The A Team

She don't want to go outside tonight


Lá fora está muito frio. Independente da nevasca, ela tem que sair, mas hoje ela não quer. Ela pensa “Deixar de passar frio uma noite, poderá me fazer passar frio por varias outras se eu não pagar o aluguel. Ah, quer saber, foda-se.”, e o dinheiro do aluguel é esquecido, pois existe uma pequena quantia de drogas encima da mesinha de centro, que domina sua mente, que a prende em devaneios e trás memórias.

Saiu de casa aos 18, pois precisava de dinheiro, e logo seu inferno começaria. Luvas rasgadas, meia calça furada, e por baixo da capa de chuva, um short pequeno e uma blusinha decotada para atrair mais clientes. A primeira noite nem a chocou, pois utilizada os vícios como álcool e cocaína para entorpecer os sentidos e amenizar a situação. Mas agora, eles já não davam mais conta de encobrir os homens estranhos, velhos, casados, e nojentos com quem lidava. Agora ela via o que acontecia de verdade, mas era tarde demais para parar.

Passar a noite em casa rendeu algumas “injetáveis” nos braços. Logo a garota já dormia, sabendo a rotina que lhe aguardava para o próximo dia.

*

Acordou. Estava caída no chão, e tinha em uma de suas mãos um porta retrato, com a foto de sua mãe e ela quando criança. “O que foi que eu fiz?” pensava, enquanto acariciava sua foto, reparando no sorriso que levava no rosto infantil e inocente.

Ela levantou, tomou um banho, bebeu uma dose de cachaça, colocou uma roupa curta e bastante atraente, bebeu mais uma dose, dessa vez misturada a um calmante, para acalmar a mente após ver a foto, fez a maquiagem, pegou uma sacola com revistas, colocou o casaco e saiu de casa. Fechou a porta. Abriu a porta. Voltou para dentro, aos prantos, e bebeu mais uma dose.

Sentou-se em uma faixada, oferecendo a cada um que passava uma velha revista. Ninguém compra. O dia cai, a noite chega, e a missão muda. A garota vai para outra rua, e espera o primeiro cliente da noite. “Por que tem que ser tão mais fácil conseguir clientes em busca de sexo do que compradores de revistas?”. Com este pensamento, lagrimas vieram aos seus olhos, mas teve de enxuga-las, pois um carro parava próximo dela. Não se importou com a maquiagem borrada. Seguiu até o carro, tirando o casaco e exibindo o corpo. O pior tipo de cliente que existia... O tipo que tem idade para ser seu avô ou até mais que isso. Mas ela não pode negar um serviço. Precisa do dinheiro. “Vamos, entre no carro... O aluguel vence depois de amanhã...”. Ela entra. O homem passa a mão por suas coxas e sussurra coisas nojentas em seu ouvido. Obedecendo ao pedido, passa a mão pelo corpo do velho, e enquanto ele geme, ela sente náuseas. “Aguenta firme... É só mais uma noite em meio a tantas. Se aguentou tudo até agora, não é aqui que vai falhar”.

O homem dirige até um motel de beira de estrada, e a leva para o quarto 8. Ela sabe o quanto um lugar desses é sujo. Ela sabe o quanto um homem desses é sujo. Mas ela sabe que é isso ou o frio das ruas. Ela obedece a todos os pedidos do senhor que a paga, e ao final da noite, ele deita e dorme, enquanto passa a mão pelo corpo dela.

Ele adormece, e ela se levanta. Poe sua calcinha, pega um cigarro e vai até o banheiro fumar. Sentada sobre a tampa do vazo, a garota de programa lembra da noite que teve, e chora, mas ela deve chorar em silencio, para não acordar o homem. Em poucos minutos, já se foi o maço inteiro de cigarro, mas a tristeza ainda está dentro dela.

A cada dia que se passava, via-se mais obviamente o sofrimento em seus olhos escuros, em meio a face pálida, e a morte se aproximando. “Senhor, por favor, me ajuda. Me coloca em boas mãos. Sozinha não conseguirei dar um rumo a minha vida. Me ajuda senhor!” pede ela, sussurrando “Sei que cometo muitos pecados, mas já não sei se o que me maltrata mais são as drogas ou meu trabalho. Me ajuda, Senhor!”.

O homem acordou. Ele entra no banheiro furioso.

— Onde é que você estava? Por que saiu da cama? Eu lhe pago para se deitar comigo, não para fumar! Vá embora.

Ela sai do banheiro sem falar nada, se veste e aguarda por ele na porta.

— O que ainda faz aqui? – grita o homem rude.

— Preciso do meu pagamento, senhor. – diz ela, em tom calmo.

— Vá embora!

— Eu preciso que me pague. Fiz tudo o que pediu... Por favor...

— Pegue esta mixaria... – ele joga algumas dezenas, ou uma centena de dólares nela.

— Obrigada! – ela se vira e foge, sabendo que na noite, outro homem a comprará como uma simples mercadoria.

*

Alguem bate na porta.

— Já estou indo!

“Deve ser a cobrança do aluguel...” pensa ela, porém quando abre a porta, está o amigo traficante.

— Não... Não posso hoje. O dinheiro que tenho é para o aluguel – justifica ela antes da pergunta.

— Qual é... Pegue só um pouco.

E assim segue, até que fica sem dinheiro nenhum para o aluguel. Se fosse a primeira vez, a deixariam ficar, mas já devia demais. Agora, não tinha mais casa. Eram simplesmente as roupas do corpo, uma mochila e as revistas.

Após três noites na rua, o frio a adoeceu fortemente, e fora então encontrada por um bondoso senhor, que a levou a um abrigo. Lá recebeu comida, roupas novas, e uma cama quente. Alguns dia depois, conheceu um garoto, mais ou menos da mesma idade, também no abrigo. Seu nome era Ed. Quando ela o contou sobre os programas, e que estaria naquela noite retomando aquela vida, ele disse o seguinte:

— Não vá! Está muito frio lá fora para os anjos voarem...

Diante de tal comentário, a garota fica desarmada, e começa a chorar. Ed se levanta, vai até ela, beija sua testa e a conforta em um abraço.

Após a saída dele do abrigo, a garota retorna a rotina. A falta de drogas a está enlouquecendo.

Não muito depois disso, seu corpo é encontrado no chão, coberto de neve. Infelizmente, mais um anjo morreu, sonhando com uma vida melhor, acabando com a pior.

*A musica “The A Team” foi escrita por Ed Sheeran, em homenagem a esta garota de programa que ele conheceu quando passava por dificuldades financeiras e foi para este abrigo.*

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.