Capítulo IX - A ‘Dona Aranha’ Subiu Pela Parede

Natasha Romanoff aguardava XX-23 impaciente para o seu segundo dia de “testes”. No dia anterior, a agente havia dado a sua primeira “aula” para a garota, foi bem básica, nem foi possível notar qualquer “habilidade especial”.

XX-23 adentrou o salão de luta que tinha passado toda a tarde de ontem, ele era grande com decoração toda em cinza, o chão era forrado com colchões de tatame negros, e havia um grande espelho na parede frente a porta, era proposital para que os próprios lutadores enxergassem seu desempenho.

– Você está atrasada. – Natasha constatou com os braços cruzados encarando a garota transmitindo não estar muito contente.

XX-23 já tinha conseguido notar que a Agente Romanoff era casca grossa. Ela já havia conquistado todos os outros vingadores, menos Natasha. A garota sempre que se encontrava com os outros acabava fazendo-os rir, deixando a situação sempre o menos formal possível. Mas com Romanoff o negócio era embaixo, era tudo tão profissional e sério, que XX-23 chegava até a ter medo dela.

Entretanto, ela era capaz de entender a situação. Natasha era a “Fêmea Alfa”, – La Femme Fatale–, ela era “A Durona”, conseguir se dar bem com ela seria a tarefa mais difícil, XX-23 teria que se esforçar, ganhar o seu respeito.

Ela não deixaria Natasha em paz até conseguir isso, como a garota havia falado no dia anterior para o Agente Barton, ela era uma pessoa determinada, característica herdada de sua família; XX-23 não descansaria até conseguir atravessar as camadas da armadura da agente.

– Me desculpe, encontrei com o Rogers nos corredores, começamos a conversar e eu perdi a noção do tempo. Não se repetirá! – Ela se desculpou.

– Acho bom. – Retrucou Natasha. -... Agora, hoje colocaremos em prática os golpes de Aikidoque eu te mostrei ontem... Resolvi começar com essa arte marcial japonesa, porque não a considero muito difícil para alguém leiga como você, já que consiste na defesa ao invés do ataque...

O cabelo da ruiva parecia queimar ao se destacar no local acinzentado. XX-23 prestava atenção em cada palavra.

–... Eu tentarei te atacar e você vai “tentar” usar o meu impulso atacante contra mim mesma, e vice-versa... Você ainda se lembra dos golpes que eu te mostrei ontem? – Natasha perguntou retoricamente, tinha quase certeza que não.

– Sim! Eu tentei treinar sozinha à noite, mas meio que não deu muito certo, então acabei chamando o Agente Petterson para me ajudar. – XX-23 disse orgulhosa. O Agente Petterson era o agente encarregado de fazer a segurança no corredor do quarto de onde ela ficava.

Romanoff gostou de ouvir aquilo, mas não se permitiu impressionar.

– Então pouparemos tempo revisando. – Disse ela. Natasha se direcionou no tatame central e mandou que a garota fizesse o mesmo.

As duas realizaram o típico cumprimento antes de iniciar qualquer golpe.

– Você tenta me atacar primeiro. – Informou a ruiva. -... Vamos, comece!

XX-23 estava bastante confiante, após sua vitória brigando com as flechas de Barton e depois de ter treinado bastante com o Agente Petterson para não fazer feio diante da viúva negra, já estava se sentindo uma princesa guerreira.

Ela então avançou com tudo tentando agarrar Natasha. Em menos de dois segundos e meio, a ruiva tinha pegado o braço direito de XX-23 torcendo-o ao derrubá-la no chão e a obrigando a ficar de cara com o chão.

A garota havia sido tola ao se achar tão segura, lutar com o Agente Petterson era uma coisa, lutar com a VIÚVA NEGRA era outra COMPLETAMENTE diferente.

– Levante-se. – Ordenou Natasha. XX-23 obedeceu frustrada, ficar com a cara no chão era um pouco humilhante. – Ataque outra vez! – A Ruiva instruiu.

XX-23 partiu para cima de novo, aplicando mais vontade e força. Romanoff torceu o braço dela novamente e a fez cair virada para cima enquanto uma das mãos da agente pressionava o ventre da garota.

– Agora é a minha vez de atacar. – Natasha a libertou.

A garota se levantou de novo e posicionou-se esperando o ataque. Romanoff avançou, XX-23 conseguiu segurar o braço dela e torcê-lo um pouco, mas ela foi mais rápida evitando o contragolpe e prendeu o braço esquerdo da garota em suas próprias costas, fazendo-a ficar de joelhos imobilizada.

A garota se levantou de novo e posicionou-se esperando o ataque. Romanoff avançou, XX-23 conseguiu segurar o braço dela e torcê-lo um pouco, mas ela foi mais rápida evitando o contragolpe e prendeu o braço esquerdo da garota em suas próprias costas, fazendo-a ficar de joelhos imobilizada.

Barton que estava na porta observando desde o começo sem ser notado resolveu entrar puxando uma cadeira para se sentar.

– Quero só ver você tentar roubar o emprego da Natasha. – Ele zombou mostrando que pretendia assistir tudo aquilo de camarote.

A garota brincando fuzilou-o com os olhos ao se levantar para receber outro golpe.

– Não preciso tentar roubar o dela se já tenho a sua vaga garant... – Ela não terminou a frase porque Natasha a fez ficar com a cara no chão abruptamente outra vez.

– Eu deveria ter trazido pipoca. – Clint disse se divertindo com a derrota feia que ela encontrava. Natasha sorriu pela primeira vez.

– Haha... Muito engraçado. – A garota contrariada se levantou novamente.

O princípio básico daquela luta era bem esse, fazer o oponente cair, através da própria força.

– Eu não estou caindo assim tão fácil por nada... É tudo parte de um plano maior... – Ela inventava uma explicação para não dar o crédito que pertencia a Romanoff.

– Ah, jura?! – Natasha levantou uma sobrancelha. –... Que seria...?

– Err... – XX-23 olhou para os lados tentando inventar uma desculpa.

– Demorou demais... – Clint constatou.

– Não! Err... É sério! É tudo uma tática para conhecer todos os golpes da Romanoff... É um estudo sobre o inimigo, depois darei meu golpe final! – Ela estufou o peito mentindo descaradamente sem conseguir

– Essa é boa... – Natasha deu uma risadinha. XX-23 não pode deixar de notar a diferença entre a agente Romanoff sozinha e a agente Romanoff na presença do agente Barton.

Já dava para perceber que entre os dois existia um clima diferente, o que foi ótimo para XX-23, pois a partir do momento que Natasha foi percebendo que Clint estava nutrindo afeição pela garota, a agente resolveu baixar sua guarda.

Era nítido o quanto ela confiava e admirava Barton, o passado deles a fazia se sentir sempre em dívida com ele. Se Clint gostava de alguém, ela gostaria também.

Mesmo assim, não aliviaria tanto a barra para a novata. O que se seguiu no decorrer do resto da tarde foi uma série repetitiva de quedas que a ruiva obrigava a morena a ter, chegando ao final da aula Clint já tinha até perdido o gosto em provocar a garota, mas continuava assistindo Romanoff “acabar” com ela; todo homem adora uma boa briga de mulher. Vai entender o porquê!...

– Okay... Por hoje já chega. – Natasha estendeu uma mão para ajudar XX-23 a se levantar.

A garota aceitou a mão, mas protestou:

– Não, por favor!... Só mais uma vez! – Ela ainda tinha esperança, apesar de não entender o motivo disso, ela só tinha feito cair e levantar, cair e levantar, e nada de derrubar.

– Você ainda não cansou? – Barton perguntou entediado.

– Só mais uma! – Ela insistiu.

– Tudo bem. – Natasha consentiu.

XX-23 respirou fundo e aguardou o golpe da agente. Romanoff avançou na direção dela, e a garota conseguiu segurar um braço da ruiva. Natasha tentou girar seu corpo para se livrar do contragolpe, mas a morena conseguiu impedi-la e ainda segurando o braço da agente, deu um golpe com a mão estendida nas costas da Romanoff.

Clint piscou os olhos sem acreditar naquilo. O que XX-23 havia falado tinha sido apenas uma brincadeira, ela realmente estava “apanhando” de Natasha por não possuir treinamento ou habilidades táticas, mas o cérebro de XX-23 anormalmente trabalhou conforme a mentira que tinha inventado.

De tanto ser levada ao chão, o inconsciente da morena acabou aprendendo e decodificando por repetição todos os passos e golpes que Natasha era capaz de utilizar fazendo-a cair.

Então, sem mesmo perceber, XX-23 empurrou Natasha e lançou uma rasteira que fez a ruiva tombar caindo no chão enquanto a mesma a imobilizava contra o forro do tatame torcendo um braço da agente nas costas e pressionando com a outra mão o tronco da ruiva ao passo que o rosto dela ficou de cara com o chão.

Quando XX-23 tomou consciência do ato que havia feito quase que involuntariamente, Natasha já estava embaixo dela, super surpresa enquanto o queixo de Barton batia no chão.

– Como você fez isso? – Ele disse sibilando.

Ainda incrédula do seu ato, XX-23 soltou Natasha e começou a comemorar de uma forma esquisita. Ela abriu os braços e iniciou uma corrida de braços abertos pelo salão de luta imitando os rasantes dados pelos aviões:

– UHUUUUL...!... EU CONSEGUI!... EU CONSEGUI!... DERRUBEI A VIÚVA NEGRA!... UHUUUL...!

Ainda atordoada Romanoff se levantou e perguntou para Clint que assistia a corrida de comemoração da garota:

– Ela é sempre tão besta assim?

– Espere até a ouvir falando “brasa, mora”... – Ele comentou. Os dois riram assistindo-a, aquela menina não era normal nem em sua personalidade e, agora, muito menos em suas novas habilidades diferenciadas.

– “A Viúva Negra subiu pela parede, veio XX-23 e a DERRUBOU...”! – A garota começou a cantarolar comemorativamente como se não tivessem existido todas as quedas que Natasha a fez ter, e ela fosse a vencedora por conseguir dominá-la por uns breves segundos.