That's My Secret

Dawson's a bitch, so are you


Agosto

Sabe aquela bipolaridade que você sente quando entra de férias? Saudade dos amigos e de ter algo para fazer. Excluam a segunda parte, sinto falta apenas dos meus amigos, adoro mofar no sofá revendo Harry Potter e Senhor do Anéis, as vezes até Meninas Malvadas, para relembrar um pouquinho da infância. Mentira, é porque eu de verdade não tinha o que fazer. Mas ai, não tinha, a vida boa acabou.

Agosto chegou, fim de recesso, fim de preguiça e a volta ao inferno.

Eu estava no que mais gostava, metida no meio de um bando de idiotas aglomerados na portaria do colégio, esperando nossa querida diretora abrir os portões para nós sorrirmos e fingirmos que estamos felizes que a tortura comece.

– Bem vindos de volta ao colégio! – minha diretora favorita disse, na porta do colégio, sorrindo falsamente. Ela queria mesmo que voltemos a pagar essa maldita mensalidade.

E que abram as portas do inferno.

Caminhei até minha sala, rindo internamente da cara que Yasmin fez ao ouvir minha resposta. Ela queria que eu sorrisse para ela? O posto de aluna favorita e mais prestativa nunca foi meu, algum tempo em casa definitivamente não vai mudar isso.

Pus minha mochila numa mesa um tanto quanto afastada dos demais, aonde não tinham muitas mochilas marcando lugares.

– Eu estou procurando pela pequena gafanhota! – o som fez eco pela sala e eu virei já sorrindo. Isabella e Eduardo estavam parados na porta com o sorriso igual ao meu.

– DRUMMER! FERRAZ! – corri para os dois num clichê abraço em grupo – Eu senti tanta falta de vocês, nunca detestei tanto ficar fora do colégio!

– Foi porque você não teve que passar suas férias com sua família estranha que não come carne – Drummer franziu o nariz e fez cara de nojo.

– Por que eles não comem carne? E por que você teve que passar as férias com ele? – perguntei curiosa, sentando na minha mesa e apontando para as mesas seguintes á minha, onde eu poderia conversar com eles.

– Porque matar os animais para comer é errado e minha mãe disse que eu precisava me aproximar desses seres estranhos – sentou-se na mesa ao lado e Isabella sentou entre suas pernas.

– Não adentrou a vida de vegetariano? Mas por que? Ficar sem comer carne deve ser bem legal – Isa disse, sorrindo debochadamente, dentre nós três, ela era a que mais comia carne.

– Vá á merda, Ferraz.

– Também te amo, Drummer.

– Desde quando eu autorizei vocês a usarem o apelido que eu dei? Ouch, ele é meu melhor amigo, você deveria chama-lo de amor, ou de . Coisa que esses casais bregas fazem.

– Você acha que somos um casal brega? – assenti seria, fechando e abrindo os olhos lentamente, como quem dá um sermão – Ok – Isa deu de ombros e levantou a boca até a orelha do namorado – Ela fala isso porque não tem um namorado.

– Eu ouvi! – mostrei o dedo do meio para eles e levantei, indo em direção á porta e rindo abertamente com o casal, que fazia o favor de me seguir – Vocês adoram que eu segure vela, só pode. Deviam se assumir para o publico logo, já que ficam se pegando pelos cantos e corredores.

– Nada de velas, tochas ou qualquer coisa que envolva fogo. Vamos falar de um assunto mais importante, como por exemplo uma festa de aniversário que está chegando. – Drummer disse assim que paramos de andar.

– Por favor, nem comenta. Eu quero sair correndo e me esconder em algum lugar. Não sei porque eu concordei com essa porcaria.

– Porque sua mãe quer que você seja uma boneca – cantarolei, deixando bem claro meu tom de deboche.

– E a sua é maluca por concordar com minha mãe sobre seu vestido. – retrucou, fazendo uma careta engraçada. Nem eu, nem Isa concordamos com os vestidos escolhidos pelas nossas mães, mas era isso ou nada – Não posso falar nada, meu vestido é vermelho. Minha mãe disse que eu não poderia usar vestido preto.

– Pelo menos você não fica parecendo uma prostituta – estremeci, rindo descaradamente – Mas uma prostituta que provavelmente ganharia muita grana. – joguei meu cabelo despenteado para o lado, numa tentativa frustrada de ser sexy – Porque eu fiquei muito gostosa com aquele vestido. Acho que vou casar com ele.

– Uh, estávamos falando de festa é já partimos para um casamento? Vocês são bem adiantadinhas. – o ser esquisito e magrelo que por acaso era meu melhor amigo, diga-se de passagem, falou ao soltar as mãos da cintura da anã de cabelos que estavam mais desbotados que a tinta do colégio que por acaso é minha melhor amiga, e saiu para falar com alguém que chegava atrás de mim.

O perfume amadeirado tomou conta do ar, eu conhecia quem era o dono e nem precisava virar para cumprimentar, como se eu fosse educada o bastante para cumprimentar alguém.

Por acaso eu já disse que aquele perfume amadeirado é maravilhoso? Se não, esse perfume amadeirado é maravilhoso.

Não sei se já falaram isso em algum lugar, mas é um aviso para todas as garotas do mundo. Nunca confie em um garoto com perfume amadeirado.

Principalmente se ele se chamar Luigi Bennet.

– Não sei se já te falaram isso Dawson, mas as pessoas costumam pentear os cabelos. É uma coisa bem útil nos dias de hoje, não nos deixa parecendo leões selvagens. E você pode consertar isso com uma coisa chamada pente, também bem útil.

– Não sei se já te falaram isso Bennet, mas você tem sua vida para cuidar, porque insiste em cuidar da minha? Sei que sua vida com aquele namoro tedioso é bem chata, mas não precisa ficar se metendo na vida dos os outros não, é feio fazer isso. Sei que você adora qualquer coisa relacionada á minha vida, mas temos que maneirar um pouquinho, não acha?

Puxei sua mão que estava tentando desembaraçar os inúmeros nós nas pontas do meu cabelo e a deixei no ar, abrindo os braços num sorriso amigável e recebendo um apertado abraço de Bennet segundos depois.

– Sempre tão pretenciosa, devia mudar seu jeito Bennet. – murmurou entre meus cabelos, puxando meu corpo para o ar, já que é muito esforço ficar mais de cinco segundos tentando ficar do meu tamanho.

– Não vou nem dizer com quem aprendi isso. – falei rabugenta, empurrando ele com as mãos – Agora olhe quem chegou, vá falar com sua namorada, ela já não gosta de mim sem motivos, não dê mais motivos para Barbieranha não gostar de mim.

– Sem motivos? – ele arqueou a sobrancelha de modo que Drummer e Isa riram bem atrás de mim – Bem, você quase arrancou os cabelos dela na primeira semana de aula, chamou ela de vadia, beijou o namorado dela duas vezes, mas isso nós podemos abafar, ah, disse para a professora que ela estava colando na prova, chamou ela de Cipó de Goiaba no meio do seminário e a lista continua.

– Primeiro, ela me chamou de vadia primeiro e por isso eu tentei arrancar os cabelos dela. Segundo, eu não beijei o namorado dela sozinha, lembre-se de passagem que ele quem me beijou a primeira vez. Claro que eu disse que ela estava colando! Ela iria tirar notas razoavelmente boas sem ter estudado!

– Mas você não estudou também!

– Mas o Drummer estudou! – bati as mãos e apontei para o garoto atrás de mim que estava tendo algo parecido com uma crise epiléptica de gargalhadas – E não me interrompa, Luigi Bennet! Aonde eu estava? – parei três segundos, tentando voltar a linha de pensamento que Luigi havia cortado – Ah, e sua namorada parece um bicho-pau, um louva-deus, um galho seco e queimado, uma minhoca, os galhos que descem de uma trepadeira, o talo de uma flor e eu posso jurar que ela lembra a corda que usamos na aula de educação física. Ainda acha que eu chamei ela só de cipó de goiaba.

Só de cipó de goiaba – riu baixo, balançando a cabeça – Vou por minha mochila na sala – virou de costas e adentrou a sala, provavelmente indo atrás do bicho-pau.

Voltei minha atenção para o casal e quando abri a boca para falar, fui interrompida pelo sino. Que fazia o favor de ser bem alto.

– Vamos – fiz biquinho, puxando a mão de minha melhor amiga em direção á câmara de tortura.

Ao chegar a sala, algumas pessoas rodeavam Luigi e conversavam animadamente. Sentei na minha mesa e virei para Isabella, que revirou os olhos com alguma cena que acontecia atrás de mim. Segundos depois sua expressão mudou para algo espantado mas ao mesmo tempo muito interessado.

– Se eu fosse você, não virava para olhar – disse, agora olhando para mim.

– Já disse que na dou a mínima para Bailey e Bennet se comendo nos corredores – retruquei azeda, quando eles iam por na cabeça que eu não tinha ciúmes de Luigi?

– Na verdade, é bem pior que nosso casal favorito.

Virei o rosto de imediato, me deparando com uma cena que conjugava muito bem o pretérito mais que perfeito.

Luigi estava sentado na mesa da professora, do mesmo jeito de sempre. Um sorriso branco estava estampado no seu rosto, seus cabelos pretos estavam propositalmente bagunçados. Mas seus olhos estavam diferentes, estavam protegidos por duas camadas grossas de lentes e uma armação fina preta cobrindo parte do seu rosto.

Óculos. Luigi Bennet estava usando óculos! Como é possível uma pessoa ficar tão sexy usando óculos?

– Uau – foram as únicas palavras que saíram de minha boca.

– Exatamente – Isa deu dois tapas em minhas coxas e começou a gargalhar – Terra chamando Clarissa Dawson. Are you there?

– Se fode Isa, quero apreciar a visão. – mostrei o dedo do meio para ela – Como ele pode ficar tão sexy?

– Quem ficou sexy? – alguém perguntou ao meu lado.

– Bennet, com aquele óculos – respondi de imediato, me deparando com uma Adriana risonha e segurado a gargalhada.

– Ele é um gato, não é? – confirmei lentamente, com uma pontada de vergonha – Seja bem vinda de volta.

Adriana falou algumas coisas sobre as férias e começou a contar algumas piadas para descontrair a classe.

– Isa – chamei baixinho – Acha que ele vai usar esse óculos na festa?

– Não sei. Por que?

– Anote o que eu estou dizendo, se ele estiver de óculos nessa festa, eu pego ele e faço um grande estrago.

– Você não existe, vai pegar o garoto só por que ele está de óculos?

Ele está irresistível. Com cara de safado! E de coisas que seriam muito imorais para citar numa aula tão boa.

I’m a little dazed and confused, Dawson’s a bitch, so are you.

– Você vai ver Isabella Ferraz, essa festa vai ser melhor que briga de piranha. Anote as palavras de Clarissa Dawson.