Terras Distantes

Irritação, felicidade e dor


SAPHIRA sentiu um cheiro estranho no ar. A brisa parecia estar a seu favor.

Claro, aquele lugar cheirava a perigo desde... Bem, desde sempre.

Mas agora estava pior. Uma curva que o rio fazia, podia ser vista a mais ou menos
meio quilômetro. Mas era uma curva bem acentuada, e não era possível ver seu fim, graças as grandes árvores, carvalhos bem velhos, que ali cresciam.

Saphira detestava ficar naquele barco. Já era horrível que ia devagar. Mas ainda pior
com aquele balanço desanimador. Chegava a deixá-la nauseada.

Chegou a seguinte conclusão: dragões não são feitos para barcos e água. Apenas cuspimos fogo nos barco e bebemos a água dos rios. Mais nada.

Essa opinião pareceu divertir Eragon, que estava deitado em seu flanco, lendo algo pelo qual Saphira não estava interessada. Ela rosnou e deitou a cabeça no chão do barco e uma coluna de fumaça saiu de suas narinas. Ela revirou os olhos. Olhou direto para o chão. O elfo de cabelos prateados havia consertado o estrago de suas garras. Bem, melhor assim, ela pensou.

Os Eldunári pareciam os únicos que apreciavam a viagem. Como se voassem outra vez. Claro, não era a mesma coisa. Mas, pareciam felizes. Talvez fosse a brisa suave que batia, ou até mesmo o cheiro das agulhas dos pinheiros da margem esquerda.

A margem direita continuava a mesma de sempre: pedras cinza, chatas e escuras. Enquanto a esquerda estava em constante modificação: pequenas elevações, diferentes árvores, pequenos animais e pássaros...

Em certo momento, Saphira viu um lagarto tomando sol numa rocha marrom. Ela soltou
fumaça pelas narinas e, sem intenção alguma, o espantou. Em outra ocasião, um bando de cavalos selvagens - brancos, marrons, pretos e um mix dessas cores - bebiam água tranquilamente na margem. Quando viram Saphira, apenas relincharam, e quando ela lhes tocou a mente, eles não sentiram medo.

Diante disso, Saphira bufou, irritada. Queria que sua presença fosse notada. Enfim não
aguentou mais. O balanço do barco era irritante, as pedras cinzas eram irritantes, o sol bem acima de suas escamas era irritante, o lagarto tomando sol era irritante, os cavalos eram irritantes...

Ela ficou de pé, de repente, derrubando Eragon de costas e se apoiou nas patas traseiras. Rugiu de irritação e cuspiu fogo azul em direção ao céu.

Muitos animais gritaram de terror... cavalos relincharam e empinaram; veados correram, buscando abrigo; esquilos se esconderam em troncos; uma cobra entrou na água e deslizou até estar segura em baixo de uma rocha e um pássaro branco voou, grasnando uma praga em sua língua esquisita e irritante.

Saphira olhou furiosa para os lados. Não aguentava mais isso. Precisava sair desse lugar. Queria voar, ser livre, queria que Eragon a montasse novamente, queria chegar em terra e pousar sem se preocupar em seguir um barco idiota que quase não suportava seu peso, queria encontrar um lugar para fazer seu ninho, botar seus ovos, cuidar dos filhotes!

Saphira, a mente de Eragon a acalmou, com sua simples presença. Ele havia compartilhado os mesmo sentimentos de Saphira. Claro, sele entendia. Isso era frustração. Ele também estava assim.

Quando vamos sair dessa coisa? Saphira perguntou, os olhos brilhando de raiva e fumaça saindo de suas narinas.

Blödhgarm me disse mais cedo que não vai demorar. Provavelmente, depois daquela curva, estaremos a ponto de atracar. Então, talvez na manhã seguinte...

Saphirarevirou os olhos e mostrou as presas. Na manhã seguinte, manhã seguinte! Não
aguento mais ficar aqui. Ela chicoteou com a cauda e quase derrubou um elfo, que se desviou a tempo.

Só agora Eragon percebera que os onze estavam amontoados em um canto. Pareciam
querem saber o motivo da discussão, ou talvez porque Saphira rugira, ou, até mesmo os dois.

Saphira estava com a mesa raiva de quando queria que Eragon voasse consigo, a tanto tempo, quando viajavam com os Varden.

Ela detestava ficar parada, as asas já estavam protestando e ela detestava ter de voar sozinha toda a vez, sendo que ela era de um Cavaleiro.

Ela virou a cabeça para o lado, mostrando as presas e emitindo um rugido do fundo da garganta. Fechou os olhos e respirou fundo. A coluna de fumaça diminuiu, até que, finalmente parou. Os músculos dela relaxaram e ela soltou o ar.

Quando abriu os olhos, bateu a mandíbula poderosa uma vez e se acalmou, passando a língua carmesim pelos beiços.

Quero que voe comigo, ela disse à Eragon.

Está bem, ele disse enquanto pegava a sela.

Os elfos voltaram a suas atividades e Glaedr entrou na mente de Saphira. Acalme-se garota. Não perca o controle. Numa próxima podemos afundar e morreremos afogados.

Ela aceitou a bronca do dragão dourado: desculpe. Não sei o que deu em mim.

Você deve achar algum lugar para fazer seu ninho e colocar seus ovos. Você necessita voar, mas sabe que não pode. Logo vai passar, acredite em mim. Glaedr tornou a falar.

Saphira disse: sim, Ebrithil.

Eragon terminou de fixar as correias da sela nela e montou.

-Podemos ir.

E Saphira se lançou no céu azul, bem mais contente por Eragon estar com ela.

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Saphira voou alto e cuspiu uma coluna de chamas azuis para cima. Estava realmente satisfeita de finalmente poder voar com Eragon.

Ele sentia o mesmo. Há tempo não aguentava mais ficar naquele barco. Não tinha sido feito para água, definitivamente.

Olhe, Saphira disse, e puxou a mente de Eragon para si.

Eragon sorriu um minuto antes, lembrando da primeira vez em que haviam visto com os mesmos olhos.

Novamente, eles eram um. Sentiam a brisa a seu favor, viam com clareza veados correndo pelo campo verde ao lado, as pedras acinzentadas do outro.

Viam a curva e uma neblina forte que lhes cobria a visão depois dessa dita curva do rio.

Então, eles rugiram. E cuspiram fogo. Fecharam as asas e caíram em direção a água. No último momento, abriram as asas e deixaram-nas raspar de leve na água, depois, as garras das patas e voltaram para o céu. Dando curvas, piruetas, cuspindo fogo, até que pararam para tomar água, quando Eragon retomou sua consciência.

Saphira tomou grandes goles de água, e Eragon se escorou em uma árvore.

Ambos riram, lembrando dos antigos tempos. Quando viram que o sol estava mais baixo - deveriam ser umas 14:00 horas - Eragon tornou a montar em Saphira e ela voou em direção ao barco chato, que, só de olhar, já lhe dava náuseas.

Quando estavam quase chegando, ouviram um grasnado e um pássaro branco os acompanhou. Parecia não ter medo de Saphira. Ela olhou para ele, e nem se preocupou. Vários pássaros já haviam feito isso.

Mas, quando o pássaro grasnou de novo, Saphira sentiu uma pontada na asa direita. Ela rugiu de dor. Tentou bater a asa mas não conseguia. A asa tinha quebrado!

E eles começaram a cair.