Tenshi no Tamashi

Capítulo 99 - Prisão do Desespero


O Inferno é um nome que os humanos mesmo criaram, mas na verdade essa dimensão dos demônios é chamada de Sheol. Ela foi criada pelo próprio Yahweh para guardar os restos de Tehom, a Deusa das Trevas, nos tempos que sucederam a luz e os anjos não existiram ainda, somente os Arcanjos.

Fred estava em sua cela, escura e sozinha. Na Prisão do Desespero os demônios eram castigados por falharem em suas missões pelos seus amos. E logo após a chegada dos Anjos Caídos, aquilo virou um lugar de tortura para eles também. As mãos do anjo de cabelos negros estavam sujas de sangue, sujeira e fios de cabelo.

– Se continuar assim, poderá ficar careca. – Disse um alguém na mesma cela do anjo, mas estava muito escuro para vê-lo. – Pare de arrancar seus cabelos Fred, isso não adiantará de nada.

De tanto arrancar os cabelos, Fred ficara com um corte curto. Mas a dor em sua cabeça era mínima para a dor que sentia.

– Você é um anjo ou um coitado? Onde estão as suas asas que mostram liberdade? – O alguém era o único que falava ali, e tentava reanimar o anjo, que apenas o ouvia.

– Eu deixei de mostrar as minhas asas há muito tempo. E elas já não me representam mais liberdade, apenas um monte de penas juntas que espalham escuridão. – Disse o anjo, com desdém. – Eu estou vivendo um pesadelo.

– Aqui é um pesadelo, Fred. – Corrigiu o alguém, com voz firme. – Horas se passam em anos, e o sofrimento é eterno. Talvez até adiem sua execução por isso. Por quanto tempo pretende ainda continuar sendo assim?

– Primeiro que eu não tive escolha. – Entoou o anjo. – E segundo que já era. Achei que poderia morrer, mas em vez disso fui trazido para cá. Dessa vez para morrer de uma vez.

– Está com medo?

– O único medo que sinto é o que poderia ter sido. Só pude encontra-lo uma vez, somente por uma vez... – O anjo parecia estar distante. – Só... Queria vê-lo em outras circunstâncias...

O alguém não disse nada.

– Não quero que chore por mim. Quero que chore por algo que eu faça de correto.

– Sábias palavras, sábias palavras. Essa é a essência de um anjo. Você não está todo perdido ainda, e você sabe.

– ... – Várias coisas apareceram na mente de Fred. – Mas o que está me corrompendo ainda está aqui, e eu não posso confrontá-lo, preciso de ajuda..., porém agora é tarde demais.

– Nunca é tarde, Fred. – O alguém o surpreendeu. – Nem para você, e nem para ele.

Fred escutou passos vindo pelo corredor.

Um pequeno grupo de raptores ficou parado frente a porta da cela do anjo. Além deles, havia um anjo caído.

– Muito bem, chega de conversar. – O anjo caído abriu a porta da cela. – Raptores, peguem aquele ali. – Disse, apontando para o alguém.

Enquanto os raptores faziam o comando, o anjo caído fitava Fred.

– Um desperdício afinal. Eu sabia que não poderia ser como nós.

– Cale-se. – O anjo o encarou com olhos frios. – Eu não sou um anjo caído, não me junte a sua laia.

O anjo caído chutou a cara dele.

– Sabe, eu digo o mesmo, seu anjo nojento. Não prestaria nem para ser ajudante dos Generais.

– Um dia vocês cairão. – Ameaçou o anjo, mesmo preso. – E morrerão por nós.

– É mesmo? – O Anjo caído soava irônico. Saindo da cela junto com os raptores levando o prisioneiro para outro lugar, Fred pôde ver como era a sua aparência. O anjo caído parecia ser um idoso com longos cabelos verdes, além de vestir um casaco da mesma cor, segurando uma bengala. – Mas a boa notícia é que nós não morreremos por uma cobaia como você, escória!

Eles saíram dali, deixando Fred sozinho em sua cela.

– Como eu queria te queimar, sua praga dos demônios. – Murmurara o anjo para si mesmo. Ele voltou-se aos seus pensamentos, confortado pela escuridão da cela, que o deixava abrangido, e não o incomodava.

– Sinto muito, Ralph. Como eu queria poder tê-lo visto ao menos mais uma vez... Dentro de algumas horas, eu não serei mais eu... O que você estaria pensando agora?

Restava cerca de horas ao ver de Fred até a sua execução.