Tenshi no Tamashi

Capítulo 142 - Um Berro de Desespero


O dia seguinte começou agitado, pois eram as últimas preparações para a Angels Heart começar a agir. Ralph e os outros tiveram que aprender a pilotar as motos, o outro problema era que o loiro ainda era menor de idade, portanto se parassem num pedágio, o loiro estaria em sérios problemas. Belfrior facilmente aprendeu a dirigir o carro usando seus poderes psíquicos em mundanos. Com isso, perto do meio-dia todos já estavam prontos. Partiram do esconderijo, e seguiram em direção à estrada na costa, que percorreria a maioria do caminho até todos se separarem para ir às cidades-alvo. A viagem ocorreu bem, mas logo depois surgiu um pedágio, e quilômetros antes Ralph desmontou da moto, mas nem isso o salvou de ser barrado pelos policiais.

— Ora, ora. Achou que ia escapar só por ter desmontado? – Ironizou o policial.

— Bem... – Ralph deu um sorriso envergonhado.

— Não está nem com idade para ter carteira. Vou ter que te levar ao Juizado de Menores, filho.

Como se não bastasse, os outros anjos montados nas motos foram revistados. E isso aconteceria à Belfrior também. O Serafim se esgueirou para falar somente com Ralph:

— Posso convencê-los de nos fazerem passar. – Cochichou.

— É uma boa ideia. – Expressou o loiro.

O Serafim chamou o policial.

— Deixem-nos passar. Avise aos outros policiais. – Ordenou o anjo, usando seus poderes mentais para dominar o subconsciente do homem.

— Pessoal, vamos deixá-los passar... – Balbuciou o homem, andando em direção aos outros como se estivesse bêbado.

— Cara... O que há com você? – Expressou um dos outros. – A gente... A gente não pode deixar que moleques escapassem ilesos, lembra?!

— Eu... Eu... – O cara não parava de repetir as mesmas palavras, como se fosse um disco quebrado. – Vamos deixá-los... Passar...

O que está havendo?! Porque a minha Telesinese não está funcionando?

Ralph olhou de relance para o Serafim, apreensivo. Com medo.

— Ele deve está com os neurônios soltos! Só pode! – Retrucou um policial mais velho, de bigode e cavanhaque. – Deixa que eu cuide de revistar os outros.

Quando foi a vez de Race ser revistado, o policial notou algo estranho nas costas dele.

— O que é isso? Parece uma corcunda. – Questionou o policial. – O que tem aí, rapaz?

— Bem... – Race ficou sem expressão. Guardara sua espada numa Bolsa Dimensional, típico de Querubim para poder escondê-la. Mas não imaginara que aquilo pudesse acontecer, ele tentou puxá-la, mas o tecido da realidade estava muito grosso, ou seja, tinha muitos humanos, por perto, tornando a materialização impossível. – Porcaria! – Ele tentou se mover, mas o policial o deteve.

— Parado aí! – O homem começou a revistar novamente as costas do anjo com ainda mais cautela, porém quando chegou a tocar no cabo da espada, algo inusitado aconteceu. Fumaça escorria pelas mãos do policial, que estavam em carne viva! Mas quem mais estava surpreso era o anjo, que pelo seu instinto, empurrou o policial e montou em sua moto em questão se segundos.

- Vamos! Temos que ir! Agora! – Berrou o Querubim, acelerando ao máximo o possante, cantando pneus sobre a estrada. Belfrior não perdeu tempo e acelerou o carro, quebrando a placa do pedágio que impedia de prosseguir. Ralph, Mariah e Nesse fizeram o mesmo, e minutos depois nem viam mais o pedágio.

— Ei! Aquilo era para acontecer?! – Perguntou euforicamente o loiro.

— Não exatamente. – Descontraiu Race, mesmo assim sério.

— Pelo menos passamos. – Disse Mariah.

Dentro do carro, Belfrior se questionava.

— Porque eu não consegui dominar a mente daquele cara?

— O que isso significa? - Perguntou Gigan.

— Não me parece ser um bom sinal.

— Estou... Com um mau pressentimento. – Expressou Áries, tremendo. – Aqueles caras estavam sendo estranhos demais.

Ralph ainda se perguntava o que exatamente aconteceu, quando algo lhe tirou dos seus pensamentos.

Á frente deles na estrada vinham dois caminhões, ambos cobrindo as laterais da estrada, e neles, os caminhoneiros portavam armas, mirando neles.

***

Todos só perceberam o ataque quando os caminhoneiros liberaram uma salva de tiros contra a estrada. A diferença entre eles eram de mais ou menos uns 50 quilômetros.

— O que está acontecendo?!

— Temos que nos organizar! – Anunciou Race. – Eu vou distraí-los enquanto o Belfrior manobra o carro para passar por eles, pra isso reduza a velocidade do carro! – O Querubim empinou a moto e com várias manobras desviou dos tiros, aproveitando para se aproximar dos caminhões, ao olhar um pouco mais de perto, notou o que aqueles caras “realmente” eram. – Raptores!

— O que faremos? – Perguntou Mariah.

— Um de nós vai ter que atacar, enquanto os outros seguram a moto. – Disse Ralph. – Eu vou! – Saltou sem aviso contra a estrada, liberando suas asas e avançando cada vez mais para perto de Race.

— Esse idiota! – Retrucou a ruiva.

— Pelo menos ele pode atacar sem ser atingido. – Disse Nesse. – É um bom plano. É melhor eu fazer isso também.

— Capitão! – Expressou Race, vendo o loiro no plano etéreo. – Hora de botar esses caras para lamberem o chão!

Ralph criou uma rajada de vento que cortou o contêiner do caminhão à esquerda, dando um susto no caminhoneiro. A brecha de somente segundos foi perfeita para Race, ainda empinando a moto, conseguiu se aproximar do caminhoneiro ao lado dele e cortou sua garganta ao liberar sua espada, ao mesmo tempo, o segundo caminhoneiro do caminhão à direita atirou contra o anjo, mas uma parede de água surgiu de repente, segurando as balas. Nesse apareceu sobre a água usando a água do oceano. Race agradeceu mentalmente o companheiro pelo reforço, deslocou a moto em duas rodas, mas ao se estabilizar, ele percebeu que, no rombo do contêiner que Ralph fizera no caminhão, dentro dele estavam inúmeros raptores portando armas! Todos olhavam para o Querubim surpresos. Race engoliu em seco.

— Nesse, você consegue arrastar o caminhão para a água?! – Perguntou Ralph.

— Parece que é melhor garantir que os outros no carro passem em segurança. – Notou Nesse. – Vou criar uma proteção de água para eles.

— Boa ideia! – Ralph voltou a olhar em direção aos caminhões. – Vou virá-los!

Mariah estava à mercê, pois estava com as duas mãos ocupadas segurando ambos as motos dos garotos. E para ajudá-la, Belfrior estava concentrado em guiar a moto para que ela não caísse. Enquanto prosseguiam, a ruiva percebeu que Áries não estava bem.

— Áries, o que houve?

— Não estou... Minha cabeça... Está latejando...

A atenção da ruiva se virou para a sua frente, quando notou que uma barreira de água os estava protegendo.

— Não se preocupe! Aqueles idiotas estão nos protegendo! – Expressou a ruiva.

***

— Seu Querubim maldito! – Retrucou vários raptores apontando suas armas para Race.

— Então, vejam bem... A situação está complicada... – Olhou envergonhado, sem nem saber o que dizer. – Ah, querem saber? Vão para o inferno! – Ele inclinou a moto até conseguir cortar os dois pneus mais pertos com a sua espada, ele parou a moto e automaticamente desviou dos tiros dos raptores, enquanto o caminhão com as rodas cortadas perdia a direção, virando contra o caminhão do outro lado da estrada.

- Hora de matar alguns demônios... – Disse Race, encarando os raptores que se saltavam do contêiner para encarar o anjo. Eram ao todo cem raptores armados com AK-47, cercando o caminho para Race.

Sem avisar, ele avançou com sua espada, enquanto vários raptores se aglomeravam para enchê-los de tiros, mas o anjo se movia sem fazer ruído, acertando a quem estivesse ao alcance da sua espada, com movimentos flexíveis e ágeis, Race se protegeu girando sua espada em torno dele mesmo, criando uma defesa circular perfeita, repelindo todos os tiros. E no momento que o caminhão da esquerda trombou contra o lado montanhoso da estrada e explodiu, criou uma abertura para que os outros no carro pudessem passar. Antes que os outros raptores pudessem reagir para impedir isso, Race já havia fatiado todos eles, sem ter tempo nem para respirar, a pista ficou encharcada de sangue de demônio. No mesmo segundo em que o Querubim relaxou, viu sua moto ser pilotada por um dos raptores que fugiu do seu campo de visão, e o diabrete acelerou que em questão de segundos estava longe do Querubim.

O caminhoneiro que estava na direita da pista conseguiu acelerar a tempo antes que o outro caminhão trombasse com ele. Naquele contêiner ainda havia mais cem demônios, a espera de uma chance para atacar. O segundo que estava na frente, no banco de carona, estava preparado para agir.

— Hora de virar o jogo! – O diabrete lançou uma granada contra a parede de água. O ataque passou despercebido até a granada explodir e desfazer a parede de água, fazendo Nesse tomar um susto. Até que ele pudesse repor a barreira, demoraria segundos preciosos, dos quais o inimigo podiam atacar Mariah ou os que estavam no carro. E foi isso o que aconteceu. O raptor que havia pegado a moto de Race ainda estava com sua AK-47 e atirou contra o carro. Um dos tiros passou de raspão em Áries, da qual ficou ainda mais assustada. Belfrior virou o carro, e Mariah ficou sem reação.

— C – Calma Áries! Tá tudo bem! Você não foi atingida! – A ruiva tentava fazer Áries reagir, mas ela estava respirando pesadamente, como se ela estivesse sem fôlego.

— Áries, se acalma! – Disse Belfrior, manobrando o carro para passar pela brecha que Race havia conseguido.

Mas ao mesmo tempo, o raptor deu meia-volta e reapareceu ao lado do carro, justamente no lado de Áries, a intimidando mais ainda com a arma voltada para a cabeça dela.

— Vou te matar!

Nesse achou a melhor solução para sua moto, para que Mariah tivesse a mão livre. A ruiva atirou um projétil de fogo contra o raptor, mas ele desviou! E no mesmo momento em que ele atiraria em Áries... Ela berrou.

Todos escutaram o berro dela.

Mas só Race ficou ainda mais chocado.

Um deslizamento aconteceu em seguida, e rochas enormes vieram a descer contra a estrada. Quando o raptor olhou em direção ao que era, ficou tão chocado que gritou.

Um monstro.

Um monstro deformado quase invisível de 5 metros com ao todo quatro cabeças surgiu encima do morro, causando o deslizamento. Seu berro era ensurdecedor.