House não aguentava mais aquela casa. Aquela cidade muito menos, talvez mudar de lugar, de vida fosse uma boa ideia no momento. Já passara-se três meses desde a saída de House do hospital, da sua demissão.

Após descobrir que Wilson era o verdadeiro pai do filho de Cameron, o homem demitira-se, não poderia ficar lá olhando para eles todos os dias. Deixara também de falar com o oncologista.

No começo Wilson tentou saber o que havia acontecido, o porquê daquilo tudo, mas House ignorou-o. Apenas queria distancia do traidor de sua confiança. Ainda não podia acreditar que Wilson fizera aquilo. Ele sabia. Era o único que sabia que House amava Cameron.

O homem desviou seus pensamentos daquilo e tentou concentrar-se na prostituta que rebolava a sua frente. Bebericou um gole do uísque que tinha em mãos e continuou a encarar a mulher. Mas logo as imagens de Cameron atingiram-lhe a mente, distraindo-o.

– Droga! – Wilson gemeu olhando o número de House na tela do seu celular. Já desistira de tentar falar com ele á semanas, mas ainda sentia imensa falta do amigo.

Não entendia o que acontecera para House não querer mais sua amizade e ainda sair do hospital; sabia que o amigo ficara triste por causa das mentiras de Cameron, mas não, aquilo não faria House cometer tais loucuras. Ele amava o trabalho acima de tudo.

Suspirou exasperado, só queria que tudo voltasse a ser como antes daquela maldita aposta. Como queria não ter feito aquilo. Muito menos com tais condições. Wilson sentia que a culpa de tudo aquilo, do sofrimento dele, do de House e de Cameron eram completamente culpa dele.

Mas então, em apenas um segundo, tudo o que sentia piorou. Lembrou-se dele. Foreman ocupou a mente de Wilson para acabar com a pouca alegria que ainda restava.

Desde que House saira do hospital o comportamento de Foreman para com Wilson mudara completamente; eles pareciam desconhecidos. Se naqueles três meses o oncologista tivesse recebido quatro “olá” já era muito.

Wilson não entendia o que estava acontecendo com as pessoas ao seu redor: seu melhor amigo o ignorava, Cameron preferia não contar a verdade e Foreman... Ah, o amor de sua vida parecia querer distancia.

O oncologista passou a mão pelos cabelos, tentando esquecer aquele assunto; já tentara entende-los tantas vezes e nunca chegara a lugar nenhum.

Cameron tamborilou os dedos sobre o tampo da mesa, demonstrando impaciência. Olhou para o relógio na parede, os ponteiros indicavam que estavam atrasados já. Ela iria na casa de seu namorado para um jantar, onde eles contariam que esperavam uma criança.

Ela suspirou irritada com a demora de Chase. Era sempre assim, ele demorava mais do que ela para se arrumar. Ela não gostava disso, á deixava com tempo demais para pensar. Cameron não queria isso, só precisava ocupar-se para esquecer.

Esquecer-se de House.

Um suspiro triste escapou assim como a lembrança dele; ela obrigava-se a não pensar nele, mas falhava miseravelmente ao menos uma vez por dia. A noite era mais propicia para relembrar tudo o que viveram e martirizar-se por aquele sofrimento.

Inconscientemente pousou uma das mãos sobre a barriga já saliente, acariciando-a. Respirou fundo tentando tomar coragem para o que faria. Não tinha certeza de nada mais. Só que amava aquela criança.

Após a saída de House do hospital Cameron precisou fazer uma escolha e acabou optando pela mais fácil: Deixar Chase assumir a paternidade de seu filho. Nem ela mesma conseguia acreditar que fizera aquilo ainda.

– Porque isso tem que acontecer comigo? – A resposta não veio. Foreman estava ali, sem certezas. Olhou em volta, observando seu apartamento; não havia ninguém além dele.

Deitado no sofá, pensando na vida, era assim que ele se encontrava no momento. Os dias sempre eram cansativos e agora, como o novo chefe de equipe, tudo piorara. Ele não sentia vontade de levantar nunca mais.

E saber que Wilson não estava ali só o entristecia mais. Mordeu o lábio inferior, fechou os olhos e lembrou-se das feições do oncologista, relaxando com aquilo.

Wilson tinha poder sobre ele, isso o assustava. Porém era uma boa sensação; ele gostava também. O pior era ter que saber de toda a verdade. Após a saída de House, Cameron e Chase começaram a namorar e em seguida anunciaram a gravidez. Mas Foreman sabia que na verdade aquela criança era de Wilson.

Não sabia se aguentaria muito tempo aquilo tudo; se afastar de Wilson fora, sem dúvida, a coisa mais difícil que fizera na vida. Mas era preciso. Saber da traição do oncologista para com House acabava com ele, além disso, sentia-se traído também.

Era como se Wilson pertencesse a ele.

Chase dirigia rapidamente pelas ruas, em direção á casa de seus pais. Ao seu lado, Cameron estava quieta, olhando pela janela. Ela estava completamente irritada naquela noite, Chase imaginava que eram os hormônios fazendo deixando-a assim.

Ele a amava e faria de tudo para que ela ficasse feliz; Mas desde que começaram o relacionamento, ele não conseguira fazer isso. Ela sempre estava irritada, incomodada, triste com alguma coisa.

Chase não segurou um suspiro exasperado, já não sabia o que fazer. Sabia que o real motivo de estarem juntos era porque ele havia se oferecido para ser pai do filho de Cameron, nada mais; não era porque ela gostava dele.

Ainda Chase perguntava-se quem era realmente o pai, Cameron não contara, alegando não fazer diferença alguma. Mas ele não tinha certeza se queria saber, diferença realmente não faria, mas ele tinha dúvidas, imaginava coisas.

House observava o frasco de Vicodin em sua mão, não queria tomar nenhum comprimido; queria sentir toda dor possível. Já dispensara a prostituta á horas, não conseguira concentrar-se em nada.

Agora sua noite se resumiria na dor lancinante em sua perna e um copo de uísque na mão. Ele não precisava de mais nada. Torturar-se daquela maneira era a única forma que ele tinha para esquecer o que passara.

Mas mesmo assim, a pior dor que podia sentir não estava em lugar algum que não fosse seu coração. Cameron o havia despedaçado. E agora, enquanto ela estava feliz com Chase, House se matava aos poucos.