Queria fazer uma surpresa para o Austin, no café da manhã. Mas, ele acordou primeiro que eu.

– Você ainda gosta de panquecas ? - Perguntei indo na direção do fogão.

– Amo. Aria faz todo dia. - Disse ele afastando uma das cadeiras da mesa para sentar.

– Você poderia ir pegando as coisas da geladeira e colocando na mesa. - Pedi.

Tento ignorar o fato de que Aria é alguém muito importante para Austin.

Em alguns minutos as panquecas já estavam prontas. Olhei para mesa e entre todas as coisas que Austin retirou da geladeira, uma me chamou a atenção.

– Austin, por que você pegou um pote de picles ? - Perguntei.

– Não sei. Sério, não sei. - Ele ficou olhando confuso para o pote. - Apenas algo na minha mente dizia que eu deveria pegar. - Encarou-me - Fiz errado em pegar o pote ?

Eu deveria está sorrindo, pois a possíbilidade de Austin está lembrando, aumentava minha esperança dele recuperar a memória dele.

– Não, na verdade você fez certo. Eu amo picles.

– Legal, então vamos fazer panquecas com picles.. - Interrompi ele.

– Primeiro, eca. Segundo, meus picles ninguém toca. - Segurei o pote de picles como se minha vida dependesse daquilo.

–Desculpa aí! Vai fazer o que hoje ? - Perguntou.

– Normalmente eu iria para casa da Spencer, iriamos tentar descobrir algo sobre a Aria. Mas, como já te encontramos.. acho que vou perguntar pro Mike se ele pode me treinar um pouco mais cedo.

– Mike ? Irmão da Aria ?

– Sim, ele está me treinando.

– Hn.. ele é seu namorado agora ?

– Agora ? - Perguntei, meio que rindo, pois reconheço o tóm de ciúmes do Austin. Mesmo sem memórias sobre nós, ele ainda sente ciúmes do Mike.

– Ué, você disse que éramos algo especial um para o outro. - Ele tentou falar aquilo normalmente, só que suas bochechas ganharam um tóm avermelhado. Que bonitinho ele corado.

– Você pode não lembrar, só que ainda somos. - Acariciei a mão dele. - E ele sempre foi apenas meu amigo.

– Não precisa me explicar...

– Eu vou ligar para ele. - Peguei meu celular e disquei. - Espera por mim, não coma todas as panquecas.

Fui para sala.

– Alô ?

– Mike, é a Ally.

– Oi Ally! Fiquei sabendo das novidades. Ele está bem ?

– Está sim. Só que não era sobre isso que eu queria falar com você.

– Então sobre o que você quer falar ?

– É que o meu dia está livre. Será que não podemos começar a treinar mais cedo hoje ?

– O que eu ganho em troca ?

– Um agradecimento meu.

– Quero mais.

– Fala logo o que você quer.

– Você vai amanhã em uma festa comigo.

– Não gosto muito de festas. - Ele já fez tanto por mim, acho que posso fazer isso por ele. - Tudo bem, eu vou.

– Vai como minha namorada.

– O quê ??

– Calma, eu só quero fazer ciúmes em uma garota.

– E quer me usar ?

– Você me usa no seu treinamento e eu te uso na festa.

– Só você mesmo para me pedir isso.

– Isso é um sim ?

– Sim, eu vou. Depois a gente combina, agora vou tomar café da manhã e depois já vou te encontrar.

– Tchau.

Desliguei.

Quando voltei para cozinha, Austin estava com a boca cheia de panquecas. Ele estava comendo as panquecas do meu prato.

– Austin! Você não deixou nenhuma para mim ? - Disse olhando para os pratos vazios.

– Desculpa, estava tão bom que não consegui me conter. - Ele disse aquilo tentando engolir rápido as que estavam em sua boca.

– Vou ter que ficar com fome, não da tempo de fazer outra, tenho que me arrumar para me encontrar com o Mike. - Fui na direção do meu quarto deixando Austin sozinho na cozinha.


***

Já tinha tomado meu banho e estava vestida, só faltando colocar minha bota. Austin entrou no meu quarto segurando um prato com 2 panquecas.

– Desculpe, por ter comido as suas. Eu tentei fazer, só que sou horrivel cozinhando e só essas duas não queimaram. - Ele sentou do meu lado da cama e colocou o prato no meu colo.

Sorrir. Achei fofa essa atitude dele.

– Obrigada. - Peguei uma e mordir um pedaço. - Então ótimas. - Mentir. - O que você usou nelas ?

– Fiz panquecas de picles. - Disse ele todo sorridente.

– Quer uma ? - Não sei se iria conseguir comer duas.

– Não, eu fiz especialmente para você. - Ele se levantou e saiu do meu quarto.

– O que eu não faço por você Austin. - Continuei mastigando.


***

– Eu posso ir com você ? Não quero ficar sozinho e faz tempo que não saio. - Perguntou assim que eu sair do quarto.

– Claro.

Peguei a chave do carro do meu pai.

Fechei a porta de casa, entramos no carro e dei a partida.


Estava um silêncio no carro.

– Austin, quando que você se apaixonou pela Aria ? - Essa era a última coisa que eu queria perguntar, só que a dúvida falou mais alto.

– Foi em um acampamento, a escola que levou a gente lá. Eu estava no mesmo quarto que um garoto que a Hanna gostava, e ela no mesmo quarto que a Aria. Hanna veio até o meu quarto e pediu para trocar comigo. Aceitei, fui para o quarto delas e lá foi onde comecei a sentir fortes sentimentos por ela.

– Você sabe quem é o seu pai ?

– Ele morreu e minha mãe também.

– Sabe quem é a Hanna, Spencer, Emily e o Elliot ?

– As três são ex-amigas da Aria e o Elliot é irmão gêmeo do Mike.

– Quando foi seu primeiro beijo com a Aria ?

– Em um parque que eu levei ela. Eu fui atacado por cachorros, depois daquilo foi o nosso primeiro encontro de lábios. Por quê ?

– Aquela vadia!

– Que foi ?

– Nada não. Chegamos.


***

– Então ele sabe quem sou eu ?! Só que você ele não lembra ? - Expliquei sobre o que Aria fez com Austin para Mike e até agora ele quer entender como ela conseguiu fazer. - E ele tem sonhos com você ? E quando acorda esquece ?

– Sim e tem mais... ela de algum jeito fez ele esquecer de boa parte da vida dele, e me substituiu da memória dele, colocando ela no meu lugar. Todos os momentos intimos que tivemos, é como se ele tivesse vivido com ela.

– Ally, lembra que eu te disse que meus pais me contaram sobre o que tinha acontecido com o Elliot ? Sobre ele ter jogado a gente e tudo mais ?

– Lembro.

– Então, quando criança eu não tinha esquecido ainda. Tinha pesadelos sobre aquilo e meus pais me levaram em um psicologo. Meus pais me deram alguma droga durante a noite.

– Seus pais te drogaram ?

– Eles falaram que foi recomendação do psicologo. Aquela droga mexia com as minhas memórias, do tipo que com algumas consultas e em menos de 6 meses eu já tinha ocultado aquela parte da minha vida. Não lembrava de Elliot e nem de você. As memórias só voltaram quando meus pais resolveram contar sobre eu ter um irmão e sobre o que ele fez comigo e a uma garotinha.

– Você acha que Aria usou isso no Austin ?

– Meus pais conseguiram fazer eu ocultar o fato de eu ter um irmão. Te lembra algo ?

– Existe cura ?

– Eu só recordei das coisas quando meus pais contaram tudo.

– Eu já tentei fazer isso, ele diz que sente que estou sendo verdadeira...

– Mas tudo parece uma mentira. Me sentir assim também quando meus pais me contaram. Eles tiveram que me mostrar algo para provar e só quando eu vi uma foto de Elliot eu lembrei de certas coisas, permitir absorver essa parte de minha vida a qual foi ocultada.

– Eu mostrei uma foto da nossa família e nada.

– Tente algo mais forte. Como você fez ele se apaixonar por você ?

– Me pergunto isso até hoje. Somos irmão, e além disse olha só pra ele. - Apontei para Austin que estava comendo um sanduíche enquanto assistia televisão. - Ele é muito bonito e eu, bom, não vou dizer que sou feia. Mas, sou estranha demais. Nunca entendi como ele se apaixonou por mim.

– Nem todo garoto quer apenas uma garota bonita. Ele quer alguém completa, com todas as qualidades e defeitos que uma garota pode ter. Eu por exemplo quero alguém que tenha atitude, independência e opinião própria. As garotas que já fiquei parecem bonecas que fazem tudo que eu quero. Não quero isso.

– Que bonitinho, tá amadurecendo. - Apertei sua bochecha.

– Vamos começar o seu treinamento ? - Ele perguntou e fiz que sim. - Ótimo. Austin, se quiser comer alguma coisa pode pegar na geladeira.

Mike tinha se mudado da casa dos pais e alugou um apartamento. As paredes são todas brancas, já tem alguns móveis de sala, cozinha e etc. Existem dois quartos, um ele usa como quarto para descanso e o outro ficou com seu equipamento de peso, é lá onde treinamos.

– Vamos tentar algo mais prático e.. - Interrompi ele.

– Já estou a 2 semanas em treinamento prático. Quando vamos para algo mais sério ?

– Estou tentando treinar a sua força. Mas, se você quer algo mais sério.. Alguma sugestão ?

– Me ensine como me defender quando sou atacada pelas costas.

– Ally, eu apenas estou te ensinando a lutar. Não a ser uma agente secreta.

– Tudo bem, vamos no prático mesmo. - Bufei. - Vou tirar essa roupa.

– Quer ajuda ?

– Não. - Respondeu Austin entrando. - Ela sabe se vestir sozinha. Eu trouxe água para vocês.

– Obrigada, coloca ali no balcão que depois eu bebo. - Entrei no banheiro.

– Cara, eu e a Ally somos só amigos. Não é necessário esse olhar assassino. - Disse Mike. Conseguia ouvir suas vozes, poderia ignorar e respeitar a privacidade deles.. mas, é tão tentador que eu tinha que escutar. Deus me perdoe, só que eu não resisto aos segredos.

– Eu sei, Aria me falou que você não vale a pena. Eu nem te conheço, só que já não gosto de você. - Disse Austin.

– É meio irônico, só que você sempre me odiou. - Brincou Mike. - Você não se lembra de mim ?

– Lembro apenas do que a Aria me falou, disse que você não é confiável.

Mike riu. - Austin, você deveria pensar melhor nas suas amizades. Pois, Aria não é a melhor opção. Tornou a sua vida uma mentira.

– Não acredito em você e ouvindo esse seu tóm de voz, devo acreditar no que Aria diz. - Austin estava ficando irritado.

– Você não sabe a garota incrivel que está deixando de lado pela minha irmã. - Disse Mike, ainda com seu tóm calmo de deboche.

Sair do banheiro. Aquela conversa deles estava ficando meio pesada, então era melhor tentar impedir ela de continuar.

– Estou pronta, agora podemos treinar e.. - Antes que eu pudesse continuar a minha fala, Mike me puxou contra seu corpo e ficou alisando minhas costas.

– Sente algo quando vê ela em meus braços ?! Admita! Você não ama a Aria.

– Para de ser idiota e larga ela. - Disse Austin tentando ser calmo, mas seus olhos estavam sérios. O que Mike estava tentando fazer ?

– Nada mesmo ? - Perguntou Mike. - Então você não se importa se eu a beijá-la ? - Mike me encarou e depois depositou um beijo em minha testa e começou a olhar fixamente em meus olhos e aproximar seus lábios dos meus. Já podia sentir seu hálito fresco. Não entendo o que Mike pretendia, e estava muito confusa para entender o que estava acontecendo que nem me toquei que Mike pretendia me beijar. Apenas olhava fixamente em seus olhos. E então aconteceu! Os lábios de Mike encontraram os meus. Seus lábios mácios instruía o nosso beijo, estava meio perdida. O beijo era calmo e admito está gostando, só que não me provocava nada. Talvéz se eu nunca tivesse beijado o Austin, o beijo com o Mike teria sido incrível, mas, tudo que eu pensava era em como queria me desfazer do beijo com Mike e correr para os braços de Austin e sentir aquela sensação que só ele consegue me provocar.

Ele afastou seus lábios dos meus. Ambos estavámos ofegantes e olhavamos fixamente. Ele parecia está feliz por esse momento entre nós, e eu queria sorrir, mas tudo que eu conseguia era olhar confuso para ele. Quando pensei em pedir uma explicação, Austin jogou Mike contra a parede.

– Se você tocar nela de novo, eu acabo com você. - A voz de Austin deixava bem clara a sua raiva.

– Austin, solta o Mike!

– O que ? Ele te beijou e..

– O que isso tem demais ?

– Ele te beijou na minha frente para me provocar.

– E você beijou a Aria na minha frente. - Cuspi aquelas palavras. - Você não se lembra das coisas que passamos e das palavras que você me disse, mas eu me lembro e você não imagina a dor que foi ter a esperança de finalmente te ver e você beijá-la na minha frente. Quer saber, eu realmente te amo, mas não vou ficar me fazendo de boba. No final, você vai escolher ela e vai me deixar sozinha, certo ? Do que adianta criar esperanças de você se lembrar de mim em 3 dias. Como disse, tudo parece ser uma mentira para você.

– Ally.. - Austin tentou falar, só que não encontrou palavras para continuar.

– Pode voltar para sua vida verdadeira, deixe essa mentira que está vivendo comigo pra lá. Afinal de contas, sou apenas a garota que te sequestrou dizendo um monte de bobagens. - Abri a porta do quarto. - Mike, vamos deixar o treino para outro dia e eu ainda vou naquela festa com você. Austin, aceite nosso combinado como cumprido. Volte para Aria.

Fui embora deixando os dois ali.


***

Cheguei em casa, peguei um pote de sorvete de chocolate, sentei-me no sofá e liguei a televisão em um canal aleatório. Queria chorar, estrangular a Aria e o "A" por acabar com a minha vida e tudo mais. Só que tudo que eu podia fazer naquele momento era aceitar as coisas como são.

A campanhia tocou.

Deixei o pote de sorvete no sofá e fui até a porta. Quando abrir meus olhos se arregalaram assim que vi Austin.

– Austin ? Pensei te dito que nosso acordo já acabou. Pode voltar para Aria.

– Eu fui. Quando cheguei lá não tinha ninguém.

– Ela deve ter se mudado para outro esconderijo. Quer meu celular emprestado para ligar para ela ?

– Não. - Ele se aproximou um pouco. - Ally, desculpe se te magoei. Não vou mentir para você e dizer que não parece mentira as coisas que você me fala. Mas, eu não consigo entender o que está acontecendo. Minha mente diz que amo a Aria e sempre pensei assim, até te conhecer. Não estou dizendo que te amo, mas você me provoca tanta coisa que nunca sentir pela Aria. Seu toque faz meu corpo estremecer, sua voz me acalma e seus olhos fazem tudo parecer valer a pena. Posso não lembrar das coisas que você me diz, e podem ser verdades ou não, mas eu quero tentar criar novas lembraças e quero que todas sejam com você. Me aceite de volta em sua vida. Me dê outra chance, por favor ?

"Sim! Eu aceito viver a minha vida com você! Quero você para sempre ao meu lado. " Queria dizer isso, mas tudo que conseguir falar foi.. - Não! Entendo que você está tentando e sei que é dificil recuperar a memória em pouco tempo. Mas eu não aguento mais. Não tenho mais forças para suportar o fato de você nem se lembrar de mim. Não quero aceitar você em minha vida novamente e depois te perder por vontade sua. Sempre que olho para você, lembro da Aria te beijando e penso que você foi dela, seu corpo, seu amor.. tudo dela. Não basta apenas dizer que podemos criar novas memórias, pois se você esquecer-las, irá doer muito mais. Não tenho forças para suportar isso. Eu te amo, mas Austin, estou desistindo de você. - Fechei a porta.

Não consegui segurar as lágrimas dessa vez. Ele ainda estava do outro lado da porta. Quero correr para os braços dele e dizer que o amo. Só que ele será novamente alvo do "A" e temo que da próxima vez ele perca mais que apenas as memórias e como já disse em meus pensamentos.. Não tenho mais forças para isso.


Continua...