The Alice Heart

Bonecas Rancorosas.


...

Uma sala escura e vazia. Bem, quase vazia. No centro da sala havia apenas duas coisas, mas tinham sido completamente engolidas pela escuridão.

O quarto totalmente escuro não deixava que som nenhum entrasse. Completamente escuro e completamente silencioso.

A única coisa que provava que você continuava vivo era o som de sua respiração. Porém, nem isso eles tinham lá dentro.

Afinal, os únicos que podiam ficar lá, já não tinham esses sentidos há tempos. E também não era como se as pessoas realmente quisessem ir para lá. Muitas vezes eram até forçadas.

Quando eu digo pessoas, eu quero dizer Bonecas. Ninguém ali respira, nem ao menos fala. São defeitos. Escórias.

Era isso que era mantido no centro da sala. Uma boneca velha e sem roupas, rachada do rosto aos pés.

Todos os empregados passavam pela porta, mas ninguém ouvia seus apelos. Ou melhor, talvez até ouvissem, mas quem contrariaria os gostos da rainha?

A boneca choramingou por tanto tempo que não conseguia mais, deixando o quarto completamente quieto.

A Ex-Rainha nunca deixaria uma de suas aspirantes presa em um lugar como esse, ela amava todas elas. Entretanto, a atual, faria de tudo para manter seu cargo.

Ela fez questão de acabar com qualquer um que pudesse roubar sua posição como Rainha Alice. Ela destruiu todos que poderiam fazer mal, até mesmo a própria irmã.

No entanto, ela não destruiu essa boneca. Justamente porque sabia que ela ia levantar uma hora.

Ela a trancou em uma sala escura. E deixou sua caixinha de música tocando.

...asoicnelis etnematelpmoc are alas a euq essid ue saM

Depois de horas escutando exatamente os mesmos acordes finos, a boneca começou a surtar. Ela corria de um lado para o outro em busca da caixinha de música, para então bater com a cabeça nela. O que resultou todas as suas rachaduras.

Mais algumas horas se passaram e ela teve mais um surto. Arrancou suas roupas e possivelmente alguns cacos de porcelana e prendeu aos seus ouvidos. O que danificou drasticamente o seu sistema auditivo.

A boneca então, sem poder ouvir quase nada, começou a cantarolar a música. Cada nota provocava mais sofrimento, mais angustia... E, em seu último surto, ela quebrou sua mandíbula ficando sem poder falar ou cantar.

Infelizmente, o sofrimento da pobre boneca não terminou quando ela ficou surda e nem quando ficou muda. A maldita música ainda tocava em sua cabeça, e ela já não tinha capacidade de pensar em outra coisa.

Esse foi o seu suposto fim. Ninguém mais soube dela, ou ouviu seu choramingo fraco. Ela foi completamente engolida pelo quarto.

A rainha abafou o caso da Rozen Maiden Quebrada com o surgimento de seus cães de guarda. Quem ousasse comentar sobre a existência dela, teria uma morte horrível causada por um dos cães.

Pouco a pouco o caso foi completamente esquecido pelos empregados e os moradores da capital nunca nem ao menos chegaram a saber disso.

...otiej mu ued seled roip o saM. mis marebous ,edadrev aN

No entanto, essa noite, o caso finalmente veio à tona. Porque... Bem, Alice está de pé

...

Já tinha passado das dez da noite e eu tinha acabado de receber minhas mercadorias, eu deveria ir até a casa da Lottie oferecer algumas delas. Porém, eu estava cansada e com um pressentimento ruim sobre isso.

Digamos que ela não era o tipo de pessoa que ficava mais de um dia sem me contatar, sendo que era uma completa viciada dependente de drogas pesadas para sorrir.

Eu poderia muito bem ir até a casa dela e oferecer as novas mercadorias, mas do jeito que estava, imagino que ela iria voar com uma faca para cima de mim.

Entretanto, eu não podia ficar apenas mantendo essa briguinha de casal. Eu precisava que ela comprasse, e ela precisava que eu vendesse. Então, eu fui até a casa dela.

Todas as luzes da casa estavam acesas, eles realmente não tinham problemas com dinheiro. Eu cheguei a bater na porta da casa algumas vezes, mas acabei não sendo atendida nenhuma das vezes.

Pensei em usar a chave reserva, mas eu não queria ser pega no flagra pelo irmãozinho dela. Eu também pensei em entrar pela janela, mas não seria uma boa opção, eu poderia cair de lá. Então eu preferi entrar pela porta da varanda.

A casa estava altamente silenciosa, exceto pelo som de água pingando vindo dos quartos de cima.

Eu procurei por tudo na parte de baixo da casa e depois parti para a de cima. Porém, não tinha ninguém lá.

O quarto dela estava vazio, o de Marshall também e até mesmo o banheiro. Eu só não tinha checado o quarto do irmãozinho dela, porque eu poderia ver algo que eu não queria.

Até pensei que isso daria em um filme de terror barato, onde o namorado vai chegar onde estava sua namorada e encontra-a morta no porão.

Eu fui me virar para ir embora quando alguma coisa bateu na minha cabeça e eu apaguei.

~*~

“Para que levar ela? Vê, ela sequer é loira!”
“Não seja por isso! Podemos arrancar o cabelo dela e colocar uma peruca!”
“Se vai fazer algo artificial não era mais fácil pintar?”

~*~

Minha cabeça ardia muito, como se alguém tivesse passado cera quente nela. E eu não conseguia me mover direito. Minha visão estava completamente embaçada em um dos olhos, e eu não conseguia enxergar nada pelo outro.

Eu ouvia vozes finas vindas de todos os lados, e eu não conseguia raciocinar direito. Elas gritavam às vezes, mas eu não conseguia entender direito o que elas diziam.

Eu deveria ter exagerado na dose hoje, nada fazia muito sentido. Eu não lembrava onde eu estava antes de parar aqui. E eu nem ao menos sabia se isso era realmente um lugar.

E então eu acabei vendo o que estava conversando e gritando.

Uma pequena boneca de olhos castanhos e cabelos verde água e ao seu lado um garoto com orelhinhas de urso de cabelos castanhos e espirais no lugar dos olhos. Eles pareciam segurar alguma coisa, mas eu não tinha certeza do que era.

Escutei um barulho alto que meus ouvidos não conseguiram distinguir direito, e então uma dor horrível e eu não enxergava mais nada.

Depois eu só conseguia escutar o som alto e sentir alguma coisa cortando minhas pernas e braços. Tudo estava escuro, e eu só conseguia ouvir algumas poucas coisas.

~*~

“Você sabe que a rainha vai perceber não é?”
“É claro que ela vai, mas o que podemos fazer?”
“Dar um jeito de sair daqui?”
“Não, não! Ela me prometeu uma coisa, e eu quero ela.”

~*~

[...]