Luke Hofstadter subia com passos pesados de irritação os três lances habituais de escada para chegar no apartamento 4A, onde morava junto com seu pai, Leonard, e Sheldon, seu eterno colega de quarto. Havia sido mais um dia infernal no colégio com mais valentões tirando sarro dele, só que a notícia que recebera mais cedo deixava tudo ainda pior. Nesses momentos, as questões há muito deixado de lado, voltavam a sua mente, tais quais: Por que eles não se mudavam para um apartamento maior? Por que seu pai ainda insistia em continuar morando com Sheldon? O que de tão ruim ele tinha feito para que o Universo retribuísse com aquela vida?

Exasperado, abriu a porta azul sem reparar muito a sua volta, largando a mochila no chão (ele levaria uma boa bronca de Sheldon por aquilo), e se dirigiu até a geladeira para pegar um pouco de suco. Enquanto despejava um pouco do conteúdo da caixa em um copo ele finalmente notou uma figura sentada do lado esquerdo do sofá.

A garota estava tão reta e imóvel no sofá que não parecia que estava viva, se não fosse o leve movimento da respiração suave. Os cabelos negros, repartidos milimetricamente alguns centímetros para direita, descia pelos ombros lisos. Ela o encarava com os grandes olhos verdes e curiosos junto de um sorriso divertido estampado em seu rosto.

Fazia quase 7 anos desde que não via Marie, mas não foi tão difícil a reconhecer. Ele se lembrava dela como uma criança incrivelmente irritante, que sempre o fazia se sentir como se sua vida não valesse nada. Mas ali ela não parecia nada com aquela menininha.

Ele cuspiu de volta o gole de suco que tinha bebido com o choque que tivera.

“Er… Hm… Urr… Você… Você não devia estar na Inglaterra?” Ele fala surpreso.

“Se estou aqui, obviamente não estou lá.” Ela bufa. “Vejo que não ficou nem um pouco mais inteligente com o tempo, Luke.” Termina ela, com um sorriso de escárnio.

“Também é bom rever você, Marie.” Ele responde, sarcástico, se lembrando do porque que ele tinha comemorado por dois dias seguidos quando ela tinha se mudado com a mãe.

Sheldon aparece na sala quando ouve as vozes dos garotos. “Eu já terminei de arrumar…” Se interrompe ao ver a mochila de Luke jogada no meio da sala. “O que eu já falei sobre mochilas jogadas no meio do apartamento?” Ele olha para luke com o conhecido olhar mau humorado.

Luke não desvia o olhar de Marie, que ainda está na mesma posição anterior, enquanto caminha para recolher a mochila. Tem alguma coisa diferente nela.

“Já arrumei o quarto para você, Marie. A mais nova física do pedaço. Sabe como eu fiquei orgulhoso com sua formatura, e só um ano mais velha do que eu quando me graduei.” Sheldon volta a dizer, trocando a expressão mau humorada por uma empolgada novamente.

“Ah… Pai. Eu não vou ficar aqui.” Marie respondeu. “Minha mãe conseguiu um apartamento para a gente.”

E o semblante mau humorado voltou quando ouviu aquelas palavras. “Então sua mãe também está de volta? E já conseguiu um apartamento? Ela planeja ficar então? As coisas na Inglaterra deram errado, então. Há! Eu sabia! Como se aquele idiota grandalhão pudesse fazer alguma coisa dar certo.”

“Na verdade, deu certo sim, os estudos da minha mãe em Oxford já renderam muitos prêmios. Graças à Peter.” Marie completou, casualmente. “Ela recebeu uma proposta para continuar a pesquisa por aqui, e eu vou começar a pós-graduação, então nos mudamos de volta.”

Luke quase quis gritar para interromper Marie, mas era tarde demais. Ela já havia dito o nome de Peter, e naquela casa ninguém ousava dizer aquele nome, eles se referiam a ele como aquele-que-não-deve-ser-nomeado, assim como em Harry Potter. Agora eles teriam que aguentar semanas de mau humor de Sheldon.

“Graças à Peter? GRAÇAS À PETER…?!” E...: pronto, explodiu. Luke olhou solidário para Marie que teria que ouvir mais um ataque e foi guardar a mochila no quarto que dividia com seu pai, fechando a porta atrás de si para abafar os gritos. É sério, ele tinha que se mudar daquele apartamento.

Talvez agora que Amy estava de volta podia ser a desculpa que seu pai finalmente teria para se mudar de vez, apesar que duvidava disso. Ele tirou os sapatos ainda ouvindo os gritos de Sheldon, foi até a mesinha de estudos, que tinha colocado ali no quarto, e ligou o notebook para checar se tinha algum e-mail novo.

O e-mail da sua mãe, que tinha chegado na noite anterior, chamava sua atenção, mas não havia nada novo. Irritado, ele apagou aquele e-mail para não ter que olhar mais para ele. Decidiu sair de casa, então, mandou uma mensagem do celular para que Charlie o encontrasse na loja de quadrinhos.

Quando passou pela sala, minutos mais tardes, Sheldon ainda estava resmungando e se recusava a olhar para a filha. Ele achou melhor levá-la com ele antes que ela provocasse uma hecatombe nuclear no apartamento se falar de Peter novamente.

“Quer ir na loja de quadrinhos?” Chamou-a. “Charlie vai nos encontrar lá.”

Marie se levantou, ajeitou sua saia rodada e depois sorriu em concordância. “Tudo bem.”

Não era longe dali, então eles foram caminhando. Marie falava da faculdade, enquanto Luke ficava em silêncio. Era um pouco humilhante saber que Marie era um ano mais nova que ele e já tinha terminando a faculdade e ele ainda estava no High School. E ser o melhor da sua turma não ajudava nada com isso.

“Então, estou dividida entre me especializar em físico-química ou biofísica.” Ela terminou.

“Físico-química. É bem mais interessante, principalmente quando se trata de química atômica. Quem sabe você não descobre um novo elemento?” Ele opinou, terminando com um riso, mas Marie não achou engraçado, estava encarando-o com um rosto de choque.

“Talvez você não seja tão idiota quanto eu pensei. Você é um gênio!” Ela quase pulou de alegria. “Há alguns anos atrás, meu pai tinha desenvolvido uma formula para um novo elemento, e tinha errado nas fórmulas. Se eu fizer a conversão certa e ajeitar os cálculos… tan dan… Cooperstênio. E eu vou ser a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio nobel!”

Luke riu da empolgação da garota, mas também ao se lembrar da história que seu pai o contava. “Meu pai disse que ele desmaiou na frente do Stephen Hawking.” Ele disse abrindo a porta da loja de quadrinhos quando chegaram. “Mas, quer dizer, você acha que pode dar certo? Porque não são conversões simples, e não parece que seja só mudar os números.”

Charlie estava vendo os quadrinhos em uma das bancadas no meio da loja quando viu os dois chegarem, ele acenou para que se juntassem a ele.

“São conversões de proporção que tem que levar em conta o potencial elétrico, a disfunção das camadas eletrônicas. Não vai ser impossível.” Ela comentou para si mesmo, e Luke quase ouvia as engrenagens do cérebro dela trabalhar. “Quando eu voltar, vou ver se encontro o material da tese. Charlie.” Ela terminou com um cumprimento pro outro amigo.

“Marie, quanto tempo, você cresceu, hein?” Ele a cumprimenta de volta soltando sorrisos galanteadores que ela ignora.

“Do que estão falando?”

“Marie quer tentar sintetizar um novo elemento.” Luke respondeu.

“Seu pai quase fez isso não é? E desmaiou na frente doHawking quando viu que tinha errado nas contas?”

“Na verdade, essa foi outra tese errada.” Marie corrigiu casualmente. “A do elemento ele acabou descobrindo sozinho. Erro de conversão, não de cálculo.”

“Aquela outra história é bem mais engraçada.” Charlie disse e Luke concordou. “Mas então, o que tá fazendo de volta a América? Cansou dos Ingleses?” continuou tentando jogar charme e sendo completamente ignorado pela garota o que fez Luke rir.

“Vou começar a pós-graduação aqui.” Ela respondeu.

“15 anos e já terminou a faculdade. Me faz me sentir um burro.” Disse por fim.

Luke não estava mais prestando atenção, agora encarava um poster novo pregado na parede da loja de quadrinhos. Sua mãe estava lá, estampada no cartaz do novo filme da mais nova franquia “nerd” de sucesso. E aquilo deixou irritado novamente.

“Ela ta demais nesse filme novo.” Charlie comentou olhando em direção ao cartaz quando percebeu que Luke tava olhando.

“Se eu souber que tem um desses no seu quarto Charlie, eu te mato. Eu juro.” Luke rosnou furioso para o amigo.

“Acho melhor você ficar longe do meu quarto por um tempo.” Ele respondeu rindo. “Qual é, você já ficou com o nome legal, então eu posso ter um poster da sua mãe em Silêncio do Amanhã.”

“Não, você não pode.” Luke respondeu. “E eu já disse que não escolhi o ‘nome legal’, então você não pode usar isso contra mim.”

“Meu pai iria me chamar de Luke, então você nasceu primeiro, e ficou com nome legal.”

“Fala sério Charlie, só por causa de um filme bobo. Qualquer um dos nossos pais iria querer colocar o nome do filho de Luke, se a Marie tivesse nascido garoto, provavelmente seria Luke também. Vou te falar, depois de alguns anos fica muito chato ficar ouvindo ‘Luke, eu sou seu pai.’ Então não, eu não fiquei com o nome legal.”

“Ninguém é zoado por se chamar Luke, Luke é um nome legal.” Charlie rebateu.

“Eu gosto do meu nome, em homenagem a madame Curie.”

“Só tome cuidado para não acabar sendo envenenada pela radiação do Cooperstênio e acabar morrendo como a sua honônima.” Luke disse sem humor.

“O que deu em você hoje hein Luke?” Charlie perguntou. “Ta insuportável.”

“Minha vida está a ponto de se tornar um inferno novamente. Minha mãe vai voltar em alguns dias. Vou ter que ouvir brigas, reclamações, suas piadinhas sem graça. Então eu tenho um milhão de motivos para ficar assim”

CONTINUA...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.