexendo e por fim mexi os braços para cima, conseguindo levanta-los, mas algo me impediu e acabei tendo que deixa-los sobre os ombros de Jack.



Meu ato pareceu nos "esmagar" ainda mais, se é que é possível, eu e Jack ficamos ainda mais juntos; ÓTIMO!



Bufei furiosa.



Agora eu estava com o cara mais irritante de todos, abraçada na floresta, com a Lua de única luz, e um cara que queria nos matar bem ao nosso lado!



Que cena linda! Coisa que todos gostariam de ver!



– Ora, ora Frost. Mas por que tiraria!? Essa cena está linda. - Pois é, ele gostaria de ver essa droga de cena! - A muito tempo não vejo um amor assim, opostos. O que será que poderia acontecer?



– Quem disse que nos amamos!? - Jack disse raivoso.



– Problema seu não ver nada à muito tempo! Não nos amamos, portanto, se queria algo com amor tenho certeza que um livro ajudaria, agora nos solte! - Fui grossa e rápida. Aquilo estava constrangedor demais!



– Livros não são tão bons quanto observar de perto o Guardião do Inverno e a Guardiã do Verão, abraçados e juntos. - Ele "amarrou" as mãos de Jack, e fez estas irem para minhas costas. Ok! Isso passou dos limites! - O que será que acontece quando eles ficam furiosos!?



– Pare agora, Breu! - Ouvi alguém gritar de longe, finalmente, nossa salvação. Seja lá quem for, venha rápido, ou então não me responsabilizo pelo que vou fazer com esse cara de areia...



– AI! - Gritamos eu e Jack ao mesmo tempo, o que nos cercava agora era uma espécie de retângulo, nos espremia um contra o outro cada vez mais.



– Primavera, renasça! - Ouvi a voz de Punzie e o costumeiro barulho das plantas delas surgindo do chão. E a risada assombrosa de Breu.



– Eu estou com tanta raiva que acho que vou explodir! - Falei ao Picolé, ele pareceu gelar ainda mais com isso.



– Não, não. Você não pode ficar revoltada, seus poderes ainda não se libertaram, não sabemos o que pode acontecer! - Ele foi rápido.



– Pela união dos ventos! - Foi a voz do Soluço dessa vez, fazendo um baita vento soprar. Ouvi passos perto de nós, e Jack sussurrou "North".



– Merida, fique calma. Caso se estresse muito seu poder vai acabar se revelando, e digamos que você e o Frost não estão em uma boa posição para isso acontecer. - Claro que não estava boa! Meu nariz estava quase colado com o daquele gelo, e ainda queriam que estivesse boa? - E se isso acontecer pode derreter ele, e ai... Enfim, já voltaremos para tirá-los daí. Não se movam!



– Nem se tivéssemos vontade.- Respondeu Picolé. Ouvindo o som da batalha comecei a ficar nervosa e não tinha como não ficar! Impossível conseguir.



– Com medo Tochinha? - Jack perguntou abaixando a cabeça até então apontada para cima.



– Nunca, quando vai entender que não sinto medo? – Levantei a cabeça para olha para ele.



Nossos olhares se encontraram novamente, senti algo muito diferente; eu não lembrava de nada do que ele tinha falado, mas sinto como se ele estivesse do meu lado o tempo todo.



Os olhos azuis dele brilhavam, com a Lua branca logo atrás dos seus cabelos descoloridos.


Foi um momento um tanto estranho, mas fantástico.



“Pare já de pensar nisso Merida! Não tem nada de fantástico!“ Comecei meio que a brigar comigo mesma, mas não conseguia parar de olha-lo. É algo complicado de explicar; como magnetismo ou algo assim...



De repente um aperto na área da cabeça fez meu corpo perder o equilíbrio por causa do ângulo em que estávamos. No final, eu e aquele irritante cairmos em um ... Um... Um beijo.



De novo.



Não bastava um, tinha que ter outro! Argh!



Voltei para o dormitório sozinha naquele dia; treinei meu tão amado arco e flecha por algumas horas e consegui relaxar ainda mais. Só me restava ir tomar um bom banho e me jogar na cama!



E foi o que fiz! Já estava deitada na cama, me espreguiçando contra os lençóis quando Astrid me chamou:



– Merida, acho que peguei um pouco da sua coragem... – Astrid falou meio tristonha, Vi e Punzie ainda não estavam no dormitório ainda. Havia pedido para elas me trazerem suco do refeitório, porque não estava com fome e agora Astrid estava estranha.



Legal! Só que não.



– Como assim? – Me sentei na minha cama e a encarei.



– Terminei com o Soluço.



– O que? Como assim? Por quê? – Eu estava chocada! Claro que iria perguntar! Aquela era mesmo a Astrid?



– Não é mais como antes, não fico mais tão feliz ao ver ele. Sei lá, acho que aquele clima que tinha entre nós acabou. - Ela entrou no banheiro exatamente no momento em que Vivi e Punzie chegaram, cortando a conversa ao meio.



Acho que Astrid não queria que as outras escutassem a nossa conversa.



– Oi Merida. – As duas cumprimentaram. Acenei com a cabeça. – Sério que não lembra de nada? – Punzie me entregou uma latinha de suco e me olhou.



– Não Punzie, não lembro. – Ela pareceu triste, mas se conformou e tirou as sapatilhas dos pés. Vi foi até a varanda e a abriu para entrar vento, só que se virou e chamou.



– Rapunzel, tem alguém aqui querendo falar com você. Vem logo. - A loira se levantou em um pulo, parecendo confusa e correu até a varanda.



Vi que era Banguela e Soluço; o moreno parecia meio abalado, acho que pelo que a Astrid me falou, mas mesmo assim sorriu ao ver a loirinha. Pois é, tem algo prestes a acontecer por aqui.



Violeta se sentou na minha cama e sussurrou, não querendo interromper a conversa dos dois na varanda.



– Merida, lembra que praticamente assim que nos conhecemos, os meninos queriam um jogo da verdade? – Concordei diante da pergunta da morena. – Ontem estávamos jogando aquele jogo. Desafiaram Soluço a beija Punzie; e Jack, você.



– Mas... – Ela me cortou. Quem teve a idéia absurda de me deixar jogar isso?! E sobre Soluço e Rapunzel... Bem, já deu para notar algo agora a pouco.



– Vocês saíram para cumprir os desafios. – Devo ter ficado vermelha, porque quente eu senti meu rosto. – Logo depois o Flecha me desafiou a fazer o mesmo com o Wilbur. Ou contar o meu maior segredo;



– E você? – Não aguentei a curiosidade. Sério que me deixaram sair com aquele Picolé?!



– Não deu tempo de responder. Ouvimos o grito de Punzie vindo da floresta e corremos. Chegando lá você e Jack estavamdaquelaforma...



– Mas o que você iria responder ao seu irmão?



– Não sei... Sinceramente não faço ideia.



Aparentemente não sou só eu que estou meio perdida por aqui, mas falar isso para Vi não ajudaria em nada, certo? Resolvi deixar o silêncio terminar nossa conversa e quando Astrid saiu do banheiro, olhou para a varanda e esfregou os próprios braços, incomodada.



Abri minha lata de suco e tomei um pouco, vendo que as garotas estavam em sérios problemas.