Capítulo 145 - O Irmão de Jack

Ralph encarou o irmão mais velho de Jack. Tão parecidos. Quase idênticos. A questão era clara: ele deveria vencê-lo. Mas certamente o irmão dele era mais forte, a julgar de primeira que não se ameaçara com a presença do anjo. Ele aparentava ter a mesma idade, sendo um pouco mais alto. Ralph demorou um pouco para responder:

— Você... – Durante o tempo sem responder, o outro também não dissera nada. – Qual é o seu nome?

— Hmm. Bom, acho que não faz mal responder. – O sujeito saltou da plataforma e parou no chão. – Afinal, devo agradecer formalmente por ter cuidado do meu irmãozinho.

— Porque está fazendo isso? – Questionou Ralph. – Por que...

— Oh, devo supor que isso é uma acusação por como deve estar o estado emocional do meu irmão? – Ele jogou ironia. – É tão ridículo que me dá vontade de rir.

O loiro engoliu em seco.

— Deixa eu ver... Aposto que ele te pediu pra vir até aqui... – Pensou. – Você, justo o alvo que estamos procurando.

Aquilo já começava a incomodá-lo.

— Ele deve ter IMPLORADO para você vir até aqui, não é? – Ele elevou sua voz uma oitava. Seus olhos fuzilavam Ralph.

Ele tremia, e não era pelo frio.

— O que foi que ele pediu? – Provocou, sua voz estava alterada e sua personalidade também, como se ele se tornasse outra pessoa. Sua voz ecoava pelo ambiente congelado. – Ah, já sei! ELE PEDIU PARA VOCÊ ME MATAR, NÃO É?

Ralph rangia os dentes. Pressionava com força seus punhos. Sua cabeça estava cabisbaixa. Estava muito mais do que com raiva.

— É Zack. – por fim disse, com uma expressão provocante e ameaçadora. – Meu nome é Zack.

— Ótimo. – Foi o que o loiro conseguiu responder. – Me lembrarei desse nome.

***

O carro contornou o percurso em poucas horas. Não houve mais pedágios, portanto a viagem foi tranquila. Áries estava adormecida no banco de trás, onde Race também estava, no lado dela, e Gigan, no lado da janela. Jack estava no banco de carona na frente. Olhava para a paisagem que se alterava constantemente para fora da janela do veículo.

— Como ela está Race? – Perguntou Belfrior, de olho na estrada.

— Ela estava com febre há pouco tempo, mas já abaixou. Também parou de fazer murmúrios. – Esclareceu.

— O que foi aquilo que ela “invocou”? – Questionou Gigan. - E Race, parecia que você já sabia daquilo.

— Bom, na nossa primeira missão juntos acabou que ela invocou aquilo. Então, já sabia o que poderia acontecer eventualmente.

Jack mal estava prestando atenção.

— Notaram algo de diferente nos outros? – Expressou Belfrior. – Parece que há algo a mais em eles querer ir nesses três alvos.

— Você não analisou as mentes deles? – Perguntou Race, de forma óbvia.

— Eu não posso fazer isso com meus parceiros de equipe e com o capitão. Não é ético.

— Ah, tá...

— Acho que há uma rixa entre eles. E o que mais me suspeita é o terceiro alvo. – Belfrior voltou à conversa, e Jack também prestou atenção, como se despertasse de um sono profundo.

— Porque o terceiro alvo? – Duvidou Gigan.

— Por que logo o capitão quer enfrentá-lo. Achei que ele não soubesse sobre os Generais da Morte.

A dúvida pairou sobre aquele veículo, onde apenas um dos indivíduos sabia a resposta.

***

— Você não vai escapar. – Disse Ralph. – Não irei permitir.

— Ah, tem que ser assim, senão não tem graça. – Zombou Zack. – Quero ver se é mesmo forte. Depois que acabar com você, irei atrás do meu irmão para matá-lo.

Diante do momento, Ralph só percebeu que estava correndo em direção à Zack quando brandiu sua espada e o atacou. Por sua vez, Zack invocou uma lâmina de gelo, que mais parecia uma estalactite, e defendeu o ataque, contra-atacando em seguida. O loiro retribuiu novamente. Os golpes dos dois soavam metálicos, emitindo golpes invisíveis contra o ar rarefeito. E após consecutivos ataques, Ralph consegue cortar a estalactite e, com a pressão da batalha e a falta de concentração, ele enganou Zack que, como estava prestando atenção na espada, não viu que o loiro trocara a mão e com a direita desferira um soco em seu rosto. Atordoado, Zack recuou e cruzou os dedos, imediatamente surgiram vários cristais de gelo que pairavam ao redor sobre o ar, todos direcionados a Ralph, e furiosamente eles iam de encontro com o loiro, que defendia fervorosamente com a Vingadora Indomável, e vez ou outra teve que usar rajadas de vento para se defender melhor. E como contra-ataque, Ralph recuou para voltar com tudo portando um Whirlwind. Só que Zack criara um vento gélido que congelara completamente o golpe do loiro, o braço dele estava paralisado.

— Patético! – Zack moldou uma substância líquida e a lançou contra Ralph, que como instinto, se defendeu com o braço direito, e sendo justamente o que ele queria, “conectou”-se com o braço de Ralph e o puxou contra si. Quando estavam momentos de se encontrarem, Zack invocou uma série de cristais de gelo no chão como uma armadilha para Ralph, que se impulsionou com os pés e com força livrou-se do aprisionamento repentino, deu um salto no ar e quase foi acertado pela ascensão de cristais de gelo impostas por Zack.

— Por pouco... – Expressou o loiro.

— Você é mais escorregadio do que pensei. – Bufou Zack.

— O que é isto? – Questionou o loiro. – Achei que só dominasse gelo!

— Ah, eu posso controlar o estado do ponto de fusão de certas substâncias. A água e o ar são as mais fáceis. No caso da água, posso retardar o seu estado sólido para um estado onde a água esteja mais flexível, e isso ajuda muito. – Envolta dele, tentáculos daquela água “flexível” serpenteavam. – Como agora! – Ao redor dos dois, formou-se uma redoma de gelo, onde a cada instante ficava mais resistente e mais duro de quebrar.

— Droga... – Novamente, Zack criara mais cristais de gelo ao redor de Ralph, que os rebatia com todas as suas forças. – Esse ataque não vai funcionar!

— Há algo que é bom que entenda não se pode ver por todas as direções... – Enquanto o loiro confrontava os cristais à sua frente e laterais, ele não percebeu quando uma grande fagulha de gelo surgiu por trás e espetou-lhe o ombro esquerdo, abrindo um rombo no local. Ralph fraquejou pelo susto. E ainda, a fagulha prendeu-se no membro atacado e metade dela ficara flexível, e Zack a balançava violentamente contra as paredes da redoma, e tinha os cristais remanescentes que atacavam incessantemente. A técnica pensou o loiro, era uma das especialidades de Zack, algo que nem Jack conseguira realizar. Ele deveras era mais esperto, um irmão com talento nato. E era por isso que não poderia desistir, mesmo que a situação ficasse imensamente desfavorável, ele já sabia que seria duro de vencer. Zack cansou-se de balançar o loiro e por fim o atacou com um soco no rosto, e consecutivamente invocou mais uma fagulha de gelo e atacou-o no abdômen. Zack desfez a dura resistência da redoma, e ela foi quebrada com o impacto do loiro, suficientemente ferido. Mas antes que ele pudesse cair no solo, Zack o segurou pela perna.

— Esse foi o troco... – Expressou Zack, triunfante. – Agora eu vou te dar uma morte dolorosa! – Com a outra mão, ele estalou os dedos. E sobre suas cabeças surgiu um imenso bloco de gelo na forma de uma broca, pronta para dilacerar o corpo do anjo. Zack fez um comando e a broca congelada tornou a girar-se, e avançava cada vez mais perto do seu encontro.

— Mas que droga! – Pestanejou o loiro. Tentava soltar sua perna, mas Zack tinha pulso firme, e logo em poucos segundos seria desmembrado. A todo o momento pensou no que Jack lhe falara, e isso lhe deu um pouco de calma. Ele tinha o dever de orientar o garoto, a não pensar mais na vingança, e com isso, algo lhe veio à mente. Ele ainda poderia virar aquela luta.

— Controle Atmosférico! – Ralph proferiu sua técnica de assistência, e ficou envolto do ar do local. Zack ficou surpreso, e com essa brecha, o loiro aproveitou segundo antes de poder ser atacado. Envolveu sua perna presa com vento e libertou-se. No processo, escapou da broca de gelo, que apenas parou de encontro ao chão, criando uma cratera onde ela mesma estava.

— Maldito! – Zack elevou alguns dedos para cima, e isso fez com que a broca levitasse novamente. Mas dessa vez, ela começou a avançar por várias direções, prendendo o loiro numa prisão alterada. A broca estava tão rápida que ele não conseguia acompanhar. – Agora morra!

A broca começou a acertá-lo de raspão por vários lados, enquanto ela reduzia o espaço livre do loiro. Ele se irritou, e analisou a situação, focando na broca, ele a identificou e preparou seu golpe. Faíscas vermelhas surgiram e saltavam de seu punho. Quando a broca de gelo virou em sua direção ele contra-atacou:

— DESTRUCTION WHIRLWIND! – A broca era imensa, mas mesmo assim foi destruída perante o golpe destruidor, sendo reduzida a migalhas de gelo. Zack estava surpreso.

— Como? – De súbito, ele não pôde revidar. Num golpe surpresa, Ralph o atacou com sua espada. Seus olhos estavam ferozes. E ainda conseguiu atacar mais duas ou três vezes. Com o Controle Atmosférico, sua mobilidade estava alterada.

— Maldito! Não pense que acabou! – Invocando inúmeros cristais de gelo, e com uma velocidade sem igual, Zack o atacou. Mas Ralph estava diferente, e emanando sua aura para a espada, ele já sabia o que fazer, com um golpe cruzado, ele criou uma rajada de vento na forma de cruz, que decepou todos os cristais de gelo e na consecutiva acertou Zack, jogando-o contra o solo, onde estavam os cidadãos congelados. O golpe elevou o vapor condensado.